O documentário de Maria Augusto Ramos mostra pessoas sendo julgadas em um ambiente impessoal, com a câmera flagrando a conversa entre réu e a autoridade judiciária, onde acontece normalmente uma conversa bastante isenta de maiores sentimentos, especialmente pelos juízes, em confronto com palavras francas e simples do que se defendem. Justiça visa mostrar o quão complicado e distante é a relação do Estado com a massa carcerária, e consequentemente, com o pobre sendo julgado.
A estética que Maria Augusta utiliza é fundamentada demais no naturalismo. Quando não está em sessões jurídicas ou em aulas direito — onde os personagens estão obviamente microfonados — a maior parte dos outros momentos tem apenas o som direto como base. O barulho das engrenagens das cadeias e o burburinho dos detentos transbordam verdade e veracidade, mostrando uma realidade elitista e hipócrita.
Há perfis variados entre os juízes flagrados pela câmera de Ramos, mas um especial chama muita atenção pela empáfia ao conversar com o réu e demonstrar seu enorme desprezo por esses, algumas vezes agindo inclusive com grosseria, talvez evocando a sua opinião já formada de que estaria ali lidando com criminosos incorrigíveis.
A visão que o documental de Maria Augusta Ramos tem sobre o judiciário em geral é bem clara, enxergando os que julgam os mais simples como entidades conservadoras, reacionárias e que se julgam acima das camadas sociais em que habitam esses infratores ou supostos infratores. Das denúncias que faz, a mais forte certamente é a desumanização com que são tratados os julgados, e nisso, Justiça acerta em cheio, pois mostra o quão frios são os tratamentos aos mais humildes.
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