No sexto romance de sua carreira, o americano John Green alcançou um feito invejável ao tornar-se um dos escritores vivos mais lidos e vendidos no mercado editorial global. Representante do estilo young adult, o autor foi um dos responsáveis por expandir o gênero além do nicho natural, pavimentando um caminho que se demonstrou frutífero, dando espaço a outros escritores semelhantes e promovendo uma relação coerente entre leitura e público jovem.
Antes de se tornar a maior referência no estilo – fama que tem incomodado o escritor –, Green possuía uma base de fãs, vindos de um vlog realizado em parceria com seu irmão, promovendo, desde o início, um diálogo constante com o público. Uma ponte necessária para o reconhecimento e o sucesso, ainda mais se considerarmos que boa parcela dos leitores é adolescente.
Lançado pela Editora Intrínseca, A Culpa é das Estrelas permanece há mais de 65 semanas na lista dos livros mais vendidos no país. A narrativa utiliza o difícil tema do câncer como elemento central de uma história com adolescentes, um dos princípios fundamentais do gênero, o de narradores que conversam diretamente com a faixa etária alvo.
Ao narrar como a adolescente Hazel Grace, o autor é capaz de apresentar um tema pesado com leveza. Evita o conceito amargado do fatalista para desenvolver inicialmente uma personagem simpática que, mesmo reconhecendo sua difícil condição, vive em equilíbrio com os problemas diários de um adolescente americano, e, com ironia, aceita sua condição de ter câncer no pulmão – e por isso, necessitar de aparelhos que ajudam sua respiração diariamente.
Se dentro do gênero alguns autores conseguem expandir sua história e cativar outros leitores, esta narrativa é primariamente voltada ao público adolescente. Em décadas passadas, o jovem era um público pouco explorado pelo mercado de livros. Alguns poucos autores representava-os pontualmente, mas não havia uma linha editorial cujo enfoque destacava romances no estilo. Desde que a saga do bruxo Harry Potter de J. K. Rowling demonstrou-se eficiente e criativa (com a qualidade de ser uma leitura universal para jovens e adultos), o enfoque de um mercado adolescente se consolidou, buscando em obras anteriores uma justificativa – como o clássico O Apanhador No Campo de Centeio, de J. D. Salinger, considerado um proto-young adult – e desenvolvendo um mercado que fornece novas leituras para este grupo ávido por literatura.
Green desenvolve com talento seus personagens centrais, reconhecendo que, além da própria doença que os atinge, há um sentimento interno de reconhecimento que precisa ser explorado. No entanto, demonstra certa imaturidade ao adentrar o inevitável drama, não inserindo o peso necessário numa trama, que, com seus personagens, ganharia maior densidade.
Em relação ao drama, a história parece composta de maneira exemplar para realçar a emoção ao público, um artifício ideal se a obra concentra-se somente na busca da emoção pela emoção. Em uma narrativa de aproximadamente duzentas páginas, com uma leitura leve, tem-se a impressão de que o tema apresentado se desgasta rapidamente, e o autor necessitou de temas paralelos para sustentar sua história.
Focalizando o conceito da metaficção artística, Green desenvolve um escritor fictício – lido por Hazel Grace e seu namorado, Augustus Waters –, que se transforma no objetivo de vida dos personagens. Um diálogo interessante com a ideia da ficção literária e de como os leitores veem a figura do escritor. Ao entrar em cena o escritor Van Houten, percebe-se o abismo que há entre a obra literária e a pessoa por trás do autor. Um elemento que pode se expandir através do próprio Green como autor, ciente de que os jovens leitores precisaram de uma figura concreta e real para admirar.
Mesmo que o recurso represente uma tradição literária e adicione uma camada extra ao enredo, a história paralela ocupa boa parte da trama, demonstrando o vazio inconsistente da história de amor e sua natural desenvoltura trágica. Torna-se evidente que os jovens procuram um mestre a seguir e encontram nas palavras do escritor uma verdade supostamente universal. Mas ao enfocar a viagem e a personagem do escritor em demasia, Green assinala nas entrelinhas sua incapacidade de sustentar o bom drama que criou no primeiro terço do romance.
Contemporâneo do escritor, Mathew Quick desenvolveu procedimentos semelhantes em sua obra mais recente, Perdão, Leonard Peacock. Porém, sua narrativa demonstra que o adolescente problemático do título é mais uma máscara do próprio autor que não tem medo de demonstrar a interferência de uma voz adulta em sua narração. Compondo um personagem mais erudito que amplia o tom dramático e conquista com maior eficiência leitores não acostumados com o gênero.
É irrevogável a importância de Green dentro do cenário narrativo. Após o espaço aberto por Rowling, é fundamental que um autor seja capaz de oferecer ao público jovem uma leitura que o agrade. Ainda mais reconhecendo que tais jovens podem ler histórias com maior complexidade e temas difíceis de serem assimilados. Porém, no interior de sua narrativa, A Culpa é das Estrelas falha por não se estruturar com qualidade no drama proposto. O autor demonstra reconhecer muito bem as teses que promovem a emoção no leitor, mas, produzindo-a de maneira tão milimétrica, perde a naturalidade fundamental de uma trama, que, acima de tudo, é um relato amoroso.