Que o Homem-Aranha é o herói de maior apelo ao público da Marvel, é indiscutível! Ele é como o Batman: podem tentar zoar o personagem, cantar musiquinha (“nunca bate, só apanha”) ou questionar sua sexualidade; nada disso abala sua popularidade! Mas para entender a origem desse status de ídolo pop, adorado tanto por crianças quanto por adultos, conhecer suas origens é essencial. E é isso que nos é apresentado na Coleção Histórica Marvel: O Homem-Aranha.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar a diferença entre esse material e outro bastante conhecido, a Biblioteca Histórica Marvel. Enquanto a Biblioteca publica as primeiras edições da revista norte-americana do personagem em ordem rigorosamente cronológica, a Coleção não se apega muito a isso. Existe, sim, uma ordem cronológica, mas apenas em cada volume. Isso significa que você pode ler uma história de The Amazing Spider-Man #122, de julho de 1973 ao final do primeiro volume e começar o segundo com The Amazing Spider-Man #03, de dez anos antes. Isso se explica porque os volumes são temáticos.
O primeiro volume apresenta as histórias clássicas do Aranha com o Duende Verde, e cobrem um período que vai desde o surgimento do vilão até a sua morte, após o assassinato de Gwen Stacy (isso foi um spoiler? A história tem mais de 40 anos, portanto eu acho que não!). O segundo volume é sobre o Doutor Octopus, o terceiro sobre o Lagarto e o quarto nos apresenta o Sexteto Sinistro. Os quatro volumes, em capa cartonada, formam uma pequena imagem do Aranha na lombada, quando colocados lado a lado, e se acomodam perfeitamente na caixa que acompanha a primeira edição.
Os volumes são independentes entre si, o que significa que qualquer pessoa que nunca tenha lido um gibi do aracnídeo pode entender com facilidade qualquer um deles, em qualquer ordem. É difícil de se imaginar isso hoje, numa época em que é praticamente preciso fazer um curso de graduação, mestrado e doutorado para acompanhar as múltiplas sagas, crises infinitas e reformulações pelas quais passam os gibis de heróis em geral. Stan Lee acreditava que “todo gibi é o primeiro gibi de alguém”, portanto não partia do pressuposto de que o leitor já tinha um alto grau de conhecimento sobre a história de seus personagens, e deixava tudo explicadinho. Mas o verdadeiro segredo do sucesso dessas histórias era a forma como os autores dialogavam com seu público. Se hoje em dia muitos fãs de hqs se zangam quando ouvem que “quadrinhos é coisa de criança”, esse era o público alvo das histórias dessa época! Diferente do Batman, que era adulto, e do Robin, que era um sidekick, Peter Parker era um garoto E o protagonista. Não era um simples ajudante de um herói mais velho, o que fez com que seu público alvo se identificasse com ele.
Parker tinha problemas que garotos comuns também tinham, mas ganha poderes e responsabilidades maiores do que poderia suportar. Então, sua vida pessoal passa a ser mais importante do que sua vida heroica: prender o bandido é essencial, mas chegar em casa antes que a Tia May fique preocupada é mais importante do que tudo! Lendo essas histórias até dá pra entender porque o Ben 10 faz tanto sucesso hoje com a criançada! Peter é um garoto, assim como seus leitores, mas toma as rédeas da sua vida e não fica na sombra de um herói mais velho.
Todo o clima pesado das histórias, com temas como a doença da Tia May ou a responsabilidade que Peter assume após a morte de seu tio, é suavizado com o bom humor da narrativa. Em alguns momentos de puro drama, o narrador faz uma pausa para a história não virar “novela das seis”! Cortesia do tio Stan Lee, que parece se divertir muito ao escrever seus roteiros. O clima descontraído pode ser sentido nas apresentações dos artistas, sempre com algum apelido como “Sorridente Stan Lee” ou “Jovial Johnny Romita”.
Se existe um ponto fraco digno de nota nessa coleção é o volume 4. Não que seja ruim, pelo contrário, foi uma excelente forma de apresentar o Sexto Sinistro, sendo que as primeiras histórias contam a origem dos vilões que ainda não haviam sido apresentados na coleção, e a última história apresenta um especial de 76 páginas, nas quais o Sexteto se une pela primeira vez. Até aí, tudo bem, se não fosse o fato da coleção não ter parado por aí, e uma segunda caixa nos ser apresentada alguns meses depois com o volume 5 dedicado ao vilão Abutre (cuja história de origem é a primeira do volume 4). Resta saber se a qualidade dessa nova leva se manterá como a da primeira, mas a impressão que fica é que foi feita às pressas para aproveitar o sucesso de sua antecessora.
Enfim, a Coleção Histórica Marvel: Homem-Aranha é um excelente item para se ter na estante, tanto para quem é fã de longa data do Cabeça de Teia quanto para quem está começando agora a conhecer o Escalador de Paredes. Mas, principalmente, é a melhor pedida para aqueles mais jovens que estão na vibe do novo filme e querem conhecer um pouco mais o material original, sem precisar se preocupar com os anos de cronologia e más fases pelas quais o herói passou nos últimos quarenta anos.
HA sempre foi minha leitura preferida de HQ, e eu nunca engoli o sexteto sinistro tb. Acho que foi uma tentativa de tornarem o HA menos personalista, já que seus duelos eram sempre muito individuais e tals.