A Editora Mythos, já há algum tempo, vem realizando um excelente trabalho resgatando alguns personagens, principalmente aqueles publicados em sua versão modernizada pela Dynamite, como já aconteceu com O Sombra, que ganhou uma nova roupagem pelas mãos do irlandês maluco Garth Ennis. Agora a bola da vez é O Aranha, personagem criado em 1933 por Harry Steeger.
O Aranha, assim como o Sombra e outros personagens que a Mythos vem publicando, é oriundo de um Estados Unidos pós-crise de 1929, um universo completamente marginal, típico do cinema noir e, claro, da literatura pulp da época. Suas histórias quase sempre tinham ligação com a realidade da época, principalmente com a crise econômica pela qual o mundo passou.
Este cenário foi perfeito para a criação de anti-heróis. Homens que não acreditavam mais no sistema para ajudar seus conterrâneos e utilizavam métodos pouco ortodoxos para resolver um problema endêmico daquele local. Por isso, boa parte dos heróis pulp estão à margem da justiça, procuram seus próprios meios para combater o crime, e, de certa forma, popularizaram o típico justiceiro das histórias em quadrinhos e outras mídias, não medindo consequências para chegarem ao seu objetivo.
“Os fins justificam os meios” vem a calhar, já que nesta reformulação do Aranha ocorreram poucas mudanças, contextualização ao mundo atual, e pouquíssimas alterações na origem dos personagens, o que é, de certa forma, insuficiente para os dias de hoje. Infelizmente as motivações dos personagens são banais, bobas e repletas de clichês. Algo muito diferente de outras obras que buscavam o mesmo objetivo de reformulação, como o próprio Sombra, escrito por Ennis, ou Planetary, de Warren Ellis.
Assim como na criação do Aranha, Richard Wentworth, o homem por trás do manto, é um playboy veterano da Guerra do Iraque (no original retratado na Primeira Guerra Mundial), que passa seu tempo combatendo o crime da cidade com duas pistolas e deixando seu símbolo na testa dos inimigos mortos. Importante lembrar que o Aranha foi criado justamente para concorrer com o Sombra, criado três anos antes, e esses dois personagens foram alicerces para Bob Kane criar o Batman alguns anos depois. As similaridades das origens, o tom soturno e o modus operandi desses personagens deixam claras as influências de Kane.
A modernização do Aranha traz problemas graves de roteiro, principalmente pelo fato do autor, David Liss, não ambientar o personagem em um contexto mais atual, bem como fundamentar as suas motivações, já que o primeiro arco soa apenas como um justiceiro que acredita que simplesmente matar todos os criminosos da cidade irá resolver o que há de podre nela. Diferentemente de Frank Castle – outro justiceiro, porém bem mais novo que o Aranha – em que alguns autores souberam trabalhar com a ambivalência contida no personagem, seus dramas psicológicos e o aspecto sociológico que suas atitudes acarretavam. Infelizmente isso não é nem pincelado pelo roteiro de O Terror da Rainha Zumbi!.
Felizmente, a arte de Conton Worley é um show à parte. Seu traço quase fotográfico é de encher os olhos. O artista soube utilizar elementos noir em seus quadros, e a metrópole que nos é apresentada é suja e remete diretamente aos filmes de John Huston, Billy Wilder, Fritz Lang e tantos outros que tão bem ambientaram o estilo. A edição conta ainda com as capas originais de Alex Ross, John Cassaday, Franceso Francavilla e Ron Lesser.
O Aranha – O Terror da Rainha Zumbi! peca por não conseguir seu objetivo primordial, que é ambientar o personagem nos dias atuais, soando apenas como uma série de clichês mal utilizados do gênero. Porém, divertirá os menos exigentes.