Sandman: Overture, traduzido pela Panini Comics como Sandman: Prelúdio, é uma minissérie do Senhor dos Sonhos, escrita por Neil Gaiman e ilustrada pelo magistral J. H. Williams III. Os três volumes (dois capítulos em cada), narram a história que deixou Morpheus fraco a ponto de ter sido capturado por mortais na estreia do lendário título The Sandman, publicado em 1989, antes mesmo da criação do selo adulto Vertigo, da DC Comics. Nesta resenha, abordaremos o primeiro volume.
Todas as criaturas podem sonhar e para cada uma delas existe uma versão própria do Senhor dos Sonhos. Logo no início do Prelúdio somos apresentados a flores alienígenas que sonham. Repentinamente aqueles vegetais dotados de consciência passam a duvidar da natureza do Sonhar e isso acarreta a morte de uma versão do Senhor dos Sonhos. Isso nunca aconteceu antes.
Temos um corte. Na cena seguinte Morpheus marca uma conversa com o Coríntio e os leitores ficam sabendo mais informações sobre esse personagem secundário e assassino, mas antes que o Sonho possa finalizar a visita, ele é invocado por uma força misteriosa. Morpheus sente que a pressão esmagadora da invocação significa problemas e, por isso, decide reunir seus objetos de poder no Sonhar.
A força misteriosa o arrebata e logo Morpheus é jogado em um descampado oculto com outras figuras ao seu redor. Todos aqueles outros seres são ele mesmo. O Senhor dos Sonhos os reconhece e todos se reconhecem entre si; são Sonhos de todas as formas de vida de todos os universos que existem. Espelhos de mesma essência: o Sonho.
Gaiman desenvolve a mitologia por trás do Senhor do Sonho ao deixar claro que todas as partículas sonham, desde a primeira forma de matéria até todas as outras que virão em todas as realidades possíveis. Voltando à história, quando todos eles param de se analisar, revelam o motivo da reunião: um Senhor do Sonho foi morto e essa ausência é capaz de criar uma anomalia que levará toda a Existência à morte.
A partir daí, o Prelúdio acompanha Morpheus na jornada até a solução do assassinato. Rapidamente ficamos sabendo que o Senhor dos Sonhos sabe a causa do fim, pois mesmo a versão morta é parte da essência de cada um deles. A jornada, portanto, não é de investigação, mas de reparação de uma falta cometida pelo próprio Morpheus que originou o assassinato dele mesmo.
Sandman: Prelúdio, é uma jornada íntima. Morpheus não é mortal, mas é tão falível quanto. Gaiman dota seus Perpétuos de méritos e falhas que se assemelham aos deuses politeístas mitológicos (a mitologia de Sandman explica que os Perpétuos são os predecessores dos deuses falíveis e imortais). Morpheus carrega defeitos de caráter que apenas foram amadurecidos com a disposição da eternidade para si. Antes, quando ainda era jovem (embora isso soe estranho) , cometia enganos.
Em todos os aspectos, o volume é impecável. Textos curtos e suficientemente significativos por conta de Gaiman; páginas desenhadas com vigor, cores vivas e ousadia por parte do experiente J. H. Williams III. Como representar os elementos oníricos de uma forma inteligível e sedutora? Sandman: Prelúdio é a resposta. Atmosfera asfixiante e paralelamente fascinante. O zelo na produção de todas as histórias do personagem estão em outro patamar de criação artística. Impecáveis.
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Texto de autoria de José Fontenele.
Leia a resenha de Sandman: Prelúdio – Volume 2 e Volume 3.
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