A Netflix ficou famosa ao longo dos anos, por apresentar documentários em séries, variando de qualidade e estilo. Seguindo essa métrica, Eric Goode e Rebecca Chaiklin apresentaram seu projeto, Máfia dos Tigres, minissérie originalmente lançada com sete episódios, que elucubra sobre o estranho mundo dos admiradores de grandes felinos, investigando uma história repleta de intrigas, escândalos e bizarrice, usando como personagens centrais três “cuidadores”, Joe Exotic, Carole Baskin e Doc Antle.
O programa traz opiniões polêmicas sobre seus personagens principais, sem exceção, mas há um debruçar especial sobre Exotic, obcecado por se tornar uma celebridade. Sua figura peculiar se demonstra até mesmo em sua aparência. O motivo que fez a série ganhar uma notoriedade internacional, foi a acusação de tentativa de assassinato de Baskin e a prisão de Exotic.
Baskin também é entrevistada, e por mais que sua introdução se dê por meio de uma musica instrumental fofa, aos poucos sua faceta mais obscura é mostrada. Sua empresa de cuidados de grandes animais Big Cat Rescue é mostrada como resultado de uma obsessão antiga, sua primeira foto quando bebê foi ao lado de um gatinho, sua casa atual é repleta de estátuas de felinos e curiosamente ela carrega uma alergia a gatos desde criança.
Dois fatores contribuíram para a série se tornar um sucesso no serviço de streaming. A primeira, é a coincidência de ter estreado logo no início da pandemia de Covid-19, e o segundo é certamente a composição estranha, bizarra e apaixonante que cada personagem tem, ainda que soem extremamente repulsivos. Joe por exemplo gravou alguns discos – cuja voz claramente não é sua – e os documentaristas fazem questão de coloca-la na trilha. Outro fator que choca são as histórias de pessoas que perderam membros por cuidarem desses felinos.
Uma das questões mais problemáticas é para onde esses animais vão quando ficam mais velhos, pois eles só são dóceis por um período pequeno, depois servem apenas para procriação, já que os gastos para alimenta-los são altíssimos, se tornando um risco para o negócio. Os lugares que aceitam os animais veteranos, como os de Mario Trabaue, tem em seu dono (outra) figura peculiar e com graves problemas policias. Mario recebe o apelido de Tony Montana, pela ascendência latina e envolvimento no passado com tráfico de drogas, além de ter tigres em casa como era o personagem do filme de Brian DePalma, Scarface.
Um dos personagens mais ricos é o produtor Rick Kirkham, que acompanhava Exotic com uma câmera para onde ele fosse, e isso o coloca numa posição de intimidade nada confortável, em especial na obsessão de Exotic com Baskin. Com o tempo, essa relação se transforma em algo perigoso, repleta de provocações e ameaças.
O final de A Máfia dos Tigres mostra seus astros em posições extremas, com um impossibilidade de trabalhar, outro preso, e além disso, há uma boa interferência do ator Joel McHale, que durante a quarentena entrevista algumas pessoas do especial que Goode e Chaiklin fizeram, e embora não tenha o mesmo brilhantismo do resto do material, enriquece a apreciação. Fica a curiosidade geral por mais trabalhos da dupla de realizadores, e também pela adaptação dessa história tão unica e grotesca para os cinemas, já que isso garantiria uma maior exposição para essa entrópica jornada.