A caminho da Grécia, Saori Kido levanta a possibilidade de Ares estar mentindo em relação a sua identidade, além de aventar a quantidade de cavaleiros de ouro existentes, um para cada signo do zodíaco, totalizando doze. Paralelamente a isto, Aiolia de Leão encara o Mestre do Santuário, indagando-o sobre a verdade. Quando o vilão finalmente assume seu papel diante do seu antigo lacaio, mas antes que os dois pudessem finalmente se encarar, a dupla é interrompida por Shaka, o lendário cavaleiro de Virgem, adentrando uma batalha de mil dias.
Os cavaleiros de bronze são recebidos, na Casa de Áries, por um monge, e antes de passar pelas escadarias reencontram o Shiryu. Logo, o capanga se revela Tremy, cavaleiro de prata de Sagita (flecha), um sujeito fraco, mas que consegue desferir uma flecha dourada em Saori, deixando-a gravemente ferida, à beira da morte.
Como com Jamian de Corvo, mais uma vez Seiya deixa Kido em perigo, no que seria mais um dos clichês do seriado, com a reencarnação da deusa sempre se inserindo em situações bastante inquietantes e de perigo intenso, tudo para que seus rapazes provem seu valor. A repetição é uma das chaves dos roteiros de Masami Kurumada. Desta vez o senso de urgência é magnânimo, já que eles precisam atravessar toda a extensão do Santuário para salvar a reencarnação da deusa da Justiça.
A primeira passagem é pela Casa de Áries, onde Mu usa enigmas, para depois restaurar as armaduras de bronze, deixando-os mais fortes. Esse ínterim dura uma hora, e eles finalmente têm de enfrentar o gigantesco Aldebaran de Touro. A luta de Seiya contra ele é bastante anticlimática, uma vez que o Pégaso somente decepa um dos chifres da armadura do personagem, após atingir a velocidade da luz, o sétimo sentido – algo somente conferido aos cavaleiros de Ouro. Aldebaran percebe que algo está errado, uma vez que por trás dele há um cosmo gigantesco, poderoso demais para um espécime daquela patente. Ele deixa os moços passarem quase sem lutar, mas os adverte para ter mais atenção, pois nem todos serão benevolentes. Mais tarde, ao falar com Mu, Touro declara que o quarteto não era formado por traidores, assumindo, apesar dos pesares, que eles deveriam ter a justiça ao seu lado.
Na terceira Casa, de Gêmeos, os meninos passam por uma ilusão, demorando demais a perceber o ardil, que seria encabeçado pelo Mestre do Santuário. A ilusão de ótica faz com que Pégaso e os outros se enredassem em um labirinto falso, percebido pelo cego Shiryu. Shun e Hyoga prosseguem perdidos ali, tendo um resgate pelas mãos de Ikki, que atacou Ares de modo mental.
Enquanto isso, Hyoga é transferido para a casa de Libra, onde encontra “o mestre do seu mestre” Camus de Aquário. O que deveria ser um interessante encontro perde força graças ao desnecessário filler do Cavaleiro de Cristal. Toda a emoção e reencontros do Cisne com sua mãe, numa imaginação no além-vida, são também banalizados graças às invencionices da Toei.
Após a queda do Cisne, Seiya e Shiryu chegam à Casa de Câncer, onde enfrentam o cruel Máscara da Morte, lugar em que se pisoteiam as faces dos guerreiros mortos pelo cavaleiro de Ouro. A batalha envolve ataques semelhantes a ilusões, onde o Dragão é lançado ao inferno, quase sucumbindo à armadilha de seu adversário, salvo duas vezes por espécimes femininos: primeiro pela deusa Atena, e depois por sua amada Shunrei. A gratidão pela moça, que acompanhou todo o treinamento do personagem na China é enorme, tão intensa que suas orações o fizeram retornar ao mundo dos vivos, num emocionante impulso e com um retorno triunfante. Sobre seu inimigo, este sofreu sua ira por ter menosprezado o espírito de Shunrei. Após inúmeras tentativas de acertar a Máscara da Morte, a armadura de Câncer abandona seu hospedeiro, em uma atitude semelhante ao que ocorreu na luta de Pégaso contra Aiolia. O cosmo de Shiryu também é elevado ao sétimo sentido, munido por Atena. Sem sua armadura, lança um ataque que finalmente encerra a existência do inimigo, talvez o mais vil de toda a saga.
Na casa de Leão, Seiya enfrenta um estranho Aiolia, emulando a dupla personalidade que seria vista mais à frente com o Mestre do Santuário, algo semelhante com o que ocorreu anteriormente com o Cavaleiro de Cristal e com Ikki. Cassios, que cuida de Shina após o ocorrido no Oriente, fala do golpe Satã Imperial, que põe o Leão em uma fidelidade incontestável a Ares. A batalha está quase vencida por Aiolia até que o gigante ex-rival de Seiya se põe na frente do herói, oferecendo-se como sacrifício para que sua musa Shina não sofra.
O próximo cavaleiro a ser enfrentado é aquele que é o mais próximo de Deus. Para ambientar o público, mais dois (chechelentos) fillers aparecem: Shiva de Pavão e Ágora de Lótus (que sequer é uma constelação), dois discípulos de Shaka designados para atacar Ikki na Ilha da Rainha da Morte. Curiosamente, duas incongruências são notadas. A primeira é que antes a infernal ilha não tinha condições básicas de vida, agora possuía uma mini aldeia, com pessoas que protegem seu regente, o Cavaleiro de Fênix, sem qualquer explicação prévia. O segundo ponto tosco é a condição dos dois capangas de Virgem, que deveriam ser pacíficos budistas, mas humilham os aldeões sem necessidade alguma.
Após se desvencilhar facilmente de Shun, Seiya e Shiryu, Shaka enfim enfrenta Ikki, que, entre uma ilusão e outra, tenta fazer do combate algo parelho, quase nunca com sucesso. Após descobrir que o Cavaleiro de Virgem é na verdade a reencarnação de Buda, ele passa pelos seis mundos do ataque do seu inimigo, em mais uma mostra do ecumenismo pregado por Kurumada. O sacrifício de Fênix reforça o ideal defendido durante a série, tendo na próxima luta outra repetição de clichês do programa: as interações homoeróticas. Após perder seu irmão em uma batalha, Shun se entrega de corpo e alma para salvar o recém salvo do congelamento Hyoga, que ao se estabelecer, leva seu amigo nos braços, como uma bela adormecida efeminada, diferenciando-se demais da mesma cena no mangá.
A luta com Miro de Escorpião faz lembrar outro defeito recorrente de Saint Seiya, que é a eterna gangorra de poder que os cavaleiros de bronze se submetem, sendo fortes e poderosos em um momento e absolutamente inúteis em outro, até que um cavaleiro surge e vence um dos poderosos rivais, fazendo dos sacrifícios – que deveriam ser belos em situações frívolas e genéricas – prejudicados pela repetição de cenas e de problemáticas. Ikki perdeu seus sentidos ao lutar contra Virgem; Hyoga se esvai em sangue quase a ponto de desacordar contra Escorpião, reprisando o drama anterior, banalizando o que deveria ser uma luta interessante.
O filler presente na casa de Sagitário é mais um evento irritante, que contradiz completamente a ideia de fidelidade presente na postura de Aiolos, tendo seu passado finalmente justificado pela fala do próximo guerreiro, Shura de Capricórnio, o responsável por sua morte. A luta dos dois é visualmente bela, mas se destaca especialmente pelo duplo sacrifício dos adversários, que se repete na próxima Casa, na batalha entre mestre e pupilo, travada entre Hyoga e Camus de Aquário, questão esta que seria revisitada em Hades.
No início do Santuário, nas escadarias, Jabu de Unicórnio e os outros cavaleiros de bronze secundários guardam Saori, lamentando, entre outros fatos, a disparidade de poder e o tamanho do cosmo entre eles e os que sobreviveram, Seiya e Shun. Ares segue em seus devaneios de dupla personalidade, relembrando cada um dos reveses dos cavaleiros dourados e a quantidade enorme de desobedientes e rebeldes. A batalha entre guerreiros efeminados acontece entre Afrofite de Peixes e Andrômeda, que tenciona vingar seu mestre Albion (ou Albiore, na tradução correta, versão filler do personagem do mangá Daidalos) de Cefeu, que foi morto. Quando o último inimigo tomba, sobram apenas os soldados rasos antes do Mestre do Santuário, comandados por Piton, facilmente derrotados por Marin e Shina. Após salvar seu pupilo, a amazona de Águia reforça a famigerada – e péssima – ideia de ser ela Seyka, a irmã perdida do cavaleiro de Pégaso, fato que em nada acrescenta à disputa entre o protagonista e o agora revelado Saga, que fingiu ser Ares o tempo inteiro, em mais uma confusão de inversão dos sentidos do texto original do mangá. Finalmente os eventos começam a ficar interessantes, quando Saga cai ao chão, revelando sua dupla personalidade, pontuada pela dublagem com um timbre mais grosso e pela mudança da coloração de seus cabelos. Paralelo a isso, as amazonas discutem a ida de Marin a Starhill e o cadáver que se viu lá, o do Mestre do Santuário, designado de forma confusa como Ares, e não Shion, como seria no mangá.
Após uma manobra desesperada, o pedante cavaleiro de Pégaso consegue enfim tomar o escudo da estátua de ouro da deusa Atena e salvar sua reencarnação Saori, com a ajuda do revivido Ikki. Restabelecida, a divindade em forma de menina retorna às doze casas, recebida com humildade pelos cinco cavaleiros de ouro restantes.
Com seu poder, Kido restabelece a saúde de Shiryu, Hyoga e Shun. Diante de seus antigos companheiros e da criatura que tentou matar 13 anos atrás, Saga se entrega ao julgamento de Saori, reclamando o perdão por tê-la traído e quase matado-a. A mensagem final da Saga do Santuário é de que, mesmo os mais fracos homens, municiados com a justiça, são capazes de vencer quaisquer adversários ou situações conflitantes. Relembrando que a amizade é o maior dos bens da juventude, salvando-se mesmo com as medíocres partes inventadas pelo estúdio de animação.
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Confira a Primeira Parte do Review da Saga do Santuário, correspondente a Guerra Galáctica, e a Segunda Parte, correspondente a Saga dos Cavaleiros de Prata.