Resenha | Os Abraços Perdidos – João Chiodini
Etapa vital para o desenvolvimento do ser humano, a infância é berço das primeiras percepções e base para maneiras distintas de observar o mundo. Os filhos aprendem espelhando ensinamentos e a atitude dos adultos e, somente em idade madura, adquirem conhecimento e sabedoria para distanciar-se deste aprendizado, desenvolvendo um caminho próprio. O meio pelo a qual se vive pode não significar a essência completa de um ser humano. Porém, ainda se mantém fundamental para compreendê-lo.
Lançado pela Editora da Casa, Abraços Perdidos, primeiro romance de João Chiodini, aborda os conflitos familiares por duas vertentes distintas, em dois polos narrativos e temporais: a violência dos fatos cotidianos e o eco destas ações na memória traumática da personagem. A obra se inicia com uma epígrafe de Paul Auster, escritor americano contemporâneo cuja narrativa sempre desenvolve conflitos humanos em um viés fatalista. Dessa forma, o leitor compreende de antemão a composição conflitante e traumática da narrativa.
A história aborda dois tempos na vida de Pedro: uma infância vivida com a mãe e a sombra de um pai que via somente em ocasiões especiais como férias escolares; e a fase adulta quando se vê obrigado a lidar com a gravidez de uma namorada. Cada um destes espaços-temporais são narrados em vozes diferentes. A primeira narrada em primeira pessoa, mais íntima, demonstrando uma voz mais inocente; a adulta narrada em terceira pessoa, um distanciamento proposital que endurece ainda mais a realidade e o perfil da personagem principal.
Chiadoni aplica uma tensão precisa para promover uma trama em que a violência está nas entrelinhas da história de seu personagem. Ao equiparar dois momentos de uma mesma trajetória, evidencia que parte da memória e da compreensão da vida na fase da infância se torna potencialmente destruída pela repetição dos traumas. Fatores que advém do exterior do ser humano mas se transformam em fissuras poderosas que moldam as atitudes futuras.
Composta por parágrafos e capítulos breves, o estilo é propositadamente seco, efeito que produz no leitor a percepção de um ambiente sem amor, vivido sob entraves e conflitos humanos que poderiam – mas não são – resolvidos através do diálogo e da compreensão. Ao mesmo tempo, a brevidade narrativa se alinha com a visão contemporânea sobre uma era sem os mesmos valores sólidos de outrora, apoiada em um excesso de transformações veloz.
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