Resenha | Homem-Aranha: Último Desejo
A passagem de J. Michael Straczynski no título Amazing Spider-Man durou seis anos e foi marcado por acertos pontuais e erros difíceis de serem assimilados. Havia um bom início, inserindo uma nova profissão para Peter Parker, mas o passado de grandes personagens foi modificado sem uma história sólida.
As últimas tramas tiveram um ganho de qualidade graças à saga Guerra Civil, ponto de transição para Peter Parker que revelou sua identidade publicamente. Os arcos A Volta do Uniforme Negro e Um Dia a Mais exploraram as consequências desses feitos e explicitavam a dificuldade de como lidar com uma modificação explícita do status quo da personagem. A resposta para esta pergunta foi entregue aos fãs em uma saída fácil, na qual Peter realiza um pacto com Mefisto, apagando seu casamento com Mary Jane e mantendo Tia May viva, na ocasião, prestes a morrer devido a um atentado.
A situação abusava da credulidade dos leitores mas desenvolvia uma nova postura em Peter Parker, retomando uma época da carreira em que a aventura dominava a narrativa sem as preocupações envolvendo a relação amorosa, aspecto que os fãs, diziam os editores da época, dividiam-se em opiniões distintas. Coube a Dan Slott promover esta nova vertente com competência e, mesmo em momentos oscilantes, obter um saldo positivo. Homem-Aranha ganhou novos pares românticos, o retorno de vilões do passado e uma dinâmica que retomava a energia da fase clássica de Stan Lee em novas situações, modificando a vida financeira de Parker que, pela primeira vez, adquire um trabalho longevo e de qualidade explorando sua força científica, por exemplo.
Slott criou um alto desafio para sua passagem, sendo essa história, Último Desejo, o marco final de sua primeira fase à frente do aracnídeo, criando um segundo ato que marca o início da Nova Marvel e transpõe o Doutor Octopus no corpo de Peter Parker, uma reviravolta exagerada até mesmo para conceitos hiperbólicos dos quadrinhos. Publicado originalmente no país em Homem-Aranha #142 e #143 e Homem-Aranha Superior #1, a edição compilada pela Panini Comics em capa dura se inicia com um dia perfeito na vida de Peter Parker: sucesso no trabalho, com diversos vilões derrotados, decidindo reatar com a mulher que ama quando Otto Octavius, preso na Balsa, está prestes a morrer. O público descobre, ao final da primeira parte, que o herói apresentado é, na verdade, Octavius.
Este grande vilão do teioso apresentou nesta fase uma doença degenerativa, a qual, entre diversos planos, tenta superá-la e falha. A ação apresentada nesta história é um último e derradeiro ato, quando o vilão converte sua consciência para o corpo de Parker e deixa-o em seu corpo moribundo. A trama opta por causar a reviravolta e justificar seu motivo em momento posterior. É difícil ao leitor imaginar um tradicional personagem modificado desta maneira, ainda que ação de corpos trocados entre inimigos seja potencialmente eficiente.
Pelo histórico de boas narrativas, Slott merece crédito nesta história de transição entre uma fase a outra, ainda que a trama em si não seja tão destacável, evidenciando um desafio do roteirista em lidar com um novo conceito da personagem, momento que causa estranheza no leitor. Evidente que nada é tão radical assim e a consciência de Peter, ou ao menos parte dela, acompanha Otto e causa um conflito interno no vilão que, agora com acesso as suas memórias, observa no arqui-inimigo sua força heroica.
O arco marcou a transição entre a revista Amazing Spider-Man que lançava seu 700º número para uma nova revista intitulada Superior Spider Man. Um evento comemorativo que transformava o conceito conhecido da personagem, e corajoso o suficiente para levá-la a um novo patamar narrativo que será melhor delineado em histórias futuras.
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