Categoria: Críticas

  • Crítica | A Incrível História de Adeline

    Crítica | A Incrível História de Adeline

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    Adeline (Blake Lively) é um fenômeno inexorável de origem puramente estatística, bem como todos o habitantes deste planeta. Cada nascimento específico tem uma probabilidade de cerca de 1 em 300 milhões, ou 0,0000003% de ocorrer, traduzindo-se em um fenômeno extremamente raro, e que a despeito desta raridade ocorre todos os dias. Adeline, uma mulher independente nascida no século XIX vive hoje como fruto de um fenômeno fabular apresentado pelo narrador que foi capaz de tornar cada uma de suas células indiferente à passagem do tempo. E assim, sem envelhecer, vê o tempo passar e destruir seus sonhos, mantendo existência, fazendo-a se reinventar a cada ponto de cisão de sua vida ou sempre que alguém percebe sua condição especial.

    O tempo físico se constitui de uma variável com sentido bem definido, representado no conceito de Seta do Tempo que diz que processos físicos seguem um sentido prioritário, não havendo a reversibilidade destes mesmos processos. Era, anteriormente à Teoria da Relatividade, um conceito absoluto. Hoje se sabe que é relativo, bem como o espaço trazendo consigo a ideia de que é de alguma forma possível agir sobre o tempo, lhe dando o status de fenômeno físico.

    Os ecos filosóficos de tais elaborações alcançam o imaginário popular, e este objeto de fascínio humano desde sempre vai se transformando como uma forma de protesto ao poderoso efeito do passar dos anos. Nietzsche com sua concepção do “Eterno Retorno” indica que estaríamos presos à uma série sucessiva de eventos fadados à repetição, que se repetiram no passado, ocorrem no presente e se repetem no futuro, tal como guerras ou acontecimentos históricos. Assim é A Incrível História de Adeline, uma repetição de muito do que se viu ou sabe-se sobre fábulas ou romances no cinema.

    Na era da ciência, o ser humano se tornou aquele que seria tratado como demônio, como anunciado por Nietzsche, que surgiria como portador da verdade sobre o tempo, ou que seria tratado como ser dividido caso esta verdade lhe tocasse. Não a toa a fábula de Adeline tem todo um verniz científico, atribuindo dados estatísticos, um contexto histórico tratado como fenômeno determinístico, e uns pequenos falsos fatos para a verossimilhança da trama. Não a toa, também, Adeline vê em conflito moral ao se apaixonar por um cientista sonhador às vésperas de sua próxima mudança de vida para fugir de seu futuro de questionamentos sobre o que ela é. Seu sofrimento consiste em aceitar ou não o demônio citado pelo filósofo, é a decisão entre escolher reviver sua vida ou reiniciar sua existência sem passado.

    Apesar do conceito interessante, o filme sofre de problemas narrativos sérios como, por exemplo, lançar mão da narração em off para toda e qualquer grande resolução. Tal conceito soa normalmente preguiçoso, e o espectador percebe que o recurso será recorrente e constante. Estatisticamente previsível para aquele que já viu algum outro romance, a película se recusa a fugir de estereótipos mesmo que queira dar a entender que sua visão é diferente e eventualmente mais moderna do que seus pares.

    Um bom divertimento, aquém do que poderia ser, não funciona tão bem como fábula e nem como romance, mas é bem mantido pelo bom elenco que conta com surpresas e faz daqueles acontecimentos óbvios algo, ao menos divertido de se ver, novamente.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | O Mundo Perdido (1925)

    Crítica | O Mundo Perdido (1925)

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    Quase quinze anos antes dos filmes de Sherlock Holmes com Basil Rathbone, o autor Sir Arthur Conan Doyle já era adaptado para as grandes telas com um clássico do cinema mudo, em 1925. O Mundo Perdido conta a estranha história do desbravador Challenger (Wallace Beery), um professor que lidera uma expedição britânica até a “longínqua” América do Sul, atrás do lugar em que ele acreditava viver criaturas pré-históricas, em pleno mundo urbanizado.

    Os exploradores rumam em direção a um planalto amazônico, sem delongas, numa trama de arrogância e total desconhecimento por parte dos europeus poderosos que enxergam em tudo o que é “não branco” algo necessariamente primitivo. Mesmo deixando de lado a xenofobia que compunha o conhecimento popular da época, há pouco de pensamento substancial, mesmo em nome dos que se dizem defensores da ciência. Mesmo Challenger parece um devoto que não dedica a sua vida a crença religiosa, mas que faz de sua obsessão um artifício tão maniqueísta quanto.

    Um tempo demasiado é gasto na preparação da força-tarefa da viagem, estabelecendo-se que aquela era na verdade uma expedição de resgate, visto que já haviam incursionado àquelas terras distantes anteriormente. A formação dos bravos inclui caçadores, membros da imprensa e uma mulher apaixonada, conduzindo a equipe ao máximo de heterogeneidade possível, fator completamente irrelevante diante dos perigos que supostamente enfrentariam.

    A condução de Harry O. Hoyt é amadora se comparada às produções de hoje, mas consegue equilibrar de modo não assustador as cenas com atores reais e as criaturas digitais, inserindo pela primeira vez em larga escala a tecnologia de stop motion. A primeira criatura do filme é um pterodáctilo, dinossauro voador que se assemelha a uma ave e que alimenta seus filhotes em um ninho. Fora a aparição do animal, ainda surge um símio, cuja caracterização não passa de um homem fantasiado, o que se faz perguntar se ele corresponde a um macaco ou um elo perdido entre os seres pré-históricos e o homo sapiens.

    É curioso notar como a exploração da atmosfera da Terra mudou. Ao exibir uma luta, que deveria ser emocionante, entre um tiranossauro e um alossauro – ambos carnívoros gigantescos –, não há mudança na trilha sonora, que faz menção ao otimismo ao invés de focar os acordes na temível batalha a qual os pobres homens assistem. O conceito de usar a música como elemento narrativo de suspense ainda não era tão claro, apesar das óbvias exceções vistas no Nosferatu de F.W. Murnau e em seus pares do expressionismo alemão e do movimento Kammerspiel.

    Os erros e indiscrições provenientes da louca batalha pela cadeia alimentar são passíveis de perdão pela obra se passar em uma época que a paleontologia passava longe de ser uma ciência acessível – piorando e muito na época que Conan Doyle escreveu sua novela. O Mundo Perdido consegue, apesar de muitos pesares, manter um clima de escapismo ímpar, típico do cinema de sua época, sobrevivendo ao tempo, sendo apreciado por muitos e servindo de inspiração para obras posteriores, como os filmes de King Kong, suas continuações (e remakes), além de alimentar o imaginário de Steven Spielberg rumo ao clássico Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros.

    As influências, tanto no filme de Merian Caldwell Cooper Ernest B. Schoedsack quanto no segundo volume de Jurassic Park, O Mundo Perdido: Jurassic Park, são vistas através da tentativa de trazer uma das criaturas monstruosas para o convívio urbano, transportando um braquiossauro (chamado de brontossauro, à época) para a capital inglesa, o que obviamente deu errado e fez causar um sem número de problemas à metrópole londrina. O alvoroço fez com que as pessoas corressem para os subterrâneos, agindo como manada e fazendo se perguntar qual dos seres possuía comportamento animalesco. Ao final, abate-se o animal irracional, deixando a questão de quem seria a fera ainda mais viva do que o óbvio diálogo ao final de King Kong de 1933. O argumento abre um precedente para uma discussão maior, fazendo de Mundo Perdido uma pérola não tão valorizada quanto deveria ser.

  • Crítica | Arte, Amor e Ilusão

    Crítica | Arte, Amor e Ilusão

    Arte Amor e Ilusão

    Lançado em maio de 2003, ele é um grande contraponto a quantidade excessiva de romances tanto adolescentes quanto os simplesmente açucarados que tomaram conta das produções americanas durante os anos 90. Ele é adaptado de uma peça de teatro escrita e dirigida pelo próprio Neil Labute, que inclusive já foi interpretada no Brasil. The Shape of Things, ou Arte, Amor e Ilusão, traz o elenco original da peça (Rachel Weisz, Paul Rudd, Frederick Weller e Gretchen Mol) para uma produção de cinema que imita o teatro com grandes tomadas de diálogos que abrem espaço para aqueles quatro atores mostrarem diferentes facetas de seus personagens enquanto a trilha do britânico Elvis Costello ilustra toda a película.

    O filme começa com uma mensagem de aviso na música Lovers Walk de Elvis Costello, mas que não está sendo ouvida pelo protagonista. A partir dela acompanhamos Adam (Rudd), um funcionário de um Museu de Artes próximo à faculdade que conhece Evelyn (Weisz), uma estudante que está começando seu mestrado em artes e por algum motivo se interessa pelo jovem completamente desinteressante. Os diálogos entre todos os personagens nos indicam que existe uma passagem de tempo de meses entre muitas das cenas do filme. Vemos isso mais claramente no físico de Rudd, que acaba emagrecendo muito durante essas passagens.

    Em todos os arcos dramáticos do filme é a transformação que dirige o espectador a pensar sobre os assuntos debatidos entre o casal de Rudd e Weisz. A insegurança que guia a vida de Adam o deixou com um casulo fixo nas costas, impedindo-o de sair ou de se aproximar de outras pessoas. Evelyn não só o arranca de lá, mas questiona o valor real das coisas. Tanto na arte quando na primeira cena do filme ela picha um pênis na estátua de Fornicelli, na vida de plástico dos seus amigos, na sua moral e em seu medo em relações, que o tornaram na pessoa que ela conheceu.

    Como o título nacional sugere, existem algumas discussões sobre arte contemporânea (performances, esculturas conceituais e vídeos), mas que só servem para abrir uma lacuna que só será preenchida ao final da história. Os amigos de Adam, Jenny e Phillip, são os primeiros a questionar a relação instantânea e fora de nexo dos dois, reforçando a falta de algo que pudesse atrair uma mulher à personalidade e aparência do amigo. Seu visual, suas roupas e até sua postura com as pessoas muda por pura influência de Evelyn.

    Assim como Alfred Hitchcock, guiar o espectador para o desfecho e manipular as cordas que dão vida à trama fazem parte de um excelente método de narrativa que guiam o espectador até o fim do filme. E é dessa manipulação narrativa que surge o ar de pequena joia que o filme possui. Neil LabuteRachel Weisz são dois Hitchcocks trabalhando juntos, até o fim que chega silencioso, chocante, humilhante e terrível.

    O diálogo final fala mais do que é um filme do que daqueles personagens, além do momento Encontros e Desencontros (que, apesar de provavelmente não ser referência, foi lançado no mesmo ano). Somos apenas Adams de muitas Evelyns que nos encontram aleatoriamente em nossas casas e nos cinemas, e acredito que é um dos poucos romances que exibe um metacomentário sobre a sétima arte.

    O filme traz um contraponto interessante do papel de manipulador ao primeiro filme de Labute, Na Companhia de Homens, o qual o papel de Evelyn era interpretado por Aaron Eckhart e Matt Malloy, e Adam era uma inocente moça interpretada por Stacy Edwards. Não só o papel dos gêneros foram trocados, mas o ponto de vista também. Fica a mensagem que tudo é relativo, transformações são perigosas… E confiar em mulheres também.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível

    Crítica | Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível

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    A ficção científica como narrativa especulativa atravessa reflexões contemporâneas como base para projetar o futuro. No período da Segunda Guerra Mundial, obras distópicas como 1984, de George Orwell, e Fahrenheit 451 de Ray Bradbury focavam em um futuro totalitário e na completa ausência do indivíduo. O estudo da Cosmologia através dos tempos transformou seres de outro planeta em prováveis inimigos para estabelecer uma análise da evolução humana em várias obras, como O Jogo do Exterminador de Orson Scott Card e Contato de Carl Sagan.

    Tais cenários são utilizados frequentemente em narrativas como o futuro totalitário presente nos juvenis Jogos Vorazes ou na saga Divergente. São tendências que surgem como reflexo de cada tempo, conforme o contexto dos autores.

    Com este argumento em voga, é perceptível um crescimento de conceitos que questionam o futuro da Terra e suas transformações climáticas devido a ação humana. No cinema-catástrofe, o hiperbólico Roland Emmerich explorou o assunto em 2012 e, mais próximo do cenário de ficção científica, Danny Boyle dirigiu o eficiente Sunshine – Alerta Solar. Bem como Interstellar de Christopher Nolan também discutiu a sobrevivência da espécie à procura de outros habitats. A destruição futura do planeta também é tema de Tomorrowland – Um Lugar Onde Nada é Impossível, produção dirigida por Brad Bird em sua segunda incursão fora da animação, e obra cuja bilheteria tem sido aquém da esperada pela Walt Disney Pictures. Estrelado por George Clooney, o projeto de Bird, que também assina o roteiro ao lado de Damon Lindelof e Jeff Jensen, era aguardado com expectativa e, diante de uma história simples, e a esperança de uma grande obra de ficção científica foi deixada de lado.

    Grande parte da ficção científica trabalha com duas histórias dentro de sua narrativa, projetando um futuro provável para analisar o próprio ser humano. Muitas tramas são metáforas simbólicas para reflexões profundas e metafísicas de nossa própria evolução. A necessidade de produzir um filme familiar gerou um desafio natural para os roteiristas que precisavam equilibrar uma boa trama sem perder o escopo reflexivo. A solução foi transformar a história em uma aventura semelhante às da década de oitenta, evocando personagens juvenis como centro e lhes dando o poder para transformar sua trajetória, mantendo a fantasia dentro do enredo.

    Na década de 60, o pequeno Frank Walker é um inventor prodígio que participa de uma feira de invenções com um protótipo de um propulsor a jato. Mesmo o aparelho não empolgando Nix, um dos jurados do local, sua filha Athena confia na inteligência do garoto e convida-o para embarcar em uma aventura em uma cidade situada no mesmo espaço que a Terra, mas em outra dimensão. Habitado por cientistas, professores e intelectuais em geral, Tomorrowland é composto somente por mentes pensantes que desejam um futuro melhor sem os vícios do planeta Terra.

    A origem do garoto é apenas um preâmbulo para equiparar a história de Case Newton, uma adolescente que, como também o jovem Walker, acreditava ser capaz de modificar o mundo ao seu redor com a potência da imaginação e criação inventiva. Convocadas pela mesma Athena, as personagens devem salvar o planeta de uma iminente catástrofe.

    A aventura de fantasia é definida em um logo primeiro ato com uma hora de duração, firmando a parceria entre Casey e um velho Walker, interpretado pelo sempre galã George Clooney. O longo ato inicial evidencia a intenção de evocar a narrativa de outras décadas, tanto pela condução mais lenta como também na evocação de um universo inocente, conduzido por uma pureza juvenil. Ao contrário de obras como Os Goonies e E. T. – O Extraterestre a presença deste elemento puro não parece natural, mas inserida no contexto para ampliar o público e a bilheteria.

    Nestes dois exemplos de produções oitentistas, entre outras que poderiam ser citadas, os dramas envolvidos em cena eram densos, apesar da história simples. Principalmente, devido a uma época em que não havia amenidades nos conflitos em histórias infantis. Personagens lidavam com a morte e a perda como adultos também lidam com tais situações. Compondo sua base apenas com cores vibrantes, Tomorrowland evita, por consequência, um conflito, nem que seja o tradicional embate de mocinhos e vilões.

    A Disney vem tentando modificar o paradigma de suas histórias mas ainda não encontra uma maneira adequada de acrescentar novas camadas a sua outrora simplicidade bem equilibrada. Vê-se uma tendência em trabalhar argumentos em pares, utilizando em tramas diferentes as mesmas soluções narrativas. Assim como Frozen – Uma Aventura Congelante e Malévola compartilhavam o mesmo efeito moralizante do amor fraternal, essa produção se assemelha com o futuro colorido de Operação Big Hero: um local evoluído tecnologicamente em uma Terra desgastada em que personagens se destacam pelo caráter e a inocência – bem como a criatividade – e são inspiração para mudanças. Além da impressão de um reconhecimento prévio de um conflito visto em um recente filme do estúdio, a trajetória das personagens não parece urgente nem mesmo conflituosa como deveria, retirando qualquer potencial destrutivo do vilão interpretado por Hugh Laurie. Mesmo seu discurso megalomaníaco não parece ameaçador.

    Esteticamente a obra tem muita beleza, principalmente nos claros cenários do futuro e nos enquadramentos que demonstram um início de estilo na câmera de Bird. Porém, a falta de densidade retira a potência base de uma ficção científica projetada antecipadamente durante a divulgação do filme. Mesmo sendo apenas uma obra familiar entre aventura e fantasia, a intenção de ampliar o público impede que a história atinja com eficiência um desses gêneros e, diante disso, falta-lhe fôlego em qualquer uma de suas vertentes.

  • Crítica | Quase Samba

    Crítica | Quase Samba

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    A bifurcação dicotômica presente na antiga discussão sobre ideologia é vista no drama de Teresa, ao se deparar com dois paradigmas sérios em sua vida: o fim do carnaval, e a paternidade do seu filho que está prestes a vir ao mundo. A bela pele negra, garante uma identidade tipicamente brasileira, além de traços comuns, que não inviabilizam a beleza real e comum de sua intérprete Mariene de Castro, que transborda sinceridade e veracidade.

    A escolha de Ricardo Targino em retratar uma mulher rotunda como um ser sexualizado é corajosa, quebrando a pecha conservadora que tenta enquadrar a mulher em invólucros de objetificação, que restringe o conceito de bonito a uma padrão estético cruel, que só engloba mulheres magras e que atendam aos padrões falocêntricos sociais. O entorno de Teresa, é repleto de figuras controversas, ao menos para os mesmos olhos do público médio, incluindo a trans Shirley (Cadu Fávero), fiel companheiro da brava mulher, servindo de âncora para a difícil vida de Teresa, que emula a rotina de muitos brasileiros da classe c.

    A baiana prossegue em sua invulnerabilidade, trabalhando intensamente, pondo sua voz na noite e nas exibições do rádio, compensando a dificuldade que tem em não saber qual seria a identidade do pai de sua criança, compreendendo de um lado, o desprezo do um dos “candidatos”, o policial Fernando (Otto), e por outro, os cuidados até excessivos do técnico João (Charles Baldessairini). Os dois homens são a antítese um do outro, o que faz duvidar ainda mais a combalida mente da moça, aumentando as dificuldades entre escolher lutar por um e aceitar os gracejos do outro.

    O drama em relação a “posse” do coração de Teresa, se acirra, ainda que a disputa não seja exatamente declarada, entre as duas contrapartes masculinas. A posição de macho alfa é travada de modo velado, com a ocupação terminando por ficar a partir da posse da própria mãe do bebê, que em momento algum arreda seu pé da posição de mãe e pai do feto que, sequer havia visto a luz do dia.

    Tardiamente, duas das figuras de mulo se degladiam, não exatamente pela atenção amorosa da mulher solteira, mas sim pela paternidade dos infantes, curiosamente do ponto menos provável do roteiro. O desenrolar dos fatos tem uma trágica conclusão, que lança até as personagens que o espectador escolheu desde o começo para torcer, em um lodo de alma tremendo, sem quaisquer chances de redenção ou austeridade, rasgando mais uma vez com qualquer protocolo de tranquilidade, bondade ou altruísmo, mostrando que mesmo a preocupação com outrem pode simbolizar a vaidade, além de claramente aludir ao pedido pela tragédia.

    Quase Samba é simples, mas poderosíssimo em sua proposta, entregando um conto de fadas invertido e pervertido, levantando questões como romantismo exacerbado, busca por sonho e demais padrões de fantasia como aspectos datados e não condizentes com a realidade, através de uma homenagem a rotina do brasileiro comum, sem medo de assumir o seu lado xucro e popular.

  • Crítica | Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros

    Crítica | Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros

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    Os acordes de John Williams são lembrados em estilo diversificado, agora com a batuta de Michael Giacchino, seguido de uma cena de ovos eclodindo, dando prosseguimento ao processo chamado vida. O diretor e roteirista Colin Trevorrow faz em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros uma homenagem ao trilogia original e ao filme Mundo Perdido de 1925, ao mesmo tempo em que situa o público no universo estabelecido que pressupõe a abertura do dantesco parque temático Mundo Jurássico, na mesma Costa Rica onde aconteceram os eventos de Jurassic Park e de  Jurassic Park: Mundo Perdido e Jurassic Park III da franquia. O encanto do menino Gray (Ty Simpkis) relembra o quão era bela a expectativa do público, em 1993, por ver os seres pré-históricos revividos e convivendo com a humanidade.

    Nos primeiros minutos da produção, há uma clara crítica ao excessivo gasto para produzir a estrutura artificial do Parque dos Dinossauros,  aludindo aos preços de naming rights (diretos reservado de nome) da nova criatura geneticamente criada, Indominus Rex. Como um magnata entediado, que faz as vezes de John Hammond, Masrani (Irrfan Khan) é o responsável por injetar dinheiro no Parque e também por financiar as atividaded de Claire (Bryce Dallas Howard), uma executiva de sucesso que graças a sua dedicação a carreira é uma parente relapsa.

    Na introdução da personagem de Chris Pratt, Owen Grady, descobrimos seu ofício como adestrador de velociraptores. Owen é o típico herói arquetípico, belo, audaz, corajoso, tendencioso e desbravador, seu modus operandi é intervencionista, como o de um exímio caçador, parecido demais com seu Starlord de Os Guardiões da Galáxia, um perfil que se torna irresistível para a quadrada Claire que tenta em vão esconder sua rendição amorosa.

    Ao menos na esfera de expectativas, o filme entrega bem seus préstimos, mantendo um suspense que encontra no público uma boa resposta. Mantém-se uma leve excitação sobre o visual de Indominus, com a sábia decisão de não escancarar sua aparência no primeiro ataque. A primeira intervenção entre o monstro e homens é breve, mas guarda uma dose de violência grande, cuidadosamente feita para não chocar as plateias conservadoras e famílias, parte do público alvo. Enquanto esse dinossauro impacta pela violência, os velociraptores estabelecem uma forte crítica a manipulação genética e a produção de híbridos com a possibilidade de se tornarem uma arma bélica, uma análise incomum para um filme para as massas.

    Os clichês seguem firmes e mais repetidos do que as histórias anteriores, curiosamente reprisando arquétipos dos filmes passados como a versão do CEO intervencionista, piloto de aeronaves como o presidente de Bill Pullman em Independence Day, (ainda que seu desfecho seja muito mais realista do que a vista no filme de Rolland Emerich).

    Os personagens centrais evoluem durante a história, principalmente Claire que deixa a pompa de lado, agindo de modo mais enérgico, provando que sua corrupção era fruto da falta de tempo e que a negligência não fazia parte de sua índole e caráter. Apesar de não apresentar nada que seja realmente inédito – ainda mais com trailers bastante reveladores – o roteiro mantém interessante viradas.

    A personagem de Pratt é superexposta e cada aparição o amplia como uma espécie de mito, ampliando as habilidades e capacidades sobre-humanas, seja no adestramento dos animais, como também nos atos heroicos, estilo sempre em voga em Hollywood, como também visto na persona de The Rock em Terremoto: A Falha de San Andreas, ainda que Owen Grady seja uma figura muito mais aceitável e carismática do que os heróis genéricos dos subprodutos de ação do cinema blockbuster.

    Os momentos finais aludem ao desfecho do primeiro filme, reprisando os mesmos heróis. Apesar de não apresentar uma obra prima, Trevorrow resgata parcialmente a aura do original, baseado nos livros de Michael Crichton, lembrando o espírito presente no reboot da franquia Planeta dos Macacos. Ainda assim peca ao repetir os mesmos erros de um sem número de filmes de aventura atuais, principalmente por não ousar em quase nada e reforçar a exaustão todo o conjunto de clichês de ação e aventura.

  • Crítica | Kung Fury

    Crítica | Kung Fury

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    Desde o lançamento do trailer em dezembro de 2013, Kung Fury mobilizou a internet. O projeto do sueco David Sandberg era produzir um curta-metragem de trinta minutos e disponibilizá-lo gratuitamente no YouTube, tudo financiado pelo kickstarter. Se as contribuições atingissem um milhão de dólares, seria produzido um longa. Infelizmente esta meta não foi atingida, apesar de o projeto ter arrecadado 630 mil dólares com mais de 17 mil colaboradores, algo impressionante para uma produção trash independente.

    O pequeno filme conta a história de Kung Fury, um policial mestre em kung fu numa jornada pelo tempo em busca de Adolf Hitler. A história parece nonsense e babaca, e realmente é. Bem-vindo a Miami, 1985! Trata-se de uma homenagem às coisas esdrúxulas dos anos 1980, regadas com exagero, canastrice e produção barata. O protagonista que dá nome ao filme, interpretado pelo próprio Sandberg, reúne o máximo de clichês possível: policial que trabalha sozinho porque seu parceiro, considerado um pai, foi assassinado, e agora utiliza suas habilidades de luta adquiridas do nada para combater o crime. A origem dos poderes de Kung Fury é a coisa mais ridícula do mundo, uma caricatura sublime dos anos 1980.

    O filme inteiro utiliza a grande técnica do chroma key e foi gravado no escritório/porão de Sandberg. As limitações técnicas e financeiras contribuíram para que o diretor utilizasse seus recursos da melhor forma possível, liberando sua criatividade de forma eficaz. A proposta foi apresentar um curta de aventura anos 80 com o máximo de exageros possíveis. O resultado final é espetacular. A estética oitentista aliada a alguns artifícios nostálgicos (tracking e imagem de VHS, música repleta de sintetizadores, frases de efeito babacas, só para citar alguns exemplos) criaram uma obra original abarrotada de clichês. Por mais paradoxal que possa soar, essa mistureba gerou algo com personalidade.

    Pouco antes do lançamento do curta, o mundo foi brindado com uma agradável surpresa: o videoclipe de True Survivor, música-tema do filme cantada pelo inigualável David Hasselhoff. O ator/cantor foi até a casa de Sandberg na Suécia para gravar o clipe e se deparou com uma pessoa tímida, mas dedicada àquilo que fazia. A namorada de Sandberg, ao ver o astro, caiu em lágrimas, dizendo ser inimaginável que aquela ideia nascida na garagem tenha ganhado vida. Hasselhoff gravou suas aparições do clipe naquele mesmo chroma key, e todos esses detalhes foram comentados pelo próprio ator neste vídeo. Ele gostou de participar do projeto e teceu diversos elogios a Sandberg.

    Kung Fury mostrou ao mundo que um bom projeto pode ser realizado com a ajuda da internet. O kickstarter, apesar de ser deturpado por inúmeros oportunistas, ainda é uma ferramenta poderosa para a criação de conteúdo independente, desde filmes até jogos. Sandberg deu à luz uma obra extremamente divertida que virou um fenômeno. O diretor/ator sueco mostrou uma grande dedicação e competência na produção deste curta, tanto que acreditou no projeto e tirou 5 mil dólares do próprio bolso para gravar aquele trailer. Reserve trinta minutos de sua vida para conferir esta pérola trash da atualidade, mas por favor, assista ao trailer e ao clipe de Hasselhoff antes. Há um joguinho bem legal para celulares e PC, também vale a pena conferir.

  • Crítica | Sob o Mesmo Céu

    Crítica | Sob o Mesmo Céu

    SOB O MESMO CÉU 1

    O começo da nova obra de Cameron Crowe, Sob o Mesmo Céu, remete a cenas gravadas por cinegrafistas amadores, revelando momentos de descontração na ilha do Havaí no descanso de férias, bem como a interação dos nativos com o belo lugar. O efeito seria de comoção e nostalgia, não fosse o tom exageradamente caricato piorado em muitos níveis pela narração intrepidamente óbvia, que discorre sobre a tardia corrida espacial dos anos 2010.

    O roteiro de Crowe apresenta uma quantidade enorme de clichês, desde a construção dos personagens até as situações comuns que vivem. Bradley Cooper vive o oficial Carson Welch, que vive sua rotina medíocre vendendo um estilo de vida essencialmente capitalista, negociando possíveis localidades para testes espaciais e já em uma fase decadente de sua carreira. Designada para “vigiar” Welch, a Capitã Ng (Emma Stone) exibe sua feminilidade jovial, escondida sob uma capa de militarismo poser, falsa em cada mínimo aspecto. Inicia-se, assim, uma interação romântica na qual a falta de química prevalece.

    A chegada à ilha paradisíaca faz lembrar o drama vivido em Os Descendentes, reprisando inclusive a questão da vivência dramática em um lugar onde memórias boas são geradas por turistas. Carson reencontra um grande amor, e se vê em uma posição espinhosa, mas toda a problemática sentimental apresentada é pobre e sem conteúdo, mesmo que a atmosfera construída seja a de um lar de rancores, tristezas, abandonos e ressentimentos. Falta alma e verve ao roteiro, que destoa de todo o panorama mostrado em tela, diferenciando-se até da bela fotografia de Eric Gautier, que consegue ser bela apesar da paleta de cores completamente tresloucada.

    Toda a questão ideológica relacionada ao engano aos nativos e os argumentos pró-armamentistas impulsionados por bilionários ficam em um plano subalterno para explorar o rocambole novelesco do trio (quarteto, se contar a personagem de Stone) entre Carson, Tracy (Rachel McAdams) e o atual marido desta, Woody (John Krasinski). Este último, curiosamente, é a personagem mais bem trabalhada e com nuances: não possuindo muitas falas, sua comunicação quase sempre é realizada através de gestos e olhares. Mesmo com todo o aspecto curioso, as situações são bastante frívolas e sem substância. Uma mensagem democrata barata, que acaba sendo apenas ideologicamente banal. Até se destacam momentos nobres, como a luta contra o avanço imperialista, mas estes se perdem por completo diante da barata tentativa de redenção moral de Sob o Mesmo Céu.

  • Crítica | O Riso Dos Outros

    Crítica | O Riso Dos Outros

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    O começo do documentário de Pedro Arantes remete a uma famosa fala de Goethe: “Nada descreve melhor o caráter dos homens do que aquilo que eles acham ridículo”. Logo depois, o realizador começa a provar seu ponto, exibindo um Stand Up Comedy com um número bobo, argumentando sobre tipos de risadas, ao mesmo tempo, que brinca com estereótipos de sorrisos.

    Em meio ao relato de muitos humoristas brasileiros, há uma exemplificação do porquê uma piada funciona e quais são os fatores que fazem a plateia rir. A conclusão chegada pelo montante de falas é que a vida do homem comum é tediosa, ao passo que o humor libera endorfinas, faz a existência ser menos dramática. Ver a tragédia sem se compadecer só acontece porque o trapalhão não teve uma morte ou sofrimento, é sobre esta égide que se posiciona a zombaria

    Da multiplicidade de discursos, retira-se uma outra conclusão, a de que o humor é matemático, calculável, portanto tendo linhas claras do que funciona num palco de comédia em pé e que alguns desses pontos não necessariamente agradariam em televisão ou cinema. O gênero Stand Up Comedy conta a com a facilidade e espontaneidade do texto próprio e figura própria, sem maquiagem ou máscara.

    Mas a discussão é o cerne do filme, que põe no centro do diálogo a necessidade do estereotipo para a realização das piadas. Estereotipo normalmente é usado pelos comediantes como uma muleta, serve para fazer o público rir, ao menos para começar o burburinho, dialogando com o preconceito alheio. O humor carrega uma dose de crueldade, busca o defeito, o pior, a caricatura baseado em uma característica que até determina identidade, mas reverbera o “ruim”, onde o desrespeito é comum.

    Alguns dos entrevistados relembram que os humoristas não são os responsáveis pelas mazelas sociais. No entanto, a leviandade da piada há que ser vista, especialmente pelo fato justificado pelo deputado e ativista gay Jean Willys, que destaca que o homem q faz a piada homofóbica é hetero. Mas é possível argumentar sem reforçar o preconceito.

    O cartunista André Dahmer é um dos poucos que vão na contramão das falas de Danilo Gentilli e companhia, de que o importante é avacalhar. Dahmer assume que em uma piada há sempre uma vítima, mas destaca que se é pra bater é melhor bater em quem merece, mulher e negro sempre foram perseguidos.

    O lado escolhido pelo documentarista é de que o motivo que faz a piada machista ser proferida é a clara tentativa de naturalizar a inferioridade da mulher ao homem, em um argumento claramente misógino. O sexismo reforça o lado oposto a luta do feminismo, na busca por respeito. Apelar pro lugar comum só retorna ao público o que possivelmente pensa, que além de não combater o preconceito, reforça a pensamento baixo do homem comum, reverberando o comodismo de ser conservador e opressor.

    Os depoimentos põem dois lados distintos, a manutenção do status quo, com piadas que mantém tudo igual, do outro lado, a defesa do politicamente correto, que por sua vez é taxado de careta. A questão é que o reforço da desigualdade seria mesmo o símbolo de caretice? A opressão é absolutamente invertida, pondo a intolerância na parte que costuma reforçar arquétipos tolos. A chamada “patrulha” é ambígua, se é chamada assim somente por discordância de ideia, o que normalmente se lê como o combate a desqualificação de grupos sociais.

    A comédia é politica, defende ponto de vistas e ideologias. O discurso de O Riso dos Outros reforça a pecha de que o humor real e positivista é o irônico, que bate no carrasco e não na vítima, rindo do patético comum ao conservador, que faz o senso comum bobo rir, normalmente por consenso do público, normalmente pouco exigente e pouco afeito a transgressões. A busca eterna pelo riso da plateia é um exercício fútil aos olhos de Arantes, e completamente anacrônico, fora de qualquer escopo de modernidade, destacado pelo som característico das primeiras fitas do cinema mudo.

  • Crítica | Sono de Inverno

    Crítica | Sono de Inverno

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    Na segurança de um(a) cineasta que sabe o que precisa enquadrar, e o que não precisa estar num plano para contar a história, que nascem filmes como Sono de Inverno, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, edição 2014. Nuri Bilge Ceylan reproduz a mesma essência do Cinema que Glauber Rocha e Alberto Cavalcanti rodaram no saudoso nordeste do Brasil, e que Ingmar Bergman registrou em preto e branco na lenitiva ilha de Fårö, na Europa: um cinema de regiões, voltado a expor o que de melhor e pior as veredas de um lugar escondem, incluindo seus habitantes. Desses personagens, o mais indispensável é o ambiente onde a aventura se configura, o “ao redor” feito de panela de pressão ao povo que lá está inserido, vivendo ou morrendo.

    Seja no visceral Deus e o Diabo na Terra do Sol ou no soberbo O Canto do Mar, duas esferas que resumem historicamente o que é o conceito de qualidade de vida para grande parte dos brasileiros, ou ainda em Persona, suspense metido a drama, sente-se à flor da pele o apuro da poesia visual, da natureza que compõe o quadro, da linguagem que despreza as palavras para obter o que é necessário, e da maestria que faz com que um bando de imagens aleatórias se juntem, formem um sentido, e bem diante de nós, nos encantem – nos impressionem. Tudo isso é Cinema, foi Era Uma Vez em Anatólia, e é o que Ceylan faz como poucos hoje em dia.

    Uma câmera não fala sozinha: é preciso dar-lhe voz e injetar-lhe narrativa. Uma montanha tampouco se expressa, senão no espaço entre suas mudanças geológicas quando deixa, ainda, como prova temporal, seus fósseis, pó e outros sinais de outros tempos. Congelar um pôr do sol reafirma a fé entre o natural e a tecnologia, sem jamais o primeiro depender da segunda para ser lembrado; o próprio natural crava sua relevância no amanhã com ou sem o advento da fotografia, mas Ceylan pouco se importa: faz da região seu livro de memórias, como Sebastião Salgado fez do mundo uma coleção de cliques em O Sal da Terra, em paralelo exato com a história de uma sociedade específica, como se as pessoas de Sono de Inverno vivessem num outro universo, em um clima frio e violento, onde o calor humano, como um sorriso, custa ser honesto nas relações de amigos e família. Tudo é tenso, denso, glacial, petrificado, definições típicas de um brasileiro acostumado ao caos emocional de um cenário tropical.

    Traduzir os valores e o ambiente que os influencia é uma tarefa digna de aplausos, mas nada arrebata uma reflexão maior que atestar como esse ambiente – um mundo tão gelado, tão emocionalmente abissal – e quem vive lá, seres à beira da rivalidade ética, com suas emoções perdidas e caladas nessa profundidade moral que suas tradições sustentam desde sempre, são conectados e equilibrados para compor um longo mural de três horas, repleto de contradições propositais que gritam, no silêncio e na licença poética, para se fazer valer, num tempo e espaço melancólico muito bem construído e explorado, aberto a divagações brilhantes e contextuais sobre como a vida é afetada pelo local onde floresce, se constrói e decai.

    Nos temas mais diversos, como poder, riqueza, casamento, sociologia e religião, o ser humano e o chão onde pisa viram um só a favor de nossa interpretação artística, adaptada em partes do tenso conto A Esposa, do escritor Anton Tchecov. Tudo o que Ceylan não consegue falar da obra, usando aspectos teatrais mais compatíveis às cenas, ou nos diálogos íntimos e filosóficos da dialética, joga o dever para a imagem dos vales cobertos da neve que preenche a tela passiva, em panorâmicas de cair o queixo, onde a trilha-sonora é o vento, e o sol cortando a neblina o alento para almas condenadas à desolação ambiental e individual – o externo e o interno num furacão existencial, afinal, assistir a Sono de Inverno é mergulhar com paciência nesse vendaval.

    Um filme de mensagens universais, seja nas relações do ser com o âmbito onde sobrevive, seja ao expor, leve e amplamente, nos confins da floresta emocional de cada um, boa parte do que lá se esconde. Ceylan já tinha feito isso em Anatólia, tinha ensaiado essa maturidade em Nuvens de Maio, mas devido a sua segurança no desenvolver de Sono de Inverno, parece ter descoberto o esquema para desbravar essa mata e fotografar tudo como se fosse Cinema, ou melhor, Cinemão de grande escala. Por isso mesmo, numa tática de mestre, o artista turco não procura escanear e aproveitar toda a enorme dimensão que seu filme poderia ter, economizando potencial na tela para ser imaginado depois pelo público – lição de casa. Mata que é desbravada perde seus mitos.

  • Crítica | Caça aos Gângsteres

    Crítica | Caça aos Gângsteres

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    Imagine-se em um bar. Daí aparece aquela mulher linda e maravilhosa. Você fica olhando de longe, admirando seu charme, seu sorriso, sua beleza estonteante e começa a achar que ela é especial. Única. Então você se aproxima e começa a conversar com ela. Em poucos minutos percebe que ela é superficial e comum. Essa é a sensação provocada por Caça aos Gângsteres. O filme tem muito estilo e apresentação pra pouco conteúdo.

    Passado em 1949, o impiedoso mafioso nova iorquino Mickey Cohen, vivido por Sean Penn, comanda com braço de ferro o crime organizado na cidade de Los Angeles. Sua influência vai além dos criminosos comuns, chegando ao escalão da polícia e aos políticos da região. Porém, um pequeno grupo de policiais liderados pelos sargentos John O’Mara e Jerry Wooters, vividos respectivamente por Josh Brolin e Ryan Gosling, resolve desmantelar a organização de Cohen.

    A trama é um completo decalque de Os Intocáveis, o já clássico filme dirigido por Brian De Palma. Porém, as semelhanças param por aí. Não vou comparar os dois filmes, vou apenas estabelecer alguns paralelos. Enquanto Eliot Ness e seus companheiros eram personagens bem delineados, com motivações profundas e críveis, nesse aqui as motivações são as mais mundanas possíveis. Um não quer que o filho ache que ele não fez nada enquanto a máfia dominava, o outro é o detetive que reluta em entrar no grupo e por aí a banda segue.

    O elenco estelar encabeçado por Gosling e Brolin tem atuações rasas, ainda que existam alguns breves momentos inspirados, mas nada além disso. Em nenhum momento o espectador consegue sentir empatia pelos heróis, chegando até mesmo a uma certa indiferença ser despertada.  É possível que os personagens profundos como um pires tenham influenciado nesse aspecto. Nem Sean Penn se destaca em meio às interpretações desfiladas na tela. Aliás, chega a dar pena a sequência em que o oscarizado ex-marido da Madonna tenta emular o icônico Tony Montana (Al Pacino em Scarface, outro filme do Brian De Palma). O diretor Ruben Fleischer não soube aproveitar o material humano que tinha em mãos. As cenas de ação são genéricas e não empolgam. Fora que a trilha sonora é completamente equivocada. Em vez de elevar a tensão da cena, dá nos nervos do espectador.

    O ritmo do filme é até interessante, sem muita enrolação, indo direto ao ponto. O diretor faz um uso interessante da câmera lenta em algumas cenas. Porém, os clichês vão se amontoando pelo caminho. Um fato é intrigante: os personagens são policiais, estão trabalhando à margem da lei, são conhecidos pelos bandidos da cidade, não usam máscaras pra fazer as batidas nos locais “secretos” onde a bandidagem opera, e custam a ser identificados mesmo frequentando bares e restaurantes apinhados de meliantes. É algo que não faz muito sentido e acaba passando batido no roteiro. Como ponto positivo, temos a impecável ambientação de época. A Los Angeles recriada é maravilhosa e os  figurinos são de encher os olhos. A direção de arte, de efeitos especiais e a cenografia merecem parabéns.

    Caça aos Gângsteres poderia ter sido um filmaço. Só conseguiu ser esteticamente lindo. Faltou cérebro nele. Cultuaram demais o corpo e esqueceram da mente.

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  • Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata

    Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata

    Qualquer Gato Vira-Lata

    Um dos muitos sucessos da Globo Filmes, capitaneada pela dupla Daniela de Carlo e Tomas PortellaQualquer Gato Vira Lata é uma velha comédia romântica que se baseia na insegurança da mulher, desesperada por atenção, através da personagem Tati. Interpretada pela belíssima Cléo Pires, a personagem não teria qualquer dificuldade em fisgar o homem que ama, mas, ainda assim, insiste em basear sua autoestima em dizeres de revistas adolescentes, de conteúdo adocicado e pautado em autoajuda barata. Seu namorado Marcelo, vivido por Dudu Azevedo, é um terrível companheiro, relapso e insensível, que logo pede para “dar um tempo” na relação, logo quando a bela lhe faz uma surpresa com flores.

    Em outro hemisfério ideológico está o professor Conrado (Malvino Salvador), que prega que o sentimentalismo é um sentimento tipicamente feminino, pregando que o ideal é a dominância masculina sem maiores ressentimentos. Um discurso fraco e inseguro, inclusive por sua repetição e gagueira em aula. O discurso idiotizado é discutido pelas alunas, que o acusam de chauvinismo, mas sem qualquer conclusão edificante contra a docência.

    A indagação de Tati tem zero eloquência, se resumindo a um “não” mal dado, fruto da fossa em que está e que até suas amigas chamam de dramalhão. A pobreza do script é observada claramente tanto na carência latente de Tati como também em sua ingenuidade, vacilando em desculpas esfarrapadas e clichês. Da parte de Conrado, há também uma enorme falta de congruência, com um caráter repleto de banalidades e obviedades, revelando um casamento fracassado, culpa, entre outros fatores, de sua tese mal feita, que revela egoísmo e exacerbo de individualidade.

    Logo, os destinos de Conrado e Tati se cruzam, com direito a plano detalhe no lado posterior do corpo de Malvino Salvador. Logo, a moça se lança nos braços do mestre, para ser a testificação em carne e osso da tese do homem e para enfim começar uma interação ímpar, baseada na teoria do mentor.

    O desenrolar da conversa revela uma ânsia da moça por aprovação, com faniquitos desesperados e reclames que imploram pela atenção do rapaz, resultado da vontade que possui de reatar a relação com seu ex-namorado. No primeiro reencontro do antigo casal, mais uma vez Tatiana dá seus ataques tresloucados e violentos, revelando que também sente ciúmes em relação a si.

    A pesquisa prossegue usando a “pista” como laboratório, um lugar onde o inadequado é Conrado, que se mantém imóvel, mesmo diante da música alta e do ambiente favorável a sedução. Aos poucos, a aluna passa a envolver o pesquisador em sua rede, como era provável e mostrado desde o início da trama. A sucessão de diálogos somente piora com o transcorrer da fita, revelando uma futilidade abismal onde sequer há espaço para rir.

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  • Crítica | Jurassic Park III

    Crítica | Jurassic Park III

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    Dando sequência ao universo imaginado por Steven Spielberg a partir da obra de Michael Crichton, Jurassic Park III utiliza a grife estabelecida pelo diretor em uma trama inferior aos dois movimentos iniciais. Spielberg deixou a direção a cargo de John Johnston, o qual já havia demonstrado interesse em realizar O Mundo Perdido: Jurassic Park mas fora relegado a uma possível segunda sequência.

    Mesmo responsável por dois bons projetos familiares, Querida, Encolhi as Crianças e Jumanji, Johnston não possui a mesma capacidade técnica de seu mentor e, além das limitações artísticas, tinha em mãos um roteiro mal executado. A trama utiliza apenas algumas cenas das obras de Crichton e desenvolve um argumento inédito. Entretanto, os possíveis roteiros desagradaram a produção e, apenas cinco semanas antes do início das gravações, uma nova história foi desenvolvida. O curto espaço de tempo para a composição bem delineada de um roteiro deixa a impressão de que assistimos a um esboço inicial que precisaria de ajustes para ser eficiente.

    Jurassic Park – O Parque Dos Dinossauros e O Mundo Perdido fundamentavam e desenvolviam o universo que inseria dinossauros no mundo contemporâneo. Sem nenhuma novidade aparente, essa continuação retoma o personagem de Alan Grant (Sam Neil) – que não participa do acidente em San Diego – como um ponto forte para o público. O enredo parece fora de tom, sem a mesma visão estética e narrativa dos anteriores. Além de uma metragem enxuta, a necessidade explícita de novidades modificou os dinossauros mais conhecidos da franquia: velociraptor e T-Rex são deixados de lado para dar lugar a duas novas espécies: o gigantesco Spinossauro – cujo esqueleto substitui Rex até mesmo no pôster – e o voador Pteranodone (em tempo, os raptores ainda se destacam em parte da história mas, devido a estudos lançados na época, ganharam penas na cabeça, parecendo topetes irados que destoavam da concepção dos outros longas).

    O núcleo central de personagens, representados por uma família que vai até a ilha com auxílio de Grant para resgatar um filho desaparecido, não possui o carisma necessário e não transparece a urgência da perda. Sem nenhuma sintonia, William H. Macy e Tea Leoni são o elemento cômico da trama, tanto em momentos propositais como em situações involuntárias. Nem mesmo o apelo infantil do garoto desaparecido – o infante em perigo, recurso clássico das obras de Spielberg – é bem executado.

    O maior orçamento da trilogia não impediu que as cenas de ação parecessem simuladas em um cenário cenográfico. Os ataques de dinossauros aleatórios não produzem medo aparente e são ineficazes diante de uma trama irregular. A obrigatoriedade de inserir novas espécies leva as personagens a locais não explorados anteriormente, como uma travessia pelo mar somente como pretexto para a cena de ação com o dinossauro voador. Cenas episódicas que tentam pelo impacto esconder a trama sem emoção.

    A sensação de uma obra inacabada é ainda mais evidente quando a trama se encerra de maneira breve, sem um terceiro ato dramático. Um anti-clímax que parece finalizar antecipadamente a história por falta de tempo em desenvolver um roteiro adequado. Nem mesmo a cena final é inédita, se assemelhando ao final do primeiro filme, com os personagens saindo da ilha, com direito à música original de John Williams como lembrete ao público de que essa trama fez parte de uma trilogia. De qualquer maneira, ainda é uma cópia pálida que pouco lembra as divertidas e familiares aventuras anteriores.

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  • Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata 2

    Crítica | Qualquer Gato Vira-Lata 2

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    Após uma péssima realização no primeiro episódio da franquia, Qualquer Gato Vira Lata 2 teve uma troca na dupla de diretores, saindo Tomas Portella e Daniela De Carlo para a entrada de Marcelo Antunes e Roberto Santucci. A produção se assemelha às obras anteriores do segundo diretor citado, já que a continuação, assim como havia ocorrido em De Pernas Pro Ar e Até Que a Sorte nos Separe, também serve de propaganda a agências de turismo e outros, e utilizando-se de locações mexicanas.

    O roteiro de Paulo Cursino inicia-se ainda mais nefasto que o anterior, com uma absurda variedade de piadas anti-feministas, uma vez que Conrado (Malvino Salvador) tinha uma excursão marcada para um debate com uma escritora pseudo-feminista que viria a desbravar suas falas. Convenientemente, essa pessoa era a sua ex-mulher, Ângela (Rita Guedes), que também se tornou escritora, a despeito disso jamais ser citado no filme anterior.

    Partindo deste conceito, Conrado decide viajar com Tatiana (Cleo Pires), sua namorada desde o encerramento da primeira parte da franquia. A romântica menina decide então inverter os papéis comuns da sociedade normativa – um pecado mortal, segundo o livro do professor/cientista – convidando-o a um novo passo de intimidade, propondo-lhe casamento, com direito a transmissão via internet para todos os amigos e familiares. Tais fatos são exibidos ainda no trailer e, sem qualquer exagero de análise, correspondem à metade de todo o plot do filme, ocupando um tempo demasiado em tela.

    A virada acontece no arrependimento do ex-namorado de Tati, Marcelo, vivido pelo ator e agora produtor do filme Dudu Azevedo, que percebe estar ainda apaixonado por seu antigo par e decide se juntar ao jocoso Magrão (Álamo Facó) para intervir no relacionamento. A crescente de suas discussões é pautada na estupidez, ainda que sua postura seja claramente menos egoísta. A imaturidade do personagem é tanta que ele decide participar de uma mirabolante plano fingindo que possui uma filha.

    Após algumas recusas e desventuras, Tati resolve dar ouvidos a sua rival, exibindo o mesmo plot tedioso do primeiro filme, mas invertendo o papel de mentor. A partir daí, inicia-se uma versão juvenil da guerra de sexos, com direito a um docente com complexo de Terry Crews, trabalhos detetivescos de personagens fúteis e sem profundidade, sempre valorizando que, em última instância, a única sabedoria valiosa é a provinda do homem.

    Apesar do pequeno avanço visual e de um maior entrosamento dos atores – fruto possivelmente da experiência maior de Santucci em comparação com Portella – o filme consegue ser ainda mais agressivo na redução do discurso feminista, igualando por vezes todo o conteúdo da discussão a um simples recalque, no sentido mais popular e tosco da palavra. O empobrecimento do discurso produz algo ainda pior do que o original, ainda que seja claramente mais maduro cinematograficamente.

  • Crítica | Segunda Chance

    Crítica | Segunda Chance

    Segunda Chance 1

    A reabilitação anunciada no título do filme de Susanne Bier se perde diante da imundície do apartamento investigado pelo detetive policial Andreas (Nikolaj Coster-Waldau), que adentra a casa do junk Tristan (Nikolaj Lie Kaas), que vive junto a sua parceira Sanne (May Andersen). A vida degradante dos personagens se resume a práticas sexuais na sujeira típica daquele micro universo, regada a muita bebida e heroína. A condição se agrava quando Andreas percebe a presença do recém-nascido Sofus, que chafurda em uma fralda imunda, e que claramente estranha toda a agitação no apartamento, derramando lágrimas e gritos. A partir daí, nota-se que a história será narrada a partir do choro de bebês.

    Na intimidade, o protagonista chega a um lar igualmente perturbado, ainda que a sujeira não impere no lugar. O cuidado paterno dele e – supostamente – o de sua esposa Anna (Maria Bonnevie) com seu pequeno rebento, Alexander. O altruísmo proveniente do cuidado com a criança serve de resposta e contra-ataque à melancolia do começo da fita, assinalando ainda mais o abismo entre o comportamento dos dois núcleos familiares.

    O primeiro aspecto comum entre os modos do clã é a dependência mútua de drogas, ainda que as intenções sejam completamente diferentes. Anna sofre distúrbios mentais, e lança mão de produtos tarja preta, algo originário do desespero diante de mais um trauma, beirando mais um descontrole emocional. Anna ultrapassa uma linha que mesmo a desequilibrada Sanne não cruza, e tal arremedo serve como o primeiro de muitos twists do roteiro de Anders Tomas Jensen.

    Em determinado ponto, a adoção vira a alternativa mais lógica, ainda que seja moral e eticamente discutível, para dizer o mínimo. A árdua “tarefa” mostra-se em uma cena angustiante e bem urdida, que consegue até fugir da aura comumente sensacionalista que o espírito pedia. Andreas, ao cometer sua “indiscrição”, não consegue segurar seu ímpeto, e corajosamente, não nega seu pecado a sua parceira. O vômito de Anna serve de avatar ao asco pelo “roubo”, e, claro, vira também um paralelo com a resposta física ao duro golpe de ter perdido seu filhote.

    De um lado, há a clara preocupação de manter princípios básicos e espirituais, do outro o receio de ser encarcerado, conceitos separados por uma divisa familiar liderada por Andreas e Tristan. Claro, em lados opostos, o que dá forças para o fácil discurso proveniente da mentalidade pseudo meritocrática em relação à paternidade.

    O roteiro não aborda nada novo, de fato, só torce a realidade para uma discussão bem antiga, atualizando a questão para plateias mais moças, ávidas por uma estilização mais categórica e condizente com plateias jovens.

    Os elementos visuais dizem muito, compondo o quadro geral de modo singelo. Como as paredes de vidro, tentam emular uma falsa transparência. O argumento dos junks é refutado, mas o contraponto é pontual e presente na relação de Andreas com seu parceiro Simon (Ulrich Thomsen), que varia entre o arquétipo de mentor falido e companheiro. O segundo twist também é igualmente bem executado em relação a discussão de paradigmas, transformando os dramas em aspectos ainda mais humanos.

    A consciência de Andreas passa a assombrá-lo, assim como a culpa, que insiste em ocupar sua mente e alma apesar de sua recusa. A resiliência toma o espectador de assalto, ao se perceber que não há qualquer personagem a se agarrar, uma vez que o final revela o real caráter de cada um, repleto de crimes e imoralidades indiscutíveis.

    A dolorida verdade faz o personagem principal sentir remorso e retornar ao estado de justiça inicial. Ainda que não haja uma entrega plena, ocorre um abandono da vida pregressa. O inexorável, de que o paraíso não existe e que tampouco cabem finais felizes, é cruel, porém realista, sobrando então a rendição a um destino agridoce e levemente menos culposo, fruto de um roteiro que beira o sensacionalismo, mas entrega uma história congruente.

  • Crítica | A Espiã Que Sabia de Menos

    Crítica | A Espiã Que Sabia de Menos

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    De nome traduzido bobamente, A Espiã que Sabia de Menos – do original Spy (Espião) – subverte o nome brasileiro da recente adaptação do livro de John Le Carré, ainda que sua base de paródia seja mais próxima aos filmes de espiões britânicos, como 007. Paul Feig retoma a parceria de sucesso com Melissa McCarthy, vista em Missão Madrinhas de Casamento e As Bem Armadas, ainda que toda a qualidade desta empreitada seja discutível.

    A primeira cena é tão atrapalhada quanto a premissa do filme, mostrando uma sequência entregue já no trailer, com um Jude Law usando uma peruca fajuta e fazendo trapalhadas gerais enquanto agente. O personagem Bradley Fine, apesar deste momento em particular, é um exímio espião apoiado por Susan Cooper (McCarthy), sua parceira e auxiliar. A dupla funciona apesar de muitos percalços. Apesar de estimar a parceira, Fine (Law) não consegue deixar de subestimar sua conviva graças a seu avantajo físico, algo que faz agravar os problemas com auto estima da moça, o perfeito arquétipo de gordinha mal de vida, um estereótipo relegado a todo momento para a atriz, recurso cada vez mais irritante enquanto gag de humor.

    O espectro de girl power aumenta através da opositora Rayna Boyanov (Rose Byrne) que passa por cima de qualquer inexperiência feminina em sequências de ação, mostrando que nem a CIA ou os agentes ingleses lhe são páreos, aumentando o escopo de propaganda feminina ao percebermos que o responsável ideal para a missão de revanche seria uma mulher, recaindo a missão sobre a invisível gordinha.

    Ainda que o disfarce inicial de Cooper seja apenas de observar e relatar os fatos – repetindo as mesmas brincadeiras do seriado Mike And Molly  seu trabalho é cortado pela ação de Rick Ford (Jason Statham), um espião mais experiente, que também deseja desmantelar o clã de terroristas e que começa a agir de modo isolado.

    Feig continua escatológico, fazendo sua protagonista ter cenas equivalentes a sequência do cocô na pia em Missão Madrinhas de Casamento, também executada por McCarthy. Ao menos, o protagonismo não foge das figuras femininas do elenco, ainda que a miscelânea de sequências toscas aumente com o acréscimo de cada vez mais figuras grotescas. As cenas em que se exige uma maior perícia em ação são bem construídas com corridas, manobras, golpes e parkour bem executados, ainda que seja perceptível os momentos em que os dublês entram em cena, com closes intrusivos nesses profissionais.

    Mesmo com os esforços, o diretor prossegue reprisando os mesmos erros de seus filmes anteriores, somente mudando o cenário e melhorando sutilmente o nível das piadas propostas no roteiro. Há que se notar uma evolução em cenas de aventura, as quais a suspensão de descrença não é tão exigida quanto em As Bem Armadas, mas ainda assim, A Espiã que Sabia de Menos não consegue fugir da mediocridade habitual das caras paródias hollywoodianas. Sendo, no máximo, um divertido filme caso o público se permita não ligar para os graves defeitos de concepção da obra.

  • Crítica | O Franco-Atirador

    Crítica | O Franco-Atirador

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    O Franco-Atirador não se trata de um remake do fantástico filme dirigido por Michael Cimino. O nome adotado no Brasil é o mesmo, mas o título original da produção de 1978 era The Deer Hunter, cujo método de caça aos cervos (deer) é um fator recorrente, de grande peso, para uma das cenas finais. Instiguei sua curiosidade? Vale muito a pena! Assista! Mas antes não deixe de conferir o lançamento de 2015, sob a direção de Pierre Morel (o mesmo de Busca Implacável e Dupla Implacável), o que pode nos fazer antever um filme com muita ação.

    No elenco contamos com Sean Penn, com 5 indicações ao Oscar de Melhor Ator, entre as quais ele arrebatou a estatueta por Sobre Meninos e Lobos (2003) e Milk: A Voz da Igualdade (2008), e o espanhol Javier Barden, premiadíssimo em cerimônias europeias, e também com o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Onde os Fracos não têm Vez (2007), e foi indicado na categoria de Melhor Ator com Antes do Anoitecer (2000) e Biutiful (2010).

    Considerando a presença de ganhadores ou indicados ao Oscar, neste filme, há que se citar a trilha sonora de Marco Beltrani, o qual teve duas indicações por seu trabalho em O Comboio e Guerra ao Terror. Não, não estou levantando a possibilidade de isso se repetir este ano, mas também não dá para negar que Beltrani contribui eficientemente para a narrativa do longa, na construção de momentos de tensão, como aquele em que Martin (Penn) recebe de Felix (Barden) a designação para assassinar um membro crucial do governo do Congo, e a percussão musical acompanha com precisão a angústia que rege as batidas do coração de Martin.

    Angústia? Para um atirador mercenário? Acontece que essa missão implica na saída do protagonista, do país e, consequentemente, da separação entre ele e sua belíssima namorada Annie (Jasmine Trinca) que, como Martin, trabalha para uma ONG, no Congo. Obra do acaso? Não! Plano orquestrado por Felix, que tem uma obsessão quase doentia pela moça e quer afastá-la de seu “rival”.

    Aliás, devo dizer que O Franco Atirador, embora se inicie com um pot-pourri de reportagens sobre o cenário de destruição que envolve este país, não se trata de um filme com enfoque político. Ainda que as cenas de ação sejam sim, envolventes, e mostrem a boa forma de Penn, o roteiro, com co-autoria do mesmo, parece enfatizar o triângulo amoroso (com direito a venenosas maldades) composto por Martin, Annie e Felix. Neste aspecto, considero que a complexidade emocional dos personagens centrais poderia ter sido melhor explorada, já que tanto Penn quanto Barden (pessoalmente eu diria “especialmente Barden”) já nos provaram, em outras atuações, o quanto são capazes de imprimir profundidade e dinâmica a perfis conflituosos.

    No entanto, os diálogos abusam da simplicidade, apesar da tentativa do diretor em criar elementos psicológicos subjetivos, através de closes em algumas expressões. Embora Flavio Martinez Labiano tenha recorrido a alguns clichês, como o tom amarelado para diferenciar a cronologia das cenas, e o efeito lens flare (quando a luz sofre uma distorção, entrando pelas bordas da lente e causando uma espécie de manchas) a fotografia atua com relevância nas diferentes ambientações da trama.

    Martin cumpre com precisão a sua missão, e sai do país, como combinado, mas quando volta alguns anos depois, uma avalanche de surpresas transforma a sua vida e o seu coração numa busca frenética por respostas, das quais dependerá a própria sobrevivência.

    Quer saber mais? Assista ao filme! Não se trata de uma obra-prima, tem sua falhas aqui e ali, e algumas cenas acho até desnecessárias, mas tem também seus pontos positivos e, com certeza, manterá você preso na poltrona… intercalando momentos de total imobilidade com algumas contorções, já que ação, suspense e impacto não lhe faltam!

    Texto de autoria de Cristina Ribeiro.

  • Crítica | Eles Existem

    Crítica | Eles Existem

    Dezesseis anos após modificar estruturas do Terror como uma narrativa de baixo orçamento filmada sob o ponto de vista de câmeras amadoras com supostos registros reais, Eduardo Sanchez, um dos diretores de A Bruxa de Blair, dá continuidade ao estilo que se transformou em narrativa padrão nos lançamentos do gênero.

    Mantendo a estrutura de sua obra consagrada, Eles Existem retorna à atmosfera isolada de uma floresta e a qual explora o mito da folclórica personagem do Pé-Grande. O estilo explicitamente documental cede à tradicional narrativa com um grupo de adolescentes numa viagem paradisíaca em local distante. Devido à tendência pública de registrar excessivamente cada momento, é natural que uma viagem mereça registro, motivação que fundamente o registro. De qualquer maneira, o roteiro de Jamie Nash ainda se apoia em um personagem viciado em tecnologia para dar maior verossimilhança à multiplicidade de registros.

    Recorrer à figura mitológica do Pé-Grande é uma interessante escolha que difere levemente da tendência em apresentar comunidades isoladas de humanos sádicos. A presença de uma figura lendária gera a descrença inicial nas personagens e alimenta a lenda em torno desta criatura, descrita como um grande macaco, mas dócil quando não confrontada.

    Mesmo em um estilo repetido ao extremo após tantos anos, a direção de Sanchez demonstra habilidade em transformar cenas propositadamente mal filmadas – que podem incomodar parte do público – em argumento a favor da tensão. A parcialidade e a inferência de um suposto elemento agressivo são mais fortes do que a visão direta dos acontecimentos. Uma sugestão suficiente para gerar medo e incitar o espectador a se imaginar em situação semelhante. A trama pontua momentos de pânico com breves pausas antes de mais um ataque do Pé-Grande.

    A parcialidade das cenas filmadas por integrantes é contraposta com aquelas sob o uso de câmeras noturnas. Nelas, o público normalmente observa um pouco mais além do que as personagens, antecipando o medo de algumas cenas. Um equilíbrio bem realizado pela edição, cuja qualidade alia-se ao fato de que não há nenhuma restrição em cenas diurnas, sempre mais difíceis de serem compostas em um filme de terror por conta da luminosidade constante que nada esconde.

    O filme não apresenta nenhuma novidade além da repetição daquilo que foi apresentado anos atrás ao lado de seu parceiro. Porém, demonstra competência ao retomar recursos estabelecidos e ainda assim causar impacto, mesmo que seja um medo momentâneo durante a história. A imersão promovida pelas imagens filmadas em primeira pessoa ajuda a estabelecer a conexão de uma possível narrativa real que dialoga com o medo do desconhecido.

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  • Crítica | Casa dos Mortos

    Crítica | Casa dos Mortos

    Produzido pelo diretor queridinho dos aficionados por filmes de terror mainstream James Wan, Casa dos Mortos remete à tradicional história de casas mal assombradas, evocando clássicos como Poltergeist e Horror em Amityville, além da franquia recente Atividade Paranormal. O filme de Will Canon (diretor também de Brotherhood) se baseia em uma premissa intimamente ligada a criaturas satânicas, tendo na sua alcunha original Demonic a clareza de sua exposição de ideário.

    Semelhante ao último lançamento de Scott Derrickson, Livrai-nos do Mal, a fita também inicia-se através de uma investigação policial, que logo faz lembrar flashbacks, explicitando o mal que seria averiguado. Um grupo de jovens, sem maiores prendimentos sociais, se meteria em uma caça a fantasmas, sem qualquer viés humorístico na busca. O detetive Mark Lewis (Frank Grillo) é responsável por conversar com o único sobrevivente do quinteto. As cenas iniciais mostram um homem tomado pela fúria, remetendo ao traço comum de possessão espiritual do cinema.

    John (Dustin Milligan) tem receio de prestar seu depoimento a Doutora Elizabeth Klein (Maria Bello), em um misto de ansiedade e temor pelos acontecimentos misteriosos que acompanhou. O estilo de filmagem, emulando gravações documentais, intercalando com cenas do presente faz grande parte do impacto do suspense se perder em meio ao método utilizado.

    O espectro de sustos ocorre através de transformações físicas, pioradas e muito por serem impingidas por conhecidos do narrador das histórias. A violência extrema é mostrada por jovens comuns, que “retornam” à vida, atemorizando o passado e o presente de John e dos policiais envolvidos no inquérito. No entanto, a maioria das sequências de ação é mal urdida, faltando a mínima ambientação de thriller espiritual, normalmente em lugares iluminados ao extremo, sem qualquer possibilidade de um susto mais elaborado, tampouco envolve o espectador no drama apresentado, pela pouca profundidade dos personagens e do texto em si.

    Apesar de bem intencionado, Casa dos Mortos não consegue sequer chegar perto do dourado panteão de filmes de James Wan, resumindo uma história até interessante, mas sob execução meia boca, resultando em um filme genérico de terror/policial. O final surpresa consegue até surpreender, e dar um alento para o público que pacientemente acompanha a rotina de Klein e Lewis, salvando a fita de uma mediocridade ainda mais categórica.

    O gancho, apresentado nos últimos cinco minutos, abre uma forte possibilidade de continuações, o que seria certamente um erro, visto que a premissa pobre mal durou em um filme, que dirá em uma franquia. Fora a competente direção de Canon, pouco se diferencia Demonic da patuleia geral que é o cenário de terror mainstream.

  • Crítica | Terremoto

    Crítica | Terremoto

    Terremoto 1

    O começo do filme, com uma tomada aérea que compreende a cidade de Los Angeles em todo seu esplendor, já denota o que seria Terremoto, filme de Mark Robinson com roteiro de Mario Puzo (junto a George Fox), lançado pouco tempo depois do sucesso retumbante de O Poderoso Chefão. A música de John Williams ajuda a aumentar o espectro de classicismo do filme, que não demora a registrar imagens com seu herói tradicional Stuart Graff, vivido por um Charlton Heston já decadente física e profissionalmente.

    Aos poucos, é mostrado que Stuart vive uma grave crise conjugal, já não suportando mais os disparates de sua cônjuge, Remy (Ava Gardner), uma mulher possessiva, dissimulada e extremamente ciumenta. O homem então passa a visitar a viúva da ex-colega de trabalho, a bela Denise Marshall (Geneviève Bujold), ainda que a intenção dúbia não seja correspondida pela senhora ainda em luto.

    É bastante curioso a demora em que o roteiro tem para se inserir na questão tragédia natural, apresentando uma porção significativa de personagens cujas feições e comportamentos são bastante datados, exibindo como era o visual e ações típicas dos anos setenta, especialmente no que tange a sexualidade feminina e vestuário peculiar de mulheres caucasianas e negras, reproduzindo o pitoresco padrão de beleza em tela. A aura de filme b permeia toda a fita, que aparenta em cada detalhe da direção de arte um aspecto mambembe, ainda que não seja risível.

    A tragédia começa a ocorrer pelos idos dos cinquenta minutos de exibição, sobrando cenas cômicas, com os prédios e câmeras balançando, graças a precariedade não só de recursos, mas de possibilidades de efeitos visuais que fizessem jus a um arrombo da natureza de proporções dantescas. As maquetes sendo destruídas e miniaturas de carros e casas caindo só não são mais toscas e mal feitas do que as subidas que o solo se permite dar, levantando terra para todos os lados.

    Ao se aproximar de seu desfecho, a fita opta por explorar espaços de escombros, subterrâneos, onde as filmagens seriam mais fáceis de executar, e claro, de construir suspense. O grave erro é que a maioria dos personagens não geram empatia no público, já que não tem nem muito tempo de tela, e nem uma boa construção de caráter e personalidade. O excessivo tempo de duração ajuda a fomentar a atenção nos graves defeitos de produção, não restando quase nenhuma sensação que não seja de reprimenda a feitoria deste Terremoto, que não consegue se sustentar nem através da persona carismática de seu astro e nem através das miniaturas em chamas.

  • Crítica | O Mundo Perdido: Jurassic Park

    Crítica | O Mundo Perdido: Jurassic Park

    De começo inofensivo, mostrando uma família rica em uma região praiana, a continuação de Jurassic Park começa tão jocosa quanto seu protagonista, o Doutor Ian Malcolm (Jeff Goldblum), único remanescente do episódio primário. A mostra dos pequenos dinossauros atacando uma criança é bastante grotesca, dando o tom de como seria a exploração da trama spielberguiana – com auxílio de David Koepp e Michael Crichton.

    O chamado aventura começa com a revelação de que Malcolm rompeu o contrato de sigilo sobre os fatos ocorridos no filme anterior, tendo absolutamente negado pela família de John Hammond (Richard Attenborough), especialmente por seu sobrinho e advogado Peter Ludlow (Arliss Howard). Hammond convoca Malcolm para conversar com ele sobre uma ilha reserva, próximo da Costa Rica, onde cultivava os animais pré-históricos, que graças a acidentes naturais, foram liberados. A mudança de postura do ancião é notada logo em seu discurso, de maior preocupação com as criaturas do que com os lucros, mas sua esperteza ardilosa também se nota, especialmente ao analisar o modo de convívio dele junto a Ian, pondo seu antigo par como a estudante de paleontologia responsável pelo grupo.

    Mesmo contrariado, o matemático prolixo decide ir ao lugar, para resgatar sua amada como uma espécie de príncipe encantado às avessas. A busca por Sarah Harding (Julianne Moore) revela cenas belíssimas, de estegossauros se exibindo em meio a mata desbravada. O resto do grupo é formado pelo fotografo Nick Van Owen (Vince Vaughn) e Eddie Carr (Richard Schiff), antigos aliados da moça, o que faz com que o isolamento de Ian seja ainda maior, compondo assim um papel de párea no mesmo grupo que deveria liderar. A diferença de objetivos era notória, transitando entre o resgate e documentação fílmica do que ocorria na ilha.

    Ainda sob uma égide de contar uma história (também) para crianças, o filme demora a ter baixas humanas, exibindo-se em quase uma hora antes de matar personagens, mesmo os que aparentemente tem mau caráter, como os caçadores liderados por Roland Tembo (Pete Postlethwaite). A excursão que deveria ser de quatro (na verdade cinco) pessoas logo é mostrado em dezenas, homens que buscam capturar os monstros para leva-los a cidade.

    O primeiro momento de absoluto suspense, ocorre quando há um confronto entre o cuidado com as crias, mostradas com a caça da casal de tiranossauros indo atrás do quinteto, que tem a posse do pequeno filhote destes. A cena da queda do carro trailer é emblemática e simbólica, pois revela a fragilidade do homem diante das monstruosidades, revelando a impotência destes mesmo quando eles se esforçam para ser justos e bons com as criaturas. Outro bom confronto, é o esmero de Ian com sua filha Kelly, que o enganou, partindo junto a ele, escondido em sua bagagem, refutando qualquer possibilidade do protagonista de fugir daquela paternidade incomum que exerce. No âmago dos “dois pais”, há somente o desejo por ter seus filhotes em um habitat seguro, no alto, longe da ação frenética típica da predação.

    A escolha por tons mais escuros e por lugares mal iluminados, revela uma evolução na narrativa proposta pelo realizador. Não havia mais espaço para a idílica fantasia de Parque dos Dinossauros, ao contrário, o que sobreviveu foi o espírito de caça e caçador, com o homem sendo o principal alvo da fome, apesar dos esforços de Tembo e de seus homens.

    A baixa auto estima, unida a clara ganância fizeram Ludlow escolher errado, tolamente decidir por levar um dos tiranossauros para San Diego, planejando exibi-lo onde seria o mais novo parque temático dos Hammonds. Não demora para esta decisão se mostrar a mais  desacertada possível, com a fuga da criatura, que atemoriza agora um ambiente urbano, igual ao visto no filme de 1925.

    Apesar de os momentos finais deste apresentarem ainda mais maniqueísmo da parte dos T-Rexs, substituindo o Deus Ex Machina do primeiro volume pela vingança a la Charles Bronson, Mundo Perdido consegue ter um desfecho um bocado mais definitivo, completando o arco em si, impossibilitando em partes futuras continuações caça-níqueis, tratando os dinossauros como vítimas da ação predatória e irresponsável humana. Apesar de não conter um caráter tão edificante, o discurso de Hammond valida a frase que foi responsável por deixar Ian Malcolm famoso, de que a vida encontrará um jeito, claro, se o homem não interferir mais entre as criaturas.