Categoria: Críticas

  • Crítica | Link Perdido

    Crítica | Link Perdido

    Após trabalhar no roteiro de Kubo e as Cordas Mágicas, e no departamento de arte de Noiva Cadáver e Coraline e o Mundo Secreto, o diretor Chris Butler – o mesmo que fez Paranorman – retorna ao cargo de diretor, no épico de aventura Link Perdido, um filme divertido e inteligente, que começa com o bravo personagem Sir Lionel Frost desbravando as paisagens onde tradicionalmente se fala que há criaturas mitológicas. Já nesse início se percebe o grande esmero da produção em utilizar animação ao estilo Stop Motion, claro, com altas pitadas de arte digital mas respeitando a estética antiga de desenho.

    A trama é bem simples, Frost é um sujeito abastado, destemido, mas que não se aceita direito, pois enxerga num clube de aristocratas o ideal para si, e põe na cabeça que mesmo com as rejeições, entrará lá. Nesse meio tempo, ele recebe uma carta, escrita a mão e viaja pelo mundo atrás de provas de que o Pé Grande existe, tudo para conseguir a aceitação do tal clube e dos personagens vilanescos, sem perceber claro que essas pessoas tem falhas de caráter enormes.

    O roteiro de Butler consegue tratar bem de assuntos maduros, como vaidade, egocentrismo e carência emocional, além disso, tem críticas sutis, como a demonstração de que as cidades grandes da Grã-Bretanha eram sujas e cheias de lamas nos séculos passados, não muito diferente do que se vê no século XX e XXI. Da parte florestal do drama, a introdução do personagem “monstruoso” é muito curiosa, não se demora a desenvolver nem o carisma do mesmo – que é nomeado de Link, mas que escolhe um nome bem curioso para si, depois – e nem a estranha amizade entre o explorador e o Sasquatch. Os dois vão ensinando um ao outro como viver, e cada acréscimo de outros personagens é muito acertado, certeiro e econômico.

    A animação é de uma beleza ímpar, especialmente no que tange os bípedes. O detalhe, expressão e movimentação  dos personagens é muito bem feita. Da parte brasileira, a dublagem é muito bem encaixada, exceção ao tolo uso de gírias atuais, não tão abundantes ao ponto de deixar a versão do filme muito datada. O stop motion nos combates funciona muito, assim como o largo uso de gravuras digitais para os cenários míticos do Shangri-la.

    A historia é bem econômica, até a sub trama romântica não demora a se desenvolver, fato que a faz parecer mais crível e aceitável. Não há forsação sequer  quando se fala em aceitação e a busca  por pertencimento, nem quando se discute o excesso de ego do personagem principal humano. Da parte dos antagonistas, também há um belo trabalho de construção visual, e que encaixa muito bem com os dubladores brasileiros. Todos esses fatores aumentam demais a boa ideia de mostrar os choques culturais e como funcionam as sociedades, sejam as humanas ou as de outras criaturas, que primam normalmente pela exclusão, infelizmente.

    O humor de Link Perdido é muito mordaz, não trata o espectador como bobo, e a jornada do herói não cai no óbvio, ao contrário, boa parte da trajetória só é rica por perverter expectativas, até mesmo o clichê de que certas coisas devem permanecer intactas e sem a interferência do homem é discutida, e toda a questão de preconceitos é muito bem explanada. O desfecho mesmo mantendo um gancho para futuras continuações é bem auto contido, e fortalecem a ideia de que este é um passatempo aventuresco, singelo e até escrachado quando precisa.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Cineastas Em Exílio:  Do Terceiro Reich a Hollywood

    Crítica | Cineastas Em Exílio: Do Terceiro Reich a Hollywood

    De Karen Thomas, o documentário Cineastas Em Exílio: Do Terceiro Reich a Hollywood é um programa que reúne esforços de dezenas de estúdios, que ajudaram a resgatar contribuições e trabalhos de alguns diretores que bravamente lutaram contra o reinado nazista de Adolf Hitler através de suas obras artísticas, que faziam frente ao regime e serviam não só de inspiração para o povo, como também parte integrante do esforço de guerra contra o Eixo.

    O início do estudo envolve Casablanca, filme de 1943 que tinha no romance seu norte e como foi o símbolo da resistência de muitos cineastas. Entre 1933 e 40 mais de 800 profissionais fugiram da Alemanha Nazista para alguns lugares do mundo, principalmente para os Estados Unidos, sem ter certeza como viveriam, como teriam sustento e como dariam vazão a arte em que trabalhavam, e boa parte deles se voltaria ainda para a arte, e ajudariam a produzir clássicos como A Noiva de Frankenstein, As Aventuras de Robin Hood, Ninotchka, Pacto de Sangue, Matar ou Morrer, Quanto Mais Quente Melhor e claro, o filme de Michael Curtiz já citado.

    O esforço do especial televisivo (que também foi exibido nos cinemas, em regimes de Festivais) passa pelo sucesso dos anos 20, O Gabinete do Dr. Caligari, produzido por Eric Pommer, e a criação do estúdio que fomentaria o cinema local. As partes onde se descreve o sucesso de Peter Lorre emocionam, seja quando lembram do mesmo participando de M, O Vampiro de Dusseldorf, além de se destacar o mesmo como “muso” dos filmes anti-guerra, como Relíquia Macabra, Passagem Para Marselha e tantos outros. Há até um poema de Bertold Brecht, que louva a memória dele e pede para que o ator volte a pátria que o tornou párea.

    Em alguns pontos, o filme faz tantas citações e cuspe tantas referencias que mal há tempo para refletir a importância das obras e carreiras analisadas, assim como se perde um pouco a discussão sobre o impacto de publico e industria, mas para quem conhece pouco a respeito da temática e das historias de bastidores , o filme presta um enorme papel falando a respeito de como ficou a industria artistica durante a elevação do partido nacional socialista.

    É ótimo que o estudo do filme não se ocupe  só de falar de atores e diretores, mas também de toda sorte de profissionais expulsos  de sua terra natal por ter ligação com origens hebraicas, ou por proximidade do pensamento progressista. O documentário acerta demais, em lidar com questões políticas e sociais, mostrando o infortúnio de muitos trabalhadores do cinema,  inclusive dando documentos e identidades dos mesmos, tirando suas historias e vidas do ostracismo, devolvendo de novo ao lugar que lhe é devido, se não a ribalta, ao menos para um lugar justo de reconhecimento, respeitando o legado de cada um e dando ao menos um alívio para eles, que se viram sem pátria.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | O Rei

    Crítica | O Rei

    David Michôd é um diretor de potencial grande, alguns anos atrás faz Rover: A Caçada e Reino Animal, e mais recentemente, fez um outro filme em parceria com a Netflix, Máquina de Guerra, uma comédia bélica de qualidade discutível. Finalmente chega ao streaming  sua nova produção, O Rei, que conta a historia da transição da coroa para o rei Henrique V.

    A gênese do filme mostra Hal, personagem de Timothée Chalamet, um jovem indolente que vê com maus olhos o fato de a coroa restar para si, uma vez que sua fama de promíscuo é bem justificada, já que ele gosta mesmo de curtir a vida ao invés de trabalhar para a coroa. O roteiro demonstra uma problemática relação com a geração anterior, onde o filho vive brigando com seu pai, Henrique IV, interpretado por Ben Mendelsohn, e nem a doença do seu progenitor o amolece, ou o faz ter apreço pelo trono.

    De maneira lenta e gradual a  trama se mostra cheia  de ardis e armadilhas. As batalhas campais são inclementes e há um belo trabalho para tornar  todos as justas no mais real possível. A reconstrução de cenários, figurinos e atmosfera da época é muito bem encaixada. Todo o visual favorece o drama e o caráter épico dos embates.

    A inconsequência dos jovens cobra seu preço, esbarra na completa falta de noção dos moços em entrar em lutas desnecessários, onde nada além da vaidade justifica o fato delas ocorrerem. As disputas são acompanhadas de bravatas de guerra e discussões entre os reais e os subalternos, mostrando o quão conturbadas são as relações, e o quanto Hal não é visto como o monarca ideal até por seus soldados.

    Michôd traz a luz um filme que destaca a morosidade dos combates desse século, sendo bastante o oposto do épico que normalmente se vê nas aventuras próximas da época da Era Medieval, que dirá as fantasias típicas. Não há nada ali próximo dos produtos comerciais como Coração Valente, Excalibur, a trilogia Senhor dos Anéis ou Gladiador, exceção é claro pelo elenco estelar, composto por Robert Pattinson, Joel Edgerton, Sean Harris, Tom Fisher Mendehlson, que estão para basicamente servir de escada para Chalamet. A maioria das performances são discretas, quase apagadas, mas em momento nenhum são desimportantes, há espaço para cada um expressar sua arte ao seu modo, com nuances e chances de parecerem insanos, entediados ou com qualquer outro estado de espírito possível.

    Ao menos nas mortes de pessoas indefesas, o filme não se acovarda. Os golpes em crianças são secos, as cenas viscerais, causam impacto exatamente por parecerem de verdade, e não algo romantizado. Não há espaço na obra para misericórdia ou para relevar os horrores entre os povos ingleses e franceses. Próximo da meia hora final o longa se torna apoteótico, especialmente considerando que esta é uma obra que busca primar pelo realismo, ainda que não abra mão do gore. O Rei é um filme que dá muitas chances ao seu protagonista de brilhar, e que não trata o espectador como bobo, mesmo quando perde em ritmo há recompensas, com confrontos diretos, violentos e sujos, como de fato eram na época em que foram travados.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Eli

    Crítica | Eli

    Eli é uma nova produção da Netflix. Assim como outros demais filmes recém lançados pelo gigante canal de streaming, é um filme de suspense/terror, cuja história já bastante batida e desgastada guarda uma ótima surpresa em seu final.

    Eli (Charlie Shotwell) é um menino que sofre de uma doença bastante rara, onde o ar em que respiramos é extremamente tóxico para ele, causando queimaduras por todo seu corpo, o que faz com que ele viva literalmente dentro de uma bolha em sua casa, sem ao menos poder tocar seus pais Rose (Kelly Reilly) e Paul (Max Martini) e tão logo somos apresentados à família, sabemos que eles embarcarão para uma viagem que será a última tentativa para um tratamento que leve o menino à cura. Última tentativa, pois seus pais, desesperados, praticamente gastaram todo o dinheiro que possuíam para este tratamento com a Dra. Horn (um nome sensacional), vivida pela atriz Lily Taylor, que é pioneira no tratamento de crianças que possuem a mesma doença de Eli.

    Embora Eli precise viver dentro de uma bolha, isso não significa que ele não possa sair de casa. Contudo, é preciso usar uma roupa especial, que o deixa parecido com um astronauta. É uma vida difícil, pois ele é sempre alvo de algum tipo de brincadeira de mal gosto.

    A clínica da Dra. Horn fica numa enorme mansão no meio do nada, muito semelhante à do primeiro capítulo do jogo Resident Evil. A Dra. Horn possui outras duas enfermeiras que as auxiliam nos procedimentos. Embora o local seja arcaico, ele serve de moradia para todos durante as semanas de tratamento, além de ser altamente tecnológica na parte voltada à medicina.

    O filme começa a deixar de ser interessante quando Eli, já em tratamento, passa a vivenciar experiências sobrenaturais e a enxergar coisas que ninguém mais consegue ver, algo que já vimos milhares de vezes na tela do cinema. O tratamento é doloroso e quanto mais afundo ele fica, maiores acabam sendo as experiências, o que deixa o menino extremamente receoso com a postura da Dra. Horn, suas enfermeiras e o tratamento, principalmente quando conhece secretamente a menina Haley (Sadie Sink), uma vizinha local, que começa a contar histórias horríveis sobre a médica.

    O filme é dirigido por Ciaràn Foy, que possui certa experiência em filmes do gênero, mas sem nenhum crédito significativo, ao contrário do time de roteiristas, composto por David Chirchirillo, Ian Goldberg e Richard Naing, que possuem vasta experiência escrevendo roteiros para diversos seriados, sendo os dois últimos responsáveis pelo bom A Autópsia.

    Visualmente falando, o filme não traz nenhum atrativo, exceto pela atuação do quarteto principal. Kelly Reilly, Lily Taylor e Max Martini, embora não sejam estrelas, são veteranos e possuem bastante experiência com filmes e seriados sendo que certamente o expectador já viu algo com eles em cena, mas o destaque mesmo fica para o menino Charlie Shotwell, o protagonista do longa, principalmente por conta da sensacional  reviravolta na trama, já que absolutamente ninguém está esperando o que acontece e a maneira como o filme termina, fazendo com que os roteiristas ganhem pontos fundamentais.

    A parte final de Eli é seu grande trunfo, é o que tira o filme da galeria de desastres do cinema, sem contar que contém uma das mais sensacionais mortes da história do cinema e não acho que isso seja exagero, o que torna o filme obrigatório para os amantes do gênero.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Batwoman (1968)

    Crítica | Batwoman (1968)

    1968, havia uma mania muito grande de exploração de historias de super heróis, a essa época a série do Batman de Adam West e Burt Wart fazia muito sucesso, e nesse sentido haviam imitações bem pitorescos do que fazia sucesso. Se na Itália, Sergio Leone, Sergio Corbucci e Sergio Sollima faziam seu Western Spaghetti, no México havia René Cardona, um diretor experiente que resolveu produzir e dirigir um filme diferenciado, La Mujer Morcielago, ou Batwoman como foi conhecido no resto do mundo, uma imitação obvia do homem morcego, protagonizado por uma mulher bonita e que anda de biquíni o tempo inteiro.

    O início desta pérola do cinema trash e obscuro começa mostrando cenas do mar, uma praia hora em movimento outras estática, acompanhado de uma música instrumental orquestrada por Leo Acosta. Não demora a aparecer dois personagens genéricos, inspetores do Serviço Secreto Mexicano, situados em Acapulco, que discutem a pressão que a imprensa faz sobre eles, acusando o país de não ter segurança básica. Nesse ínterim, eles falam da tal Mulher Morcego, uma senhora imensamente rica, que dedica sua fortuna a justiça e domina todos os esportes.

    Ela é vivida pela bela Maura Monti, e varia seu tempo livre entre as obrigações típicas das socialites, o combate ao crime e o treinamento contra outras mulheres que praticam luta livre. O antagonista da historia é um cientista louco, que por sua vez, rapta lutadores de luta livre – lucha libre – para roubar deles a glândula pineal, para enfim criar um homem peixe. Nada disso faz sentido e isso parece proposital, pois une o hobby da personagem principal ao intento do estranho bandido, e permite que ela se infiltre nesse metiê a fim de desbaratar mas esse ardiloso plano diabólico.

    Há pouco, se não nenhum esforço para que o filme soe como algo sério. As atuações, as lutas, cenários, figurinos, tudo é muito paupérrimo, feito a toque de caixa para aproveitar uma questão de explorar um tema que estava em voga, embora os produtores e Cardona não assumam o claro plágio. Ainda assim, o fato de ser tão sem vergonha faz o filme soar divertido e galhofeiro.

    Tudo que cerca o filme é bem fraco, os efeitos especiais inexistem e a caracterização dos monstros e vilões é ridícula com fantasias terríveis, assim como a solução final, envolvendo uma briga  generalizada, num ringue de Wrestler, findando a historia que o produtor e roteirista Alfredo Salazar (especialista esse em filmes com garotas com pouca roupa), e incrivelmente, por mais que tivesse problemas com direitos autorais – e por mais que também não houvesse qualquer ligação dessa Batwoman com qualquer uma das encarnações de Kathy Kane.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | A Lavanderia

    Crítica | A Lavanderia

    Steven Soderbergh tem executado uma boa parceria com a Netflix. Seu longa anterior, High Flying Bird foi bem pouco falado, e é uma obra subestimada, pois trata bem sobre os sonhos e frustrações ligados ao basquete e aos esportes em alto rendimento como um todo. A Lavanderia, começa metalinguístico, com dois narradores estranhos, os personagens de Gary Oldman e Antonio Banderas, Jürgen Mossack e Ramón Fonseca, quebrando a quarta parede, elucubrando sobre dinheiro, bem ao estilo de A Grande Aposta, ainda que ao estilo de Soderbergh.

    A trama logo vai para Lake George, em Nova York, mostrando o casal Ellen e Joe Mart, de Meryl Streep e James Cromwell. Os dois sofrem um infortúnio e é nessa parte que se notam as fragilidades orçamentárias do filme. Quando a água toma a embarcação onde eles estão, vem um efeito digital da água que é bem artificial, graças obviamente ao baixo custo da produção. O diretor consegue convencer grandes astros a participar, mas todo o resto dos custos tem que ser bancado, mas aqui ao menos, funciona, dado o caráter satírico do roteiro e abordagem.

    O script mostra pessoas comuns, sendo ludibriadas por outras pessoas, essas bastante instruídas, gente malandreada que não tem qualquer receio em empregar seus golpes e maracutaias nos que pouco tem, e incrivelmente não há um julgamento ultra moralista, ao contrário, há leveza na condução das historias paralelas e assessórias na quantidade de esquemas e propinas mostrados, em especial nos casos de aliciamento, de uso de laranjas e de assassinatos.

    Como a trama não se leva a sério, Oldman, Banderas e Streep tem espaço para exercerem suas facetas mais caricatas e canastronas possíveis. Em boa parte do filme, o overaction funciona, mas em outros, mais parece um filme ruim de Eddie Murphy. O longa carece de equilíbrio em muitos pontos, e se perde um pouco em meio as muitas tramas paralelas, mas incrivelmente não deixa de ser divertido quase nunca, principalmente por não ter apenas uma historia de guia, e sim várias, indo e voltando ao arco de Ellen.

    A Lavanderia é baseada no livro de Jake Bernstein, Secrecy World: Inside the Panama Papers Investigation of Illicit Money Networks and the Global Elite, que obviamente não é uma obra ficcional, e a forma como o longa aborda as partes reais é um pouco atrapalhada e nada sutil. Toda a questão dos Panama Papers e da Odebrecht soa um pouco rasa, não há muito aprofundamento e o desfecho não é tão potente quanto todo o resto – nos momentos finais, chega a soar um bocado moralista –  mas dado que praticamente nada na obra é encarado com seriedade, faz pouco sentido dar vazão ao azedume ao analisar esta obra, que mesmo soando exagerada, é repleta de bom humor e jocosidade, onde o alvo principal, são os ricos e gananciosos da classe A estadunidense.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Fratura

    Crítica | Fratura

    Fratura é uma das recentíssimas produções da Netflix exclusivamente voltadas aos thillers de suspense e terror. Obviamente, as histórias não tem nada a ver umas com as outras, mas, contudo, buscam um denominador comum, trazer algo inovador e com uma grande reviravolta ao final.

    Ray Monroe (Sam Worthington) está voltando da casa de seus sogros, dirigindo pela estrada junto de sua esposa, Joanne (Lily Rabe) e sua simpática filha de seus anos, Peri (Lucy Capri). Logo de início, pela conversa do casal dentro do carro, percebe-se que os pais de Joanne não gostam muito de Ray, que é um alcoólatra em recuperação. As pilhas do player de música da pequena Peri acabam e Ray decide parar num posto na estrada para comprar pilhas para sua filha e um refrigerante para sua esposa, enquanto as duas vão ao banheiro. Ray, ao olhar para a geladeira da loja de conveniência, fica tentado a comprar duas doses de bebida, abrindo mão das pilhas para sua filha. Enquanto Joanne volta ao banheiro para buscar algo que esqueceu, Peri deixa o veículo para ir atrás de um balão que está preso numa construção ao lado da loja de conveniência, quando é encurralada por um cão. Ray tenta afugentar o animal com uma pedra, mas ele junto de Peri cai de uma altura considerável. Quando Joanne chega ao local, Ray, demonstrando nervosismo e preocupação para com sua filha, acaba por empurrar a esposa que cai no chão. Ele se recupera, coloca as duas dentro do carro e parte desesperadamente para o hospital mais próximo. É a partir desta premissa, que Fratura, de fato, começa.

    O hospital é bastante estranho. Seus funcionários parecem não se importar com os pacientes e quando Peri finalmente é atendida, o médico demonstra ser uma ótima pessoa. Porém, quando a menina é levada para fazer exames e é acompanhada por sua mãe, Ray, após passar o dia inteiro esperando-as, descobre por meio de uma atendente que as pessoas com aqueles nomes nunca deram entrada naquele hospital. Começa então uma busca frenética pela verdade para provar que o hospital, de fato comete crimes dentro de suas dependências.

    O filme é dirigido por Brad Anderson, um especialista no assunto, responsável por bons filmes como O Operário e Expresso Transiberiano e que vem se dedicando consideravelmente a dirigir alguns episódios de diversos seriados. Anderson demonstra que sabe fazer com que seu elenco passe ao expectador o sofrimento e a dor vivida ali por eles, merecendo elogios à competente atuação de um sumido Sam Worthington, que não está e sua melhor forma, mas ainda consegue carregar filmes como estes em suas costas. Contudo, o roteiro de Alan McElroy deixa um pouco a desejar, andando de mãos dadas com uma produção ruim, que pode ter sido prejudicada por um orçamento baixo e uma fotografia opaca (talvez intencional).

    Os momentos em que Ray está em busca de sua família são muito bons, mas, como dito no início deste texto, o filme traz uma reviravolta em seu final que dividirá quem assiste. Uns vão adorar o que acontece e outros torcerão seus narizes e ficarão com aquela sensação de “putz”. Mas o final e os “poréns” não chegam a ofuscar o filme, que cumpre o que propõe desde seu início.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Meu Nome é Dolemite

    Crítica | Meu Nome é Dolemite

    Aposta da Netflix para a temporada de premiações – em meio a outras tantas obras caras– Meu Nome é Dolemite conta a historia de Rudy Ray Moore, um homem criativo, mas que não consegue ter sorte em suas empreitadas artísticas. Eddie Murphy vive Rudy, e logo  aparece ele tentando convencer um produtor vivido por c a tocar suas fitas. Ele está com uma leve pança e o cabelo começa a rarear, e esses são apenas alguns aspectos que mostram que ele não corresponde ao estereotipo do negro bem sucedido.

    Os dias de Rudy incluem conversas com seus amigos mais próximas, pessoas simples, de hábitos não sofisticados, que se alimentam de forma gordurosa e barata. Suas idéias de piadas são rejeitadas, não só nos shows de comedia em pé, mas também com os mais próximos, e a missão do filme é mostrar essa jornada de maneira palatável para o grande público, e para isso, investe em um elenco repleto de figurinhas carimbadas, em especial, atores negros.

    É incrível a entrega de Murphy, que realmente parece um sujeito vindo somente de insucessos, em busca de novos materiais para fazer rir. As tentativas de construir um personagem,  no caso, Dolemite resultam em momentos pouco engraçados e muito dramáticos. A abordagem que o diretor Craig Brewer dá a sua adaptação biográfica é muito bem pensada e encaixada de um modo único. Rudy tem personalidade, e por mais que seu trabalho de pesquisa e laboratório seja curto, há fluidez no sentido de enfim encontrar a sua persona graciosa. O visual clichê, típico dos cafetões do Harlem, a peruca artificial, o gingado o aprimoramento de piadas e ditos bem populares

    Depois de fracassar nas vezes que mostrou a produtores seu esquete cômico, muito por conta da linguagem pesada nas piadas, ele encontra na independência seu caminho. A historia de como Rudy encontrei seu personagem, Dolemite é muito rica,  e o roteiro não se perde em meio a todos esses detalhes. A reconstituição dos anos setenta é muito boa, lembra em alguns momentos a mesma feita nos filmes de máfia de Martin Scorsese, mas com identidade própria.

    Uma coisa leva a outra e Dolemite e sua turma resolvem tentar fazer um filme, com pouco dinheiro e muita vontade. Brewer faz questão de mostrar que cinema não é fácil de fazer, tampouco é  tranqüilo todo o processo de captação de historias, imagens, atuações e dramaturgia e toda a metalinguagem empregada aqui não é novidade em produções recentes, mas a entrega tanto de elenco quanto do texto original impressiona, tornando o longa muito crível e palpável.

    Toda a parte da produção do Dolemite de 1975 é sensacional, faz lembrar pérolas recentes, como O Artista do Desastre, com a diferença  de que o D’Urville Martin de Wesley Snipes não é um completo sem noção, aliás, essa versão do astro negro dos filmes de aventura blaxsploitation é muito rico, marcante desde sua primeira aparição.

    A abordagem que Murphy e Brewer dão a Rudy impressiona, em especial no fato dele não se incomodar em ser encarado como um astro motivo de piadas, afinal o humor é onde moram suas raízes, tampouco se leva a sério ao ponto de refutar a chance de ser adulado e idolatrado. Poucas vezes um ator conseguiu entender tão bem um ícone como Murphy faz aqui, o filme soa fidedigno e até lirico em alguns momentos, a liberdade que o ator teve para achar seu papel ideal é um diferencial mesmo, do tipo que normalmente só ocorre quando o próprio ator dirige o filme, e não é o caso aqui.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Rosa de Esperança

    Crítica | Rosa de Esperança

    Lançado em 1942, sob o nome original Mrs Miniver em atenção a personagem de Gree Garson, Kay Miniver, o drama de guerra Rosa de Esperança começa tímido, após um letreiro que situa o espectador no cenário político da Inglaterra, e que discorre um pouco sobre a historia da família de classe media que será mostrada, nos idos de 1939.

    O longa-metragem de William Wyler mostra o tal clã lidando com a imposição do famigerado “esforço de guerra”, que consiste basicamente na mobilização de pessoas comuns para tarefas de apoio bélico. Kay é mostrada como uma mulher comum, de afazeres e interesses que não fogem do ordeiro, ela é uma mulher bem comum, ela mora com seu marido Clem (Walter Pidgeon) e seus dias não vão muito além das tarefas caseiras. O filme é lento, visa  explanar a normalidade do cotidiano inglês, um povo que aquela altura do século XX era bastante pacifico e formal.

    O roteiro adapta as tiras de jornais homônimas de Jan Struther, e há algumas diferenças dramáticas entre esta versão e a original. Os Miniver não são tão ricos, mas ainda assim moram em uma casa grande, chamada Starling, perto  de Tâmisa, em um confortável subúrbio inglês. Surpreende a escolha de Wyler por mostrar múltiplos cenários, para exemplificar bem como é a rotina das pessoas de diferentes classes na Grã-Bretanha, em especial antes dos ataques do Eixo. É como se o script aludisse para o quão maléfica e amaldiçoada é a intervenção dos nazistas e do III Reich, que causaram em corações e mentes muita raiva, ressentimento, para além até dos preconceitos defendidos por eles, uma vez que a postura hiper agressiva e ofensiva mexeu até com pessoas que não estavam no escopo judeu. O extremismo fascista interfere na vida de absolutamente todos.

    A guerra só é dita como de fato acontecendo com aproximadamente um quarto de filme, e o clima e atmosfera mudam por completo. Até os momentos de descontração são comedidos, em lugares fechados, com as pessoas festejando, mas com seus uniformes e trajes formais. Os outros homens, adentram a historia como pessoas comuns, e logo depois, aparecem maltrapilhos, vindos da guerra, e incrivelmente não há tanto lamento pela chegada deles assim, mal alimentados, com perda de peso, claramente passando por necessidades pós chegada do campo de guerra.

    Os vinte minutos finais mostram Miniver vivendo a desesperança de ter sua terra atacada por bombardeios aéreos, e é nesse clímax que Wyler justifica as premiações que ganhou, pois em meio ao cinema hollywoodiano dos anos quarenta, conseguir conduzir cenas com aviões não é tarefa das mais fáceis, ao contrário.

    O diretor e a produção tiveram muita coragem, em retratar uma historia de orçamento estadunidense, situada na Europa na época em que o conflito mundial estava no auge. Não há concessões aos nazistas, apesar de não haver um confronto direto com os nazistas. O culto cristão, na igreja que sofreu com os ataques alemães serve de exemplo, e certamente foi por conta desses momentos que o filme se tornou tão adulado e louvado em sua época, fazendo valer um elogio de Winston Churchill, que dizia que esse era mais efetivo na guerra que uma frota de destróieres, e dada seu caráter denunciativo, ele de fato tinha razão.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Z.A.N.

    Crítica | Z.A.N.

    De Thiago Moyses, Z.AN. é um filme brasileiro diferenciado, para o bem e para o mal. Sua linguagem não é o português brasileiro, e sim o inglês, mirando o publico internacional e ele foi gravado por 5 dias apenas, com uma carga horário severa, com 20 horas diárias, com uma equipe  de produção bem reduzida. A intenção de seu feitor era aludir a um estilo kafkiano, apesar do reduzido orçamento que dispunha.

    As imagens que abrem o longa mostram roupas cintilantes, que sobressaem em meio a tela escura e aos estranhos sussurros que permeiam esse longa.A primeira inteiração dos personagens humanos dão conta de Adam Manish (João Meira), em uma sessão  de terapia, e logo passa para um momento onírico, que pode ou não ser uma ilusão do protagonista. As pessoas parecem estar sob efeito de uma forte emoção ou um mal súbito, babam como pessoas raivosas, e o fato de não ter explicações ou ambientação para normalizar tais coisas, faz tudo soar estranho e bem tosco.

    O filme se leva a sério demais, apesar da estética claramente trash. Há uma abertura com efeitos em 3d dos mais artificiais possíveis, fato que faz perguntar se o filme foi editado em um programa primário como Windows Movie Maker. As cores estouradas contam com retoques digitais terríveis e com imagens que invadem a tela sem qualquer textura, mas uma vez que as cenas onde isso corre são viajandonas, até se torna passável, em comparação por exemplo com os momentos “atuados”, essas sim são sofríveis, mas até do que os momentos que emulam os descanos de tela dos computadores antigos.

    A sincronia com a dublagem é terrível, e não há necessidade nenhuma de se falar tudo em inglês, pois as maioria das cenas mostram que claramente a historia se passa no Rio de Janeiro. Mais do que isso, o elenco não faz nenhum dos momentos falados parecer de verdade, a dicção da maioria dos atores não combina com o anglo saxão, e ainda há o agravo da maioria dos livros em consultórios serem em português, assim como os jornais impressos mostrados.

    A ideia de evocar uma hipnose lisérgica, típica de quem usou LSD é até inteligente, mas falta investimento em efeitos para fazer isso ter algum efeito que não o humorístico. Até a corrida de Adam parece a de um sujeito com restrições mentais, Meira não consegue dar qualquer presença para o seu personagem, ele é andrógino e só, nenhum personagem foge do estereotipo ou bidimensionalidade e a insistência em manter o som alto faz o incomodo do filme se maximizar.

    Ao menos a criatura monstruosa do trem funciona, ela assusta por seu aspecto brilhoso, embora pareça uma gostosa ervilha na boca de um banguela, difícil de engolir e digerir. Há momentos que Z.A.N. lembra Kung Pow, por conta de  seu idioma escolhido, e toda a questão envolvendo os estágios da evolução humana – da onde viria o nome do filme – pretensiosa ao extremo. O filme tem falhas grotescas de continuidade, e os cenários de CGI parecem terríveis, que pioram ao ver que boa parte dos figurinos se assemelham a fantasias de carnaval. O trabalho de Moyses parece esforçado, mas há muitas idéias  mas pouco pragmatismo na hora de realizar em tela.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.
  • Crítica | O Iluminado (1980)

    Crítica | O Iluminado (1980)

    Se o umbral existe, Stanley Kubrick nos deu uma amostra grátis disso pegando o último estágio dos círculos do inferno e colocando-o num belíssimo hotel de veraneio, trancando uma família dentro dele e vendo o que rola. Baseado no livro homônimo de Stephen King, autor de outras joias como O Nevoeiro e Carrie, O Iluminado é o décimo filme de um dos maiores nomes que Hollywood já produziu, e ajudou a divulgar, em todas as suas épocas. Grande foi o espanto de muitos quando foi noticiado, ainda na década de 70, que o diretor de Laranja Mecânica e Dr. Fantástico, ia adaptar um conto nada convencional a sua filmografia sobre o sobrenatural que pode cercar as nossas vidas, e ganhar espaço cada vez mais no plano material das coisas e das nossas relações. Após rejeitar o roteiro do próprio King, Kubrick escreve sua própria versão das consequências que a mudança de Jack Torrance, sua esposa e filho para o hotel Overlook iriam trazer para suas vidas – para sempre.

    Determinado a terminar seu livro, Jack aceita se isolar por três meses de inverno rigoroso no hotel, sem saber do elemento macabro que espreita atrás de cada porta, imortal como as almas penosas de uma necrópole. Mais e mais, todos passam a ser atormentados por uma força quieta, inquieta e secreta que domina a tudo e todos, tal um vírus presente no ar, mas implacável feito uma força da natureza. Repleto de cenas icônicas, o filme se situa no limiar do real com o surreal, sensível o bastante para andar no meio fio, e nos fazer participar de um delírio alucinógeno a cada minuto que passa. A fim de estudar o gênero de horror, tal um menino que tenta assustar os amigos numa barraca contando histórias de terror, mas sob o sol do meio-dia, Stanley Kubrick aceitou o desafio de investigar o medo, um dos nossos instintos mais primitivos, através da mais refinada linguagem cinematográfica possível. Isso já faria da obra algocult, por excelência, se não fosse também seu inigualável valor a justificar seu apreço crítico.

    Ademais, não se deve culpar O Iluminado por fazer uso de praticamente todos os recursos de um filme de horror, e sim, se admirar como ele recria clichês jurássicos e acha novas maneiras, ainda na década de 80, para nos assustar com o inesperado, e o incontrolável. Atemporal por ser real, e por ser humano, o clássico com um Jack Nicholson 100% psicopata e uma Shelley Duvall afetadíssima, alimentada pela loucura que consome gradativamente o marido,não aposta em sustos fáceis ou cenas fortes para ser marcante, e é isso o que faz a plateia de 2019 pensar: então por que o filme deve ser considerado tão bom, se não me faz pular da poltrona?O verdadeiro horror que Kubrick transmite aqui chega a ser mais do que imaterial, ou seja, não tem a ver com assassinos zumbis como Jason, tampouco com entidades como o palhaço Pennywise, chegando até mesmo a ser um horror invisível, já que os tenebrosos fantasmas das gêmeas do corredor também não expõe o terror absoluto que existe por trás de sua imagem, e da sua morte, uma vez que a aparição das duas é tão dócil, quanto arrepiante.

    Esse horror meio hipotético, sugestivo e potencializado, aqui, só vai se tornar físico (visível) e gritante quando somos convidados a correr em pânico na claustrofobia de um labirinto escuro de gelo e sem saída, com sangue e lascas de madeira pelo ar, e quando um cadáver finalmente levanta da banheira com o corpo apodrecido para cima de nós. Muito antes disso, o que fica e constrói o valor do filme, de fato, é uma ultra elegante perturbação diabólica que o clássico consegue transmitir como poucos, superando a aparente racionalidade humana daquela família de pai, mãe e filho, este último sendo um médium iluminado que consegue ver a realidade do local, umbralina demais para vê-la e continuar são – um estado mental que, como todos sabemos, é muito frágil dependendo das condições do ambiente em que estamos inseridos.E francamente: Stephen King está certo em não gostar d’O Iluminado. Eu também não gostaria se a adaptação do meu livro fosse melhor que o meu jogo de palavras. Ah, as maravilhas do ego.

    https://www.youtube.com/watch?v=Gus5-rAR3k0

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | A Vida Invisível

    Crítica | A Vida Invisível

    Karim Aïnouz é o diretor do filme que representara o Brasil na corrida pelo Oscar de filme estrangeiro. Ao contrário do que houve entre Pequeno Segredo e Aquarius, Bacurau não foi nada mal vista, afinal, A Vida Invisível tal qual o filme de Kleber Mendonça Filho, foi muito bem nos festivais internacionais, e não à toa, já que a jornada das irmãs Guida de Julia Stocker e Euridice de Carol Duarte além de apresentar uma realidade dura e pragmática, ainda consegue ser algo belo e bastante tocante.

    O inicio do filme é contemplativo, passeia por passagens rurais dentro da capital fluminense dos anos 50, onde dá para ouvir a água corrente caindo sobre os muros e chãos das casas suburbanas do bairro de São Cristóvão. Essa entrada é bastante lírica, e faz jus a adaptação ao livro de Martha Batalha. A historia começa com a ternura da relação das irmãs Gusmão, que vivem no Rio antigo e são criadas por uma família de origem portuguesa e viés conservador. A vida faz com que as duas se separem, cada uma tomando um rumo amoroso diferente, e essa distância  não é cortada, mesmo que ambas tencionem se encontrar.

    Euridice é uma artista nata, toca muito bem piano, enquanto Guida é enérgica, divertida e muito amorosa. As duas, belíssimas quando novas, tem sua inocência invadida, uma por escolha própria e outra via casamento arranjado. A forma como a historia mostra os sonhos de ambas morrendo reúne coincidências no destino das duas – em especial na rejeição a maternidade – e claro, o descontentamento com a rotina que levam, já que ambas imaginavam que teriam linhas de vida bem diferentes.

    A forma como o roteiro de Aïnouz, Murilo Hauser e Inés Bortagaray trata a intimidade das moças é sui generis. O sexo praticado é sempre impessoal, agressivo, na maioria das vezes mal é consentido, e serve bem ao propósito do filme, de mostrar vidas falhas e trajetórias fracassadas as margens do Rio de Janeiro, um cenário bucólico e decadente, bem distante do que comumente é associada a Cidade Maravilhosa.

    As historias marginais de ambas mesmo na melancolia soam inspiradoras e belas, e mesmo os personagens com posturas que se aproximam da vilania não são registradas de maneira maniqueísta. Cada pessoa é tridimensional, tem aspectos de comportamento positivos e negativos, como qualquer ser humano comum.

    A forma delicada como se trata temas como psicose, depressão e saudade também é absurdamente positiva, as confusões sentimentais são bem pontuadas pela entrega das interpretes. Julia Stockler é deslumbrante em tela e o trabalho corporal de Carol Duarte é absurdo, ela consegue imprimir idades bem diferentes, mudando basicamente a sua postura, retratando bem a condição de uma pessoa depressiva basicamente com expressões corporais e com formas de se manter ereta.

    Mesmo os saltos temporais (bem grandes, por sinal) são bem encaixados, e mostram uma justiça tardia sendo cumprida. A Vida Invisível registra uma historia familiar conturbada, que representa bem o dia a dia dos brasileiros, que vivem entre o cuidado e o desprezo dos mais próximos, e também representa bem como a vida pode ser cruel, curta e irônica, isso tudo pontuado por atuações incríveis, mesmo em participações especiais como a de Fernanda Montenegro, que é só um dos bons desempenhos dramáticos que o filme apresenta.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio

    Crítica | O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio

    O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio começa simples, com uma gravação de sua heroína, a Sarah Connor de Linda Hamilton, que estava ausente desde o 2º filme, ainda no manicômio falando a respeito do dia do Juízo Final, em 1997. A gravação a fazia parecer paranoica, mas ela era autoritária, forte, bem resolvida  e durona, e a escolha por começar  esse sexto episódio da franquia no cinema, que relembra outras cenas clássicas, inclusive fazendo uma rima visual que, apesar de ser um recurso clichê, aqui combina demais, com as comparações das diferentes praias, uma no caos futurista e outra na calmaria pré tragédia pessoal.

    Uma das maiores preocupações por parte dos fãs, era se Tim Miller conseguiria repetir os bons momentos de O Exterminador do Futuro e O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final no quesito ação, e ao menos nesse sentido, não há do que reclamar. Os 20 minutos iniciais são de uma ação frenética absurda, e mesmo os efeitos especiais soam naturais, bem melhor do que o rejuvenescimento de O Exterminador do Futuro: Genesis, que visto hoje, faz Arnold Schwarzenegger parecer realmente um boneco mal feito.

    A introdução dos novos personagens é um pouco apressada,mas o ritmo acelerado faz com que o estranhamento seja facilmente driblado. Tanto Grace (Mackenzie Davis) quanto Dani Ramos (Natalia Reyes) são personagens que parecem um pouco apagadas, mas até  para manter o mistério em torno delas, faz sentido isso ocorrer. A luta que Grace tem com o Exterminador REV-9 de Gabriel Luna é sensacional, em especial a sequencia na estrada, pós saída da fábrica, uma pena que boa parte desses momentos já tivessem sido antecipados no material de divulgação.

    Hamilton, no presente do filme, acrescenta demais a trama, seja no espírito de guerrilheira que  ela veste, como no aspecto de heroína de ação que prosseguiu evoluindo, tal qual foi em T2. Aliás, o núcleo de protagonistas ser todo formado por mulheres é um aspecto muito bem vindo, e ela que faz lembrar os momentos mais legais de mulheres badass do cinema recente, quase como uma Charlize Theron mais madura, uma evolução da Imperator Furiosa de Mad Max: Estrada da Fúria e da espiã de Atômica.

    O roteiro de David S. Goyer, Justin Rhodes e Billy Ray não é primoroso. A historia se perde um pouco ao não causar muito impacto com aspectos novos da franquia, e com essa outra versão do destino da humanidade. Talvez a quantidade grande de roteiristas e de argumentistas ( foram cinco, incluindo o produtor James Cameron) tenha ajudado a diluir essa importância que deveria ter sido dada. Além disso, há uma reciclagem tanto da trama de T2, quanto de muitos aspectos das continuações que foram “descanonizadas”. De O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas, há  o conceito de uma mulher viajando no tempo e sendo badass, de O Exterminador do Futuro: A Salvação, o conceito de um humano aprimorado e de T: Genesys, a questão do envelhecimento do tecido orgânico do T-800 de Arnold.

    Apesar de se valer demais de flashbacks – o que é ruim – ao menos é possível observar como essa versão do futuro é suja, lembrando inclusive Aliens: O Resgate em boa parte dos aspectos, mostrando que Miller é muito reverencial ao legado de Cameron. No entanto, a repetição de ciclos, com mulheres sempre se sacrificando pela sobrevivência da humanidade, não é tão bem traduzida para a parte da nova geração. Ao menos, o sub plot do T-800 é bem legal, e faz sentido mesmo com a suspensão de descrença. Se as máquinas são capazes de se revoltar e exterminar os homens, não há porquê elas não evoluírem ao ponto de criar uma espécie de ética própria, ainda mais se essa máquina não tiver nenhuma ordem ou comando. A mensagem sobre propósitos e a necessidade de tê-los é um pouco piegas, mas não chega a ser ofensivo, até porque Schwarzenegger está engraçadíssimo, à vontade como há muito não se via.

    Exterminador do Futuro: Destino sombrio acerta demais nos aspectos ligados a action movies, tem sequencias de luta muito boas, um bom vilão, que não deixa tanto a desejar para o T 1000 de Robert Patrick, e que tem em Linda Hamilton sua âncora, com uma atuação muito tocante e inspirada da veterana atriz, com um desempenho tão bom que quase faz esquecer que Reyes e Davis não estão tão bem.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Nightmare Cinema

    Crítica | Nightmare Cinema

    Nightmare Cinema é mais uma compilação de curtas-metragens de diretores diversos, que gira em torno do mesmo assunto, no caso, o cinema. Na primeira cena mostra uma jovem, bonita, de roupas curtas passando por um cinema antigo, aparentemente abandonado, e que tem em seu letreiro o nome do filme. Ela é Samantha (Sarah Elizabeth Withers), e passa pelas cadeiras vazias do mesmo e se nota que ele está em bom estado apesar de vazio, um pouco depois, a moça toma um susto por algo simples: o começo da projeção, que acontece subitamente. Nela, aparece uma jovem toda ensanguentada, que parece muito com ela, e que corre pela floresta em uma perseguição estranha, tentando fugir de um suposto assassino mascarado, que ela chama de Soldador.

    Já nesse primeiro conto se nota que o gore imperará e que o que é exibido faz referencia aos medos internos dos personagens mais “humanos”. Os homicídios nessa primeira parte são bem criativos, e o filme não se leva a sério, não há muita lógica realista aqui, além de ter claras referencias a Army of Darkness, o último A Morte do Demônio e um bocado de Final Girls, filme recente que também tem comentários metalinguísticos. Mesmo os clichês dos filmes slasher são subvertidos, tanto em níveis sentimentais quanto em expectativa de futuro.

    A forma como as historias se amarram também é divertida e engraçada, e por mais esdrúxulas que sejam as motivações dos personagens elas fazem sentido dentro da loucura que é o roteiro. A transição de uma historia para a outra é bem suave, não causando estranhamento no público. Além disso, há um cuidado em misturar os gêneros de terror, mostrando assassinos seriais, horror atômico, invasão de animais malditos manipuladores  em formulas que soam divertidíssimas, exatamente por não se levar muito a sério o que é mostrado em tela.

    Há também elucubrações sobre pecados capitais, como a vaidade, necessidade de plásticas, que reúnem elementos por sua vez de clássicos trash como O Dentista e de outros mais elucubrados como A Pele que Habito. Há também vazão a luxúria, com mais referencias ( entre elas, O Exorcista  e Mórbido Silêncio). É engraçado a quantidade de referências a filmes B e trash, e é até natural que seja assim, dado quem dirige os filmes, Alejandro Brugués de Juan dos Mortos, Joe Dante de Gremlins, Mick Garris de Criaturas 2 e várias adaptações televisivas dos filmes de Stephen King, Ryuhei Kitamura que faz muitos filmes de horror no Japão e David Slade de Menina Má.com. Mesmo os momentos mais explícitos, como a introdução do projecionista feito por Mickey Rourke funciona bem, soa fluída, além de ajudar a colar os pesadelos filmados.

    Obviamente algumas historias são menos elaboradas que outras, portanto, há também mais inspirados e outros sem tanta criatividade, mas a forma como as temáticas se repetem e os elementos são reprisados dentro dos contos é muito inteligente, pois fortalece uma ideia cíclica, com uma cola diferenciada entre os contos macabros, que a julgar pelo seu final, pode perfeitamente ter uma ou mais continuações, que seriam muito bem vindas caso sejam conduzidas assim, com tom galhofeiro e que pouco se leva a serio, com diretores tão especializados no estilo e gabaritados como os que são vistos  neste Nightmare Cinema.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Favela Gay

    Crítica | Favela Gay

    Favela Gay é um documentário bem pessoal, lançado em 2013, dirigido por Rodrigo Felha, um dos jovens que conduziu parte do conjunto de curtas mashup 5 Vezes Favelas, Agora Por Nós Mesmos. Seu filme é emotivo, mostra um Brasil diferente dos cartões postais, registra cenas das vielas cariocas, nas favelas e comunidades do Rio de Janeiro, lugares normalmente encarados como reacionários, mas que aqui tem essa pecha desconstruída. O estudo passa por Rio das Pedras, Vidigal, Cidade de Deus, Favela da Maré, Andaraí, Complexo do Alemão e outras favelas.

    Os entrevistados e entrevistadas são diversos, mostram uma diversidade de orientação sexual e identidade de gênero, e no início dele se monta um quadro bem otimista, em que as pessoas que falam mostram uma historia inspiradora, que obviamente passam por algumas brigas e rejeições familiares, mas que também passa por aceitação e evolução de pensamento. As famílias evoluem também, em certo ponto não falam com os biografados que assumem sua postura de homossexual assumido, para algum tempo depois passar a olhar até as travestis como mulheres.

    Felha tem um cuidado e um carinho enorme sobre seu próprio filme, e isso se reflete na diferenciação entre os seus entrevistados, pessoas bem diversas, de interesses diferentes e comportamentos também. A realidade dura que a maioria deles vive além de ser muito bem explicitada, detalhada  de maneira muito real sobre os revides, sobre como responder a ofensas e agressões sejam elas verbais ou físicas, e obviamente, passam pelo Carnaval, tanto o de rua quanto o de escolas de samba.

    O fato dele ser positivo e apresentar uma historia alternativa, que foge dos clichês de tristezas normalmente ligados a parcela LGBT da população é super positivo, e é de suma importância que se faça esse esforço, para desconstruir a ideia que a cultura pop – em especial o cinema hollywoodiano – produziu associando a rotina gay a depressão, uso de drogas e libertinagem pura e simples. A vida de qualquer pessoa não é feito só de agruras e rancores, tampouco de alegrias e fofuras somente , e quem evolui, normalmente,  consegue lidar até com expectativas  negativas e com traumas do passado, chegando ao ponto até de fazer piada com esse tipo de lembranças.

    Favela Gay tem um papel fundamental na demonstração do quão comum e ordeira pode ser a vida de homossexuais, transexuais, crossdresser, gays e lésbicas em um ambiente menos abastado, além de se prestar a mostrar para absolutamente todos os públicos a normalidade e alegria que existe no cotidiano de cada uma dessas pessoas. Seu lançamento em 2013 o propiciou a ser bastante discutido e difundido, e jamais seu mote esteve tão atual quanto em 2019, em épocas onde temáticas e assuntos LGBT são censurados só por existirem nas filas para arrecadação de verba de patrocínio via editais públicos, pois deixa clara o quão frágeis, humanizados e comuns, tal qual qualquer pessoa seja qual for sua identidade de gênero ou orientação sexual, contrariando a ideia esdruxula de ideologia de gênero.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Passagem Para Marselha

    Produção da Warner Bros, assinada inclusive por Jack L. Warner como produtor executivo, Passagem Para  Marselha é uma obra de Michael Curtiz, que conta um drama de guerra, desenrolando as conseqüências dela, com a produção sendo feita em meio ao conflito dos aliados com os nazistas. O filme tem Humphrey Bogart como seu principal chamariz, no papel de  Jean Matrac, um piloto que estava em combate, e que esteve na estranha Ilha do Diabo e voltou.

    A narrativa começa com um letreiro, explicando as forças francesas, que resistiram em território europeu contra o avanço do Eixo. Isso tudo é acompanhado de música instrumental “inspiradora”, com hinos embalando as explicações, evocando o patriotismo típico dos tempos conflituosos, mas seu espírito é um pouco confuso, pois sua estrutura se baseia em flashbacks dos personagens, repletos de momentos confusos, que remetem a confusão comum dos que lutam as guerras mundiais. Matrac é motivo de orgulho para os que lutam consigo, mas ele mesmo parece um homem ser certezas, de olhar vacilante e postura, e não é à toa, afinal o que se vê durante o filme não é nada épico ou heroico.

    A duração do filme beira as duas horas – 109 minutos, na verdade – e seus momentos mais marcantes são os resgates a náufragos e a necessitados, pessoas que sofreram demais com os conflitos as nações extremas que seguiam o III Reich. Mesmo Matrac sofre com isso, é resgatado magro, com a barba por fazer, com a compleição bem diferente do galã que protagonizou Casablanca e tantos outros filmes, mas não é só fisicamente que ele está diferente, pois alem de sua magreza, há também uma campanha de acusação, que o associa a um massacre, como suspeito direto dos  assassinatos.

    Além dos horrores perpetrados por Adolf Hitler e dos seus subordinados militares e pelo partido nazista, como os óbvios casos de violência e intolerâncias contra os judeus, também havia uma forte campanha de difamação, onde o foco narrativo morava em desacreditar seus adversários através de notícias falsas espalhadas, prática essa bizarramente utilizadas por linhas políticas de extrema direita na atualidade, mas  que normalmente são desassociadas pelos defensores desses sectos políticos, pessoas essas que não conseguem – ou pelo menos não assumem conseguir – ver semelhanças e coincidências entre os métodos.

    As acusações ao herói da jornada incluem incitamento a motins e cumplicidade a arruaças, aludindo a dois fatores primordiais, primeiro, jogando o nome do sujeito de postura até então ilibada no lixo, ao associar ele a homicídio, para logo depois trancafiar o sujeito por suposto envolvimento com causas rebeldes, tentando colocar rivalidades entre ele e o povo.

    Nos vinte minutos finais, a historia se passa em uma embarcação, onde Matrac tem oportunidade de matar adversários de guerra, alvejando os nazistas mesmo com eles desarmados, em uma demonstração certeira de como se deve lidar com ameaças aos extremos da direita, uma vez que se estivessem na posição inversa, certamente não haveria paciência com os aliados, além de que em posição de desvantagem, o comportamento comum dos adeptos do fascismo é de manter-se quieto, aparentemente submisso, mas pronto para a qualquer momento destilar intolerância e seu modo de governo autoritário. O piloto, que tem um final trágico faz lembrar que mesmo com heroísmos, a guerra não retribui de maneira pacificadora aos que entram em si, condenando seus participantes, a perecer por conta de suas escolhas. Passagem Para Marselha é simples, direto, econômico narrativamente e muito certeiro no discurso anti nazismo, utilizando para isso uma inteligente inversão de expectativa, ao por Bogart que normalmente é galã como um soldado forte, complexo e nada maniqueísta ao cumprir sua intolerância  com quem nada tolera.

    https://www.youtube.com/watch?v=z6cQKi4A23o

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.
  • Crítica | As Trapaceiras

    Crítica | As Trapaceiras

    As Trapaceiras começa em um bar, mostrando um homem grande, bonito esperando. Ele é  é enganado por Madison, que na verdade é Penny Rust, personagem de Rebel Wilson que mente sobre sua aparência em um encontro marcado on line. Enganar homens não é seu único pecado ligado a falsidade, uma vez que já nesse inicio, ela foge da polícia, utilizando seu vestido preto para fingir que é uma sacola de lixo. Não demora a aparecer o outro fator feminino nessa equação, a também enganadora Josephine Chesterfield, de Anne Hathaway, que utiliza seu corpo belo e rosto angelical para seduzir, intoxicar e extorquir homens tarados e babões.

    Há uma entrada animada, bem ao estilo dos filmes da Pantera Cor de Rosa com Peter Sellers, e a trama passa por cassinos, jogos de azar. Curioso que o filme que é uma refilmagem do clássico de 1988 Os Safados busca referencias em outras comédias de gênero para iniciar seu drama.

    Ao contrario de Rebel, Josephine não se expõe tanto, é mais discreta, mas só um pouco menos, pois finge ser uma mulher falida, munida de parceiros de crime, em uma versão bem mais inspirada da picareta que fez  em Oito Mulheres e um Segredo, embora aqui, os seus cúmplices sejam reais parceiros seus, e não uma gangue mal improvisada.

    O caminho das duas trambiqueiras se cruza, em um trem luxuoso, onde uma está trabalhando e outra aparentemente está de folga. A alma galhofeira de uma provoca curiosidade na outra, e elas acabam se juntando, para um trabalho no futuro. O grande problema é que a diferença enorme de estilo de Hattaway e Wilson acaba gerando uma falta de química, inicialmente, mas que é resolvida rapidamente, com a inteiração mais intima entre elas para algo além do clichê da super parceria.

    A motivação para que as duas se juntem é um trabalho grande que surgiu. Há uma concordância entre ambas, sobre porque mulheres são melhores enganando do que homens, uma vez que o macho pensa sempre ser alfa, o mais inteligente do bando, os mais esperto e bem preparado sempre, então, subestima as capacidades femininas, de ardis e de desonestidade. Fato é que as duas, mesmo sendo de biótipos e físicos bem diferentes normalmente conseguem o que querem, normalmente utilizando a oferta de sexo para atingir seu alvo.

     Apesar de não reinventar a roda, o roteiro garante bons momentos no choque cultural que as duas tem. Enquanto uma é uma perfeita dama,esnobe e que pretende ser uma mentora da primeira, a outra é maloqueira, extravagante e voluntariosa, escandalosa em alguns momentos, e por mais que Josephine se considere melhor também em seduzir homens, Penny tem seus meios. Não demora até as duas começarem a competir, em uma briga infantil e que dá vazão a maneira mais divertida de inteiração que elas poderiam ter entre si.

    A aposta no humor de constrangimento é muito acertada, e essa versão apesar de não ser tão brilhante quanto os Safados, mas tem seu charme e identidade própria. No final, apesar de haver uma coalizão meio boba para um filme atual, se nota uma bela inteiração entre Hathaway e Wilson, que melhoram muito, incluindo aí a cena pós crédito, engraçadíssima.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica | Kareem: Minoria de Um

    Crítica | Kareem: Minoria de Um

    Documentário da Hbo Sports, Kareem: Minoria de Um é um filme lançado em 2015, dirigido por Aaron Cohen  que começa mostrando uma homenagem ao homem de 2,13m que fez historia dentro e fora das quadras. Acredita-se que nenhuma figura tão forte do esporte como ele era era na mesma medida tão complexa e até controversa quanto ele foi e é. Kareem Abdul-Jabbar tem  recordes de cestas, mas também uma historia diferenciada e inspiradora.

    Boa parte do estudo que é narrado pelo próprio Kareem, que tem presença e carisma. Imaginar que ele quando novo era tímido e excluído é estranho, uma vez que atualmente ele tem uma desenvoltura  monstruosa. A medida que ele foi se enxergando como negro, passou a ir ate o Harlem, mesmo que fosse longe de sua casa, para praticar basquete. As partes em que o ex-pivô fala dos primeiros campeonatos que participou (de maioria branca na época, aliás)  com 14 anos, é emocionante, pois ele percebeu tardiamente que não poderia chorar e se emocionar, pois nas competições adultas, isso era visto como fraqueza.

    Por mais que o documentário seja franco e rápido,  sua intenção é provocar reflexão sobre o tipo de pressão posta em crianças e adolescentes. Na oitava série,  ele conheceu seu idolo, Wilt Chamberlain, e aprendeu muito com ele, mesmo tendo quase a altura do jogador profissional já nessa época. É curioso como pouco ou nada se cita sobre seu nome de batismo de Kareem.

    Somente em narrações dos tempos de amador que se chama ele de Lew Alcindor – na verdade, seu nome era Ferdinand Lewis Alcindor Jr. – e todo o caminho até o Draft de 1969 incluindo seus problemas de visão são explicitados com uma certa riqueza de detalhes, ate mesmo na parceria que fez com Oscar Robertson, que já era um armador veterano quando chegou ao Millwaukee Bucks.

    Foi logo após o titulo que ele assumiu sua mudança religiosa para o islamismo, rompendo com uma tradição cristã, mudando de nome, causando um mal estar com as camadas mais conservadora dos aficionados e personalidades do esporte. Isto causou incômodo ate em sua família, mas a mudança foi politica também,  ele considerava que Alcindor era o nome de escravo dado aos seus, e Jabbar não, era uma pessoa nova, que sabia quem era.

    Kareem é um belo contador de historia, e é sentimental. Quando fala dos quatro anos em que foi treinado por Bruce Lee, onde declara que os dois eram muito próximos, semelhantes e quase almas gêmeas dada a dedicação que tinham com os esportes. E  1973, quando gravou O Jogo da Morte ele ainda jogava pelo Bucks, mas logo voltou para Los Angeles (ja havia jogado na UCLA) onde defendeu os Lakers, mas não sem receber duras criticas da imprensa e não sem enfrentar uma miríade de problemas pessoais. Incrivelmente, o documentário levanta a possibilidade, através do entrevistado Arsenio Hall, amigo do biografado  que o mundo o aceitou melhor após a participação de em Aperte os Cintos o Piloto Sumiu.

    O filme tem um formato quadrado, mas serve bem demais a quem não conhece nada sobre o ícone que Abdul-Jabbar foi, em especial as críticas que sofria por defender mal, mas o maior mérito obviamente envolve o louvor ao seu jogo, ao “gancho” que ele fazia, ao pular e se projetar 2 metros e 40 , admirado por tudo e todos, e indefensável segundo Larry Bird, seu rival de anos pelo Boston Celtics. Além disso, se dedica um tempo especial ao imparável Lakers com Magic Johnson, que tietava Kareem e outros  o ataque era bem distribuído, e por mais que os egos conflitassem , havia um espirito de parceria e cumplicidade grande ali.

    Uma coisa é indiscutível, com o tempo o jogo de Kareem se tornou mais plástico, mais bonito, ainda assim competitivo, ao ponto dele finalmente ultrapassar seu heroi Chamberlain como maior cestinha da historia. A descrição mais usada para si é de um balé. Também se destaca a decadência e retorno ao bom jogo em 1985, quando passou a se dedicar mais a defesa. Por mais que esteja longe da perfeição e soa datado mesmo sendo recente, Kareem: Minoria de Um é uma ode a um atleta que sempre foi solitário, e que entrou para a história do esporte mundial para muito alem de estatísticas e números, uma vez que ele ajudou a popularizar a NBA para outros nichos além dos que já eram fãs de basquete.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.
  • Crítica | Top Gang 2: A Missão

    Crítica | Top Gang 2: A Missão

    Hot Shot – Part Deux foi traduzido no Brasil para Top Gang 2 – A Missão, fazendo alusão ao nome do primeiro Top Gang – Ases Muito Loucos, e claro a Top Gun. Não faz muito sentido, afinal, a referencia em paródia do filme de Jim Abrahams são os filmes de ação de brucutus, em especial Rambo 2: A Missão. No entanto, toda a parte dublada da tradução brasileira é magistral, melhorando em muitas partes o roteiro de Abrahams e Pat Proft, e claro, ajudando o Topper Harley de Charlie Sheen soar ainda mais engraçado.

    O longa começa com uma ação americana, via submarino para logo depois, brincar com a imagem de Saddam Hussein, que já havia sido “bombardeado” pelo herói no primeiro filme. O ditador iraquiano é  mostrado como fã da cultura americana, um bufão, e usa biquíni e se masturba com um aspirador de sujeira. A crítica social é baixa e rasa, e não poderia ser mais engraçada dentro desse escracho, uma vez que a ideia da filmografia do cineasta é apelar para o ridículo sempre.

    Há um bocado de discussão política no filme, muito mais que no anterior, incluindo a crise de reféns, que foi mote em Braddock, Fugindo Para o Inferno e Rambo 2, corrida presidencial tendo Tomas ‘Tug’ Benson (Lloyd Bridges) que era almirante no outro filme como candidato a reeleição, e claro, uma tentativa de resgate de Topper Harley, com Sheen fazendo as vezes de Sly, incluindo aí até o mesmo mentor, com Richard Crenna fazendo Denton Walters, uma versão mais abilolada de Trautman, que reúne falas do personagem em Rambo 2 e Rambo 3, algumas literalmente iguais.

    Top Gang 2 reaproveita de certa forma o Chris de Platoon, o recruta  que Sheen fez, além de ter paralelos também com os canastrões filmes de brucutu de Chuck Norris, como Invasão USA e Braddock: O Super Comando, no entanto o melhor dos comentário é exatamente zoando esse segmento do cinema, quebrando a quarta parede fazendo referência a volúpia masculina por  se provar o mais agressivo dos machões, fazendo troça com todo o homo erotismo dos action movies populares.

    Sheen está ainda mais à vontade e mais engraçado, não se leva a sério de maneira nenhuma, principalmente quando age como predador sexual. As piadas mais lascivas fazem Debi e Loide parecer um filme sério. Os reencontros que Topper sofre e a inserção  que fazem na floresta dão chance de realizar alguns confrontos, incluindo até a participação de Martin Sheen. Apesar de aludir há um secto de filmes maior que o do primeiro capítulo, esse tem piadas um pouco menos inspiradas, mas que são compensadas pela galhofa que o elenco se mete.

    Os momentos finais envolvem Saddam  e imitações baratas, como a luta de Ben Kenobi e Vader em A Nova Esperança, as cenas de reconstrução de T-1000 em Exterminador do Futuro 2, e obviamente, a filmes de resgate dos soldados estadunidenses em antigos territórios inimigos. O filme fica hilário nos vinte minutos finais, não só na luta entre Hussein e Benson, mas principalmente na discussão sobre Bungee Jump entre Michelle (Brenda Bakke) e Hamada(Valeria Golino), eu fazem insinuações sobre lesbianismo e bissexualidade das moças, que obviamente, causam alvoroço nos machões inseguros que formam o corpo militar americano. O final de Top Gang 2 é otimista, em atenção ao visto nos filmes ditos sérios da década passada, aludindo muito bem ao gênero que o originou, sendo até inteligente levando em consideração todo o besteirol que impera em seus pouco menos de 90 minutos de exibição.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.
  • Crítica | Zumbilândia: Atire Duas Vezes

    Crítica | Zumbilândia: Atire Duas Vezes

    Dez anos atrás em 2009 estreava o surpreendente sucesso Zumbilândia, comédia rasgada e de humor negro que reciclava o exploitation recente de zumbis. O filme de Ruben Fleischer foi bem recebido e acabou ficando marcado por ter um elenco afiado e que faria muito sucesso, ao menos no caso de três de seus quatro protagonistas. Depois de uma série  que não passou de um piloto malfadado, finalmente o diretor de Venom retorna, para apresentar Zumbilândia Atire Duas Vezes, reforçando uma das regras estabelecidas por seu protagonistas, Columbus de Jesse Eisenberg.

    O quarteto está em crise. Wichita (Emma Stone) não quer desenvolver uma relação duradoura em meio a um mundo pós apocalíptico, Little Rock (Abigail Breslin) quer conhecer novas pessoas e encontrar um par e Talhahese (Woody Harrelson) tem um complexo paterno estranho em relação a LR, agindo como um pai super protetor e sufocante.

    É bem positivo que o roteiro sinalize que nem tudo está igual, ainda que as evoluções de drama dos personagens não escondam a reciclagem de conceitos. Columbus continua muito inseguro, as duas irmãs vivem fugindo e o homem de meia idade age como se estivesse sozinho, com dificuldades de socializar. Não há nada muito novo, mesmo os personagens novos são bem protocolares, exceção claro de Madison, uma bela menina vivida por Zoey Deutch que é bastante futil e burra, desafiando a ideia de que é preciso ser esperto para sobreviver.

    Há de destacar que os zumbis evoluíram, e ganharam novas classificações da parte  dos  heróis, e isso conversa diretamente com os últimos volumes da quadrilogia de George  A. Romero, em especial Dia dos Mortos e Terra dos Mortos. Há muitos momentos inspirados em matéria de “videoclipe”, como quando toca Master Of Puppets do Metallica, com cenas de violência em Slow Motion. Outros bons momentos incluem Columbus lendo as revistas de Robert Kirkman, The Walking Dead, e achando elas irreais demais. As alfinetadas em outros produtos de zumbis são bem encaixadas, assim como as brincadeiras com os doppelgangers dos personagens originais e a chacota com pacifistas e Justice Warriors.

    Em determinado ponto o longa se torna um road movie que visa a direção de uma adolescente confusa. A abordagem em cima das mudanças típicas da puberdade é apresentada de maneira bem engraçada.

    Há algumas coisas bem incomodas, como o fato das regras que Columbus estabeleceu pularem na tela de forma engraçadinha o tempo todo, fazendo lembrar os piores momentos do programa CQC, além é claro das referencias no final, com direito a Deus Ex Machina e desfecho típico de telenovela das sete, mas Zumbilândia: Atire Duas Vezes exagera o que deu certo no primeiro tomo, de maneira tão acertada que maximiza todas as boas sensações, com direito a uma cena pós crédito incrivelmente engraçada e esperada por quem curtiu o primeiro filme.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.
  • Crítica | A Luz no Fim do Mundo

    Crítica | A Luz no Fim do Mundo

    Casey Affleck é mais conhecido por seus trabalhos como ator, mas já havia dirigido curtas e um longa, o mocumentário Ainda Estou Aqui que mostrava Joaquin Phoenix em uma estranha experiência de abandono de sua carreira como ator para ser um rapper. A Luz no Fim do Mundo reúne as duas facetas de Affleck, como condutor de filmes e como astro desse que narra uma historia pós apocalíptica, onde a população feminina praticamente inexiste.

    Seu personagem tem a ingrata missão de cuidar de sua filha, Rag (Anna Priowsky), uma das poucas moças que sobreviveram a pandemia geral, fato que a torna rara e cobiçada obviamente. A relação entre pai e filha é bem carinhosa. Eles conversam muito e sempre estão dedicando carinho um ao outro, embora hajam atritos no trato entre os dois.

    As atuações do elenco são boas, e pontuam bem o inicio do filme, bastante tocante e singelo, a um significado bem legal para o nome original do longa (Light of My Life) e realmente se representa isso,  com a menina dando um bom motivo para seu pai seguir vivendo apesar das perdas que sofreu. O cuidado que ele tem para esconder a moça e para manter o cabelo baixo – menor ainda que o  seu – para não causar suspeita é só uma mostra das preocupações do sujeito.

    Casey não é tão habilidoso e experimentado como cineasta  quanto seu irmão, Ben Affleck, mas ele claramente quer falar de vários assuntos, uma vez que esse é bem diferente do longa anterior, bem como tem diferenças cabais de sua próxima produção, Far Bright Star, adaptação do livro de Robert Olmstead onde um grupo de aventureiros caça Pancho Villa.

    O filme se baseia demais nas atuações, e normalmente, quando não há muitas  discussões entre os dois principais personagens o que se assiste é um marasmo, uma calmaria entediante que prepara o espectador e os personagens para eventos que podem ser terríveis. Vale muito pela reflexão sobre o homem que tem que equilibrar seu estado emocional depressivo com os afazeres e cuidados com uma adolescente dita normal, e que é “perseguida” exatamente por essa  condição de normalidade.

    Os momentos finais causam sufoco e emoção, mas há uma mão bem pesada tanto na direção quanto no roteiro. Todo o drama pontuado pela música de Daniel Hart é esticado demais, mas seus momentos derradeiros são cortados por uma emoção bem forte, com conseqüências graves pros personagens que o público acompanhou durante as quase duas horas. Não fosse por essa questão de esticar o drama, Luz do Fim do Mundo poderia ser maior do que é, conseguindo ser mais certeiro em seu modo de registrar esse mundo diferente, violento e perseguidor aos que são diferentes.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.