Categoria: Críticas

  • Crítica | O Sexto Homem

    Crítica | O Sexto Homem

    Produção da Touchstone, a versão do estúdio  Disney que lançava filmes que não cabiam tão bem na sua divisão comum de filmes, O Sexto Homem é uma obra que usa o esporte do basquete como pano de fundo para sua historia engraçada e dramática. O inicio do filme de Randall Miller mostra James Tyler (Harold Sylvester), pai dos pequenos Kenny e Antoine assistindo um jogo mirim de basquete, onde um dos meninos tem medo de arriscar um chute embaixo do garrafão, basicamente por insegurança.

    Kenny e Antoine Tyler crescem, se tornam Marlon Wayans e Kadeem Hardison, e viram promessas de craques, que jogam juntos no Washington Huskies, já sem a companhia de seu pai, que faleceu nesse meio tempo. Os dois permanecem são bem unidos e mantém vivo o sonho de seu pai. Em um jogo decisivo da temporada universitário, Ant após enterrar uma bola, cai no chão e sofre um ataque cardíaco, falecendo e causando em Wayans uma reação emocional diferente das que normalmente o humorista faz, mostrando uma faceta mais séria e sentimental do mesmo, isso um pouco antes de Sem Sentido, filme que o marcaria basicamente como um sujeito engraçado e com capacidades de interpretação bem limitada.

    Coisas estranhas passam a acontecer, na quadra dos Huskies, bolas somem, o jogo de Kenny melhora mesmo ele estando extremamente mal e depressivo após a despedida do irmão, e então o filme mostra uma ação sobrenatural tosca e ao mesmo tempo engraçada, mesmo quando apela para o besteirol. Sem muitos motivos ou consequências graves, Ant retorna para “assombrar” seu irmão, e começa a ajudar ele, sobretudo na hora dos jogos, e o filme vira um autêntico longa dos irmãos Wayans (aliás, Shawn Wayans quase fez Antoine nesse filme), dando vazão a piadas físicas terríveis, com direito a gente voando, perucas de comentaristas se levantando sozinhas, e bloqueios e faltas cometidas pelo fantasma.

    A partir daí o filme se perde bastante, há muito espaço para piadas sobre tamanho de pênis, ou interferências do irmão no encontro do outro. O cúmulo é quando Antoine entra na bola de basquete, que ganha olhos, boca e fala. No entanto o que faz pouco ou nenhum sentido é que quando era vivo, Ant era muito mais discreto e menos imaturo do que prova ser no além vida, e aqui o roteiro de Christopher Reed e Cynthia Carle basicamente serve para Marlon agir como um perfeito imbecil, que se molha com a água de seu copo.

    Mesmo as reclamações do time, de que antes de Antoine morrer ele era individualista e egoísta não fazem muito sentido, embora ele seja claramente mais vaidoso que o caçula. Os momentos em que ele realmente parece isso, vem da infância, quando Kevin era inseguro demais para se arriscar nos chutes. O final dele é bastante piegas, a exemplo de toda a exploração temática, e há pouco de positivo neste O Sexto Homem, exceto é claro pelo início, que é mais sério, e essa mudança de gênero é esquisitíssima, não há muita lógica nisso, e foi um dos primeiros filmes besteirol envolvendo alguns dos Wayans, que piorariam muito dali para frente.

    https://www.youtube.com/watch?v=5p7Hg2nOY40

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  • Crítica | Um Cidadão Americano

    Crítica | Um Cidadão Americano

    Aitan Green é o condutor do filme israelense Um Cidadão Americano, historia que começa simples, com dois homens conversando descontraída e despreocupadamente no estacionamento de um prédio. O filme de 1992 conta a historia de dois personagens centrais, o jogador Michael, feito por Guy Garner,  que chega está em Israel há dois para treinar e jogar basquetebol, após não ter dado certo no seu país de origem, os Estados Unidos, e também o jornalista Joel, vivido por sua vez por Icho Avital.

    Michael é acompanhado de uma mulher, de vez em quando, não tem muitos laços, amizades ou qualquer outro apego. Isso se dá entre outros fatores pela carreira de andarilho do esporte que é, tendo já jogado na CBA, Argentina e Espanha. A vida de Michael é difícil, seu sonho é bem difícil de alcançar, isso o torna amargurado e grosseiro com a maioria das pessoas, inclusive com o cronista esportivo, que acaba vendo seu lado mais passivo agressivo.

    A qualidade do filme passa por seu orçamento pequeno. Visualmente o longa é pobre, as imagens são pouco nítidas, em alguns pontos parece até um filme amador dos anos setenta de tão pueril que ele é. Quase não há trilha sonora, a forma como Green dirige a maioria das cenas prima pela simplicidade, o som é estranho e parece mal dublado em mais de 70% do filme, e a história também não cativa, seus atores aparentemente são principiantes. Há muita vontade de contar uma história, mas esse está longe de ser um exemplar digno do cinema de Israel, pois nem sequer na amizade prezada de Michael e Joel há um investimento emocional básico.

    Apesar de ter apenas 98 minutos, o filme se arrasta, e há pouco momentos realmente legais, como quando Michael tenta se adequar a realidade e religião judaica. Esses momentos são engraçados, mas logo são cortados por cenas onde um carro estacionando faz som igual ao de veículos transitando em desenhos infantis. Em alguns pontos o filme parece ser trash propositalmente, dado que não parece ser sério em quase momento algum.

    Ao menos as cenas do campeonato de basquete são emocionantes, de cunho emocional elevado, feitas em ginásios tacanhos, com poucas pessoas assistindo mas com muita entrega da parte dos que estão em quadra e da torcida, que tem até uma bandinha, que toca sempre um tema quanto Michael brilha. O jogador aos poucos deixa sua frustração de lado, se envolve com novos amores e se permite jogar com mais energia e verve. Entre contusões e expectativas frustradas ele ascende na comunidade e se torna membro dos  que ali moram, e ainda que toda a carga dramática tenha dificuldades de ser desenvolvida, Cidadão Americano tem um gás final repleto de sentimentalismo, e que é cortado pela separação dos amigos, mas ainda assim, o filme carece de um formato que evoque minimamente as emoções, ou algo que o valha, e portanto, dificulta o espectador a se interessar pelo que ali acontece, o que é uma pena.

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  • Crítica | One In a Billion

    Crítica | One In a Billion

    O jogador de basquete Satnam Sing Bhamara é o foco do filme One in a Billion, filme Netflix de Roman Gackowski.  O documentário trata dele, que foi o primeiro indiano a ser escolhido para jogar na NBA, a partir do draft de 2015, pelo Dallas Mavericks, ainda sem ter estreado na liga, mesmo passado o tempo até 2019.

    Houve todo um esforço da liga para se tornar popular na Índia, elencando então Troy Justice para organizar entre o campeonato profissional e o país asiático.  Quadras foram implantadas, e campos improvisados. Foi Troy que comprou um tênis 50 para Satnam, de maneira importada, pois no país não havia – ele usava dois tênis amarrados por um sapateiro, em só um dos momentos curiosos e anedóticos.

    O filme resgata o passado do biografado, no vilarejo de Ballo Ke, um lugar isolado e cheio de fazendas, que só tem 800 habitantes. O basquete é um esporte sem tradição, há uma liga semi-amadora. Há a curiosidade de que um dos entrevistados, o dono da franquia da NBA Sacramento Kings, Vivek Ranadive também é indiano, e aparentemente ele conhece um pouco da trajetória de Satnam. Por mais que houvesse dúvida, ao realizar a viagem do jogador para os Estados Unidos, se ele teria vaga no Draft ou não, sua historia já havia ficado celebre.

    A tecla da inclusão é muito batida no documentário, já que Satnam tinha severos problemas de aprendizado, uma vez que aprendeu pouco na Índia, já que não teve a mínima educação curricular, por viver isolado. Seus primeiros anos nos Estados Unidos foram dedicados a entender o inglês, alcançando finalmente uma boa resolução, passando a falar de maneira fluente, ainda que com dificuldades e com uma grande timidez.

    O formato do filme é um bocado atrapalhado. Há um uso constante de telas pretas, em texto, fato que irrita bastante, soando como um artifício infantil para contar a historia proposta. A tentativa de emular uma narração em off também não fica boa, é estranho. Isso ajuda a tornar o documentário em um objeto que apesar de possuir uma historia profunda e cheia de reviravoltas, continua sendo medíocre, e que melhora quando explora o estilo de jogo do biografado.  O jogo de Satnam passa por uma boa visão da quadra, um arremesso de mão trocada (esquerda, já que e destro) excelente além de agilidade para sair da marcação e obediência tática.

    O final do filme é comovente, mostrando no Barclays Park sendo escolhido, para o Dallas, depois comprado pelo Texas Legends, que é a franquia deles no campeonato de verão. One n a Billion tropeça em si mesmo e peca por ser quadrado demais, mas mostra uma historia bastante bonita e inspiradora, de  um atleta que busca ser uma força popular e famosa como foi o pivô Yao Ming, na NBA, ainda que o passado e pano de fundo de ambos seja muito diferente.

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  • Crítica | Rambo: Programado Para Matar

    Crítica | Rambo: Programado Para Matar

    Se analisado de maneira séria e sóbria, o nome brasileiro para First Blood não poderia ser mais injusto. O longa, de Ted Kotcheff, usa a alcunha de seu protagonista, unido a um subtítulo que não faz jus a vida que o veterano de guerra tenta levar, pois Rambo: Programado Para Matar é na verdade um clássico anti guerra, que reflete sobre o modo irresponsável e inconsequente que os Estados Unidos tratava os que lutavam seus conflitos. Essa é a ideia por trás também do livro de David Morell, que via seu personagem se afastar cada vez mais do seu cerne com o passar das continuações.

    John Rambo visita uma cidade interiorana, com um sorriso no rosto, a espera de encontrar um velho amigo. O tal companheiro havia lutado com ele, no Vietnã, e ao se aproximar de lá, descobre que o mesmo pereceu, vítima de  câncer, em mais um eco da batalha na Ásia, já  foi o gás laranja que o adoeceu. Sem rumo, ele passa perto de Gateway, um vilarejo provinciano, onde ele encontra Will Teasle (Brian Dennehy), um xerife que aparentemente é simpático e inofensivo, mas que o trata mal gratuitamente e obriga a sair do lugar.

    É curioso como os elementos técnicos fortificam a ideia de não pertencimento e inadequação pelo qual passa John. A musica de Jerry Goldsmith manipula um pouco, mas dá bem o tom de melancolia que o ex-soldado tem, ao perceber que mesmo tendo arriscado sua vida, mesmo sofrendo e perdendo companheiros, ainda é mal visto e mal recebido pela nação que jurou proteger. A fotografia que Andrew Laszlo apresenta também fortifica o aspecto depressivo da fita, seu registro harmoniza bem os trajes em cores não vivas de Rambo, além de encaixar bem o cenário bucólico de cidade pequena e conservadora.

    A vitima do filme certamente é o personagem título, não só pelos motivos óbvios da ingratidão dos cidadãos que não sabem lidar com quem só obedecia ordens em uma guerra tão suja quanto foi o Vietnã. Todo o processo de aprisionamento do homem, que deveria ser simples, serve de gatilhos para seus traumas, para lembrar dos momentos de tortura e de privações no Vietnã, assim também faz ele retirar da jaula o animal acuado que esteve adormecido até então.

    Por mais que seja conhecido como um herói de ação, o Rambo de Sylvester Stallone e Kotcheff é um personagem trágico, que não quer guerra, que odeia a violência, mas que responde a agressividade com um instinto de sobrevivência atroz. No desespero, John rouba, utiliza uma moto como meio de transporte de fuga, e para despistar seus algozes, vai para a lama, em uma metáfora representativa e bem óbvia da onde ele se sente seguro, no meio da lama, nos lugares mais baixos e no habitat de animais e não de humanos. A selvageria combina mais com seu estado de espírito atual, e lhe serve bem mais que a suposta civilização de Gateway e dos seus cidadãos.

    Quando os policiais descem ao seu “nível”, se instala um inferno. Eles que se achavam os maiores predadores possíveis, e invencíveis, se deparam com um homem sem qualquer escrúpulo, violento e disposto a matar para retribuir a violência que sofreu.  Sua programação não é assassina e sim de sobrevivência, tanto que a fatalidade única e comprovada que ocorre na floresta – há um sujeito que cai de uma janela no começo do filme ainda na cidade, mas não se garante que o mesmo morreu – acontece por erro do policial, que aliás, é o mais canalha e abusador dentre as autoridades policiais locais.

    Com quase uma hora de filme, há o advento de um personagem do passado de John. Vem a ser o Coronel Trautman, personagem do veterano Richard Crenna, de filmes como Montanhas Ardentes e Perigo no Espaço (ou Fogo no Céu). Ele intervém após ver a repercussão na televisão dos atos de seu pupilo, e percebe, mesmo sem conhecer os locais, que se ele nada fizer, certamente seu subordinado matará a todos. Mesmo sendo um personagem canastrão e bidimensional, se nota uma certa complexidade no que ele fala, e uma real preocupação com o soldado, tanto que ele ao chamar seu aluno, faz questão de relembrar todos os nomes do seu esquadrão.

    É claro que o que fica marcado são as frases de efeito de Trautman, como quando seu conselho é de que comprem muitos caixões e sacos de corpos, mas a real relação entre os dois é a de um pai que quer o melhor para o seu filho, e esses são de uma guerra perdida, que não terminou para muitos, para Rambo obviamente, mas também para o coronel, que vai até o “filho adotivo” suprir sua carência parental e cumprir sua responsabilidade moral de educar seus soldados.

    Os atos finais do exercito de um homem só envolvem a cidade, que foi evacuada, e se tornou o lugar onde Rambo e Teasle. A incompreensão pelo qual ele passa finalmente o atinge emocionalmente, claro, isso só é devidamente desenvolvido após o encontro pessoal entre ele e seu mentor. As emoções reprimidas finalmente vem à tona, e ele se desequilibra, chora e desespera, em uma cena que só não é mais forte pela falta de talento dramático de Sly. Não fosse por esse momento, sua atuação sairia impecável, mas claramente não há como culpá-lo por isso, pois apesar de ser produtor desta obra, e apesar de ter mexido em seu roteiro, todo o restante do filme é complexo, violento, visceral e triste, dado que ele não tem qualquer otimismo em seu desfecho.

    Há um final alternativo (até bem fácil de encontrar pela internet, dado que foi até gravado e finalizado) onde Rambo se suicida na frente de Trautman, utilizando a arma de seu amigo. Esse desfecho obviamente faria mais sentido, mas deixar John Rambo vivo é uma atitude que faz repensar muito mais, no intuito de tentar entender como conviver com os que cometeram assassinatos em nome de uma nação pretensamente soberana, e como reinserir eles de volta  ao quadro social comum. O homem perturbado morrendo seria uma solução muito fácil, e definitivamente o roteiro de Rambo: Programado Para Matar não é simplista, apesar de exalar simplicidade, contendo complexidade e bastante crítica ao modo de viver do estadunidense.

    https://www.youtube.com/watch?v=p0c9G8WfaTk

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  • Crítica | This Magic Moment

    Crítica | This Magic Moment

    Parte da iniciativa da ESPN em documentário 30 for 30, This Magic Moment é um documentário que relembra quatro temporadas dos anos 90 do time do Orlando Magics. O longa de 101 minutos dirigido por Gentry Kirby e Erin Leyden começa engraçado, com uma conversa entre os ex-astros do time, Shaquille O’Neal e Anfenee ‘Penny’ Hardaway, numa casa luxuosa, com piscina, onde o segundo arrisca uma bola dentro da piscina, em uma bóia com uma cesta. O objetivo do filme é um só, contar sua historia de modo engraçado, e na maioria dos momentos, consegue.

    Não demora e o documentário começa a explicar como a NBA chegou a Orlando, citando Pat Williams, que havia trabalhado no Philadelphia 76yers, e que desejava tornar Orlando um pólo de outro esporte que não o golfe. Seus esforços foram recompensados, e o lugar passou aos poucos a  ser encarado como pólo não só turístico, mas também de esportes, utilizando claro o segundo nome Magic em homenagem ao Magic Kingdon, um dos parques da Disney.

    Para quem não conhece o basquete competitivo nos Estados Unidos, o Magics é um time novo, foi fundado em 1989 e jamais foi campeão, embora seja um time de chegado, tendo 6 titulos de divisão e 2 de conferência. Tem um bom aproveitamento de chegadas aos playoffs, mas obviamente em suas primeiras temporadas era encarado como azarão.

    Houve um grande problema para quem fosse tentar Shaq, e quando o Orlando ficou com a primeira escolha do Draft em 1992, não houve garantias de que ele iria para a franquia. Armato fazia jogo duro, e rolava um boato de que ele iria para os Lakers, de Los Angeles, e isso de fato aconteceu alguns anos depois (O’Neal onde seria muito vitorioso, sendo tricampeão da NBA), mas o gigante de 2,16m jogou com a 32 do time praiano. Em determinado ponto o filme vira uma cine biografia de Shaq de certa forma, e nessa época ele era muito competitivo, voltava para a defesa, era especialista em tocos e rebotes ofensivos e defensivos, além obviamente de ser um mestre embaixo do garrafão. Para muitos, ele ofuscou até a figura de Michael Jordan como ídolo nacional, ao menos nos primeiros momentos, e aindatinha carisma, com uma jinga semelhantes a de Charles Barkley e enterradas que destruíram algumas tabelas.

    O Draft de 93 também caiu como a primeira para o Orlando Chris Webber, Shawn Bradley e Hardaway, eram as possíveis primeiras  escolhas, com o ultimo  fazendo muito sucesso em Memphis. Somente após a produção de Blue Chips, filme de William Friedkin, que Shaq observou de perto seu futuro amigo, e decidiria interceder a favor dele, pedindo ao dirigente John Gabriel, para contratar o sujeito. Toda a negociação e o suspense durante a escolha dos novatos, a expectativa da torcida para ter Webber, tudo é muito bem detalhado (o Magics escolheu Webber primeiro, o Golden State Warrios pegou Hardaway e trocaram, com direito a três primeiras escolhas em futuros drafts), e a partir dali começou uma bela parceria, que teria a expectativa aumentada por não ter Webber e por Michael Jordan anunciar que iria jogar baseball. Ali era dito que mesmo com as vaias a Hardaway, ele seria ovacionado no futuro, e de fato foi, ele ganhou um boneco anos depois, Lil’ Penny, que durante um tempo foi mais famoso até que ele. Com o tempo eles se tornaram astros, com a carreira de rapper de Shaq, e comerciais graúdos com os jogadores, como símbolos dos Magics.

    Os resultados melhoraram, em 1994 o time entrou para a primeira vez nos playoffs. Se nota uma alegria genuína nas entrevistadas documentadas, todos parecem muito expontaneas, e isso pesa demais a favor dos diretores Kirby e Leyden, que fazem, no entanto, para o time ser encarado como grande, comprando Horace Grant, trazendo Brian Shaw da Free Agency, e o esquadrão ganhava forma.

    O filme mesmo não sendo audacioso consegue produzir um bom retrato do que foi aquele time, um evento lendário, que conseguiu causar em todos a sensação de que algo inédito vinha, além disso, ele detalha bem as rivalidades que surgiram contra o Orlando, em especial o Indiana Pacers, que protagonizou disputas épicas pelos títulos de conferência e na temporada regular, mas é na final de 1995, entre Houston Rockets o time que o documentário defende que mora a maior emoção, incluindo aí a “malhação  de Judas” que ocorreu com Nick Andersen, por ter errado quatro lances livres no final do Jogo Um. Aquela vitoria que escapou jamais foi bem digerida, e mesmo para o hoje ex-atleta, ficou a sensação de que foi ali que o campeonato foi perdido.

     A carga de humor se fortifica próximo do final, ao mostrar o quão bizarra foi a transferência de Shaq para LA – inclusive satirizando sua transformação em ator, nos péssimo Kazaam e Steel, antes mesmo do advento de Space Jam, onde Michael Jordan apareceria. O gigante, já aposentado, fala que não queria ter que sair de Orlando, mas que precisava disto, precisava alçar novos ares. A vida após a saída do principal jogador – e até hoje, maior ídolo da franquia – jamais foi bem digerida, e demorou até ele ter relações amistosas com a franquia de novo.

    A ressaca fez Penny jogar como dono do time, e sobrou para treinador, Bryan Hill, e é uma pena como o legado deixou de existir. É engraçado como This Magic Moment equilibra bem a comedia, o ocaso dos sorteios das bolinhas que praticamente formaram o time nos drafts e o cunho emocional, de Shaq e Penny principalmente, onde ambos assumem que aqueles foram os melhores momentos de suas vidas, mesmo com o período mais vitorioso de Shaq sendo em Los Angeles. A forma como a comunidade abraçou o time foi diferente, e isso não é nada desprezível, ao contrario, e o mérito em traduzir isso para o espectador é todo de Kirby e Leyden, que tocam na alma dos entrevistados.

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  • Crítica | Bo, Barkley and the Big Hurt

    Crítica | Bo, Barkley and the Big Hurt

    De Harry Weitzman, Bo, Barkley and the Big Hurt é um episódio da série documental Sec Storied que conta a historia de três grandes atletas, que vem a ser Bo Jackson, Charles Barkley e Frank Thomas, que vieram a se tornar lendas em seus esportes, Futebol Americano, Basquete e Baseball, respectivamente, e que tem em comum a origem na Universidade de Auburn.

    O filme é narrado por Sal Masekela, e já começa com um discurso inflamado de Charles, para os jogadores de futebol que estão prestes a entrar em campo na final do campeonato universitário. O primeiro objeto de analise (e possivelmente, o mais interessante) é exatamente Barkley, que sempre foi visto como um jogador promissor de basquete, mas com físico de um jogador de futebol. Ele é uma figura simpática, e carismática, e não tem vaidade excessiva para não falar sobre sua condição menos atlética em comparação com os colegas e com os futuros adversários.

    Ele foi aluno entre 1981 e 84, e já no começo era rápido demais, arrancava em quadra como um cervo, segundo um de seus treinadores da época. Por ser acima do peso, muitos adversários o subestimavam, e ele realmente não parecia ter 136kg, pois se movimentava muito bem. A Camisa 34 sempre era vestida e empunhada como se fosse a malha de um gladiador, e essa sensação que ele passava contagiava colegas de time, comissão técnica, os demais estudantes e claro,os torcedores de Auburn, influindo até em Bo, que era um atleta bem diferente, que demorou a escolher o futebol, pois também era bom em Baseball.

    É uma pena que se aborde pouco da historia de Thomas, que é o menos conhecido do trio, mas o intuito do filme é louvar o grande trio e a proximidade que eles tem de suas origens, e a relação bem estreita que eles tem agora com a universidade, já que não tem mais uma carreira de atleta profissional tão intensa e que ocupe tanto seu tempo. No caso de Barkley, ainda há o agravo positivo dele atualmente trabalhar na imprensa esportiva, onde vez por outra, ele traz as notícias da universidade ao mainstream, para um público bem mais amplo.

    Dos capítulos de Sec Storied, Bo, Barkley and the Big Hurt certamente está entre os mais emocionais, mostrando os antigos atletas lidando com os novos talentos, servindo como exemplo para os estudantes não só seguirem carreira como atletas, mas também para concluírem etapas da carreira acadêmica, tendo portanto um papel social de importância maior do que o correspondente de adrenalina esportiva para serem alvo de admiração dos jovens.

    https://www.youtube.com/watch?v=4NdvSEHPjT4

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  • Crítica | Erased Boy: Uma Verdade Anulada

    Crítica | Erased Boy: Uma Verdade Anulada

    Boy Erased: Verdade Anulada é o novo filme de Joel Edgerton, e já causou alguma polêmica no Brasil por ter sua estreia em cinema cancelada perto da data limite. Muito se falou em censura, por ter uma temática LGBT, mas nada se comprovou, e o que se vê já no começo é uma historia emocional, de cunho intimista, que mostra Jared Eamons, em gravações de sua infância, partindo logo para sua fase adolescente, onde é interpretado por Lucas Edges. Seu comportamento aparentemente não é incomum, mas ele guarda um segredo que para os seus, é vergonhoso.

    O personagem mora em uma cidade pequena do Arkansas, e tem de lidar com a família e amigos conservadores – seu pai é pastor batista – e ele é levado por sua mãe, Nancy (Nicole Kidman) há uma clínica hospitalar, que logo se mostra um lugar estranho, um internato onde  os pacientes ficam presos, tem tudo fiscalizado, tem proibições de diários e tem sua privacidade invadida e retirada. Incrivelmente, se fala muito sutilmente sobre qual é a função daquela clínica, as pregações religiosas apelam para falas genéricas que desconstroem a ideia de que ali se persegue um nicho da população e um comportamento sexual.

    O roteiro brinca com sua linha do tempo. Jared é mostrado conversando com seu pai Marshall (Russel Crowe), que aliás, está muito bem), em alguns pontos jogando basquete no colegial, pelo time do Rebels, e até passando por rituais típicos de jovens que estão prestes a ir para a universidade, começando a namorar meninas e até recebendo um carro de seu pai. Entre esses momentos, também são mostrados os internos, como Jon (Xavier Dolan), um jovem que chega sempre atrasado e que tem um comportamento um tanto rebelde, e o palestrante da clínica Victor Skyes, feito pelo próprio diretor do filme, sujeito esse aparentemente mais paciente e compreensivo com os jovens.

    O protagonista é sensível, gosta e artes, de desenhar, tem hobbys comuns como jogar vídeo game, e acaba se envolvendo emocionalmente com outros alunos do tal instituto. Ainda assim, ele frequenta a sua igreja e a de outros, se permitindo assim ouvir a palavra do Divino. Por mais que ele tente mudar seus pensamentos e seus impulsos, ele não consegue, e o filme representa isso muito bem, entre tentativas mais assertivas e outras mais ligadas ao lugar comum, mas o que se percebe é incomodo.

    O fato de não se encaixar nas expectativas de seus pais faz o drama de Jared ser mais universal até do que a fala direta para o nicho de pessoas que tem dificuldade em aceitar sua orientação sexual ou serem aceitas. Isso pode não parecer algo importante, mas é, pois é fácil digerir até para quem tem um preconceito “brando” com pessoas de não hetero-normativas, mostrando a elas o sofrimento que alguém comum tem e como é pesado ter que lidar com o preconceito de terceiros, dos próximos e até o preconceito interno que, apesar de não ser algo natural e originário (em termos freudianos), é adquirido há tanto tempo que parece ser assim, parece ter nascido com cada pessoa.

    Embora em alguns pontos se apele um pouco na carga dramática, o filme é sóbrio, não é afetado, ou demasiadamente panfletário, mesmo que o tema de “cura  gay” pedisse isso. A maior parte do cunho emotivo provém das interpretações, Crowe, Kidman, Edgerton e os atores mais jovens estão muito afiados, e a entrega de Hedges é enorme também. Se percebe o quão aflito e desesperado é o seu Jared, e não é difícil se afeiçoar ou por qualquer um dos que são tratados, e qualquer clichê ou fala de ordem como “não há cura para o que não é doença” não é tão forte quanto a expressão de medo e receio que ele tem ao ver o tratamento de um dos internados que se deixou falhar na repressão sexual, ou nas reprimendas que faz a si por ainda ter sentimentos e pulsões por outros homens.

    Se falta poesia no filme, sobra condenação aos que tentam impor suas verdades, embora o dedo acusatório não seja obvio. O roteiro de Edgerton é delicado até nisso, permitindo que as partes mais comoventes sejam ternas e sem falas, ensurdecendo publico e personagens durante as sessões de tortura, para aplacar a dor e a miséria dos que são julgados e consertados. É um filme forte, com um caráter educativo inclusive para plateias mais novas, como uma versão moderna e mais econômica melodramaticamente falando de Diário de Um Adolescente.

    O filme no final mostra os homens reais que inspiraram os personagens, e é um dos poucos momentos em que ele se permite ser otimista, já que boa parte deles está bem, aceitos por suas famílias, constituindo suas próprias. O final de Erased Boy não é tão sutil e econômico quanto o restante do filme, mas não há nada nele que denigra todo o resto, ou diminua sua força de denúncia, esse funciona perfeitamente como o antônimo de Eu Sou Michael, filme que fala sobre um tema parecido cuja abordagem é estranha e até homofóbica, mas seu mérito maior certamente é o fato dele ser palatável e de fácil compreensão mesmo para a parcela do público mais conservadora, ao menos a que é aberta ao diálogo civilizado.

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  • Crítica | It – Capítulo Dois

    Crítica | It – Capítulo Dois

    Depois de muita expectativa, e de uma primeira  parte que fez um sucesso considerável, It – Capítulo 2 estreou com uma grande responsabilidade, de atender a expectativa não só de It-A Coisa, mas também da conta de adaptar um dos clássico literários de Stephen King, e Andy Muschietti retorna a direção para mostrar o elenco antes infantil lidando com seus medos, anseios, traumas e com memórias reprimidas, retornando a Derry, depois de magicamente terem perdido as lembranças sobre o combate a Pennywise.

    O começo do filme mostra o grupo dos Perdedores/Fracassados fazendo uma promessa, de que retornariam a cidade do Maine independente de como estariam suas vidas no momento que percebessem, para logo depois, pular para 27 anos depois, com os meninos já adultos, e vividos por atores famosos. Os momentos iniciais mostram um crime de homofobia, situando o espectador dos  horrores terríveis comuns, e mesmo com um mal ancestral e de origem desconhecida, ainda há muito de maléfico no comportamento popular do homem. Pennywise se alimenta da violência, e tem uma ligação forte com o crime de preconceito, e isso é uma ideia boa do roteiro de Gary Dauberman, um dos poucos acertos aliás.

    A partir do momento que se mostram os destinos dos personagens, a qualidade varia muito. Claro, os rumos não são tão mal pensados quanto os mostrados em It- Uma Obra Prima do Medo dos anos 1990, mas ainda assim há alguns momentos bem constrangedores. De positivo, há a apresentação de Bill Denbrough (James McAvoy), como autor de livros famosos, que tem seus textos adaptados por gente grande – há participação de Peter Bogdanovich até – alem de ter um comentário engraçadinho sobre seus finais não serem bons, em um comentário que faz paralelo com o de Stephen King e a opinião geral sobre suas primeiras obras. Outros momentos legais incluem a introdução de Richie (Bill Hader), em um ângulo estranhíssimo exibindo seu vômito antes de um show de comédia, e também do inseguro e alérgico Eddie (James Ransone), que claramente repete ciclos, e se casa com uma mulher idêntica a sua mãe, que alias, o roteiro faz questão de mostrar que isso não é à toa, soando nada sutil desta forma.

    Os problemas do filme começam exatamente no nome mais famoso de seu elenco, que vem a ser Jessica Chastain, a interprete mais velha de Beverly. Seu drama é o mais delicado e o que mais envolve clichês e artificialidades. O relacionamento abusivo e violento é muito mal traduzido, mostrado de forma sensacionalista,quase tão irritante quando os jumpscares baratos que lotam o filme.

    Outro evento péssimo é a gagueira forçada de Billy, que não soa em nada natural. A ideia de resgatar a mentalidade infantil e o trauma é boa, mas exala estranheza. A mistura dos elementos místicos, como as premonições de Bev, as descobertas meio loucas de Mike (Isaiah Mustafa) não funcionam bem, são mal ambientadas e mal explicadas, ficam jogadas no meio do filme. Toda a boa construção de naturalidade do primeiro filme vai se esvaindo aos poucos, e pioram demais com o uso excessivo de CGI, péssimo por sinal, com bonecos bem mal feitos e com textura terrível.

    O conceito de que destino e tragédia tem ambos um caráter inexorável é muito boa, mas se perde demais na quantidade absurda de flashbacks. O filme parece inchado e Muschitetti perde mão até com as poucos cenas que eram boas na adaptação antiga de Tommy Lee Wallace. Bill Hader é o responsável pelos poucos pontos realmente bons principalmente quando seu personagem lida com o de Ranson, exibindo um bromance com elementos até de homo afetividade. Mesmo Bill Skarsgård perde força, pois quando aparece, é assustador e quase tão carismático quanto Tim Curry, mas tem pouco tempo de tela, em detrimento das péssimas aparições digitais de sua forma e de outros monstros.

    Se fossem encurtadas as aparições espirituais e ilusões, o longa provavelmente teria um ritmo melhor , seria mais palatável e menos enfadonho, além do que toda a parte do núcleo de Henry Bowers (Teach Grant), tanto no hospício quanto em seu retorno a casa beira o risível. O desenvolvimento de It – Capítulo Dois é como um pesadelo dos mais extensos, uma tortura para personagens e para quem acompanha esse drama. O roteiro de Dauberman é excessivo em dar as vitimas uma chance de se redimir, além do que o gore é moderado demais para o que se esperava, além de soar artificial em cada uma de suas manifestações.

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  • Crítica | Once Brothers

    Crítica | Once Brothers

    De Michael Tolajian, Once Brothers é mais um documentário 30 for 30 da ESPN focado em basquete, mas não focado necessariamente na NBA, e sim na inteiração entre dois ex-companheiros de seleção, Vlade Divac e Drazen Petrovic, de nacionalidade Sérvia e Croácia respectivamente, mas que antes, eram da mesma geração vitoriosa da Iugoslávia no Basquete.

    A narrativa começa a partir da fala de Petrovic, a uma repórter americana, com a Estátua da Liberdade ao fundo, onde ele discorre sobre a preocupação que tem com seus conterrâneos e a guerra que acontece no solo de sua nação, conflito ideológico pesado, e que para ser entendido precisa de muito contexto e estudo, pois a situação da Iugoslávia é complicada, e tem nessa geração de basquete um capítulo diferente, de uma união pessoal e competitiva bem diferenciada e longeva em comparação com a unidade do país.

    Não demora a entrar uma entrevista bem pessoal de Divac, que está almoçando com sua família, nos Estados Unidos, onde lembra do time multi vencedor, o mesmo que com ele, Petrovic e Toni Kucok, foi campeão europeu e até mundial, com ótimos resultados em olimpíadas. Obviamente há um resgate das raízes do mesmo, uma visita a família, e a sua terra, Prijepolje, chegando até a primeira quadra onde ele jogou, a essa altura, coberta de neve por ser uma daquelas a céu aberto. A Iugoslávia ou qualquer uma das nações balcânicas que formaram esse conglomerado dificilmente seriam uma potência no basquetebol caso não houvesse insistência por parte das autoridades.

    Repúblicas de mentalidade socialista tendiam a investir em esportes. A URSS foi um fenômeno, Cuba também tem um bom desempenho até hoje em Pan-Americanos e Olimpíadas, bem como a China. Por ter uma população menor, a Iugoslávia não tinha como ser uma grande potência em tudo, e a geração de Petrovic e Divac o foi no basquete, em uma população que não tem tanta gente alta, e que tem de dividir os potenciais atletas com outros esportes, como futebol, tanto que boa parte dos meninos e meninas disputavam mais de uma modalidade por vez no período da puberdade.

    A evolução do basquete, a variação tática e de posição, que fazia com que a maioria dos jogadores não se prendesse necessariamente a mesma posição – em uma variação em quinteto do carrossel holandês do futebol de 78 com Johan Cruijff e Cia – seria coroado não só com títulos, mas também com um encontro casual, mas que se tornou histórico, com a visita do Boston Celtics tricampeão da NBA ao país europeu, e o encontro entre Larry Bird, um símbolo do basquete vitorioso norte-americano, com aquela geração de jogadores europeus, que viriam para a NBA no final dos anos 80, mesmo que ainda houvesse uma grande desconfiança.

    Eles passariam por muitos percalços até começarem a jogar pelo Los Angeles Lakers (Divac) e Portland Trail Blazzers (Petrovic). Vlade ainda tinha o agravante de ter uma aparência desleixada, sempre aparecia descabelado, mal sabia falar inglês, mas ele estabeleceu uma boa amizade com Magic Johnson, e logo após a aposentadoria de Kareem Abdul-Jabbar, ou seja, ele viria para ocupar a vaga de um dos líderes técnicos do time.

    O filme tem uma abordagem um bocado maniqueísta, e associa de certa forma o drama de Petrovic não se enturmar em Portland, com o episódio durante um dos títulos iugoslavos onde  uma bandeira da Croácia foi lançada na direção de Vlade, que prontamente a recusou, mas o roteiro é honesto o suficiente para afirmar que aquilo foi um erro de interpretação, pois o jogador não desprezava a bandeira ou a causa croata, só achava que aquele não era o momento para explorar isso, mas evidentemente que houve mais foco midiático na pseudo rejeição dele, e no sentimento que Petrovic teve, que gerou inclusive uma cisão entre os antigos amigos.

    Junto com a guerra, com as terríveis perdas de cidadãos comuns, também se foi a amizade entre Vlade e Drazen, e esse é o maior foco dramático do especial, que busca entender como o afastamento dos dois ocorreu, além de discorrer também sobre o agravamento de relação entre eles e Divac, que passou a ser mal encarado por quase todos os croatas, e os poucos que ainda eram simpáticos a ele, tinham que manter distância.

    O fato do documentário ser narrado por Divac enriquece demais a experiência, pois torna o estudo em algo pessoal e emotivo. Mesmo seus maniqueísmos são driblados por um ponto de vista que certamente só poderia ser dado por quem participou disso, ainda que não haja tanta justiça para Vlade diante de seu país de origem.

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  • Crítica | Os Carrascos Também Morrem

    Crítica | Os Carrascos Também Morrem

    Os Carrascos Também Morrem é um longa-metragem do lendário diretor  austro-húngaro Fritz Lang, famoso por conduzir Dr Mabuse, Metropolis e M, Vampiro de Dusseldorf,. Lançado em 1943, a obra fez parte do esforço hollywoodiano anti guerra, ocorrido com o conflito ainda sem resolução. A historia se passa em Praga, atual território tcheco e que na época era da Tchecoslováquia, e seu ponto de partida é a morte de um famoso torturador, Reinhard Heydrich, que era bastante temido pela sociedade, mesmo para os locais tomados pelo exercito nazista, e claro, odiado pela maioria, em um comentário bem pontual e inteligente do roteiro sobre os parâmetro de Maquiavel no livro O Príncipe.

    Há dois fatores dignos de nota e que chamam a atenção do espectador. O primeiro, é que após o letreiro que explica toda a situação social e política daquela época, onde se registra claramente o incômodo que são os soviéticos para o exercito de Hitler e seu avanço no combate ao fascismo, e o segundo é a comoção da população com a morte de Heydrich, onde há comemorações bem efusivas, claro, longe dos olhos da autoridades e da Gestapo. É incrível como mesmo não aparecendo em uma cena sequer, se sente a presença do personagem.

    Ainda no início da historia se percebe um uso de trilha sonora bem sensacionalista, às vezes até intrusiva, fator que faz manipular um bocado as emoções, o que é natural, dado que é um filme de estética e narrativa de uma Hollywood ainda embrionária, ainda sem o conceito de filmes tão populares quanto os blockbuster e que lançava mão demais de personagens estereotipados e de arquetipos, o que (novamente) não é um problema, pois o caráter do filme é tornar universal e comum a jornada de paranoia do filme. Personagens do triangulo amoroso entre Doutor Franticek Svoboda (Brian Donlevy), Masha Novotny (Anna Lee) e Jan Horak (Dennis O’Keefe) servem para humanizar o povo, em especial os que formam a resistência aos nazistas, bem como o pai de Masha, Professor Stephan Novotny (Walter Brennan) que é um homem da educação e que não à toa, é culpado por um crime conspiratório que não tem absolutamente culpa nenhuma.

    A história que Bertold Brecht e Lang escreveram – cuja adaptação para roteiro foi de John Wexley – mostra uma família em frangalhos, graças a mentalidade punidora e castradora da policia nazista. Homens uniformizados, que cumprem ordens e parecem só ter o mal como norte de comportamento impingem ao povo uma sensação de prisão em sua própria pátria. A ocupação, autoritária e ideológica  causava temor, mas não matava a vontade de libertação dos residentes do país.

    A falta de tridimensionalidade do povo pode ser facilmente explicada pela pressão autoritária dos invasores alemães. Os membros das oligarquias vivem em suspenso, em uma realidade quase alternativa, onde eles estão anestesiados, onde não há direito a ideologia ou a qualquer modo de pensar minimamente diferente da ideia estatal do que é certo, correto ou ordeiro, e isso é muito bem construído tanto nos diálogos e interações dos que investigam o assassinato do início do filme quanto os que querem fugir das acusações, além é claro de aludir a paralelos mais atuais, e bastante incômodos, fazendo obviamente temer pelo pior, em especial no espectador mais progressista, que teme que o levante reacionário hiper autoritário que tomou o mundo na última década faça repetir os momentos de intolerância dos anos quarenta do século XXI.

    Há uma única exceção ao engessamento do comportamento humano e a lógica de modo de viver artificial, o astuto e carismático Inspetor Alouis Gruber  , de Alexander Granach, um homem que mesmo diante do autoritarismo seus e dos colegas, segue como o mais humano,  errático e bon vivant dos personagens, desafiando a lógica que muitos opositores ao Eixo tinham de que os nazistas eram monstros desumanos. É importante demarcar isso, até para que as gerações que não viveram esses dias sangrentos tenham noção de que  foram pessoas de verdade que aderiram ao pensamento e comportamento nazista, assim como os apoiadores indiretos da causa, como a pequena burguesia, simbolizada pelo granfino Emil Czaka, executado por sua vez por um Gene Lockhart quase tão inspirado quanto Granach.

    Durante as mais de duas horas de filme, há a repetição de um anúncio escrito propagandista curioso, Se serve a Hitler, serve a Alemanha,  se serve a Alemanha, serve a Deus, e esse slogan denuncia o aspecto religioso que boa parte dos revisionistas – os mesmos que visam a desinformação do povo através de inverdades de cunho absurdo – acusam a Alemanha hitlerista tinha, e Fritz Lang, como bom “filho de sua pátria” (o cineasta viveu a maior parte da sua vida na Alemanha) torna explicito o quão perigoso pode ser o apelo ao discurso religioso e lugar comum, reafirmando que quando essa fala é dita, na maioria das vezes, se esconde uma armadilha ideológica excludente e que contradiz inclusive esses preceitos religiosos, que a priori, pregam tolerância e amor ao próprio, e não a perseguição a quem discorda da suposta maioria.

    Os Carrascos Também Morrem é irônico, lento e muito tenso. A música cantarolada pela resistência,  de refrão  No Surrender é arrepiante em cada uma de suas performances, mesmo quando tem um cunho didático e teatral, e a abordagem que Lang emprega beira o poético,  em especial no final, quando mostra os momentos derradeiros de doutor Novotny. O destino de Szacka também é exemplar, e mesmo em segundo plano, tem um papel fundamental de escrutinar como o apoio burguês/ liberal a regimes fascistas funcionam,  dando um ponto final justificado, que incorre claro em um moralismo, mas que funciona narrativamente, tão bem calculado matematicamente dentro do drama, que faz lembrar a mentalidade teatral de William Shakespeare. Há muita coragem no esforço de Lang em realizar um filme como esse nessa época,  mas não é surpresa dados os filmes que ele fez dos anos 30 até 43, principalmente por explicitar o fracasso nazista e o assumir das autoridades nesse sentido, claro, acompanhado de No Surrender, nos créditos finais, que demarcam bem a principal das mensagens do filme.

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  • Crítica | Casal Improvável

    Crítica | Casal Improvável

    A comedia de Jonathan Levine começa subvertendo expectativas, em uma reunião de supremacistas brancos, onde Fred Flarsky (Seth Rogen) é apresentado como novato do grupo, ainda que isso soe estranho, pois o seu interprete tem origem judaica e ele próprio também é. Fred é na verdade um jornalista,que se infiltra para conseguir uma matéria, que poderia lhe render uma boa repercussão. Ele é idealista e pede demissão ao perceber que seu novo empregador é um sujeito sujo, ao menos, ao seu ver.

    A outra face de Casal Improvável é Charlotte Field, a mais nova secretária de Estado da historia, que é conhecida por ser tão bonita e competente, que as pessoas a chamam de gostosa sem cerimônia e sem ter receio em soar sexistas. A personagem de Charlize Theron busca apoio do Presidente Chambers (Bob Odenkirk) para uma possível candidatura a presidência. O que não se sabe, é que ambos já se conhecem, desde a infância, e inesperadamente se reencontram, em uma festa, e ela  o chama para trabalhar na área de comunicação.

    Os acontecimentos posteriores a contratação de Fred são hilários. O homem é contratado por ser engraçado, por ter um senso de justiça grande e coragem para falar o que pensa custe o que custar, mas também não sabe se vestir ou se portar em eventos profissionais e formais, e é obvio que isso causa rebuliços. A maneira como a comédia romântica lida com as diferenças entre os dois personagens principais é bem graciosa, assim como o choque de realidades pelos quais eles passam, e por mais que pareça  improvável, eles tem química juntos, mesmo sendo pessoas distintas e bem diferentes.

    Não há muita ambição no filme, o sub-texto é bem óbvio, lamenta o quanto a política dos Estados Unidos é movida por hipocrisia e por grandes conglomerados, mostra críticas ao modo como os poderosos movem as cartas marcadas e como as autoridades são alienadas e não se importam com os desejos e anseios do povo, ao mesmo tempo que mostra os protagonistas como pessoas bem humanizadas, que utilizam drogas, que vivem suas vidas com ambições pequenas como poder se divertir ou dar vazão a um amor novo. Não há nada muito grandioso, ou que fuja do trivial, por mais que o pano de fundo seja uma possível disputa presidencial, e envolva incidentes internacionais.

    Toda a discussão sobre maturidade, sucesso, fracasso e sobre ceder é bem fraca, rasa e maniqueísta, e é uma pena que Casal Improvável termine tão convencional, com um discurso conveniente e bem fácil, mas que não consegue tornar o humor escrachado do começo do filme.

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  • Crítica | Bad Boys (30 for 30)

    Crítica | Bad Boys (30 for 30)

    Zak Levitt é o diretor do documentário 30 for 30 denominado Bad Boys, que busca mostrar os bastidores do bi-campeonato do Detroit Pistons, em meados dos anos 80 e começo de 1990, e para isso, se resgata todo o sentimentalismo negativo, de desprezo, rejeição e até nojo ao tipo de jogo que o Pistons fazias. O time de Isiah Thomas e Dennis Rodman entraria para a historia por seus títulos, mas também por ser mal visto, por ser encarado como malditos, entre outros motivos, por barrar as primeiras tentativas dos Chicagos Bulls de Michael Jordan de chegar a as finais.

    A narração do cantor Kid Rock retorna a historia de Detroit, Michigan, fala da violência, dos tumultos, da guerra racial dos Estados Unidos. Não demora a se falar da promessa da Universidade de Indiana, de Isaiah Thomas e do draft de 1981, onde ele quase foi para Chicago, mas ficou em Michigan mesmo. A aura em torno dele aumentou com os anos, e as comparações com estrelas da época eram inevitáveis, para muitos, Thomas era uma versão menos alta de Magic Johnson, com desempenho incrível, tão brilhante quanto o astro do Los Angeles Lakers.

    O filme reforça a idéia de que é preciso um conjunto para tornar uma franquia em um time campeão, e  a dedicação que Levitt tem em construir essa historia é muito boa, desde a chegada gradual de John Salley e Dennis Rodman, até o acréscimo de Chuck Daly  como treinador, que basicamente usava o fato de manter intacto seu penteado para  disfarçar o seu nível alto de competitividade. Aos poucos, por polêmicas de Thomas, que ofendia Larry Bird proferindo xingamentos que foram encarados por torcida e imprensa como racismo contra brancos (o que por si só faz nenhum sentido…), e tambem pela forma que Bill Laimbeer jogava, desestabilizando adversários e sendo agressivo e desleal desde 1987, quando fez Bird ser expulso, o time passou a ser taxado de Bad Boys, odiados por todos que não fossem fãs dos Pistons.

    A rivalidade com os Celtics se acirrou com os anos, mas a realidade é que para os Bad Boys, o desafio para ali mesmo, em vencer as finais de conferência, pois os Lakers eram superiores demais, com um Kareem Abdul Jabbar muito bom, e Magic brilhando muito. Os Celtics sabiam enfrentar o time de Los Angeles, eles, nem tanto, não em decisão.

    Finalmente em 1989 o time chegaria de novo a final, para enfim ser campeão, e as ruas saudariam os Bad Boys, e obviamente que não houve lua de mel para sempre, entre jogadores, comissão e torcida. O documentário não é chapa branca, mostra inclusive Rodman bem triste com a condição de entrar cada vez menos, mas também não torna isso um problema maior do que seria, tanto que ele mesmo se reinventou, e foi eleito o melhor defensor do ano, pouco depois de começar a esquentar o banco.

    Do ponto de vista estratégico, eles percebem a ascensão dos Bulls, e vêem que tem que parar Scott Pippen, que viria a ser o principal parceiro de Jordan no Chicago multi campeão. Havia muita inteligência na leitura dos jogadores e também de Daly. O segundo título veio para solidificar aqueles anos mágicos, mas obviamente os tempos mudaram, pois começaria uma nova era, do maior atleta que a NBA viu jogar, e de um time imbatível, que fazia ele jogar ainda mais. Com um novo rei coroado era preciso se despedir, claro. Bad Boys serve bem  ao propósito de desconstruir no Pistons a figura de apenas vilões, uma vez que eles tem sentimentos, e inspiraram muitos, todo um povo de um estado, e trouxeram dois títulos inéditos para a franquia, que infelizmente foi demolida a partir de 1991, e o maior legado do filme certamente é o de causar comoção em quem assiste,que automaticamente  fica simpático aos Pistons, lamentando inclusive a aposentadoria precoce de Isiah, aos 34 anos, em 1994. Há que se lembrar deles, como atletas e como parte de um time que marcou época.

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  • Crítica | Shaq & Dale

    Crítica | Shaq & Dale

    O produto da ESPN Films / Sec Diaries (uma divisão que se foca em historias dos esportes universitários dos EUA), Shaq & Dale começa com a leitura de uma carta, por Tim McGraw, com as palavras do técnico Dale Brown, para logo depois mostrar Shaquille O’Neal assumir o quanto o treinador foi especial e importante para si. O documentário de 50 minutos de Hannah Storm explora essa amizade e bromance, a partir de conversas recentes, de 2014 para cá, ou seja,  com Shaq já aposentado há três ou quatro anos.

    Shaquille afirma que quando era novo, ainda na Universidade da Lousiana (LSU), Dale dizia que ele seria capaz de aposentar a camisa dos seus futuros times, e ele foi. O gigante, à época com “apenas” 2,11m de altura era somente o terceiro melhor jogador do time. A LSU nem era o mais potente dos times, universitários, eles não tinham uma tradição tão grandiosa, e contra si haviam promessas do basquete como Larry Johnson, Greg Anthony, e fato é que O’Neal era bom em muitos fundamentos, e um trator em quadra, mas jamais foi um primor técnico.

    Pode ser somente atuação – Shaq virou estrela de Hollywood, nos anos noventa – mas o veterano já aposentado parece realmente entusiasmado em revisitar os lugares de seu passado. Ele pula na cama que utilizava como se fosse uma criança, genuinamente feliz por na academia, manter a mesma arquitetura antiga, e por mais bobo que pareça, há um sentimentalismo bem valido nisso.

    O filme se dedica a desvelar também como eram os campeonatos universitários, como era a cobrança em cima dos jogadores que tencionavam ingressar no campeonato profissional. A pressão não era pequena, e de certa forma, Shaquille serve como símbolo para todos os estudantes da sua época em 1992 e em outras tantas, pois as expectativas em cima de muitos era grande, e a maioria esmagadora desses jogadores não chega a ser jogador profissional, nem nos EUA, nem na Europa e nem em mercados alternativos.

    Após muitas declarações de amor, os dois personagens desse especial lêem a carta do técnico Brown, onde o mentor declara o amor que tem por seu pupilo. Essa parte, da série Sec Storied termina leve, fugindo de uma possível melancolia ou de um saudosismo barato, e dentro dessa proposta bem simples, Shaq e Dale acerta demais, por registrar um tipo de relação bem comum ao basquete profissional.

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  • Crítica | Michael Jordan: Air Time

    Crítica | Michael Jordan: Air Time

    Documentário de 1993, Michael Jordan : Air Time foi um especial para a TV, da NBA, que louvava a memória do ainda jogador Air Jordan, o maior da categoria, brincando com a figura mítica criada em volta dele,  que além  de um jogador soberbo e absurdo, era também uma indiscutível celebridade. A trilha sonora instrumental no começo remete a música eletrônica, enquanto mostra sua repercussão em propagandas solo, em comerciais com Spike Lee e até em episódios da sitcom Seinfeld.

    Analisar esse filme hoje é curioso, e ele pode ser bem complementado pelo especial da EspnJordan : Ride the Bus, pois foi em 93 também que ele anunciou sua aposentadoria,  por conta da morte de seu pai. É estranho notar isso, pois no formato escolhido pelos produtores (liderados por Don Spearling), é mostrado Michael conversando com  a câmera diretamente, sentado numa quadra toda preparada para ser um cenário perfeito,  e fora o desempenho excelente dos touros de Chicago, o maior fato discutido por Jordan é a aposentadoria de Magic Johnson, por conta da descoberta de ser soropositivo. Ele se torna a figura mais famosa da liga e o embaixador da NBA, e ele é perguntado de isso é muita responsabilidade. Sua resposta é que isso não seria um problema mas vai se saber se já havia ali um embrião do pensamento de parar.

    Michael era celebre, havia feito um clipe com seu xará, Michael Jackson, lançariam um livro, The Jordan Rules e a expectativa era de qur ele transformaria os Bulls numa franquia tão conhecida e celebrada quanto os Celtics de Boston ou os Lakers de Los Angeles, e parte disso envolveu a questão de tentar ganhar 70 jogos,  mas isso não ocorreria. Nesse trecho há um pouco de confusão , pois ao mesmo tempo que aborda possíveis marcas pessoais, também se fala do All Star Game de 92, onde Magic brilharia, muito com auxílio de Jordan.

    Claramente é um filme chapa branca,  mesmo nas polemicas. O filme passa muito rapidamente pela questão das apostas, e trata como apenas remotas possibilidades dele ter apostado no golfe, fato que é proibido. Como é uma peça comercial,  surpreende por simplesmente tocar no assunto, embora isso possa ter ocorrido exatamente por ser um assunto muito em voga na época, servindo assim como argumento de defesa para o ídolo. Não se toca na boataria envolvendo ele ter apostado supostamente nos próprios jogos que ganharia, mas como realmente é só um rumor/teoria da conspiração,  é natural que não tenha dado nota a essa possível movimentação.

    O desempenho dessas ultimas temporadas foi impecável,  e obviamente que um filme que busca louvar a memória de um ídolo do esporte, não deixaria de focar na obsessão que Jordan tinha em ganhar, e o quanto isso passava para os seus companheiros. As passagens por eventos mais recentes como o Dream Team é bem resolvida apesar de breve e de não acrescentar muito. Air Time é um objeto propagandista, mas de bela apreciação,  por representar bem o modo como a opinião publica encarava Michael e como ele era deusificado.

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  • Crítica | Batman: Silêncio

    Crítica | Batman: Silêncio

    Os Novos 52 “revolucionaram” (entre mutas aspas, há de se dizer) a linha de quadrinhos mensais de DC Comics. Entre sucessos e insucessos, muita coisa já foi retomada e descontinuada, mas ao menos no setor de animação lançada direto para o mercado de home vídeo, os filmes em longa-metragem seguem, adaptando sagas também anteriores ao Reboot. É o caso de Silêncio, revista que tinha o roteiro de Jeph Loeb e arte de Jim Lee, que estava no início de  sua carreira na editora, e o resultado do longa homônimo de Justin Copeland é um pouco diferente da HQ.

    O roteiro original de Silêncio não é grandioso, apesar de ser pretensioso. É uma historia cheia de reviravoltas, que envolve muitos vilões do Morcego, que resgata um personagem do passado de Bruce, Thomas Elliot, pessoa essa que não fazia parte do panteão e passado do personagem, ao mesmo tempo em que um misterioso vilão, chamado Silêncio/Hush aparece, e ninguém sabe quem poderia ser, apesar da evidente suspeita recair sobre o único personagem novo.

    O diferencial positivo do Gibi era a arte de Jim Lee, que aquela altura, não tinha os mesmos vícios e burocracia artística que tem hoje. O problema é que o traço dessas animações novas são feitas muito sob a orientação de como o artista sul-coreano conduz seus atuais trabalhos. Até a sensualidade das personagens femininas, que na revista são vistas como pin-ups que, apesar de objetificadas ainda possuem alguma classe, aqui só são apresentadas com decotes imensos, ou pernas a mostra. O fato dos personagens parecerem mais bonecos do que humanos estilizados faz essa sensualidade forçada não funcionar muito, o que faz tudo soar estranho, e muito artificial.

    O filme tenta ser diferente. Há muitos personagens coadjuvantes do universo do Morcego,  entre vilões e aliados, mas claramente não há o mesmo peso que uma saga grande exigiria, e piora muito a situação se comparada ao produto original. Essa versão mais atualizada, e posta dentro do contexto do pós-reboot recente faz muitos dos momentos homéricos da revista original se perderem, como a possibilidade de Silêncio ser Jason Todd ressuscitado, pois a historia se passa antes de Batman e o Capuz Vermelho, inclusive antes do arco das HQs que deram origem a animação citada.

    Não há nem de longe o mesmo impacto, assim como a participação de Clark Kent, Lois Lane e Superman. Fica tudo um pouco deslocado, e estranho. É incrível como os recentes A Morte do Superman e Reino do Superman conseguiram ser resinificados e funcionam, mesmo com as mudanças, isso talvez se dê por serem filmes de Sam Liu, que neste Silêncio, só supervisiona os storyboards, para que ele seja fiel visualmente. Talvez se o filme tivesse seu trato próprio, haveria mais sentido em sua abordagem, pois ele só parece genérico.

    Tecnicamente o longa tem outros tantos problemas. o traço dos personagens está demasiadamente minimalistas, há erros crassos nas feições e expressões de heróis e vilões, o desenho é muito suave, e em cenas que não possuem closes fica ainda mais gritante a falta de cuidado. Se pensar em cronologia dessas animações, o produto de Copeland também soa incoerente, não bate com boa parte do que já foi apresentado nas animações recentes.

    O desfecho do filme é bem diferente do original, não só na questão já levantada sobre Jason Todd, mas também com a origem e identidade do vilão. As mudanças parecem muito apressadas, e sem necessidade de ser tão diferentes assim do original, além disso, há também no roteiro de Ernie Altbacker uma necessidade tola de trazer um romance bem artificial para a trama, fato que rivaliza até com o mistério de quem seria Silêncio, é tudo tão forçado que faz pensar que talvez isso tenha sido colocado exatamente para afastar rumores sobre a homossexualidade do Morcego, assunto esse tão ultrapassado em 2019 que sinceramente nem precisava mais ser abordado, e é desse jeito morno que Batman: Silêncio é apresentado, como um das menos inspiradas animações dessa nova leva.

    https://www.youtube.com/watch?v=vi3RCkwgN3w

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  • Crítica | Com a Bola Toda

    Crítica | Com a Bola Toda

    Os anos noventa foram repletas de comédias populares cujo maior foco humorístico era o besteirol, e no inicio dos anos 2000 uma boa parte dos filmes engraçados se valiam disso também. É o caso do filme de Rawson Marshall Thurber, Com A Bola Toda, longa de 2003 que começa com o estranho (e meio trágico) comercial da Global Gym, a academia de White Goodman, o personagem caricato e mega bizarro de Ben Stiller, que aliás é um homem rico e vaidoso. Logo é mostrada a contra posição dele, o personagem de Vince Vaugh Peter La Fleur,  um homem excluído, fracassado e que acorda recebendo o lambidas de seu cachorro no saco escrotal.

    Peter além de um encostado, é dono de uma academia barata, a Average Joe, que é frequentada por gente ainda mais excluída e estranha que ele, verdadeiros perdedores, que usam o lugar como o lugar onde podem praticar eventos esportivos sem serem espancados e humilhados por bullys ou por pessoas normais.

    É incrível como, mesmo Stiller estando um bocado em desgraça graças a alguns filmes ruins que fez, e Vaughn sendo mal visto pela maioria dos trabalhos sérios que tentou protagonizar –entre eles Swingers, Crime Desorganizado e Psicose de Gus Van Sant – ainda assim há um bom conjunto de atores, inclusive alguns que fariam sucesso mais a frente, como Justin Long e Alan Tudyk, que fazem respectivamente um homem delicado e estabanado, enquanto o segundo acha ser um pirata. Além disso, há Christine Taylor, que faz a advogada Katherine Vetchque tenta agitar as finanças do lugar, que em breve, precisaria ser fechado, a não ser que encontrassem uma saída, que incluiria White.

    Todo o universo de Goodman é bem bizarro, mesmo para os outros personagens, que vivem protagonizando piadas físicas o tempo todo. Há referencias homo-eróticas no treinamento de levantamento de peso e seu modo de cobrar os alunos tem formato quase nazista, inclusive com televisores gigantes dele cobrando as pessoas como o mito do Grande Irmão de George Orwell. Há também estátuas de lutadores nus, não entende o conceito de metáfora, e tenta parecer culto diante das mulheres, com direito a bombar ar num espaço nos shorts que imita a o volume peniano. De certa forma, o personagem repete o homem que Stiller fez em Turma da Pesada, que também era um professor de ginástica fanático por sua aparência.

    É tudo tão ridículo que soa como crítica e comentário social, que é evidentemente muito engraçada, seja na forma como fala do culto ao corpo ou como o roteiro de Thurber profetiza em 2004 sobre modas atuais, como os estereótipos presunçosos que normalmente se associa a quem faz Crossfit, Goodman seria algo nesse sentido. O script não é muito elaborado, rapidamente arruma desculpa para as pessoas da Average Joe conseguirem o dinheiro, em um campeonato de Queimado, ou Dodgeball, que pagaria 50  mil ao vencedor do torneio, em Las Vegas.

    Tudo envolvendo o esporte é engraçadíssimo, a inabilidade do time, a associação que organiza o desporto, a ADAA -American Dodgeball Association of America – e ainda se permite soar pervertido, mostrando a Queimada como um esporte que se originou nos bares de ópio da China, disputado com cabeças humanas ao invés de bolas, sem falar que os lemas da  prática esportiva são a violência, exclusão e degradação.

    O conjunto de atitudes de White Goodman é tão bizarra que qualquer evento normal soa estranho aqui. A pessoa que fala de maneira comum, como a moça que é interesse romântico do protagonista e antagonista parece uma personagem alienígena, de fora do universo. Há um poder magnético dos personagens, os que frequentam a Average Joe tem adversário esquisitos e obsessivos a frente, embora seja em um espírito bem diferente do seu. Até quando atraem um mentor, é um descompensado mental, Patches O’Houlihan, que na velhice, é feito por Rip Torn, em uma clara referencia ao personagem Tenente Dan Taylor de Forrest Gump, que por sua vez, satiriza de certa forma Ron Kovic de Nascido em 4 de Julho.

    É incrível como o longa consegue equilibrar bem as partes que só faz humor escrachado, com outras que é pretensa e pseudo sério, como quando há comentários televisivos da ESPN. Por mais que hajam piadas de cunho sexista e até xenófobas, mas eles fazem troça até dos próprios personagens, que estréiam no campeonato com roupas de BDSM. Todos são ironizados igualmente, e por incrível que pareça, o jogo em si é bem emocionante, e contem algumas participações especiais como a de David Hasselhoff.

    O elenco em entrevista falavam sobre a dificuldade que tinham ao jogar, de não vacilar e se acovardar quando vinham as bolas vinham. Gary Cole e Jason Bateman, que eram a dupla do ESPN Ocho, precisaram regravar a maioria de suas falas pois o roteiro constantemente mudava, mas com todas as piadas, o filme teve um legado, pois ligas de queimada adulta começaram a surgir em todo o país na época do lançamento do filme, resultando até em um convite a Cole para participar do cerimonial pré jogo em um torneio em Chicago, Illinois.

    Cada um dos personagens tem seu momento de gloria, mesmo os pequenos, e a  personalidade agregadora de Peter apesar de irritante, e carregada de uma necessidade de aceitar a todos sempre revela bastante é forçada demais, ainda mais na característica de isenção, mas mesmo não soando bem, faz sentido os excluídos se reunirem em torno de si, até porque por mais boa praça que ele fosse, era também um fracassado.

    Com a Bola Toda louva o comportamento dos excluídos, também conhecidos como Underdogs, não só na jornada da Average Joe, mas até na transmissão da ESPN 8, The Occho. Em um universo em que os animadores homens são bulllys, é natural que todo o resto seja grotesco e bizarro, e dada essa mensagem, até o desfecho de La Fleur sendo orientado por Lance Armstrong e a mensagem final inclusiva não soa tão cafona, principalmente por ter no baú de dinheiro que ele ganha no final, escrito Deus Ex Machina, que demonstra o quanto o script, elenco, diretor e demais membros da produção não levam nem filme e nem o esporte a sério.

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  • Crítica | Rota de Fuga 2: Hades

    Crítica | Rota de Fuga 2: Hades

    Após Rota de Fuga ter tido um sucesso moderado, mas tão saboroso quanto um bolo feito por  dois chefs bem experientes, Sylvester Stallone se sentiu a vontade para idealizar um novo episódio para a franquia, com praticamente cinco anos de atraso. Batizado no Brasil com o sugestivo nome Plano de Fuga 2: Hades, o longa mostra novamente Ray Breslin (Sly) como responsável por testar a eficiência das penitenciárias dos Estados Unidos, em atenção especial das de segurança máxima, e uma nova missão é dada a ele, a de entrar num local conhecido apenas como Zoológico, a fim de ajudar um colega seu a escapar de lá.

    Antes de apresentar essa versão dos fatos, é mostrado um sujeito refém, sendo maltratado, espancado e trancafiado, em um cenário sujo, que tenta parecer sério mas que soa um bocado mambembe. É nesse curto espaço de tempo que ocorre uma cena de briga bem legal, com Xiaoming Huang, que interpreta Shu, mas mesmo as coreografias de luta sendo bem legais, se perdem em meio a cenas de fumaça, que fazem perguntar se objetivo não era exatamente desviar o foco de uma das poucas coisas boas. Sly/Ray só aparece com quase dez minutos de filme (que aliás, é bem curto, com só 93 minutos), basicamente para discutir com um dos seus funcionários, que por sua vez, fracassou em seu trabalho.

    O empregado que está preso no tal “zoológico” (no original, Hades) é Shu, o preso número 1764, e esse lugar é misterioso, possuindo lutas ao clandestinas entre os detentos, bem ao estilo rinha de galo. O conceito é sofisticado demais para um produto tão barato e genérico como isso, ainda mais se levar em conta seu diretor Steven C. Miller, conhecido por fazer filmes pouco comentados como Gritos do Além, Natal Sangrento, além de três filmes recentes com Bruce Willis, Operação Resgate, Assalto Ao Poder, Caçada Brutal sendo um mais genérico que o outro.

    Outro grave problema da história mora no fato de retratar personagens secundários como estereótipos raciais é algo normalíssimo, embora completamente incorreto, tanto politicamente como em termos criativos, a abordagem aqui aparentemente já foi vista e revista em dezenas de fitas de ação. A participação de Stallone é bem pequena nesse episódio da franquia, há mais espaço para Shu, para o nerd Hush (feito por 50 Cent, que aqui prefere ser chamado de Curtis Jackson), Luke (Jesse Metcalife) e Jaspar Kimbral (Wes Chatham). Mesmo Jaime King aparece quase tanto quanto ele, fazendo a secretária  Abigail, e parte dela a indicação de um profissional que poderia ajudar eles, Trent Derarosa, interpretado por Dave Baustista, o Drax de Guardiões das Galáxias, que funciona como o substituto de Schwarzanegger. Ele aliás é bem mais badass e casca grossa que Ray, que aparentemente, se arrasta pelas paredes e chão, para dar conta de uns poucos capangas armados.

    Plano de Fuga 2: Hades peca por quase não dar vazão a mitologia do primeiro e por soar infantil no pouco que tenta ousar e por ter batalhas contra inteligência artificial, pieguice que beira a literatura de auto ajuda e sub aproveitamento das estrelas, que estavam lá basicamente para angariar alguns fãs, que não veriam um filme tão bobo e tão desinteressante quanto esse caso não houvesse um grande astro por trás deles.

    https://www.youtube.com/watch?v=WUCcwGMI7x0

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  • Crítica | Magic & Bird: A Courtship of Rivals

    Crítica | Magic & Bird: A Courtship of Rivals

    Filme pra TV, da HBO, Magic & Bird: A Courtship of Rivals de Ezra Edelman começa com Larry Bird afirmando que não importa onde ele está, e a ocasião, ele é sempre perguntado onde está Magic Johnson. Das rivalidades do basquete, essa sem dúvida é a mais duradouras e respeitosa, e que fez mais tradição. O longa busca explorar isso, retornando a 1979, numa final NCAA. Os dois atletas, bem promissores estavam lado a lado, competindo de maneira assertiva e já em alto nível, mostrando a historia até o estabelecimento da ligação direta que jamais será quebrada e será levada para o tumulo.

    Narrado por Liev Schreiber, o filme se debruça sobre a infância difícil e pobre de Magic, a época apenas chamado Earvin, em comparação com Bird, que vinha de família um pouco mais abastada, mas também com uma série de restrições financeiras, em Indiana. Johnson afirma novamente que não imaginava ser possível jogar em alto nível, ele queria ser empresário, mas foi surpreendido pelo destino. Fato é que esse mesmo destino fez os dois competidores jogar pela seleção de seu país.

    O documentário tem um bom serviço, de informar não só detalhes da vida dos jogadores, como a limitação física que Bird tinha ao não conseguir pular muito, como também a situação estranha pela qual passava a NBA, que era cada vez mais olhada como uma liga marginalizada, onde usuários de drogas entravam livremente, além do crescente acréscimo de negro nela, fato que aviltava a mentalidade racista dos conservadores americanos.

    Larry recusava a pecha de salvador branco, do Celtics e da NBA como um todo, e é bizarro o choque racial ainda nesses tempos,  pois havia uma rejeição dos jogadores negros a ele – agravada diga-se pela timidez, caladice e falta de esforço físico dele – e intolerância de torcedores caucasianos em verem os negros em quadra, não só pela cor, mas também ao estilo de competição, denominado em inglês como Black Game.

    É incrível como, mesmo após tantos anos, depois de Wilt Chamberlain e Bill Russell, a ideia de Black Game ainda existia, assim como uma forma bem preconceituosa e tosca de enxergar os negros como mais propensos a utilizar drogas, até por isso, Jonhson era visto como radical contra as drogas, até sofrendo com uma pecha de ser Caxias. Bird, por ser menos midiático também não se envolvia muito em polêmcias, mas como Earvin era mais conhecido, ele acaba sendo também, e a rivalidade entre Leste e Oeste fez bem ao basquete nacional – até então, a maiorias das rivalidades eram internos nas conferencias, como as do Philadelphia 76ers e Celtics – mas ainda se apelava demais para a questão racial, esbarrando na mentalidade meio Apartheid que ainda imperava no esporte. O Celtics ainda era encarado como um time de brancos, basicamente porque sua estrela era Larry, mesmo que a maioria dos companheiros de Bird fossem negros.

    O fato de terem se tornado estrelas do esporte tornou os dois atletas ideais para comerciais e propagandas, e o fato disso não ser tão comum para a época. Isso foi uma quebra de paradigma, para o bem e para o mal. Eles passaram a ser julgados como vendidos, ao passo que também tiveram suas marcas elevadas a um enorme nível, viraram alvo de muita discussão, abordados até no filme de Spike Lee, Faça a Coisa Certa.

    A parte que aborda a soropositividade de Johnson é um pouco carregada de emoção, mas isso é melhor abordado em outro filme, da HBO também, O Anúncio (The Announcement), e Larry sentiu uma vontade enorme de falar com seu adversário de quadras, em choque, por isso ter ocorrido com um dos seus. Com o tempo a relação dos dois evoluiu para a camaradagem.

    É justo que os atos finais do filme em homenagem a rivalidade e ao bromance, seja no Dream Team que conquistou o ouro em Barcelona, logo após a primeira aposentadoria de Johnson, onde pela segunda vez pós 78 os antigos inimigos estariam juntos. Se o filme de Edelman é um bocado quadrado e desconstrói pouco o racismo que imperava e impera nos EUA, há sobras de emoção e sentimentalismo, e essa barreira é difícil de romper.

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  • Crítica | A Espiã

    Crítica | A Espiã

    Em Israel no ano de 1956, começa o drama do filme de Paul Verhoeven, acompanhando um grupo de excursão turístico, a terra “sagrada”. Após um encontro inesperado, entre duas mulheres que haviam se conhecido anos atrás nos Países Baixos, o roteiro retorna a Holanda, em Setembro de 1944, onde Rachel Stein (Carice van Houten), uma das mulheres que aparece na primeira parte, mora. Ela é uma cantora judia escondida, e em uma tarde comum vê sua casa ser alvejada por bombas alemãs.

    Rachel não se assusta com  tentativa que fizeram de cercear sua vida, ao contrário, logo após sua casa ser obliterada, ela está sorrindo, ao se encontrar com um homem a quem tem interesse. Incrivelmente Verhoeven emprega um pouco da sua visão estilizada da violência na vivência da  personagem principal, a fez ser um pouco alienada aos reais perigos que sofre, e isso serve bem de paralelo a letargia com que boa parte da opinião pública tratava o governo extremista de Adolf Hitler e sua força governamental do III Reich, fingindo que havia normalidade ou tão somente não percebendo legitimamente que o perigo ronda o mundo.

    Da parte dos soldados alemães, há muito  pragmatismo. Eles são violentos, alvejam um barco repleto de judeus, roubam seus pertences mais caros, como ouros, jóias, relógios caros. Perceber que o mundo não é o paraíso super  colorido onde cantar seria uma ocupação boa o suficiente para conseguir se sustentar e para se ver segura das ações dos  nazistas, ela se junta a resistência, pinta os cabelos de loiro, e muda o próprio nome para Elis de Vries. Lá, ela encontra Hans (Thom Hoffman), um homem que trabalha infiltrado entre os militares alemãs.

    É engraçado como as marcas do cinema satírico do diretor holandês seguem vivas, e ainda permeiam seus produtos mais recentes, mesmo os mais sérios, e não baseados em ficção científica ou em conceitos de super heróis. O tiroteio que ocorre dentro de um armazém lembra demais as trocas de tiros dos Westerns Spaghetti, onde os mocinhos não levavam uma bala sequer mesmo estando em menor número, ao passo que os heróis matam todos com facilidade.

    As partes que mostram relações sexuais também tem um tom caricatural, onde  a nudez  da bela Carice Van Houten é aplacada por uma hiper sexualização tão falsa que parece as fitas de sexo armado antigas, completamente inverossímil. É como se estivessem todos frios, acima da linha da alienação, em animação suspensa esperando o transe de um mundo em guerra acabar, para então, dar prosseguimento a suas vidas.

    A sensualidade que Rachel / Ellie é utilizada para ludibriar os oficiais nazistas, em especial Ludwig Muntze (Sebastin Koch), que passa a se interessar mais por ela, de maneira sexual é claro. Toda a forma como eles se relacionam varia entre a fantasia assexuada, com os participantes do sexo nus que mal se tocam, ou tensos o suficiente com a guerra, ao ponto de não sentirem vontade sequer de chegar ao ápice do gozo. Embora não seja explicito, o estado belicista da nação alemã atrapalha até a libido de seus oficiais, que são mostrados de maneira impotente e patética, a nudez dos homens é digna de risos, e seu desempenho na cama é motivo de piadas para as mulheres, os homens da SS e da Gestapo não tem força ou saúde para se manterem eretos por muito tempo, tampouco conseguem deixar seus pares satisfeitos.

    A espionagem dentro desse universo semi realista de Verhoeven não possui glamour, tal qual as práticas dos nazi-fascistas. Os vilões são mostrados como devem ser, como figuras malignas, dignas de desprezo, motivos de riso quando tentam se manifestar de maneira artística, grotescos e estranhos, capazes de serem cruéis com seus opositores e de não ter qualquer pena ou receio de alvejar todos que se opõem a eles. Não se suaviza ou deusifica a imagem dos que teimam em compor resistência contra o reinado de terror de Hitler, ao contrário, a maioria dos personagens bons e éticos tem suas vidas precocemente encerrada, de maneira agressiva, normalmente cuspindo ou transpirando sangue em cenas que não tem nada de poético, ao contrário, o gore plastifica a maior parte das perdas e homicídios.

    O roteiro de Gerard Soeteman e Verhoeven é repleto de reviravoltas, e é incrível como num período curto de tempo, em apenas 145 minutos se referencia todo a crueldade dos extremos de direita, a violência decorrente dos que compuseram a resistência, além de mostrar Ellis sendo humilhada, por pessoas que sofreram nas mãos dos alemães, relegando a ela o papel de traidora e indigna. Na visão do filme, o fascismo é um evento e uma ideologia tão nefasta, que é capaz de invocar os instintos mais primitivos da humanidade, tornando normais práticas de violência extrema, seja física, verbal ou sexual, afinal, parte do pensamento é o de desumanizar.

    A dificuldade em resgatar a sua real identidade faz o drama de Ellis/Rachel muito forte, carregado de força e emoção. É nesse ponto que o filme deixa de ser maniqueísta e uma crítica a hipocrisia geral dos países quando estão em guerra, para falar sério e de maneira direta ao espectador. A personagem é complexa, mesmo seus atos de vingança são justificáveis, ainda que possam ser facilmente confundidos com justiçamento barato, ou revanchismo gratuito. Quando ela tem de matar, a mulher só aperta as saídas de ar do caixão onde está um dos que a traiu, deixando que a falta  de ar se encarregue de levar a vida de um homem que se sujou e se corrompeu por pouco, e que fez uso das mesmas artimanhas escusas que os nazistas.

    A Espiã ataca obviamente a o fascismo dos alemães e europeus que engrossaram as fileiras do Eixo, mas também julga problemática a mentalidade belicista que até hoje move os filhos de hebreus e os que formam o atual Estado de Israel, em uma breve porém não ignorável referência no final, já de volta a linha do tempo dos anos 50, onde o refúgio dos parentes e sobreviventes da Guerra, é altamente armado e cercado de arames. Para Verhoeven, a violência é um processo e estilo de vida cíclico e inevitável caso chegue a ser vivido, e a guerra ou o sentimento bélico se retro alimenta baseado na paranoia do conflito, e paranoia não representa nada além do desejo reprimido de vingança ou justiçamento, e essa mensagem é profunda demais para ser ignorada ou posta de lado.

    https://www.youtube.com/watch?v=hQCy1oAD2lE

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  • Crítica | Socorro, Virei Uma Garota!

    Crítica | Socorro, Virei Uma Garota!

    De Leandro Neri, diretor acostumado a fazer programas de tv como o Caldeirão do Huck, Socorro, Virei Uma Garota se vale da popularidade recente do casal Victor Lamagolia, do Parafernalha e Thati Lopes, do Porta dos Fundos, para trazer uma adaptação brasileira de comédias clichês norte-americanas, envolvendo filmes onde adolescentes são vividos  por adultos beirando os 30 anos e filmes de trocas de corpos.

    Lamoglia vive Julio, um garoto nerd, colegial, que sonha em ficar com Melina (Manu Gavassi), a garota mais popular da escola. Ele é melhor amigo de Cabeça (Leo Bahia), um nerd gordinho, estereotipado que gosta de Jornada nas Estrelas e que transpira clichês. Em comum entre os dois amigos inseparáveis, há o gosto pelas estrelas, herdado por Julio de sua  falecida mãe. Essa tentativa de emocionar, com uma perda familiar esbarra nos atalhos que o roteiro toma, ao mostrar o protagonista como o  excluído em todos os ambientes que está, em casa, por ser mais sensível, na escola por ser CDF e inteligente, e tudo piora, após uma noite de lual, em que ele faz um pedido a uma estrela cadente, para ser a pessoa mais popular da escola, retornando como uma gostosa patricinha, vivida por Lopes.

    Este é quase uma versão infanto-juvenil de Se Eu Fosse Você, ainda que seja ainda mais apelativa e pueril. Não há complexidade, o roteiro de Paulo Cursino é bem raso, diferente do que foi bem apresentado em Divórcio, que aliás é um filme cuja premissa não é tão distante da vista aqui. Há uma quantidade enorme de piadas machistas, a maioria dos diálogos possuem ao menos uma noção ou fala sexista, beirando a homofobia em alguns pontos, ainda que seja mais leve nesse sentido.

    O fato da família Martinez ser totalmente diferente e muito mais miserável unicamente por ter uma garota popular ali é misógino de um jeito que nem as globochanchadas mais populares eram. As versões que Nelson Freitas faz do pai de Julio/Julia são ridículas, apesar do interprete se esforçar para dar alguma profundidade para seu personagem, parecendo de fato um parente preocupado, esmero esse desperdiçado pelo fato de não ser nada crível que pessoas nessa idade estejam na escola.

    O filme melhora um bocado quando Thati entra em cena, mas ainda assim é bem pouco. Há muitas piadas com hits musicais de Katy Perry e Harlem Shake, mostrando que o filme está preso em um humor no mínimo dez anos defasado, aparentemente o roteiro era antigo, foi pego e filmado mais recentemente. Os momentos que cenas lésbicas são levadas por uma música de Ana Carolina, em um alarme de estereotipo bem alto.

    Há uma tentativa de lição de moral bem baixa, quase tão mal pensada quando o julgamento ultra moralista sobre vestuário feminino, com Julio, no corpo de Julia julgando que a maioria das roupas curtas das meninas as fazem parecer vulgares. Socorro, Virei Uma Garota poderia ter ousado ao parecer mais um filme que copia a estética de humor do cinema dos Estados Unidos, mas ao invés disso, de fazer o básico, ele se atém a apelar para piadas juvenis e arquetipos datados, como se ser nerd não fosse mais moda, além de conter um final bem covarde perto do que poderia ter sido de acordo com as últimas cenas de Thati Lopes.

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  • Crítica | Amador

    Crítica | Amador

    Amador, de Ryan Koo começa cheio de ternura, mostrando movimentações de basquete de uma criança, batendo bola em quadra, para logo depois trazer uma montagem desse tipo durante a adolescência até a fase juvenil. Trata-se de Terron Forte (Michael Rainey Jr), um garoto que tem aspirações em relação a se tornar jogador de basquete profissional, mas carece de foco. Em uma aula de matemática, um garoto pergunta quais as probabilidades de um garoto jogar na NBA, e é nesse momento que ele percebe o quanto é difícil ser escolhido no sistema de draft, e ele passa a pensar nisso, mesmo que todos os seus desejos e sonhos sejam voltados para isso.

    Ao mesmo tempo em que Terron acredita que se tiver dedicação total ao esporte, ele brilhará, ele tem receio de repetir a historia de fracasso do seu pai, pai, Vince (Brian J. White), que atualmente, tem de trabalhar em dois empregos para sustentar a sua família, e muito disso ocorre por ele ter tentado a carreira no desporto e não ter se preparado mais. Esse receio habita o inconsciente do rapaz, que se sente inseguro apesar das inegáveis qualidades dele, e é reforçado por sua mãe, Nia (Sharon Leal). Para agravar todo o drama, ele tem dificuldades nos estudos, por conta de um problema cognitivo e de visão, não conseguindo enxergar os números como alguém plenamente saudável.

    O jogo de Terron é fluido, quando ele começa a se movimentar a câmera  entra em slow motion, e seu jingado atrai os olhares até dos jogadores mais velhos e do técnico adversário. Mesmo perdendo o jogo, ele comemora o fato de ter mais de 50 mil visualizações na internet, e pelo que ele vive, isso é um mérito, afinal gravar e editar vídeos é algo importante para a família Forte, que se baseia estatísticas e em super exposição para fazer o jogo do protagonista fluir.

    Depois de muito deliberar, ele aceita o convite de Treinador Gaines (Josh Charles) para ir jogar na Bishop Anthony, uma escola diurna, onde ele completaria seus estudos e – supostamente – teria mais oportunidades de melhorar seus atributos e suas chances de ascender a NBA. Terron passa a jogar como armador, e não é mais unanimidade, tem dificuldades para jogar, fica no banco e é facilmente bloqueado, além disso ele tem que lidar com jogadores veteranos que praticam bullying com ele. Neste trecho há um forte de clichês dos filmes de esporte, mas aqui, funciona bem e serve bem ao propósito do filme, de ser algo inspirador para jovens, ou ao menos brincar com esse preceito.

    A lição que o protagonista aprende, com Anton (Ashlee Brian) é que eles não jogam para as universidades, para a torcida, nem para a NBA ou para os treinadores, e nesse ponto, o filme de Koo lembra um bocado High Flying Bird, lançado um ano depois por Steve Soderbergh, também pela Netflix, ainda que o cunho desse seja mais interno e mais focado no jogador que nos bastidores.

    Terron percebe que está sendo usado, e a forma como ele reage a isso é igual a postura dele com quase todas as coisas. É curioso como o filme utiliza uma prática comum e atual de se auto filmar para mostrar ele tentando aprender  e também para basicamente subsistir. O final de Amador é um bocado piegas, extremamente otimista e sem garantias de que dará certo, e apesar desses problemas mostra os bastidores sujos do esporte e não poupa o espectador.

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