Categoria: Críticas

  • Crítica | Homem Livre

    Crítica | Homem Livre

    O começo de Homem Livre é estranho. Helio (Armando Babaioff) chega em uma casa escondido no porta malas, e é levado para dentro de um local escuro. Trata-se de uma igreja, um lugar que serve como reabilitação, onde ele passa os dias refletindo sobre a Bíblia a fim de esquecer um pouco sobre seu passado. Ele foi um roqueiro famoso, mas passou muito tempo na cadeia, e ouve do Pastor Gileno Maia (Flavio Bauraqui), um homem muito solícito e atencioso, tão munido dessas duas características que soa até falso. Helio está o tempo inteiro tenso. Parece preocupado com algo, assombrado por um som estranho, mas que não revela sua origem. Entre os terrores noturnos, ele vê a imagem de uma mulher estranha e fantasmagórica, que provavelmente tem relação com o crime que o levou a cumprir pena.

    O personagem não tem muitos afazeres e o fato de não ter com o que ocupar o tempo faz aumentar a paranoia. É curioso como apesar do roteiro de Pedro Perazzo tratar com cinismo os ritos evangélicos, também leva em conta o ditado “cabeça vazia, oficina do diabo”. Eventos estranhos acontecem.

    O filme de Alvaro Furloni tem todo um clima de suspense que parece ter um potencial grande, mas ao longo dos 81 minutos mesmo as paranoias do personagem parecem vazias tanto de razão e significado, quanto em perigo real. A relação que ele tem com a jovem Jamily (Thuany Andrade) carece completamente de química ou algo que o valha, e pouco se gera curiosidade nas causas da culpa de Helio assim como nas consequências dos seus atos pós-libertação do cárcere.

    Apesar de subverter as expectativas, ao menos em um ponto Homem Livre acerta, que é na demonstração de como o homem pode ficar perdido e sem referencial, ainda mais depois de passar uma vivência traumática como normalmente se reclama ao falar do sistema penitenciário brasileiro, mas ainda assim, este comentário não encaixa tão bem com todo o resto do espírito do filme, que carece de um entendimento sobre o que realmente quer passar ao público.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.
  • Crítica | Querido Menino

    Crítica | Querido Menino

    Querido Menino, do diretor Felix Von Groening (Bélgica e Alabama Monroe) começa com uma fala tão isolada de David Sheff que quase parece um monólogo de Steve Carrell. Em sua expressão se percebe desespero, angústia e resignação, causadas pelo sumiço de seu filho Nicolas. Entre a depressão do distanciamento emocional com seu filho – e agora físico – reside a sensação de impotência de um pai que sabe que seus erros podem ter sido o motivo do afastamento do seu primogênito, tanto de si quanto de sua família, ainda que esses erros e/ou irresponsabilidades não sejam dados de uma vez ao espectador.

    A música instrumental atua numa crescente, aumentando seu volume a medida que o passado de Nic é mostrado. Com idade de 12 anos, ele é feito por Jack Dylan Grazer e parece deslumbrado com a chegada dos bebês que seriam seus irmãos. Já mais velho, o rapaz é feito por Timothée Chalamet. A delicadeza com que a história do rapaz se desenrola impressiona, não só pelo desempenho de Chalamet e Carrell, mas também pelo cuidado que a câmera de Groening possui ao retratar esse desenvolvimento familiar.

    A trilha sonora tem um papel narrativo importante, sua utilização ultrapassa o simples embalar simbólico típico dos filmes premiados, pois servem como abreviações dos sentimentos e sensações não só de Nic, mas também de seu pai. Em alguns momentos, evocam a rebeldia, em outros tantos se atalham as discussões entre pai e filho e a decepção do homem mais velho, pelos rumos que a vida de seu filho está tomando.

    Em alguns pontos, o roteiro de Luke Davies e Groeningen soa moralista e conservador ao lidar com os vícios de Nic, mas é até natural que isso ocorra visto que é baseado no livro de pai e filho contando tal história. Em alguns pontos a montagem soa confusa, não equilibrando os momentos de desespero dos adultos com os de curtição do jovem. A ideia de soar confuso, propositalmente, para emular a condição mental de Nicolas tem uma função narrativa clara, mas sua execução não é satisfatória. A ousadia do realizador pode ser facilmente confundida com arrogância.

    De qualquer forma, Querido Menino acerta demais em seu cunho emocional e no retrato do limite das pessoas que orbitam alguém com uma adicção severa. Chalamet e Carrell estão irretocáveis, nota-se a química absurda entre os dois e a proximidade sentimental que deveria existir entre os reais. Uma fala de uma pessoa cuja família também está na reabilitação resume bem a sensação de quem sofre com um parente adicto, de que existe a sensação de luto por quem ainda está vivo, e esse talvez seja o diferencial mais óbvio deste para um Trainspotting ou Réquiem Para um Sonho, pois se trata mais de um estudo de personagem que sofre com uma obsessão do que um debruçar sobre o vício em si, e por mais que não seja tão profundo quanto as obras de Danny Boyle e Darren Aronofsky, sobra sentimento, cumplicidade e humanidade no filme de Groening.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica | A Morte Te Dá Parabéns 2

    Crítica | A Morte Te Dá Parabéns 2

    A Morte te Dá Parabéns foi um filme de terror que fez um sucesso comercial considerável, arrecadando mais de vinte vezes seu orçamento original. Divertido, criativo e com um elenco que apesar de não ter estrelas, funcionou bem. Logo, ter uma continuação seria algo comum e mais uma vez Christopher Landon conduz A Morte te Dá Parabens 2, com Jessica Rothe reprisando o papel principal de Tree Gelbman, repetindo boa parte da fórmula.

    Como no primeiro filme, a trama começa com um jovem estudante acordando após uma farra, se dirigindo a universidade – a mesma Universidade de Bayfield do episódio original – onde Ryan (Phi Vu), um aluno nerd e de origem sino-americana se levanta, passa pelos corredores e também é assassinado, como foi com Tree, isso logo após passar pelo laboratório de ciências, onde ele mexe com o seu experimento, uma máquina que envolve alguma baboseira tecnológica mal explicada, que por sua vez tem como base a utilização de física quântica.

    O preso no looping é o próprio Ryan, mas já neste início se percebe a ligação com os personagens do primeiro filme, pois ele é o nerd que ocupa o mesmo quarto que Carter (Israel Broussard), e ele não demora a perceber as semelhanças de seu agouro com a lenda do dia da marmota, sendo perseguido por um assassino que se inspirou naquele do primeiro filme. Após contar a Tree e Carter o que houve, ele passa a ser ajudado por eles, e se nota um pequeno MacGuffin, já que a jornada a ser explorada seria a de Tree, outra vez no dia do seu aniversario – que também foi o de sua morte – em uma nova dimensão, com fatos bem diferentes dos correntes em sua linha temporal, onde até o assassino parece ser outra figura.

    Apesar de haver um sem número de explicações desnecessárias –  tantas que viram piada dentro do filme – há uma evolução de conceito e mitologia, que reúne elementos plantados no primeiro capítulo da franquia mas não foram devidamente explorados, como o fato de Tree ficar mais fraca a cada morte que sofre, fato que pode gerar severas conseqüências a si. Além disso, há paralelos com De Volta Para o Futuro, que inclusive é citado.

    Em alguns pontos esses paralelos soam cansativos, pois a expectativa do público, certamente, é com a quantidade de mortes e a criatividade do assassino, tanto no plano que montou como nas formas de atingir o seu alvo, e logo o roteiro se debruça novamente sobre essas questões, ainda que em alguns pontos as decisões dos personagens beirem o ridículo. Tree passa a agir como uma pessoa inconsequente, bolando formas criativas e engraçadas de morrer, que geram evidentemente cenas bem engraçadas, mas que pouco fazem sentido com a personagem que evoluiu tanto em pouco tempo, como ocorre no final de A Morte Te Dá Parabéns.

    O novo longa é bem mais audacioso e pretensioso que o anterior, e o fato de fazer muita piada com suicídio não colabora, não à toa seu lançamento foi alterado por conta de uma tragédia ocorrida nos Estados Unidos que faria aniversário no mesmo dia da estreia. No entanto, não há desrespeito e nem banalização de sentimentos, até a quantidade gigante de mortes tem um propósito bem explicado e todos os absurdos vistos em tela, como uma estudante pouco inteligente e fútil saber usar armas de fogo, servem como um tempero nonsense que faz desse um prato delicioso no combalido gênero slasher recente.

    Landon consegue conduzir bem o próprio roteiro, driblando bem o clichê de continuações descartáveis, mesmo não sendo tão criativo e divertido quanto o primeiro filme. Mesmo a abertura gananciosa que ele faz para algumas possíveis continuações – em uma cena pós-créditos divertidíssima – há uma inventividade ímpar na sua filmografia recente, além de uma sensibilidade ao tratar dos momentos mais sérios e nostálgicos da sua personagem principal, Theresa.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.

  • Crítica | Lida Baarová

    Crítica | Lida Baarová

    Especial para a TV alemã, Lida Baavorá também conhecido como Devil’s Mistress conta a história da atriz checa que dá nome ao filme, interpretada em sua juventude por Tatiana Pauhofová. Sua trajetória rumo ao estrelato começa quando com sua viagem a Berlim em busca de notoriedade, já que não conseguia papéis em seu país natal.

    O filme é didático, ainda que possua um orçamento considerável em comparação com outros telefilmes. Os cenários, figurinos e aspectos visuais em geral são bem desenvolvidos. A trama demora um tempo mostrando os percalços de Lida e sua dificuldade em lidar com seu sotaque, e isso era algo importante, visto que acabavam de sair do cinema mudo. Não demora a ela achar um par, Gustav Frölich (Gedeon Burkhard, de Bastardos Inglórios), mas a lua de mel não demora a acabar.

    Lida morreu nos anos 2000 e fez centenas de filmes, mas sua carreira foi cortada por conta do envolvimento que teve com Goebbels, e os elementos do romance que ali ocorreram são desenvolvidos aos poucos. O ministro se aproveita de algumas das fragilidades que a vida de ator que Frölich tem, para se fazer mais presente na vida da protagonista, no entanto, o olhar da moça para ele enquanto é abordado por jovens que querem seu autógrafo é estranho, pois aparentemente carrega admiração, mas também questionamento.

    Os momentos mais dramáticos, onde o over action ganha força ficam um bocado caricatos, em especial por que Frölich é dublado por Martin Stránský e não por seu intérprete, assim como Goebbels, mas ao menos é dado espaço a Karl Markovics atuar, pois seus momentos mudos são os melhores de todo filme. Quando finalmente a moça decide se entregar a ele sua expressão é feia, quase como a de um monstro, semelhante a Max Schreck em Nosferatu de Murnau. As cenas que Goebbels chora por sua amada, logo depois de uma briga com Hitler dão o tom do quão novelesca é a produção, que tenta mostrar os mandantes do Terceiro Reich como passíveis de ciúmes e invejas.

    Lida teve uma vida difícil após a guerra, transitava na época entre o cinema italiano e alemão, mas quando estava na Checoslováquia era tratada como traidora por ter se envolvido com amantes nazistas. O diretor Filipe Renc parece não ter tanta experiência para lidar com uma história de natureza tão complexa e cheia de camadas, pois segundo seus olhos, a postura do governo tcheco era quase tão cruel quanto os subordinados ao Fuhrer, e por mais que não houvesse santos em época de guerra, também não havia necessidade dessa generalização. Como dita pela própria Lida aos oitenta anos (feita por Zdenka Procházková), toda história contada por alguém possui invenções, mentiras e boatos que fingem ser verdade. Surpreendente como um filme assim tenha sido produzido e veiculado, ainda mais pelas características humanas de seus personagens, patéticos e simpáticos de certa forma.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.
  • Crítica | Mulher-Gato

    Crítica | Mulher-Gato

    O longa de Pitof fez história em 2004, trazendo Halle Berry no papel principal da mais famosa vilã das histórias em quadrinhos. Mulher Gato começa com uma introdução animada mostrando cenas do Egito, Grécia e outros lugares com mulheres vestidas como felinas. Antes de aparecer finalmente a personagem Patience Phillips, mal se nota o desastre que aguardaria o público.

    Está versão com roteiro de John Brancato, Michael Ferris e John Rogers (argumento de Brancato, Ferris e Theresa Rebeck) repaginar conceitos de Batman: O Retorno, mas sem a alcunha de Selina Kyle, sem Gotham, sem Batman 3 e principalmente, sem identidade. O estranho é que pouco tempo antes, em 2001 estreava A Última Ceia, longa que deu a Berry um oscar por sua atuação. Aparentemente a premiação não garantiu a ela um maior crivo na hora de escolher os produtos dos quais faria parte, até porque em 2002 ela co protagonizou  007: Um Novo Dia Para Morrer, com chances de ganhar um spin off onde sua personagem Jynx teria o papel principal. O resultado todos sabemos, críticas bastante negativas e um novo reboot em Cassino Royale, com outro ator e nada de spin off.

    Berry foi originalmente pensada para interpretar Selina Kyle no jamais feito Batman: Year One cancelado de Darren Aronofsky, inclusive quando a produção ficou parada em 2003, rumores indicavam que poderiam reaproveitar Berry  em Batman Begins, mas isso não passou de um rumor, tanto que o longa de Pitof foi ao ar antes do de Christopher Nolan. Outro fato curioso é que Laeta Kalogridis foi uma das consultoras do roteiro não creditadas do filme, ela que em 2002  idealizou o seriado Bird of Prey, que aqui no Brasil ficou conhecido como Mulher Gato também.

    Há uma tentativa genuína de fazer um drama acontecer, Patience é maltratada por seu patrão, George Hedare (Lambert Wilson, o Merovingian de Matrix Reloaded), defendida mal e porcamente pela esposa do mesmo – que aliás, é substituída na função de modelo da empresa que ajudou a fundar –  ela é oprimida por seu vizinho. Seus problemas são mundanos e nenhum é gravíssimo. Ao tentar salvar um gato ela quase se mata, sendo salva por Tom Lone (Benjamin Bratt), um policial que virá seu interesse romântico. A maneira como esse momento é conduzido por Pitof é estranho demais, e talvez a ideia fosse ser essa uma menção a tentativa de suicídio, no entanto, não há peso dramático nisto, nem de longe, no entanto esse é só mais um equívoco, como a construção Sally (Alex Borstein), a amiga gordinha da heroína como alivio cômico/predadora sexual ou da construção supostamente fetichista da vigilante, que basicamente não possui cenas de ação e sim pretextos para rebolar de maneira artificial pelos prédios da cidade.

    Daniel Waters, roteirista de Batman O Retorno deveria processar os que escreveram esse, pois Patience se vê em situações idênticas a Selina do filme de Tim Burton, sendo perseguido após descobrir segredos de seus empregadores, ainda que neste as cenas sejam mais agressivas que no filme de 1992, seguida de uma cena onde ela encontra o gato que tentou salvar é outros tantos, e eles aparentemente deram uma nova vida ela. Os gatos de CGI eram artificiais, mas não tão feios quanto a Halle Berry digital que pulou na janela do apartamento de Phillips.

    Patience passa a agir como um felino, em uma performance física que beira o ridículo e que só causa mais estranheza que o jogo de basquete (em uma escola) entre a heroína e o policial em um desempenho demasiado erótico, agravado pelo fato de estarem no meio de crianças, em uma versão ainda mais inadequada que a cena do parquinho em Demolidor: O Homem Sem Medo. As ações já como vigilante se diferem demais da ladra que a personagem original era, aqui ela é apenas uma justiceira genérica, com cabelo curto e na moda, que pega algumas joias para si, entre uma cena com CGI artificial e outra.

    A cena em que a personagem muda o visual é péssima, uma tentativa de mostrar ela como uma mulher independente, mas que ainda assim é refém de clichês sexistas. Ela entende o poder que lhe é conferido, e para praticar sua ideia de justiça ela faz uma roupa toda rasgada na parte das pernas e bunda, para sensualizar e para constranger seu dublê, que na maioria das vezes, era um homem.

    Toda a trama envolvendo a vilã que Sharon Stone faz – Laurel Hedare, a tal esposa desprezada de George – é mostrada de maneira gratuita, mesmo que seus motivos de ciúmes sejam explícitos desde sua primeira cena. Impressionante como tanto ela quanto Patience parecem se inspirar em visuais recentes da apresentadora Ana Maria Braga para compor seus personagens, ainda que a global passe menos vergonha que as duas, mesmo com as inúmeras gafes que já cometeu no Mais Você.

    É dificil encontrar o principal culpado para uma obra que adapta quadrinhos de maneira tão pífia, e certamente este fica no mesmo hall de Liga Extraordinária, Spirit, Lanterna Verde, mas não tendo o mesmo tom humorístico involuntário como Nick Fury e Spawn tiveram, uma vez que é bastante irritante, e também consegue ser tão esquecível quanto as versões de Vampirella e Model By Day, que também tinha supostas femme fatales como protagonistas, além é claro de ser o responsável por Berry ter vencido um Framboesa de Ouro, premio que ela fez questão de buscar, além de ter sepultado praticamente os trabalhos em direção de Pitof, além de ter comprometido também carreira de Stone como atriz, sendo até hoje relembrada como a péssima vilã que viveu.

    A luta final é patética, mas feia até que a imagem que Stone tem após ser arranhada pelas garras da Mulher é Gato. A queda é tão mal feita quanto as tramas dos personagens secundários que se fecham. A personagem que deveria soar como uma praticante de bondage fecha seu filme solo com uma figura patética e incapaz de controlar até simples atos, não atingindo o tal ápice físico que sempre foi a marca da personagem, além disso, a ideia de que um produto de beleza revolucionário que ao longo do tempo causa em quem usa a possibilidade de morrer estar prestes a entrar no mercado é complexo demais para a produção tão porca quanto é esta, que não consegue dar qualquer dimensão mais épica aos fatos  que ocorrem aqui.

    https://www.youtube.com/watch?v=SbfeJC1xfSc

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Critica | Aço

    Critica | Aço

    O personagem dos quadrinhos criado por Louise SimonsonJon Bogdanove é levado às telas de cinema, interpretado pelo jogador de basquete Shaquille O’Neal, Aço começa mostrando o fogo forjando um objeto, provavelmente a belíssima armadura que o personagem John Henry Irons usaria quando decidiria se tornar um vigilante. No longa, o personagem é mostrado como um militar que se revolta com seus superiores após o uso de uma arma poderosa, que em seu teste, acerta sua amiga, Sparks (Annabeth Gish). Aqui se nota a séria intenção do longa em se demonstrar antibélico. Uma série de acontecimentos estranhos ocorrem em torno de John e ele sempre se safa desses problemas com total facilidade, ele sequer precisa ter poderes, pois seu tamanho o faz ser mais forte que os homens normais.

    O grande e grave problema é que o filme apesar de se levar a sério, não consegue dentro do roteiro do diretor Kenneth Johnson ter organização o suficiente para de maneira séria, explicar as reviravoltas que lá ocorrem. As invasões na base militar são feitas de maneira exagerada, caricata e não fica claro a intenção dos vilões e como eles chegaram até ali. As perseguições causam todos,assim como o desempenho de Shaq como herói de ação, o elenco é engraçado, mas de modo involuntário e as piadas de humor físico são vergonhosas.

    Assistir hoje o filme é engraçado, há um vilão negro e careca , que lembra muito o Nick Fury de Samuel L. Jackson, além do que esse filme também lembra a versão de Nick Fury feita um ano depois. A trilha sonora é repleta de música soul, em um efeito parecido com o que Pantera Negra fez com o rap, mas até isso é mal encaixado.

    Como não usava a figura do Superman, a motivação heroica do personagem fica um pouco confusa, aliás praticamente não há menção ao kriptoniano, exceto por uma tatuagem no braço do personagem, semelhante a que Bon Jovi tem. O vigilante usa sua armadura quase na metade do filme, passados 45 minutos de duração, e os momentos que ele luta com os bandidos latinos e outros marginais são péssimos visualmente, cheio de piadas ruins, além de gratuito no uso de estereótipos. A parte em que usa um imã é completamente patética, é faz sentir saudades do filme da Supergirl de Helen Slater.

    É tudo muito tosco, a tentativa de emular a música de John Williams famosa por Superman: O Filme é ridícula, assim como a movimentação de Shaq com roupa, tem um momento que ele está em cima de um prédio e levanta os pés para não tropeçar em canos e a torcida geral certamente é para que ele tropeçasse. Além disso, há uma cena em específico que ele pega um gancho e sobe bem alto onde se nota um dublê com pele visivelmente mais clara, arrisco dizer que o sujeito era até branco pois não tive coragem de voltar a cena para ver.

    A roupa de herói lembra um pouco os trajes usados nos filmes das Tartarugas Ninjas dos anos 90 e na série Robocop: Prime Directivas, e Shaq não convence em nenhuma cena como herói de ação. A SWAT invade a casa de Irons, e ocorre uma péssima piada com um bolo solado, aparentemente John sempre atrapalha sua avó solando seus bolos. Ao ser preso o povo se recusa a reconhecê-lo, o que incorre em duas situações , a primeira, o povo o reconhece como defensor da justiça mesmo sem motivos e o segundo se refere ao fato de que não seria difícil identificar Irons, pois ele é um gigante.

    Os personagens periféricos também são péssimos, o tio Joe (Richard Roundtree, que foi o John Shaf original), o irmão de Irons, Até Sparks faz vergonha ao lançar mísseis de sua cadeira de rodas, como uma versão motherfucker da Oráculo. Antes de terminar há uma piada infame, onde John Henry tem que lançar uma granada por um buraco e ele diz que é ruim de arremessos, em uma tentativa tola de fazer uma crítica a quem criticava a dificuldade do jogador em acertar arremessos livres e cestas de três pontos. Esse é só um dos equívocos terríveis do filme, que entre todos os problemas, tem o menor deles na ausência do Superman, conseguindo ser pífio independente até disso.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica | Como Treinar o Seu Dragão

    Crítica | Como Treinar o Seu Dragão

    Baseado livremente nos livros de Cressida Cowell, Como Treinar Seu Dragão é o primeiro filme de uma cine serie, dirigido por Dean DeBlois, Chris Sanders era a aposta da Dreamworks para competir na última década com os filmes da Disney e Pixar. A base da historia é mitologia e iconografia viking, onde o jovem Spantosicus Strondus III ou simplesmente Soluço (Jay Baruchel no original e no Brasil dublado por Gustavo Pereira) sonha em ganhar fama em sua aldeia, achando que o caminho mais fácil para isso seria matando um dragão, seres esses que atormentam o lugar onde moram, o problema é que ele não leva o menor jeito para isso, mesmo sendo filho de uma lenda, Stoico, o Imenso (Gerard Butler e na versão nacional Mauro Ramos) que e líder de Berk e um dos guerreiros mais ativos da aldeia.

    A tradição dos Berk é de caçar dragões, e Soluço quer se tornar um bom caçador, mas ele além de não conseguir, é julgado por seu pai como frágil demais para conseguir tal feito. Ele monta uma armadilha e encontra lá um dragão negro, belo, e machucado, mas não tem coragem de matá-lo e dali começa uma estranha parceria, tão boa que o menino passa a usar os ensinamentos do dragão para ludibriar os outros monstros no treinamento comum.

    Soluço passa a adestrar a besta, de maneira escondida obviamente, pois seria proibido. Astrid (America Ferrera e no Brasil por Luisa Palomanes), a menina por quem ele é apaixonado começa a suspeitar, mas o mundo dos adultos pouco se importa com isso. A questão é que as diferenças entre gerações são mostradas não só nos interesses mas no comportamento entre pais e filhos. Soluço é um menino que se sente desprezado por todos, sobretudo por seu pai, e ele encontra em uma figura controversa um alento, alguém com quem pode ser sentimental apesar do óbvio aspecto selvagem e o fato dele esconder essa relação pode ser encarado como um paralelo com diversos aspectos de discussões mais adultas, como segregação de diferentes.

    Os aspectos visuais do filme são muito bem explorados, o lar dos dragões tem um vermelho muito vivido e  uma quantidade enorme dos monstros voadores circulando em torno da rainha, que os explora. Sem panfletar ou sem necessidade de lacrar o roteiro de DeBlois, Sanders e Will Davies mostra como uma casta explora outra e o quanto seres de discursos e linguagens diferentes mal julgam uns aos outros, isso tudo fortificado pela amizade de Soluço e Banguela.

    O destaque de Soluço diante dos treinamentos não ocorre porque ele é ótimo em batalhas como seu pai, e sim porque ele, uma criança, tem uma compreensão mais madura e adulta que os velhos aldeões e caçadores, entendendo finalmente que a relação ideal entre os repteis alados e os homens, e mesmo após ele conseguir conter  os dragões, observado por seu pai e pelos outros anciões, a teimosia predatória dos guerreiros humanos segue, em mais um esforço tolo que visa provar a masculinidade tóxica dos personagens que se acham heroicos.

    Pai e filho tem um discurso alinhado no final, ainda que não aconteça isso sem sacrifícios e sem  a ressignificação revisionista da relação entre homens e dragões, tudo bem que os animais se tornam pets, mas ao menos deixaram de ser objetos de caça de ódio, para receberem carinho a gratidão dos meninos e meninas, que claramente são mais exímios com os animais. Como Treinar Seu Dragão é uma animação simples, de excelência gráfica e com uma historia que desmonta paradigmas como foi nos sucessos maiores da Dreamworks, FormiguinhaZ, Shrek e Megamente, e ainda deu vazão a uma franquia que se preocupa em trazer boas historias, para muito alem do dever de só vender bonecos.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.
  • Crítica | A Mula

    Crítica | A Mula

    Clint Eastwood tem sido um diretor cujas obras recentes são bastante criticadas. 15h17: Trem Para Paris figurou em boa parte da lista de piores filmes de 2018, Sully foi considerado puramente um filme de herói dos Estados Unidos enquanto Sniper Americano virou motivo de piada sobretudo pela cena do boneco. Em A Mula o diretor retorna as origens, se coloca como o personagem principal, Earl Stone, um velho homem cuja vida pessoal e familiar é uma bagunça e que viu a oportunidade de mudar sua rotina ao se tornar entregador de um produto para bandidos.

    O roteiro de Nick Schenk é baseado em um artigo de autoria de Sam Dolnick, e começa sua historia em um momento chave da vida de Earl, onde sua filha, Iris (interpretada por Alison Eastwood, filha do cineasta) está casando pela segunda vez. Como manda a tradição, ele deveria entrar com ela, mas como há uma premiação dos melhores lírios da região de Illinois e como ele as cultiva, ele perde todo seu tempo no evento e no pós evento. Logo a linha temporal vai para alguns anos no futuro, onde sua neta Ginny (Taissa Farmiga) irá casar, e caberia a ele pagar as bebidas, mas ele está falido, por não se adaptar a tempos com a internet.

    Os dois momentos temporais tem algo em comum, o carisma e extrema gaiatice de Earl. Por mais que ele seja um pai / avô / marido ausente é impossível não simpatizar por ele, pois é engraçado, descolado, galanteador e cavalheiro. A idade avançada do personagem e de seu interprete não o impedem de atrair a atenção das mulheres, seja com galanteio ou com o dinheiro que oferece a elas, e seu modo de agir bon vivant o ajuda a prosperar dentro do novo negócio que empreende, mesmo que a chegada a esse ponto tenha ocorrido de maneira inesperada.

    Há alguns exageros na transposição dessa jornada, e em alguns pontos o crescimento do personagem dentro da organização a que ele serve soa irreal, mas tudo isso é driblado facilmente pela persona do protagonista e por seu modo de levar a vida. Seus pretensos opositores, seja o chefe do tráfico de drogas mexicano Julio (Ignacio Serricchio) ou o detetive do FBI Colin (Bradley Cooper) conseguem ambos serem enrolados por ele. A experiência do senhor é posta a prova a todo instante e se excluir os momentos finais, praticamente não há falhas no seu modo de convencer as pessoas.

    A obra de Eastwood é engraçada e dramática, harmoniza bem esses dois aspectos além de conseguir tocar em temáticas de suspense, Thriller e até de Road Movies. A direção de Clint é econômica e emocional, fazendo lembrar os melhores momentos de As Pontes de Madison, fundamentando isso com um personagem principal com carisma digno de Gran Torino e Dirty Harry, simples, direto, bonachão e muito querido.

    No entanto, A Mula não é uma comédia, tampouco deixa de levar a sério os assuntos espinhosos que levanta. Toda a questão parental dos Stones é muitíssimo bem construída, em especial quando Mary (Dianne Wiest) está em cena, pois ela consegue expressar bem o amargor de uma mulher a muito abandonada mas que também guarda alguns dos sentimentos da época em que eram um casal, principalmente nos momentos finais desta. O filme poderia ter caído facilmente sobre uma abordagem piegas, mas foge dessa pecha da maneira extremamente elegante. A duração de todo o drama e o ritmo cadenciado faz com que este seja o mais notável e equilibrado da filmografia recente do realizador, certamente um bom momento que faz lembrar do seu auge com Os Imperdoáveis e outras obras de qualidade indiscutível, embora o filme não tenha vergonha em se assumir como não grandioso.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.
  • Crítica | We The Animals

    Crítica | We The Animals

    Na mais rasa das investigações acerca do cinema, a identificação ainda aparece como força motora de nosso engajamento. Aos 20 minutos de We The Animals eu já sabia que esse seria um texto diferente para mim, talvez seja assim para muita gente que se proponha a escrever sobre ele. O filme trata da infância de uma maneira que se dificilmente você não se identifica, pelo menos te toca, sutilmente, no espaço do peito que escondemos a inocência já perdida de ser criança, o diretor Jeremiah Zagar não constrói um filme de respostas ou decisões fáceis, ele entende que a questão aqui é experimentar e observar mesmo que tudo seja novo e estranho.

    Pelos olhos do filho menor de um conturbado casal, acompanhamos três irmãos de idades muito próximas que precisam lidar com amadurecimentos súbitos e as constantes brigas entre seus pais. Em meio a agressões, fugas, brincadeiras e descobertas sexuais, o pequeno Jonah (Evan Rosado) compartilha seus pensamentos mais íntimos e puros.

    O personagem de Rosado nos permite ter acesso a um espectro da infância muito palpável, ele convive com uma mãe doente sem entender o que a faz estar mal e observa seus irmãos mais velhos crescerem sem compreender muito bem o que é isso. Constantemente ele é lembrado que sua pele é mais escura do que a de algumas pessoas e que tem gente igual a ele, mas Jonah não sabe o que isso significa. Seu colega, um rapaz mais velho, desperta faíscas estranhas que ele também não conhece. E ser criança não acaba sendo estar em um mundo á parte? As respostas não são claras e as informações são nebulosas enquanto as cores vibram, vibram até nos mais rabiscados dos desenhos.

    O menino foge do mundo real enquanto rabisca o que tá dentro da tua cabeça, e assumindo que estamos tendo a perspectiva de seu mundo, a cinematografia de We The Animals acerta muito pela forma, as luzes sempre remetem a sonhos presos entre a realidade e a uma fantasia muito particular. E mesmo que o filme possa parecer estilo por estilo, Zagar nunca deixa a narrativa cair nesse espaço do gratuito, porque o elenco é dirigido com naturalidade e muita verdade, os diálogos e os planos são desmembrados suavemente para dar ao longa uma aura quase documental.

    É um texto diferente porque acredito que o longa, particularmente, atinja cada pessoa das mais variadas profundidades, nas sutilezas me identifiquei com Jonah e me recordei da época que li O Oceano no Fim do Caminho, de Neil Gaiman, em uma cena específica a criança protagonista do livro testemunha uma cena que ela não compreende o que está acontecendo, mas sente que algo está errado, algo no ar a faz deduzir isso. Eu era um pouco mais velho do que a personagem do livro e já sabia o que aquela cena significava, e tudo dentro de mim era empatia. Zagar sabe o que está fazendo quando em um filme como esse, ele cria pontes de identificação tão poderosas que raiva e amor em uma família coexistem de forma convincente aos nossos olhos, e tudo que existe dentro da gente no fim do longa é empatia, porque nas diferentes relações isso acaba se comunicando com todos nós.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

  • Crítica | A Queda! As Últimas Horas de Hitler

    Crítica | A Queda! As Últimas Horas de Hitler

    No ano de 2004, chegava aos cinemas mundiais o filme A Queda! As Últimas Horas de Hitler, longa de Oliver Hirschbiegel que tinha a difícil tarefa de retratar os momentos finais da trajetória do Fuhrer, da maneira mais fiel possível. Grande parte do êxito disso se dá pela interpretação de Bruno Ganz como o tirano austríaco, onde o ator se dedica de maneira visceral ao papel, sendo parecido não só em aparência mas também em trejeitos e comportamento. Depois de um intenso trabalho de pesquisa com vídeos da época e com relatos de quem esteve próximo do político ele chegou ao ideal visto em tela.

    A historia é narrada pelos olhos de Traudl Junge (Alexandra Maria Lara), uma mulher que recém assumiu como secretária de Hitler. Há uma construção de normalidade politica no inicio, que faz o filme soar até moroso de tão lento que é, mas isso é extremamente necessário, pois a ideia de mostrar os bastidores  de como era o principal país do Eixo.

    Uma grave situação envolve o médico e oficial Prof. Ernst-Günther Schenck, que é interpretado por Christian Berkel. Sua inserção na trama se dá quando os militares estão se livrando das provas documentais, fazendo uma bagunça nas partes internas dos quartéis se livrando de papelada para queimá-las atrapalhando obviamente todo o trabalho de manutenção de mantimentos das tropas. Os soldados ficariam sem suprimentos, sem comida e essa preocupação foi dita por Schenck, que vai falar com outro oficial da parte operacional. A condição de não ter comida não era uma preocupação do partido nazista e de suas lideranças, e por mais explicito e didático que o roteiro de Bernd Eichinger seja nesse quesito, é um ponto importante de ser levantado, afinal, deflagra a total falta de compromisso com as tropas, e com os civis, pois os soldados certamente roubariam a comida destes para não padecerem de fome.

    O visual do filme se vale de uma cenografia e fotografia onde predominam tons mais claros, que facilitam a visualização de toda a grandiosidade visual que o Terceiro Reich tentava imprimir no detalhes de sua arquitetura e na construção do visual de seus líderes. Chega a ser irônico o contraste entre toda esse verniz que foi jogado em cima dos líderes nazistas com os ambientes mal acabados dos corredores dos bunkers, que obviamente não tinham o mesmo cuidado em serem construídos, pois eram abrigos de emergência.

    O contraste entre a alegria de Eva Braun (Juliane Köhler), dançando mesmo ao ter a noticia de que a Alemanha poderia cair e os  bombardeios que acontecem minutos depois as bases onde o exercito alemão está é impressionante. Não acontecem mortes gráficas, como nos filmes dirigidos por Mel Gibson, mas há apego a realidade o suficiente para que o espectador sinta que a situação é de calamidade.

    Adolf se sente sempre traído e injustiçado. Os soldados que desistem são chamados por eles de covardes e traidores da pátria o que demonstra mais uma vez o total distanciamento dele com relação as tropas e o desapego ao bem estar do povo, não só o civil como visto anteriormente, mas também aos alistados. Essa alienação e indecência moral é muito vista em lideranças autoritárias que emergiram recentemente e é catastrófico o rumo histórico que os países tomam, elevando figuras semelhantes a essa versão que normalmente sobre ao poder utilizando um discurso completamente inverso a isto, com foco no combate a corrupção e primando por caça a minorias.

    A Queda termina de maneira melancólica obviamente, dando o destino de cada um dos personagens que o publico acompanhou pelos quase 150 minutos de duração, mostrando a personagem que foi entrevistada para fazer o filme declarando que apesar de lamentar pelo numero absurdo de mortes que ocorreram na época, não poderia se sentir responsável por aquilo, dada a natureza burocrática de seus serviços, e isto é bastante simbólico, pois reflete o pensamento e o argumento geral de quem esteve ao lado do poder enquanto os governos tirânicos ocorriam, onde normalmente ocorria a ignorância aos fatos óbvios e aos acontecimentos nefastos praticados pelo poder em si, e apesar da linguagem visual se assemelhar demais aos especiais de televisão, a mensagem do roteiro é muito bem transmitida.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.
  • Critica | Polar

    Critica | Polar

    Filme original Netflix, Polar conta a história de um assassino aposentado, um sujeito implacável que só quer ser deixado em paz, mas que ainda aceita alguns poucos trabalhos. A história que Jonas Akerlund conta começa com um grupo de assassinos de aluguel, formado por Sindy (Ruby O. Fee), Karl (Robert Maillet), Facundo (Anthony Grant), Alexei (Josh Cruddas), Hilde (Fei Ren) assassinando Johnny Knoxville, que faz o personagem Michael Green, cujo pecado foi estar velho e ter tomado a decisão de se aposentar.

    Não demora a aparecer Duncan Vizla, o Black Kaiser, que é interpretado por Mads Mikkelsen, que se consulta com um médico para ver se ainda está bem. Antes mesmo do lançamento, muitos comparavam este filme com De Volta ao Jogo é John Wick: Um Novo Dia Para Matar por conta das semelhanças narrativas, como se não houvessem obras anteriores com a mesma premissa – Busca Implacável e Marcas da Violência por exemplo – e até posteriores, que inclusive tem o mesmo estilo de filmagem, mais parecidas que essa, caso de Atômica e A Justiceira com Jennifer Garner.

    Outra grave diferença entre este e a criação de David Leitch e Chad Stahelski é a diferença de tom enquanto um emula a estética de revistas em quadrinhos adultos como Cem Balas, Polar tem um tom parodial é quase cartunesco, em alguns pontos lembra as cores gritantes do filme de Warren Beatty Dick Tracy, que também adapta quadrinhos. Essa violência extrema também está no material original que Victor Santos lançou pela Dark Horse, mas claramente Akerlund gosta de referenciar outras adaptações de quadrinhos para a sétima arte.

    Tudo no roteiro de Jayson Rothwell é tão irreal que é impossível se levar a sério. Mesmo quando retratam a vida de uma prostituta que Duncan se relaciona se nota um enorme exagero, pois ela atende em casa, com o filho tendo livre acesso ao quarto onde ela faz sexo e ela vai colocar ele na cama após transar e sem roupa. A intenção é ser engraçado mesmo, tanto que quando a violência é mostrada, sobretudo com os quatro assassinos do esquadrão, é sempre tão artificial que o impacto do sangue jorrando é perdido, se assemelhando de certa forma aos desenhos Looney Tunes, Pica Pau, Tom e Jerry, quase como um Comichão e Coçadinha live action, lembrando um pouco o filme com Clive Owen Mandando Bala, de 2007.

    Ao menos no quesito mortes, o filme acerta demais, e ele não tem dó em descartar personagens secundários cedo, mesmo os mais cools entre eles. A questão é que algumas subtramas fazem pouco ou nenhum sentido diante da galhofa que o filme se torna, e após uma hora de filme há claramente uma barriga, que prejudica muito o filme, tornando ele enfadonho. Quase tudo que envolve a tortura de Blut (Matt Lucas) e o acréscimo de Camille (Vanessa Hudgens) é fraco, não soando tão divertido quanto o restante, e as curvas finais tem esse mesmo tom. Até há possibilidades e abertura para ocorrer continuações  a partir daqui, mas Polar é divertido na maior parte do seu tempo, e se uma sequência seguir no mesmo ritmo deste final, certamente será algo pouco memorável.

    Facebook –Página e Grupo | TwitterInstagram.
  • Critica | El Mariachi

    Critica | El Mariachi

    Muitas lendas envolvem a feitoria do filme de “estreia” de Robert Rodríguez, El Mariachi, e sua presença na cultura pop que abriu não só as portas para seu diretor e autor, como trouxe também duas continuações e uma novela no México. As primeiras cenas do longa são quase artesanais, onde a câmera passeia pelos cenários improvisados, dando um ar de sofisticação ao elenco de atores amadores e ressignificando o que poderia ser apenas uma cena de abertura de um filme b genérico.

    Não há muita novidade no inicio da historia, o combate entre forças, dentro de uma prisão com pessoas pobres enfrentando pessoas pobres a mando de uma magnata é uma trama velha como o mundo, tipica das series que passavam nas matinês nos cinemas, alem de reunir elementos básicos de filmes de western, sobretudo os italianos de Sergio Leone e Gianfranco Parolini, emulando os ângulos de câmera dessa escola.

    Dois herois do bang bang a italiana, Sabata- O Justiceiro, dirigido por Parolini e interpretado por Lee Van Cleef, que acompanha um homem ja idoso que faz justiça com as próprias mãos em troca de recompensas, e claro, o Django, criação de Sergio Corbucci (que dedicaria sua carreira a fazer filmes de faroestes sobre o México no oeste selvagem) e interpretado por Franco Nero. Django carregava um misterioso caixão que escondia um caixão, assim como ocorre com o Mariachi de Carlos Gallardo, que carrega um case de violão, que em.determinado ponto da trama, deixa de ser o receptáculo de seu instrumento para guardar as mensageiras da morte: as armas.

    Se estabelece no começo uma rivalidade entre Mauricio Moco (Peter Marquadt) o poderoso bandido, e Azul (Reinol Martinez), com o segundo correndo atrás do primeiro, deixando um rastro de sangue com os fluidos dos capangas. A trilha de homocídios vai piorando com o tempo, e os caminhos de Azul e do violeiro são confundidos, tudo por conta da caixa instrumental.

    Os elementos visuais se misturam de modo curioso, a começar pela figura da tartaruga na estrada, que vive no imaginário do musicista apos cruzar com ele no asfalto quente, sendo esse o primeiro dos sinais oníricos e meio fantasiosos dele, e o segundo o modo meio novelesco com que as cenas são conduzidas por Rodriguez. Os movimentos de câmera são muito rápidos e acompanhados de gritos dão fazem variar as sensações, entre desespero, receio da morte e total impotência de quem não habita o cenário do crime, por perceber-se fraco e incompetente diante das forças criminosas.

    Os momentos mais ricos do filme são os oníricos, onde o Mariachi tem visões com crianças e presságios de que a morte se aproxima. A confusão que acontece entre ele a identidade de Azul faz ele despertar o conjunto de habilidades até então desconhecidos, ou talvez ele ja tivesse habilidade de fuga impar, de qualquer forma ele parece ser predestinado a algo maior, e mesmo acontecimentos básicos, como quando conhece a bela Dominó (Consuelo Gómez) parecem capitulos importantes da jornada de um heroi que não pediu para ser assim.

    Chega a ser engraçado o modo como Azul vive, seus esconderijos não possuem luxos, as camas são apenas colchões largados no chão, e ele dorme com três mulheres ao mesmo tempo. O roteiro se vale de muitos atalhos para mostrar o caráter de seus personagens. Mesmo Moco, um homem abastado só tem mostrado o lado externo de sua mansão, com uma pequena piscina, onde uma bela mulher de biquíni serve seus drinques, tudo isso fruto do baixo orçamento que Rodriguez tinha para fazer sua obra. Nao falta inventividade ao contar sua historia.

    Os figurinos claramente são dos interpretes – ou pensados para parecerem – e as cenas das pessoas pegando o telefone e mostradas de maneira acelerada dão um charme artesanal ao filme, que fortifica a ideia de que os maiores e mais indiscutíveis méritos do longa são de seu realizado.

    A estrutura do roteiro brinca demais com a completa falta de talento de seus personagens para manterem-se vivos. Toda a cartilha do bom herói é rasgada, o Mariachi é um acéfalo, um burro com sorte que sempre sai a rua despreparado, Dominó não sabe agir como garota refém subvertendo o clichê inclusive, Azul não é sutil e não consegue jamais deixar de parecer ameaçador, os capangas são burros e Moco é o chefão do crime mais telegrafado possível, tão inconveniente e inconsequente que usa as pessoas para riscar seus fósforos que acendem seus cigarros.

    O combate final lembra os momentos finais do Scarface de Brian de Palma, e seriam reprisados não só nas continuações mas também em outros filmes de Rodriguez, como Machete, claro, com outras ressignificações. Antes do protagonista reaparecer há uma demonstração cabal das diferenças morais entre Moco e Azul, com um mostrando ter coração e no outro restando apenas um autoritarismo baseado em nada.

    A cidade que parecia trazer sorte a ele trouxe só azar e agouro, o final trágico de El Mariachi marca a rotina do personagem-titulo de maneira irreparável, mudando toda a.l configuração de seus futuros trabalhos como musico, causando sacrifícios em seu coração e mudando o que seria seu caráter apos todos os acontecimentos. É discutível o que teria atraído o que, se o drama acompanhou o baladeiro ou se o imã era essa historia dignas das serestas feitas pelas bandas mexicanas, uma vez que todas as pessoas tiveram suas vidas radicalmente modificadas, inclusive o exercito de Moco, que se mostrou nada grato as ordens terríveis a que se submetiam. Mesmo em seus moralismos bobos Rodriguez acerta, fazendo desse um conto moderno sobre a vida e a morte, sem deixar as tradições de seu próprio povo de lado.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.
  • Crítica | Supergirl

    Crítica | Supergirl

    Apenas um ano após o lançamento do vexaminoso Superman III, os produtores Ilya e Alexander Salkind levavam as telas de cinema um spin off, protagonizado por Helen Slater e dirigido por Jeannot Szwarc. A Supergirl de 1984 contém semelhanças em sua abertura com a versão de 1978 de Superman, ainda que tenha uma apresentação mais colorida,  mais voltado para o que os produtores achavam ser comum para o público feminino, primando por tons rosas. A construção do passado de Kara Zor-El é mais pautada em alguns poucos uma ambientação mágica, onde habitam os remanescentes do planeta extinto, na cidade de Argo.

    O missão de Kara envolve um mentor estranho, Zaltar, interpretado pelo veterano Peter O’Toole, que tem em seu comportamento algumas ideias bastante contraditórias, a respeito de enviar a moça em uma missão a Terra, lançando no espaço, em direção ao planeta onde não só seu primo está como tambem um artefato, chamado Omegahedron. O objetivo da moça é recupera-lo que deveria, pois ele caiu em mãos erradas, ficando em posse da bruxa moderna Selena (Faye Dunaway), que tenciona dominar a terra com esse poder.

    Ilya Salkind consegue produzir um longa estranho em essência, que começa pela chegada personagem ao planeta já trajada como heroína, sem qualquer preparação ou algo que o valha, seguida de cenas de voo terrivelmente mal feitas, com fundo verde mais vagabundo possível, com erros de escala assustadores entre a figura em movimento e o cenário fixo. Algumas referências interessantes são notadas, como a cidade engarrafada de Kandor, mas só há menção, nenhuma exploração o tema é feita o que é lastimável, já que isto poderia fazer enriquecer a trama.

    A direção de Szwarc é curiosa, e até tenta ousar. Sua experiência com seriados televisivos como Galeria do Terror e a versão oitentista de Alem da Imaginação o credencia a montar um cenário sci-fi para sua versão do mito kriptoniano. O roteiro de David Odell é confuso em sua confecção, apresentando uma personagem solitária, já experimentada, na fase da puberdade, que necessita encontrar companhia em uma escola, sem qualquer quantia em dinheiro para pagar seus estudos ou necessidade prévia de convívio com outros adolescentes. Não faz qualquer sentido a construção em volta de identidade de Linda Lee, a não ser forçar uma ligação emocional com o público alvo feminino.

    O romance ocorrido entre a protagonista e Ethan (Hart Bochner) surge sem qualquer plausibilidade. Os arcos dramáticos do longa são movidos por um tipo estranho de magia, que pouco tem a ver tanto com as histórias em quadrinhos de Kara Zor El quanto com os filmes anteriores da franquia Super. O resultado final é um produto confuso, com uma crise de identidade tremenda e que não conseguiu se valer em quase nada dos filmes clássicos do Superman, resultando em um fracasso de  bilheteria, arrecadando menos de metade de seu orçamento e não à toa, pois a mistura dos elementos heroicos com magia simplesmente não funcionam.

    Facebook –Página e Grupo | TwitterInstagram.

  • Crítica | A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça

    Crítica | A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça

    O brasão dos Van Garrett é o primeiro objeto que aparece no filme que Tim Burton conduziu em 1999, o mais gore, violento e mais repleto de elementos de terror de sua filmografia. Antes mesmo de qualquer fato, ele se auto referencia, mostrando um espantalho com cabeça de abobora assistindo um brutal assassinato por meio de decapitação. A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça reúne elementos dos curtas do diretor, um bocado de Edward Mãos de Tesoura não só por conta de seu protagonista também ser Jonny Depp, mas também por perverter historias clássicas que tem elementos de Contos de Fadas.

    Depp vive investigador Ichabod Crane, que em 1799 é enviado ao condado bucólico de Sleepy Hollow (que também é o nome original do filme), para desvendar uma série de assassinatos estranhos. Lá, ele se depara com uma justiça morosa e pouco disposta a resolver a questão dos assssinatos. Já nesse inicio se nota uma direção de arte muito bem conduzida por Rick Heinrichs, que remonta muito bem o século XXVIII, além de uma fotografia de Emmanuel Lubezki que mira muito em tons acinzentados, ajudando a produzir no espectador uma expectativa de podridão em relação as pessoas que aparecerão no roteiro de Andrew Kevin Walker. Fora Crane, não há muito por quem torcer, nem mesmo para a mocinha.

    A musica de Danny Elfman também ajuda a estabelecer que aquela historia não é algo comum, e a abordagem barroca de Burton é ainda mais utilizada aqui, não só nas relações entre personagens, mas também no tom pessimista. Há a óbvia reverencia do cineasta aos filmes da Hammer, seja na escolha de personagens coadjuvante como Christopher Lee, assim como o modo de retratar as mulheres, com espartilhos e decotes super generosos, como eram as vampiras que cercavam o Drácula de Lee, ou as mulheres que viviam na época das cavernas, ou os penteados e perucas dos homens, com madeixas descuidadas e que parecem não serem lavadas nunca ou quase nunca.

    A figura do Mercenário/Cavaleiro sem cabeça é muito bem montada, seja nos flashbacks de 79 onde Christopher Walken aparece como um assassino assustador de dentes afiados manualmente só para parecer mais feio, ou na boca dos cidadãos supersticiosos que tem medo só de lembrar de sues feitos. A sensação de estar se assistindo uma historia mitológica já é estabelecida independente até quaisquer palavras, o visual diz por si só, assim como todo o misticismo dos habitantes do local.

    Toda a violência retida nos filmes do Batman e nos seus demais filmes pode finalmente ter vazão, finalmente podem ser postas em prática e a mistura de elementos faz muito bem ao filme. O ceticismo aberto do personagem principal, a beleza angelical unida a teimosia da mocinha Katrina Van Tassel de Cristina Ricci, o passado lúdico de Crane envolvendo sua bela mãe, os elementos de feitiçaria, ate o desempenho de Ray Park como o cavaleiro, tudo flui em uma harmonia única, e isso tudo é conduzido pelo caráter detetivesco de Ichabod, que faz as vezes de Sherlock Holmes mais covarde em alguns pontos.

    A cena em que Crane encontra uma bruxa, em que ela faz um movimento cortando a cabeça de um morcego vivo é bem visceral. Alias, há uma referencia bem curiosa, na cena que a mãe  de Ichabod, interpretada por Lisa Marie Smith é mostrada morta, pendurada em um sarcófago de tortura,o objeto em si lembra muito o que Bruce Wayne utiliza para escorregar em Batman: o Retorno, com o detalhe de que os espinhos são recolhidos quando o Morcego tem de entrar na caverna, evidentemente.

    O fato da vilã contar todo o seu plano é obviamente algo clichê e previsível, mas cabe muito bem dentro dessa historia que tenta remontar. Uma historia clássica precisa de bordões, e os engendrados em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça fazem o filme soar como um jovem clássico, que mesmo após vinte anos, ainda soa moderno, inteligente e bem construído, até seus exageros são charmosos e rivaliza com Ed Wood como o filme mais artístico e bonito de Burton, tendo a favor de si a força do seu final apoteótico e grotesco, que faz poetizar violentamente a obsessão do vingador decapitado, rumo ao inferno para onde ele já deveria estar há muito e não podia ir, já que era conjurado.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica |  Best F(r)iends: Volume 1

    Crítica | Best F(r)iends: Volume 1

    Após ter seu filme The Room redescoberto quando foi homenageado em O Artista do Desastre, Tommy Wiseau resolveu sair do ostracismo para voltar a atuar, com seu amigo Greg Sestero, em Best F(r)iends: Volume 1, filme de 2017 dirigido por Justin MacGregor. Dessa vez, o roteiro é de Sestero, mas ainda se percebe uma boa dose de contribuição autoral da parte de Tommy.

    O filme começa com John Kortina (Sestero) andando rumo ao nada, com uma placa onde se lê que ele precisa de dinheiro para comprar plutônio, a fim de conseguir mover sua máquina do tempo. Ele está com a barba por fazer e com a camisa branca que usa toda ensanguentada e não se sabe se aquilo é real ou não. Logo, o excêntrico Harvey Lewis (Wiseau) o encontra, e oferece a ela trabalho, no necrotério onde o mesmo cuida de mortos. As conversas dos dois não possuem sentido, Harvey acha que John tem envolvimento com ninjas e samurais e na maioria das vezes, o personagem de Sestero permanece em silêncio, se limitando a balançar a cabeça positivamente na maioria das vezes.

    Kortina é chamado por seu novo amigo de Ninja-Man, e ele guarda algum estranho segredo. Ele é visto bisbilhotando no frigorífico do necrotério, ao mesmo tempo, Lewis tem um estranho hobby, de fazer rostos de cera, copiando as feições dos vivos e principalmente dos mortos. Os dois começam a se envolver emocionalmente, de uma forma tão intensa que faz se perguntar se estariam apaixonados um pelo outro, como muito se perguntou a respeito do que existia entre os seus interpretes, mas logo o roteiro trata de arrumar um interesse romântico para o mais moço dos personagens.

    MacGregor conduz o longa de uma maneira estranha, em alguns pontos ele deixa o filme parecer mais sério e introspectivos, com uma trilha sonora instrumental contínua, que agrega a historia um bocado de mistério dado o quão é hermética, com outros momentos em que as discussões entre os personagens são extremamente fúteis e banais. De certa forma ele evolui o quadro de The Room, pois aparentemente tem uma trama que se importa em ser desenrolada de modo mais sério, ao passo que não abre mão dos muitos clichês, e revela as preferências artísticas de Sestero e Wiseau, com exposição de pôsteres de filmes e atores que ambos admiram, como James Dean, ator talentoso e adepto do método e com atuação completamente diferente da maneira que Sestero e Wiseau interpretam.

    O maior problema do filme mora no fato dele não ter qualquer conclusão,  desse modo não dá para entender direito qual é a intenção de roteirista e diretor ao trazer esse filme à tona, se é seguir o mesmo estilo de The Room com uma técnica mais sofisticada, mas sem deixar de lado o visual típico de produções baratas para a televisão, ou se é justificar um pouco da excentricidade de Wiseau e até de Sestero, uma vez que esse é um produto mais do segundo que do primeiro.

    Há momentos em que a fotografia – assinada pelo diretor, MacGregor, fato que o impediria de entrar para a maioria das premiações de sua época, uma vez que é proibido assinar mais de um aspecto de direção dos filmes – é muito bem empregada, variando bem entre externas e internas, sem perder a fluidez, e em outros, claramente o cineasta filma de maneira desleixada, provavelmente para combinar com o péssimo desempenho de seu elenco.

    O mistério deixado para o final é cretino em um nível absurdo, não há tempo de tela para desenvolver isso, e mais uma vez levanta a possibilidade de acontecer entre os personagens uma relação homo erótica, que é encerrada de maneira bem semelhante as novelas mexicanas e brasileiras, com direito até a uma enigmática cena pós credita que tenta referenciar – ou fazer piada, é bem confusa e perturbadora – aos produtos de David Lynch, soando quase tão hermético quanto, obviamente com toda essa estética diferenciada dos produtos de Sestero e Wiseau.

    Facebook –Página e Grupo | TwitterInstagram.
  • Crítica | Alita: Anjo de Combate

    Crítica | Alita: Anjo de Combate

    Pelos meados dos anos noventa, James Cameron pensou em adaptar A obra Gunnm ou Gun-Mu, de Yukito Kishiro, uma historia sobre uma adolescente encarnada em uma inteligência artificial capaz de matar qualquer pessoa. O tempo passou e entre as duas maiores bilheterias do cinema, Titanic e Avatar e Cameron passou um bom tempo sem dirigir produtos para o cinema, e graças a sua dedicação as continuações de Avatar, a adaptação de Alita: Anjo de Batalha recaiu sobre outro diretor, Robert Rodriguez, que é um cineasta de produtos mais autorais mas que também sabe fazer filmes que rendem bem. Cercado de expectativas, ele possui alto e baixos, mas não erra tanto quanto outras versões americanas de mangás.

    A historia da adolescente guerreira começa com a introdução de Ido, um doutor interpretado por Christoph Waltz que tem por costume consertar ciborgues. O cenário aqui é muito bem explorado, se explica bem como funcionam o sistema de castas dessa sociedade, com a elite vivendo no alto, em uma cidade flutuante, e a ralé vivendo em baixo. Os restos da ciborgue/androide são encontrados no lixão, como restos de Zalem, a tal moradia dos ricos, mas obviamente que ela é mais do que isso.

    A primeira hora do filme consegue dar vazão a toda a mitologia que Kishiro pensou, e embora hajam problemas sérios com as motivações dos personagens periféricos a protagonista, em especial Ido, que faz o mentor clichê que não tem qualquer firmeza como figura paterna (além de ter uma assistente que sempre está presente mas quase não profere palavras), de Hugo (Keen Johnson) que é o interesse romântico da personagem-título cuja vontade de ascender socialmente o faz um personagem confuso moralmente (além de oportunista), a interpretação de Rosa Salazar como Alita é bastante crível e verossímil, e conseguir atuar embaixo de muita maquiagem já é difícil, sendo uma boneca digital então é mais difícil ainda, e tanto visualmente quanto em espírito, Salazar consegue imprimir uma menina carismática, intrigante e que gera muito interesse no espectador não só sobre seu passado, mas também como ocorrerá o seu futuro.

    Há um pequeno problema de ritmo no filme, a segunda metade se dedica demais a construção do possível romance entre Alita e Hugo, e não há qualquer química entre os dois, talvez pela dificuldade de Johnson em lidar com um par digital, além disso, se dá muita vazão a alguns vilões bobos, como os personagens de Mahershala Ali (Vector) e Jennifer Connoly (Chiren), essa ultima, ao menos no final, consegue se redimir de certa forma.

    No entanto, toda a configuração tirada do mangá como a questão dos caçadores de recompensas que lidam com os ciborgues marginais e o esporte Motorball são exemplificadas de modo muito rico, e é nessa parte que se percebem semelhanças visuais com Jogador Nº1 de Steven Spielberg, filme recente que tem coincidências temáticas. De resto, há também referencias a Blade Runner e a continuação mais recente Blade Runner 2049, e a dúvida que pairava sobre Rodriguez conseguir lidar com computação gráfica de orçamento alto foram completamente sanadas, e o resultado é lindíssimo visualmente, muito por mérito da fotografia de Bill Pope, de Mogli: O Menino Lobo e Homem-Aranha.

    As cenas de ação são muito bem coreografadas, e por mais que perca tempo demais com os personagens periféricos e em draminhas fúteis, a construção da personagem de Alita é muito bem feita, ao menos no que tange a personagem não há muitas liberdades poéticas ou suavização de qualquer drama seu. Há uma possibilidade de  continuação em um dos confrontos finais, fator que preocupa, pois além do filme ser caro, em torno de 200 milhões, os vilões são péssimos, em especial o visual de Nova, feito por Edward Norton que está irreconhecível no papel. Mesmo não tendo uma execução tão divertida quanto no mangá, Alita: Anjo de Combate acerta mais do que erra, e talvez seja a adaptação Hollywood mais fiel  ao material original e que consegue imprimir melhor o caráter da arte japonesa, embora obviamente não seja tão complexa em temática e reflexão.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.
  • Crítica | Guerra Fria

    Crítica | Guerra Fria

    De  Pawel Pawlikowski, diretor polonês, Guerra Fria aborda a historia de um amor impossível, registrado sem cores para evocar o binarismo paranoico da época em que se debruça para contar seu drama. No decorrer do roteiro se percebe a arte como um ente bastante presente. A rotina do cantor Wiktor (Tomasz Kot) é acompanhada, e em meio a Polônia stalinista, ele procura uma voz feminina que combine com o trabalho que está montando.

    Nessa busca, ele se depara com a bela Zula (Joanna Kulig), e a partir daí começa um romance que não deveria ocorrer, dada não só a diferença de idade entre os dois, como a origem francesa da moça, vindo da Paris boêmia. O  romance dos dois se desenrola em doses graduais, escondido dos olhares de terceiros na maioria das vezes, mas quase sempre envolvendo festa suntuosas e bailes de gala.

    O roteiro de Janusz Glowacki e Pawlikowski mostra esses dois mundos distintos tentando conviver entre si. O conflito (ou quase conflito) entre forças capitalistas e soviéticas serve de pano de fundo mas praticamente não altera quase nada na rotina dos apaixonados. Os fatos que fazem seus corpos e corações se afastarem de vez em quando ocorrem por conta de seus próprios atos, e não por fatores externos.

    O filme tem pouco menos de noventa minutos, mas consegue explorar bem todos os estágios de uma relação romântica, mostrando desde o momento em que duas pessoas se apaixonam, passando pelas crises típicas de relações com duração alta. Guerra Fria é um filme com momentos muito bonitos, e que depende demais da atuação de seu elenco, sobretudo de Kulig, que faz uma personagem muito rica e apaixonante, mas carece de um senso de urgência, que não é suplantado sequer pela questão política que serve de base para seu enredo, terminando assim como um filme que não toca tanto o espectador.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.
  • Crítica | Poderia Me Perdoar?

    Crítica | Poderia Me Perdoar?

    Filme que entrou no circuito de premiações recentes, Poderia Me Perdoar? é uma cine biografia que mostra a vida e rotina triste de Lee Israel, uma escritora com claros problemas de relacionamento, que se vê em uma situação limite, sem dinheiro para sustentar a si e a sua gatinha já idosa, com a situação agravada quando logo no início ela perde seu emprego, sua atual e única fonte de renda.

    O longa dirigido por Marielle Heller – a mesma que fez o divertido Diário de Uma Adolescente – tem Melissa McCarthy no papel principal, fazendo uma pessoa de gênio forte, deprimida, com praticamente nenhum amigo e que sofre de uma sensação agorafóbica enorme, com uma clara dificuldade da mesma de ter convívio social.  Lee aparentemente escreve bem, mas sua inabilidade em lidar com qualquer pessoa a faz soar desinteressante não só para o convívio social, mas também para oportunidades profissionais, uma vez que sequer sua agente costuma recebe-la.

    Essa rotina é quebrada quando o personagem de Jack Hock (Richard E. Grant), um homem que durante sua juventude frequentou as altas rodas e que na atualidade da historia vive de pequenos delitos. O roteiro baseado no livro auto biográfico de Israel não é muito sutil, mas essa introdução dos personagens podem ludibriar o espectador, fazendo ele acreditar que o texto trata mal essa relação de Jack e Lee, fato é que essa é uma das poucas coisas no filme que funciona quase a perfeição.

    O inicio do drama de Israel é extremamente melodramático, para mostrar o quanto a personagem é mal compreendida McCarthy é obrigada a passar por muitos momentos constrangedores, onde uma porção de clichês aparecem para explicar o motivo dela ser mal vista por terceiros, construção essa típica de literatura em folhetins.

    A música de Nate Heller ajuda a maximizar o incomodo, ainda mais no início. A trama começa a se tornar mais suportável quando Lee cede a tentação de cometer pequenos  delitos para conseguir algum dinheiro para se sustentar. O começo dessa nova tentativa de lucrar é bem tímido, e ao menos nisso Heller acerta bastante, ao desenvolver de maneira gradual a escalada de coragem pela qual passa Israel, que vai ousando de acordo com o feedback que recebe. A questão é mesmo nos bons e emocionantes momentos se vê um moralismo exacerbado, com uma lição quase bíblica a ser entendida pela protagonista, de que um abismo chama outro abismo, e nada poderia ser mais avesso a vida e estilo de Lee Israel do que ensinamentos cristãos.

    Ao menos em um quesito o filme acerta demais, na construção do suspense e da tensão. Mesmo com um script repleto de problemas e buracos, o desempenho de McCarthy e Grant faz o espectador se pegar torcendo pelo sucesso dos personagens, mesmo sabendo que o que fazem é moralmente errado. É a performance dos dois atores que faz com que Poderiam Me Perdoar? seja um pouco mais tolerável, visto que o drama apresentado é apelativo e medíocre em sua exploração emocional.

    Facebook – Página e Grupo | TwitterInstagram | Spotify.
  • Crítica | Assassination Nation

    Crítica | Assassination Nation

    O cinema sempre buscou congelar o tempo em tela, mas quando se fala de agora, os tempos são rápidos demais e as tentativas caminham a passos curtos. Assassination Nation talvez tenha encontrado a fórmula de congelar esse mundo que tudo parte do click numa tecla Enter: não se congela. O longa que foi comprado em Sundance pela produtora dos Irmãos Russo – os diretores de Vingadores: Guerra Infinita -, é a segunda direção de Sam Levinson e atira para todo lado quando o assunto é alfinetar as feridas mal cuidadas do modo de vida norte-americano, mas não que as críticas parem ali no continente de cima, Assassination Nation acaba falando com todos nós, mesmo que de forma desordenada.

    Na cidade de Salem – em referência a histeria acerca das bruxas de Salem -, algumas autoridades começam a ter seus dados pessoais invadidos por um hacker e vazados na internet, mas o que inicia apenas com um político e o diretor da escola passa a atingir boa parte das pessoas da cidade. No colégio, Lily (Odessa Young) reage aos recentes acontecimentos com suas melhores amigas Bex (Hari Nef), Em (Abra) e Sarah (Suki Waterhouse) enquanto lida com seu péssimo namorado (Bill Skarsgard) e frequentemente envia fotos sensuais para o homem que ela nomeia de “Papai”. Não demora muito até que Lily se torne uma vítima dos vazamentos online e juntamente com suas amigas se vê no meio de uma onda de violência extrema que explode na cidade.

    Assassination Nation começa avisando do conteúdo que estamos prestes a ter acesso: homofobia, transfobia, estupro, violência e masculinidades frágeis estão entre os gatilhos que o filme promete, e isso é o primeiro indício que assim como o mundo virtual a narrativa se apoiará nos exageros. O longa se desenrola no primeiro ato em sequências estilizadas que parodiam a seriedade caricata dos filmes teen e por isso, em primeira instância, ganha a atenção do espectador mais engajado, mas também deixa claro que não é uma produção das mais comuns. A narrativa é frenética e como já citado nesse texto, Sam Levinson parece compreender bem o lugar disso em um filme sobre o poder da internet, uma cena atropela a outra enquanto plots e questões são vomitadas na sua cara como um feed do facebook.

    Nudez, vidas feitas de aparências, julgamentos rasos acarretados de comentários online, hipocrisia dos que estão no poder, violência gratuita, masculinidade frágil e armamento são algun mas das temáticas tocadas durante toda a experiência, mas indo para tantos lados que naturalmente Assassination Nation perde o peso. Tudo parece ser construído para complexidades que nunca chegam a acontecer, muitos desses temas permanecem unidimensionais até o fim, final esse que abusa do caricato e do discurso direto, onde está a maior parte dos gatilhos prometidos de início. Mesmo que o roteiro se perca, essa característica gráfica de toda a situação agrade aqueles que gostam de horror, há sequências muito bem filmadas, o filme em si é visualmente muito bem resolvido, a estilização extrapola mas acerta a maioria das vezes.

    O elenco principal, formado pelas quatro amigas, é afiado e entrega algumas performances que lembram o ótimo Spring Breakers, Odessa Young e Hari Nef  têm as melhores cenas. Sam Levinson transparece em tela um ótimo trabalho com elenco e identidade visual, é bem intencionado a maior parte do tempo e instiga discussões pertinentes, tanto para os Estados Unidos quanto para o Brasil que recebe um novo governo em 2019, mas peca pelo excesso e por momentos manchados por uma certa pretensiosidade não muito bem-vinda. Assassination Nation nasce atual e arriscado, quase megalomaníaco, e deve ser assim ainda por um bom tempo.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica | 22 de Julho

    Crítica | 22 de Julho

    É difícil imaginar alguém além de Paul Greengrass, ou O único cara que sabe fazer uma câmera tremida parecer espetacular, em Hollywood, comandando o filme em questão – talvez o soberbo Michael Mann dos anos 80, 90, mas certamente não o cineasta pós-Hacker, de 2015. 22 de Julho, tal Jogador Nº 1 e Infiltrado na Klan, parecem ser projetos moldados estritamente sob medida para seus cineastas, mantendo suas peculiaridades e acentuando seus talentos para determinados temas e proporções, por mais conveniente que isso seja, e por mais que esse problema, o da conveniência, seja o verdadeiro calcanhar de Aquiles do filme que Greengrass fez para a poderosa Netflix.

    Na Noruega, como parte de uma célula muito maior contra o multiculturalismo que assola a Europa, com os números de imigrantes crescendo e alarmando cada vez mais os seus detratores racistas, um jovem e insuspeito terrorista planta uma bomba numa van em frente de um edifício do governo, perto do gabinete do primeiro ministro do país, em Oslo, logo antes de estender calmamente o seu caos planejado a um alegre e divertido acampamento de férias, com centenas de jovens submetidos ao terror ambulante que chega com uma bazuca em mãos. Lá, eles os avisa ser um dos quatro cavaleiros do apocalipse, e extermina setenta e sete pessoas, deixando para trás, entre suas vítimas, um dos únicos sobrevivente do seu segundo ataque em estado gravíssimo.

    Toda a sequência de ataques terroristas duplos, em que Greengrass nos mostra porque deve ser considerado um mestre contemporâneo do Cinema de ação, já podem ser tidas como um dos grandes momentos de qualquer filme original presente nos catálogos da Netflix. A tensão desses momentos é absurda, em especial os instantes sufocantes que sucedem a explosão da bomba, deixando inúmeros feridos e um departamento de segurança nacional desesperado, e a sequência angustiante dos adolescentes correndo na floresta, perdidos e confusos, de um ódio inexplicável. A tensão pinga da tela, e é difícil piscar, tamanha hipnose projetada. Contudo, e a partir desse brilhante começo, 22 de Julho divide seu foco entre as consequências judiciais da captura do terrorista, e a recuperação física do garoto que viveu para contar a história – por mais eternamente fraturada que tenha ficado sua psique.

    Assim, o filme dilui sua tensão e seu poder hipnótico em duas frentes narrativas complementares, mas que apenas servem para expor as digressões de um drama que nunca sabe onde quer chegar, e no que abordar no que tange seus temas mais relevantes – a psicologia do assassino, a lógica do terrorismo, a lógica do estado tratando esses crimes, o retorno da vítima à uma vida normal após sobreviver a esse atentado a vida humana. Todos assuntos que Greengrass não consegue (e nem tenta) empregar um décimo da força que inseriu nos maravilhosos momentos iniciais do filme, tornando boa parte da obra, e sua principal, devido à importância para a história da reflexão dos temas já mencionados, o oposto qualitativo do seu início – inesquecível, para muitos espectadores.

    Em certo momento, quando o sobrevivente Viljar começa a recuperar sua autoconfiança saindo com uma garota, ou quando o matador Anders Breivik, trancado numa sala com diversos detetives policiais, admite suas paranoias confessando desconfiar que os seus pensamentos podem ser ouvidos pelas pessoas, o diretor do ótimo O Ultimato Bourne não parece querer investigar mais nada, apenas dar closes e mais closes no rosto do homicida e seus analistas, e partir para a próxima cena, num ciclo de anti-dramaticidade e desinteresse que incomoda, após duas horas de filme. Aqui, Greengrass poderia ter assistido a 12 Homens e Uma Sentença, clássico imbatível de Sidney Lumet, e ter se inspirado mais no trato com a criminalidade, a justiça e a democracia, e o quão intenso e grandiloquente esse trato pode agir a favor de uma grande e coerente abordagem cinematográfica. Pelo menos a sua câmera tremida, essa sim, continua imbatível.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.
  • Crítica | Suspiria (2018)

    Crítica | Suspiria (2018)

    Quantas vezes o cinema já nos fez questionar a existência de um remake? Em tempos que só grandes marcas atraem pessoas ao cinema, é cada vez mais comum surgirem projetos que buscam revisitar histórias que já deram certo, e na maioria esmagadora das vezes já deram o que tinham que dar. O Suspiria de 1977 realizado pelo italiano Dario Argento, um dos mestres do horror, tem a sua marca na história do gênero e se tornou um clássico, a ideia de fazer um refilmagem pareceu um equívoco desde o início. Porém, Luca Guadagnino entrega exatamente o que prometeu quando assumiu o projeto, uma reimaginação.

    Susie Bannion (Dakota Johnson) é uma dançarina de Ohio que vai até a Berlim de 1977 fazer uma audição para entrar numa renomada escola de dança comandada por Madame Blanc (Tilda Swinton) e um conjunto de mulheres. Após ter sucesso no teste, Susie conhece Sara (Mia Goth) e aos poucos vai construindo uma relação muito íntima com Blanc em ensaios intensos para um espetáculo. Enquanto isso, um psiquiatra da cidade busca o paradeiro de sua paciente Patricia (Chloe Grace Moretz), uma estudante da academia de dança que diz ter descoberto que as mulheres que comandam o lugar são bruxas.

    Desde os primeiros momentos do filme fica bem claro que o lugar é realmente comandado por bruxas, isso possibilita que tenhamos também a perspectiva deste grupo em momentos pontuais da narrativa, as conversas entre elas atravessam as cenas como os suspiros e passos faziam no original. É interessante e muito enriquecedor este núcleo de personagens pois além de humanizá-las de certa forma, também faz com que o exótico sobre a natureza delas não seja superficial, suas ações ganham mais peso. E o roteiro é muito feliz em estender esse trabalho de tridimensionalidade em todas suas outras narrativas, um exemplo é como a mitologia trabalhada por Argento em sua trilogia (Suspiria, Inferno e Mother of Tears) é aprofundada, fica evidente como o roteirista David Kajganich e o diretor entraram de cabeça no universo e beberam da fonte para criarem novos caminhos.

    E ao mesmo tempo que o longa abraça o sinistro de sua temática, é gostoso perceber como isso se relaciona a um mundo frio e de puro horror que a Berlim da época representava. Resulta em um contraste estilizado e bem dosado, Luca brinca com movimentos de câmera audaciosos e pontuais em meio a cores opacas e corpos performáticos, e o seu trabalho com o elenco é tão bom quanto em seus filmes anteriores. Johnson faz uma Susie ambiciosa e com uma coragem no olhar que a torna tão misteriosa quanto as mulheres que cuidam do lugar, de fato a melhor performance de sua carreira até então. Swinton por sua vez brinca com a fama de “camaleoa do cinema” e entrega não só uma performance, mas três, todas fascinantes. O longa não perde em suas coadjuvantes, que são muitas, mas Goth na personagem Sara traz um frescor que lembra as melhores heroínas dos filmes de horror, ansioso para seus próximos trabalhos.

    E quando se fala em entrelinhas, Suspiria deve corresponder de forma diferente para cada um, como já dito é um roteiro de muitas camadas e tridimensionalidades, as temáticas devem chegar das diferentes formas em diferentes espectadores. E deve ser esse um dos motivos da recepção mundial ter sido tão 8 ou 80. Mas Guadagnino não deve ter isso como uma surpresa, é um desafio reimaginar um filme clássico e ele conseguiu com mérito. O novo longa é atual e único, se encaixa no momento social que lidamos nesses tempos, como o feminismo, se encaixa no atual momento do gênero de horror no cinema, e há muito o que dizer. Um filme no ponto. Assustador ao nível de dar espaço ao belo enquanto tudo é caos, o final marcante é um exemplo disso. Dança é poder e poder é arte.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.