Categoria: Críticas

  • Crítica | Fevereiros

    Crítica | Fevereiros

    Até mesmo no documentário que se dedica a destrinchar sua personalidade, a cantora e interprete Maria Bethânia consegue soar poética. Os primeiros 8 minutos são acompanhados de pequenos relatos da própria, de parentes – entre eles seu irmão Caetano Veloso – e de pessoas próximos, acompanhando é claro da marcante voz dela. Fevereiros consegue já no início estabelecer um espírito parecido com a sua personagem investigada.

    A forma que o diretor Marcio Debellian conduz o longa é bem simples, toma como base o samba enredo da Mangueira, que homenageou a cantora baiana. O curioso do filme é que ele serve de certa forma como um estudo não só sobre Bethania, mas também de parte da origem da Estação Primeira de Mangueira e um bocado sobre o Candomblé, uma vez que a biografada é bastante religiosa e, por mais que não seja adepta da religião candomblecista, utiliza de muitos dos seus elementos em suas música e nas suas performances no palco.

    O mergulho que Debellian faz na alma do brasileiro é muito bonito e lírico, a alma do cidadão da Bahia e do Rio de Janeiro são muito bem capturadas através não só da exploração da música da biografada mas também na ode que Fevereiros faz do culto as religiões afro-brasileiros. O ritmo do filme é assustadoramente fluído, ele já tem uma duração bem curta, de 75 minutos, mas ele é tão fluído e naturalista em suas análises que não se nota o tempo passar e isso é algo bem raro em um produto documental.

    Debellian já tinha experiência com analises de artistas, em 2014 fez O Vento Lá Fora, sobre Fernando Pessoa, mas aqui ele alcança um cinema bastante maduro, e que faz perguntar se seu filme soa mágico por conta de sua sensibilidade enquanto realizador e pelas ótimas escolhas que faz ao explicar a jornada da heroína que escolheu, ou se é por conta da trajetória de Bethânia enquanto artista e enquanto pessoa física. Documentários de bandas, músicos e musicistas tendem a cair em formulas quadradas e registros caretas e chapa branca, e todas essas características definitivamente não habitam Fevereiros, que segue como um filme sucinto e emocionante em cada momento particular, servindo muito bem na função de ode a arte e ao artista.

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  • Crítica | Robocop 3

    Crítica | Robocop 3

    Em 1993 chegava aos cinemas a terceira parte da saga de Robocop, dessa vez conduzida por Fred Dekker começa parecida com as outras, com comerciais engraçadinhos sobre Delta City, o ideal da cidade de Detroit, perfeita, como se não houvesse defeito. Irvin Kershner já havia tentado repaginar essa ideia, mas Robocop 3 segue pela mesma esteira teimosa, dessa vez assumindo de vez o caráter infantil que o personagem acabou tendo, referenciando até os bonecos que eram vendidos as crianças nos anos noventa.

    Impressionantemente, mesmo sendo obsoleto há pelo menos dois capítulos da saga, o E-209 continua nas ruas de Detroit, sendo tão inútil que é hackeado por uma garotinha, de nome Nikko (Remi Ryan). Toda essa problemática ocorre basicamente para mostrar o lado humano do tira de aço, em uma tentativa atrapalhada de resgatar algumas das boas premissas de Robocop 2, com ainda menos sutileza que no filme anterior.

    O texto dessa vez está a cargo de Dekker e Frank Miller, que também havia pensado a historia do filme segundo, historias dos bastidores dão conta de que Dekker queria que seu amigo Shane Black revisasse o trabalho de Miller, mas isso jamais ocorreu e os dois finalmente trabalhariam anos depois no texto do mais recente O Predador . Dessa vez Peter Weller não conseguiu voltar apesar de ter discutido bastante com Dekker sobre seu papel, estava fazendo Mistérios e Paixões em 1991 e não conseguiu participar (Rococop 3 foi rodado em 91 mas só foi lançado em 93 por conta da falência da Orion), sendo substituído então por Robert John Burke e a produção era tão barata que o mesmo teve que usar um traje menor, reutilizado a partir de Robocop 2, fato que o fez se queixar de dor. Nancy Allen retorna ao papel de Anne Lewis, ainda que pereça com quarenta minutos de filme, muito provavelmente para não precisar retornar em uma possível parte quatro.

    A maior parte das idéias utilizadas nesse filme são completamente esdrúxulas, entre elas a de achar um opositor que emula capacidades de um lutador oriental, Otomo (Bruce Locke), um sujeito que ao enfrentar alguns inimigos, consegue ter seu rosto danificado em uma das sequências mais horrorosas do cinema mainstream da década de 1990.

    A transformação da ideia de Delta City em uma trama de remoção de pessoas carentes é de uma intenção bela enorme, mas a realidade é que o que é mostrado no filme é errado em diversos sentidos. Miller propõe em seu argumento e roteiro que policial de aço se valha de um cadillac cor de rosa, que era propriedade de um negro que se assemelhava por sua vez aos cafetões retratados nos clichês pejorativos de negros do cinema. O decréscimo da violência também é muito sentido, o que até curioso, visto que Miller fez uma historia do Batman onde a violência era uma das características principais.

    Em determinado ponto, o roteiro lembra que tem que fazer referencias aos comerciais viajandões da OCP, e esses são mostrados de maneira muito gratuita. A ideia por trás de revolta da polícia, se unindo ao povo oprimido é até boa, mas a luta em campo aberto e de dia é totalmente risível, piorando muito quando o herói vem voando de Jet-pack, em um stop motion terrível, acompanhado da música tema de Basil Poledouris, que é utilizada aqui a exaustão.

    O próprio diretor, anos depois de fazer o filme diz que a jornada de Robocop já tinha sido explorada no primeiro filme, e as continuações só restou brigar com bandidos, ou seja, algo banal e comum a policiais, além disso, ele lamenta ter atenuado a violência, cinismo e ação por conta do estúdio, além do que a questão dos desabrigados não caiu bem com ninguém, nem com o público médio, que não queria ver discussões profundas, e nem com a parcela que se preocupa com essas causas, já que a problemática só foi citada, e não aprofundada.

    O embate na sala principal da OCP, com McDagget (John Castle) assistindo é tosca em um nível absurdo, com uma solução estúpida para o embate com dois agentes ninjas, e pior, ela banaliza uma das poucas cenas sérias e bem pensadas do roteiro que mostra todo o corpo policial renegando o emblema da OCP, para servir somente a população. Tanto a solução quanto o modo como Murphy age para se livrar de McDagget é digno de risos, assim como toda a reverencia do povo com o herói. Robocop 3 erra muito mais que seu antecessor e é qualificado como um filme involuntariamente trash com todas as qualidades possíveis.

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  • Crítica | 10 Segundos Para Vencer

    Crítica | 10 Segundos Para Vencer

    O drama de 10 Segundos Para Vencer começa em uma luta decisiva no ano de 1973, onde o biografado Eder Jofre trava a final dos pesos penas, já interpretado por Daniel Oliveira. Depois de  levar um golpe, ele cambaleia e encosta nas cordas, para então  acontecer o flashback dos anos quarenta, mostrando como o sujeito chegou até ali. Isso tudo ocorre durante o tempo de contagem de apenas 10 segundos, que dão nome ao filme e que podem simbolizar a derrota do boxer.

    O filme não tem pudores, mostra a realidade de um Brasil malandro, onde os esportistas passam longe de serem exemplos de conduta. Os pugilistas de 1946 tem uma trajetória trágica como Heleno e Garrincha tiveram no futebol, regado a um rotina totalmente da desregrada. Nesse espaço de tempo, Zumbanão (Ricardo Galli) é treinado por Kid Jofre, e disputa lutas de boxe mais semelhantes a rinhas de galo do que certames, e o treinador argentino interpretado por Osmar Prado fala ao pequeno Eder que aquilo ali não é boxe.

    O garoto Eder sonha com coisas simples, com um carrinho de bombeiro de brinquedo, e o velho promete que se Zumbanão vencer a próxima luta, a criança seria presenteada. O apego a simplicidade é uma marca da família e isso faz entender um pouco da obsessão de Kid em tornar seus filhos campeões. A trajetória proposta pelo cineasta José Alvarenga Junior e pelor roteirista Thomas Stavros não é muito diferente de outras vistas em filmes onde a luta é o esporte edificante que muda a vida do homem. Mickey em Rocky, Senhor Miyagy em Karatê Kid e outros tantos filmes também se valém de professores severos, e esse clichê só é bem explorado neste graças ao desempenho de Prado, que consegue ser um personagem irritadiço, irascível mas ao mesmo tempo amoroso, que enxerga em seus filhos um potencial para serem muito mais do que podem.

    O fracasso no passado com Zumbanão faz com que ele aposte muito em Eder, e o jovem é tolido de boa parte dos prazeres e benesses comuns aos jovens. Ele se casa com sua namorada, Cida (Keli Freitas) acontece sem ele poder comer sequer um pudim em seu casamento, e antes, no passado ele foi proibido de usufruir de uma bolsa de estudos de arte que ele sempre buscou, tudo em prol de manter-se focado em seu objetivo. A jornada e o sacrifício para ficar dentro do padrão de peso também é mostrada de maneira bem agressiva, mas evidentemente isso traz bons frutos.

    Os  últimos momentos do filme tem um tom épico, mostram a ascensão e lutas no exterior de Eder, suas vitorias e algumas derrocadas e todo esse caráter grandioso do atleta é pontuado pela determinação de seu pai. É bastante positivo que 10 Segundos Para Vencer tenha sido exibido com Jofre ainda vivo e a reverência que se presta a seu pai é enorme, e muito condizente com a realidade, é uma pena que o restante do elenco acompanhe pouco Prado em sua performance, mesmo Daniel Oliveira é extremamente ofuscado pelo veterano ator.

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  • Crítica | Robocop 2

    Crítica | Robocop 2

    Robocop 2, continuação menos inspirada de Robocop: O Policial do Futuro, começa emulando características do primeiro, com comerciais que visam defender o povo da ultra violência, mas que são quase tão agressivos quanto os modos das gangues que atacam a cidade. Irvin Kershner – o mesmo que conduziu O Império Contra Ataca – traz a luz uma criminalidade menos estilosa, ao mesmo tempo em que ela aparenta ser mais normal, no sentido de não ser irônica, ela também é mais caricatural, no sentido de aparentar se compor basicamente pelos latinos que normalmente são relegados ao papel de vilões maniqueístas nos filmes de Hollywood.

    Peter Weller retorna ao papel principal, inclusive fazendo sua contra parte, Alex Murphy, em flashbacks, onde se percebe o peso dos anos sobre se rosto e calvície. O roteiro de Frank Miller e Walon Green tenciona mergulhar na origem do homem por trás da máquina. Esse começo reúne elementos de premissa muito promissores, e que aos poucos, são deixados de lado.

    A OCP se mostra ainda mais maligna que no primeiro filmes, armando para que a polícia entre em greve, para fazer com que eles se endividem, para então conseguir comprar os direitos de proteção a Detroit, para enfim privatizar a cidade. Novas tentativas de substituir o policial de aço são feitas e todos os Robocop 2 são fracassados – talvez seja esse um comentário metalinguístico involuntário, referindo ao fato de não ter mais o diretor holandês nessa obra também. O modo como os opositores encontram para hackear herói é meio pueril, assim como a idéia de ter um vilão infantilizado como chefe do crime organizado. A questão de tomada de controle do vigilante foi referenciada levamente, na versão de 2014, o famigerado Robocop do brasileiro José Padilha, ainda que lá a prerrogativa fosse mais adulta que aqui.

    A cena em que a medula e olhos de Cain (Tom Noonan) estão presos ao seu cérebro, e são mostrados fora do corpo, como parte da engrenagem da nova encarnação de Robocop 2 é absolutamente esdrúxula. O nonsense não chega nem perto de ser aceitável, é só bobo, diferente do que Paul Verhoeven propunha antes. A nova face da OCP, liderada por Surgeon General (John Ingle), Holzgang (Jeff McCarthy) e assessorada por Donald Johnson (Felton Perry), que estava no primeiro filme é bem diferente dessas mesmas contrapartes no filme original e parecem um trio de patetas, que querem lucrar desesperadamente mas não sabem como fazer isso.

    A luta final é terrível, o stop motion é mal utilizado e burrifica ainda mais o roteiro que já não era grandes coisas. Essa cena rivaliza com uma outra, que mostra as partes de Robocop separadas entre si como a mais ridícula de toda a franquia, mesmo considerando que a parte 3 é pior, essa tem muito mais momentos de pura tristeza. A ideia de renovar a ganância OCP  soa como mera copia do episodio original com a diferença básica de que a maior parte dos conceitos aqui são mal pensados, simplesmente não encaixam, por serem só versões pioradas do que já foi explorado antes. Robocop 2 poderia ser maior, fundamentalmente se desse vazão aos novos questionamentos, como a tentativa de Murphy em se aproximar da sua família, mas ao invés disso investe em ser mais um produto de ação genérico.

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  • Crítica | Museu

    Crítica | Museu

    Supostamente baseado numa historia real, Museu é um filme de Alonso Ruizpalacios que mostra um grupo de rapazes loucos que em 1985 teriam roubado um museu de antropologia mexicano. O começo da trama mostra alunos em excursão dentro do museu de Satelite, com Juan, um funcionário do local de idéias bem diferentes das comuns a um jovem, fotografa as peças de arte, sempre querendo toca-las.

    O filme é narrado pelo amigo do protagonista, Wilson (Leonardo Ortizgris), um rapaz que sempre acompanha o personagem de Gael Garcia Bernal, normalmente concordando com as maluquices do amigo. Antes mesmo de interagirem com terceiros, Juan pede para ele lançar uma flecha contra si, para acertar uma maçã, tal qual ocorreu na lenda de Guilherme Téo, e ainda reclama com um companheiro quando ele tem receio de machucá-lo. Logo depois disso, é mostrado Juan cobrando as crianças para jogar Space Invaders no Atari de seus parentes mais novos.

    A época do roubo é no final do ano, se aproximando da época de natal e é nesse momento que Juan, diante da sua família (Nuñez) se demonstra um completo anti capitalista, que não concorda com o consumismo típico dessas épocas, e passa, por pura implicância com seus irmãos e irmãs, a mandar as crianças abrirem os presentes antes da hora, fato que causa um caos com os pais delas, além de contar que o Papai Noel não existe. Todos esses fatos são mostrados de maneira muito cômica e engraçada.

    Independente do que ocorre na ceia e do choque familiar, Juan parece paralisado, letárgico provavelmente por planejar o que quer fazer ao chegar ao museu, lugar esse que o próprio diz ser a única fonte de cultura de Satelite. Isso causa na dupla, em especial em Juan, uma certa culpa, não grande o suficiente para ele deixar o plano de lado, mesmo que seu plano seja repleto de falhas, sem nenhum planejamento, resultando obviamente em um roubo extremamente atrapalhado.

    A quantidade de itens subtraídas é enorme e por um milagre eles conseguem sair de lá, pela ventilação e de maneira claustrofóbica e sem qualquer arranhão ou risco de vida ou de serem pegos, mas obviamente que ele não conseguem ficar tranquilos por muito tempo. Todos os absurdos apresentado por Palacios e Manuel Alcalá no roteiro fazem o drama soar hilário, como uma comedia errática que faz perguntar até que ponto o script segue a suposta realidade da historia.

    Palacios produz um filme que mira a poesia e acerta demais, mesmo que tenha na comicidade sua mola mestra. Juan claramente não é um sujeito ganancioso, como os saqueadores que negociavam relíquias e que são os reais fundadores dos primeiros museus do mundo – como é dito no próprio filme, a antropologia dificilmente existiria sem a contravenção – o seu desejo por tocar as artes tem fundamento no desejo por se aproximar da arte, de algum modo, e o mais próximo era através desse ato de loucura.

    O desfecho do filme é extremamente emocional, mistura reconciliações entre famílias e amigos e o confronto com a verdade e a realidade. Juan sofre, mas é incapaz de prejudicar seu grande amigo, e a forma como acaba a sua trajetória é cortada por uma redenção realista, sincera e ate bela. Nem o narrador sabe identificar o motivo que fez com que a dupla roubasse o museu, e esse mistério pontua bem a historia fantástica por trás dessa contravenção elaborada por uma pessoa tão confusa  e que foge da covardia que apresentou até ali.

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  • Crítica | Robocop: O Policial do Futuro

    Crítica | Robocop: O Policial do Futuro

    Critica irônica sobre a sociedade americana, disfarçada de filme genérico de ação, Robocop: O Policial do Futuro é um filme de Paul Verhoeven, talvez seja o primeiro longa seu no cinema grande de Hollywood de sucesso comercial indiscutível. Já no início é estabelecida uma questão primordial, que é a de se contar a história através dos noticiários de televisão, onde se denuncia a enorme onda de violência da cidade de Detroit, fato esse que se agravaria inclusive no espectro de realidade da cidade, anos depois.

    Logo, outro núcleo importante é mostrado, que é o dia a dia dos policiais, com Alex J. Murphy (Peter Weller) tendo de conviver com um cenário conturbado na delegacia policial, junto aos seus amigos lamentando pela morte de mais um homem. Ele se aproxima de Anne Lewis (Nancy Allen), uma mulher destemida e bela, que seria sua parceira de patrulha. Em pouco menos de dez minutos, também é mostrada uma reunião de OCP onde Dick Jones (Ronny Cox) , o chefe executivo tenta mostrar a ação de seu androide, além é claro de outro personagem, o ambicioso Bob Morton (Miguel Ferrer) , um sujeito que também é bastante caricatural, expondo assim a visão crítica do diretor holandês sobre os ícones estadunidenses.

    Esse epílogo serve basicamente para justificar a construção do conceito de tira total que permeavam os materiais de divulgação, sendo a frase inclusive parte do slogan brasileiro do filme. A tentativa via  ED 209 falha obviamente graças a falta do fator de julgamento humano – a cena em questão inclusive é exagerada num nível absurdo, sarcástica e repleta de gore –  mas iria para frente em uma espécie de reimaginação do conto de Frankenstein. A gênese para isso, é quando Murphy encontra o bando de Clarence Boddicker (Kurtwood Smith) e é apresentado como uma das camadas do crime que toma a cidade de assalto. A morte do policial é agressiva em um nível poucas vezes vistos, com uma violência gráfica atroz, mas esse não seria o fim do tal herói.

    Na mesa de cirurgia, enquanto os profissionais de saúde tentam resgatar o que restou de sua carcaça, Murphy relembra dos momentos que teve com seu filho e com sua esposa, além é claro de perceber o momento de sua “execução”. Logo depois o maquinário é colocado e ele passa a enxergar sob o visor de Robocop e não demora a ele ter suas funções e habilidades mostradas para os seus empregadores e financiadores. O primeiro assalto impedido pela máquina de combate é em uma loja de conveniência, onde um sujeito assalta uma senhora com uma metralhadora, logo depois uma dupla de arruaceiros tenta estuprar uma mulher fazendo uso de um canivete, e o policial atira no meio de suas pernas. A violência envolvida no conceito em torno de Delta City contamina população e também o vigilante pré fabricado para si.

    Robocop tem o componente humano que seu anterior não tem, que é a possibilidade de ter alma, mas até esse aspecto é explorado tardiamente, no começo ele age como uma máquina de matar. Ao ver uma mulher sofrendo estupro, ele decide dar um tiro nas partes intimas do violador. A violência e agressividade não choca quase ninguém pois até a moça agradeceu o policial por te-la salvado.

    O lema do Murphy robotizado é vivo ou morto você vem comigo, um contraponto curioso ao executado por T-800 em Exterminador do Futuro, que dizia venha comigo se quiser viver. A diferença entre as duas inteligências artificiais não pára aqui, uma vez que todo o ideal por trás da Skynet tem muito a ver com o que a OCP faz, com a diferença que a segunda organização é mais cínica e preocupada em capitalizar a todo custo, e não necessariamente com dominação mundial. A visão que Verhoeven e o roteirista Edward Neumeier e Michael Miner tem é muito mais pragmática que a de James Cameron.

    Os trinta minutos finais tem uma freada brusca nas descobertas que propõem, para finalmente dar um pouco de ação e extravaso para Murphy, onde ele finalmente bate de frente com os homens que infligiram mal ao seu antigo corpo orgânico, obrigando-o a ter uma vida cibernética, dividindo-o entre homem e ciborgue. A sequência em si contém momentos épicos, como o exagero que torna um dos opositores em uma massa deformada, graças ao ácido que cai em si, e pior, o faz ser executado em um atropelamento que espalha os seus membros, simbolizando ali a condição que ocorre a todo o povo de Detroit, que é refém da OCP, de Jones e companhia, além de ser mais um indicio cíclico da queima de arquivo dos personagens do filme.

    O objetivo de Verhoeven nunca foi o de redefinir nada, nem de redefinir a roda, mas sim fazer uma reflexão contemplativa do modo de vida americano extremamente consumista, não à toa os comerciais inseridos no filme são tão inspirados. Seu intuito não é fazer o espectador ter repulsa a isso, tampouco há admiração do mesmo por tais práticas, há só uma observação atenta a esse estilo de condução de vida, sem maiores julgamentos morais, ainda que haja sim um pouco de discussão ética, que por sua vez, nem é velada, uma vez que Murphy sofre em pele, músculos e mente a interferência de uma multinacional que visa apenas lucro.

    A sequencia final também é repleta de simbolismo, descarregando enfim todo a ironia que Verhoeven viu no texto inicial, destrinchando de maneira agressiva o terrível circulo vicioso de violência e agressividade que recai sobre a nação americana. A repetição da cena em que os estupradores pegam uma refém, com Jones tentando usar o presidente da OCP como escudo é a prova cabal de que o realizador queria mostrar que a história moderna dos EUA é redundante, como a de um cachorro correndo atrás do próprio rabo, mostrando a violência implacável só aumentando graças a necessidade de vingança que impera no ideal do americano médio.

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  • Crítica | Paraíso Perdido

    Crítica | Paraíso Perdido

    Se valendo de uma estética cafona, evocando o brega como delimitador artístico do cinema e demais artes brasileiras, Paraíso Perdido começa com uma cortina roxa, de tonalidade gritante sendo aberta, aparecendo ali Erasmo Carlos, de peruca, interpretando José, um dos muitos cantores que fazem participação no palco da casa de show que dá nome ao filme. O senhor é na verdade o gerente do espaço, que dá espaço para a sua família cantar por lá e para outros artistas que não tem onde se exibir.

    Odair, um policial vivido por Lee Taylor aparece por lá e após quase prender um dos que lá se exibem, decide aceitar o pedido de José para fazer a segurança de Ímã (Jaloo), uma cantora trans que sempre sofre com ataques homofóbicos. Aos poucos, os universos de cada um dos personagens periféricos são revelados, e em cada detalhe se nota uma enorme dramaticidade e complexidade em cada detalhe de suas intimidades, familiares e pessoais.

    O filme valoriza demais a arte musical, mostrando os sonhos dos personagens em conseguir algum notoriedade apesar de suas rotinas extremamente simples, normalmente embaladas por músicas de Reginaldo Rossi, Zé Ramalho e outros expoentes da cancioneiro popular, fugindo normalmente do eixo sul-sudeste.

    O fato de dar voz a pessoas que normalmente não tem é bastante válido, embora o filme careça de uma discussão ou mensagem maior, é um filme contemplativo sobre como a vida se desenrola lentamente. O nome da casa de show serve como alusão a utopia e Oasis que o paraíso perdido representa, pois ali qualquer pessoa pode ser o que quiser, pode relacionar ou ser o que quiser, onde os sonhos são limitados apenas pela vontade da própria pessoa.

    Paraíso Perdido tem uma direção artística muito forte e funciona como um bom exemplar de filme coral bastante competente, o fato de não ter um protagonista único fortifica a ideia de que é um filme de comunidade, lembrando em espírito o filme de Tavinho Teixeira Sol Alegria, embora ouse bem menos que esse, e tenha mais um espírito e caráter de filme de cabaré do que o filme político do diretor paraibano, sendo uma ode da diretora Monique Gardenberg a liberdade que deveria acompanhar o amor.

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  • Crítica | Estação do Diabo

    Crítica | Estação do Diabo

    Conhecido por ter um cinema bastante emocional, e que infelizmente não chega aos cinemas brasileiros na maioria das vezes , Lav Diaz prossegue trazendo um olhar clinico sobre as mazelas que ocorrem em sua terra, as Filipinas. Estação do Diabo entra no circuito tupiniquim e se passa em 1979 e tem como base o complexo cenário politico da época, que se agravou e muito pela situação da Guerra Fria, uma vez que o país tinha um comando socialista, que armou boa parte da população civil a fim de tomar o poder e era repleta de conflitos em sua própria terra.

    As milicias armadas costumam abater os rebeldes, usando eles como exemplos, deixando seus cadáveres na rua para dar exemplo, em uma fria demonstração de crueldade. O quadro estabelecido nesse conto se torna ainda mais aterrador por serem pessoas comuna cometendo isso, as ordens presidenciais para a criação da CHDF (uma organização das milicias com apoio do poder governamental) são polemicas por conta da transformação das pessoas provindas do chão de barro em assassinos num curto espaço de tempo.

    A reflexão que Diaz propõe passa entre outras coisas pela questão de o treinamento intensivo pelo qual passava o povo era insuficiente no sentido humanitário de ações armadas, uma vez que o proletário matava o proletário sem muito pensar, fato que talvez tenha ajudado em um futuro próximo na tomada de poder de forças da extrema direita fascista, que encontra ecos ate hoje na sociedade filipina. Mesmo que leve em conta essa atmosfera de caos e calamidade geral, o registro do filme é muito mais preocupado em tratar de vidas singulares e de gente comum do que os meandros do poder e os motivos e maquinações politicas, e uma das visões atribuídas a filmografia de Diaz é a que quando um governo extremo se estabelece, a tendência é de esmagar o povo, especialmente o mais pobre.

    O formato do filme é curioso, ha um uso continuo de cantoria por parte dos personagens, mas essa exploração é bem diferente dos musicais estilo Broadway e Hollywood. A maioria é A capella, e mostram momentos de angustia (dos vitimados pelas milicias) e de descontração (dos armados), e ambos comportamentos remetem a uma tentativa de fuga, em sequencias normalmente tolas que visam alienar os personagens a situação quase apocalíptica presente naquela temporalidade, embora hajam momentos que a policia louva a si e a seus feitos.

    O povo é massacrado, e mesmo diante das muitas atrocidades mostradas em tela, o estado mental comum a essas pessoas parece ser o da insanidade. As violências e agressões sofridas são retribuídas com mais canções de ritmo alegre e letras otimistas, gerando um contraste absurdo. Lav Diaz mira um nível emocional alto em sua obra, e a dedicação que ele tem enquanto contador de historias visando homenagear as vítimas das leis marciais é soberba. Poucos cineastas conseguem reproduzir tão bem a angustia das classes menos favorecidas como o cineasta filipino, e como de praxe, seu exercício de linguagem resulta em uma arte forte, certeira e sentimental, sem deixar cair sobre qualquer pieguice ou emoção barata.

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  • Crítica | Ultraje

    Crítica | Ultraje

    De Marc Dourdin, produzido pelo próprio e por Sergio Kieling, e o documentário começa narrado por Roger Moreira, o vocalista e guitarrista da banda Ultraje a Rigor, que protagoniza o longa Ultraje, que obviamente conta a historia da banda de rock paulistana que ganhou notoriedade por conta de suas letras e estilo irreverentes e que recentemente se tornou famosa pela postura política de seus integrantes, sobretudo Roger, que se tornou uma das vozes mais ativas da direita entre os artistas mainstream, e que independente disso, tem uma carreira repleta de sucessos com altos e baixos.

    A historia investigada pelo roteiro de Daniel Chaia  é basicamente a de Roger, se detalha de maneira bastante rica  a juventude de Moreira, falando sobre a época que ele insistiu querendo ser musico, de quando dava aula de inglês para pagar seus cursos de musica e do tempo que morou no exterior, falando até sobre um problema de crise de pânico que ele tinha. Enquanto fala, a atual formação toca as musicas que fizeram sucesso por seu repertório.

    Os depoimentos dos ex-integrantes são bem legais, e mostram as antigas historias de quando eles ainda eram um conjunto de cover de Beatles, que se chamou The Littles e depois foi decidido por Ultraje a Rigor, a partir de uma sacada de Edgard Scandurra, que variava seu tempo entre a sua outra banda IRA! e o próprio Ultraje. Nesse ponto, o filme mergulha fundo, mostra até momentos de Scandurra como baterista da banda feminina As Mercenárias, fato um pouco esquecido até por fãs mais recentes do  IRA!.

    Mais até do que o destaque nas primeiras músicas de sucesso (Zoraide, Chiclete e Inútil), ainda no começo do documentário, há uma longa discussão sobre a gênese da cena paulista de rock, com a criação de uma espécie de um sindicato, onde as bandas, se reuniam na casa de Marcelo Fromer dos Titãs, que era um dos poucos na época que moravam sozinhos, para discutir onde tocariam, e combinar uma taxa mínima de cachê. Frequentavam essas reuniões não só o IRA! e banda de Roger, Leôspa e cia, mas também As Mercenarias, Magazine, Agentss, Azul 29, Voluntarios da Patria, e para os musicistas que viveram essa época foi por conta dessa uniãos que a gravadoras perceberam o nascimento desse micro movimento em São Paulo, que ia além inclusive do que Titãs, Ultraje e outras bandas ligadas ao tal sindicato

    Chega a ser irônico as escolhas de cenas das Diretas Já, onde os versos A Gente Não Sabemos Escolher Presidente eram acompanhadas de bandeiras de partidos, entre elas, muitíssimas do PT, organização que se tornou o oposto que Roger defende atualmente, mas lá estava o Utraje com João Barone dos Paralamas do Sucesso tocando bateria por conta de Leôspa estar machucado a altura do show, e eles sentiram a pressão de tocar para tanta gente e no mesmo palco que alguns políticos veteranos.

    A forma e conteúdo do filme são bem divertidos, por conta não só da irreverência da banda que no auge de seu sucesso, tocava de sunga ao vivo nos programas de Raul Gil, mas também por conta da montagem que é executada por Vitor Alves Lopes. O filme tem 91 minutos, e mais de quarenta minutos dele se dedicam basicamente a gênese do conjunto até a gravação do segundo LP, Sexo, ou seja, é quase metade do filme só discutindo a primeira formação, com basicamente uma pequena alteração na função de guitarrista,

    Os motivos que causaram o declínio da banda são bem explorados e explicados, especialmente por não ter sido apenas um. A explicação sobre a mudanças dos tempos é plausível, assim como a discussão sobre como funcionava a popularidade do conjunto, levando em conta conceitos como a moda musical de cada ano e década. O final do filme é um pouco melancólico de certa forma, por conta de quase não acontecer musicas inéditas após o disco Invisíveis. A fase da banda junto ao dois talk shows também é bem discutida, inclusive as críticas que são feitas pelo fato de serem uma banda de apoio do humorista e apresentador Danilo Gentilli, e apesar de o caráter do filme ser de extrema reverencia a historia do Ultraje, há um certo julgamento sim dos erros e acertos, em especial de Roger que é basicamente a alma e o cérebro da banda, e tal qual ocorreu recentemente com Barão Vermelho de Mini Kerti, é importante iniciativas como essa, pois ajudam a montar a memória do que já fez sucesso no cenário musical brasileiro, sobretudo o roqueiro.

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  • Crítica | Alguma Coisa Assim

    Crítica | Alguma Coisa Assim

    De Esmir Filho, diretor de Baleia e Mariana Bastos que já havia trabalhado com o diretor nos curtas Tapa na Pantera e Sete Anos Depois,  Alguma Coisa Assim começa mostrando Caio (André Antunes) e Mari (Caroline Abras) curtindo a noite paulistana, em uma síntese do que seria a relação da dupla ao longo dos anos, indo e voltando na linha temporal para abarcar a vida de ambos como seres em unissono.

    Em 2006 Esmir conduziu um curta homônimo, que foi exibido no Festival de Cannes e foi muito elogiado, e ele se utiliza de muitas cenas da década passada nesse longa, em um esforço semelhante em espírito ao que Linklatter fez em Boyhood e na trilogia Antes do Amanhecer. Os dois se encontram em outros tempos e em outros lugares, mostrando como eles cresceram e como mudaram, quase exibindo ali versões alternativas dos dois.

    No inicio e em outros pontos, Caio é mostrado tendo certa aversão por contatos íntimos com homens, o que soa estranho, pois ele claramente tem orientação homossexual. Aos poucos se nota que sua timidez em alguns pontos impede ele de se relacionar emocionalmente em boa parte de sua vida, com poucas exceções quanto a isso.

    Em determinado ponto, Caio se casa, e obviamente sua amiga vai celebrar, mas é notado um incomodo de Mari, que  varia entre o ciúmes e a inveja, mas que só é definido na metade final do longa. A relação dos dois evolui para um nível onde a intimidade se confunde, ao ponto  de ambos se verem em uma situação limite, típica de casais e não de amigos. O modo como o roteiro de Esmir e Mariana trata da deterioração da amizade e a subida a um novo nível  de demonstração de amor que tem desdobramentos bem diferentes.

    Há um bocado de pretensão em Alguma Coisa Assim, mas é impossível não embarcar na historia de seus personagens, em especial pela atuação de Caroline Abras, que faz uma personagem muito complexa e cheia de defeitos, que é apaixonante e capaz de protagonizar brigas catárticas e realistas, e isso por si só já é um bom motivo para apreciar a obra da dupla de diretores.

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  • Critica | A Favorita

    Critica | A Favorita

    Chega ao circuito brasileiro o filme A Favorita, do diretor grego Yorgos Lanthimos, o mesmo que há pouco tempo atrás lançou A Lagosta e O Sacrifício do Cervo Sagrado. Nesta nova historia, ele discorre sobre uma guerra de vaidades que ocorre entre duas mulheres que visam o posto de conselheira da rainha, isso tudo ocorrendo com uma bela reconstituição de época, com figurino, fotografia, direção de arte e afins dignas do clássico Barry Lyndon de Stanley Kubrick. No entanto, as semelhanças com o filme de 1975 param por ai, o que se vê é uma historia bem diferente, e um jeito de filmar igualmente diverso.

    Lady Sarah Churchill, interpretada por Rachel Weiss é, no momento que o filme retrata, a mulher mais próxima da rainha Ana (Olivia Calmon), seus dias se resumem a ter que aturar o mal gênio de sua majestade, enquanto manter seu posto como próxima dos nobres, papel esse obviamente bem pequeno e cordato. De viagem, chega a Abigail Masham de Emma Stone, uma criada que já nesse caminho é mostrada como uma personagem que não tem luxos, chegando ao palácio real em uma carroça apertada e repleta de gente. Quando se estabelece como serviçal ela passa mal enquanto aprende seu trabalho, e seu lamento casa com os choros mimados da rainha, que por sua vez, é capaz de um enorme chilique só por conta de um pesadelo.

    Lanthimos debocha dos ricos, mostra-os como mimados e usa ângulos de câmera diferenciados para registrar momentos comuns da vida de cada um dos personagens, há profundidade em momentos em que as pessoas andam a cavalo, varrem o chão ou simplesmente respiram, e esse exercício a principio parece despropositado mas valorizam os atos cotidianos de uma maneira ímpar exatamente para destacar esses como diferenciados que são . O cineasta busca a todo momento  retomar a forma diferenciada de contar historias, que basicamente encontra pouco eco em sua filmografia desde que fez Dente Canino dez anos atrás.

    Enquanto registra o desespero desnecessário da realeza, a trilha sonora tem músicas de sons agudos, que fazem lembrar as canções instrumentais dramáticas que permeavam o clássico remake de Scarface que Brian de Palma realizou. Essa sonoridade marca demais a rivalidade que aos poucos se estabelece entre Abigail e Sarah pela preferência da rainha, e na maioria dos momentos o que se vê é uma historia com um caráter bastante semelhante aos folhetins e as antigas radio novelas, com uma larga exploração da volúpia e de relações proibidas, onde as moças basicamente brigam para serem exploradas por uma pessoa poderosa e que ganhou suas regalias de maneira imerecida.

    Há momentos grotescos, não só envolvendo a figura do personagem de Calmon, mas também ao mostrar as manifestações de tesão da maioria dos poderosos. Por mais estranho que tudo isso soe, as lentes de Lanthimos parecem só se importar com as duas serviçais que disputam os anseios carnais da rainha, e nesse ponto mora o melhor do filme, pois tanto Weiss quanto Stone tem um desempenho excelente, ambas estão inspiradas e parecem mesmo desejar ter a atenção da soberana inglesa.

    Os  atos de crueldade  trocados entre as duas competidoras garantem um pouco de dinamismo a trama, e diferente do que havia feito em A Lagosta, Lanthimos não faz muitos rodeios e não tenta apelar para uma forma surrealista de contar historia, embora haja claro um bocado de imponderável nos fatos que ocorrem em A Favorita. Ao contrário do que muito se falou, esse é um filme bem menos arrogante e pretensioso que os anteriores, onde Lanthimos se permite usufruir de outras formulas, mesmo que a historia que tenho escolhido contar seja de pura frivolidade.

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  • Crítica | Um Elefante Sentado Quieto

    Crítica | Um Elefante Sentado Quieto

    Filme de Hu Bo, diretor chinês que se suicidou logo após terminar de rodar a obra, Um Elefante Sentado Quieto é um filme sobre  desolação humana e falta de perspectiva, que usa os exemplos de jovens de uma cidade no norte da China, onde jovens tentam viver apesar do egoísmo vigente nessa mesma sociedade.

    A historia se passa em uma cidade pequena do norte da China e mostra personagens bem diferentes tendo que lidar com a modernidade que aparentemente afasta as pessoas e as faz agir de maneira muito egoísta. Dois meninos bem jovens são mostrados nesse inicio, o primeiro e Wei Bu (Yuchang Peng), que ao tentar quebrar esse paradigma, empurra um bully que vivia perturbando um amigo seu. As conseqüências desse empurrão são serias e Bu foge com receio das conseqüências, e ele foge, com Wang Jin (Congxi Li) seu vizinho e claro, Huang Lin (Uvin Wang), uma moça próxima dele. A jornada de fuga dos três envolve obviamente uma perseguição, mas o desenrolar dela quebra padrões, não é frenética e seu ritmo é bem cadenciado.

    A contemplação do cotidiano é bastante silenciosa, cabe ao elenco passar as emoções e o senso de urgência que o roteiro propõe e esse conjuntos de sensações é muito bem transmitida ao espectador. As quase quatro horas de filme são cortadas por uma montanha russa emocional, que trata do desespero de famílias comuns e pobres por conta das brigas completamente impensadas dos adolescentes, e é difícil julgar quaisquer dos personagens juvenis, já que a violência e agressividade fazem parte do cotidianos dos adolescentes, ao passo também que eles simplesmente não tem maturidade para lidar com tudo isso.

    Há outro fator forte nessa equação, que é a rejeição por parte da geração anterior. Mais de um dos personagens são excluídos ou expulsos de casa pelos pais, e não necessariamente por conta da violência que ocorreu na escola. Mais até do que esse renegar da paternidade estabelecida na ordem para sair de casa, há um conjunto de diálogos muito forte, onde normalmente imperam conversas ásperas, onde as pessoas estão quase sempre de costas umas para as outras, raramente conversando com os olhos nos olhos.

    Há outros momentos bastante simbólicos nos lugares por onde a câmera de Hu Bo passeia. Na escola onde aconteceu a briga não se dão ao trabalho sequer de limpar o sangue do chão após o incidente, há descaso com o mal que recai sobre a família do rapaz que era bully, assim como boa parte dos personagens adultos se importam demais com o destino de seus cachorros, em detrimento as vezes do sofrimento dessas crianças/adolescentes. O diretor denuncia a falta  de sensibilidade geral e preocupação maior com animais do que com os homens e mulheres.

    As conversas no final são muito inspiradas, tanto nos diálogos quanto no domínio de carreira de Hu Bo, que faz um ultra close no primeiro plano e um segundo plano quase desfocado. Mesmo quando Um Elefante Sentado Quieto larga a estética naturalista e apela para o fantástico há muito acertos. Seu desfecho é tocante, aborda temas fortes, como suicídio e auto afirmação dos juvenis via agressividade. É um filme de ciclos, que fala basicamente sobre o mesmo estilo de vida mostrando que a humanidade tende a repetir inclusive seus erros.

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  • Resenha | Homem-Aranha: Negócios de Família

    Resenha | Homem-Aranha: Negócios de Família

    A mistura de Homem-Aranha com espionagem internacional talvez não seja a das mais comuns nos quadrinhos. Francamente, não me recordo de uma história com essa mistura. Caso alguém lembre, deixe aqui nos comentários. Já estou meio velho e a memória não é mais a mesma de outros tempos. Enfim, em Negócios de Família, a proposta dos roteiristas Mark Waid e James Robinson é essa. Se funciona? Funciona. Muito bem, por sinal.

    Na trama, Peter Parker se envolve em um sequestro realizado por um misterioso time de elite e termina sendo salvo por uma mulher que se diz chamar Teresa Parker e seria sua irmã. A dupla é perseguida devido ao fato de serem filhos de Richard Parker, que todos já devem saber que era um espião internacional. Caçados por meio mundo e ainda pelo Rei do Crime, a dupla precisa trabalhar junta para resolver uma conspiração que pode abalar o planeta ao passo que vão descobrindo cada vez mais sobre o passado de seu pai. Ainda no meio disso, o Cabeça de Teia se vê em um dilema. Seria sua irmã uma pessoa confiável ou uma futura inimiga?

    O roteiro de Mark Waid e James Robinson é ágil e lotado de referências a grandes filmes de espionagem. Talvez o melhor momentos seja o do cassino, onde Peter tenta emular James Bond, porém sem a mesma classe do espião britânico. Nos momentos em que precisa ser mais dramático, o texto não fica piegas ou soa forçado. Pelo contrário, é de bom gosto. A dinâmica entre os dois irmãos é bem natural e um complementa bem o outro, até mesmo por traços semelhantes de personalidade. Os roteiristas se deram ao cuidado de incluir alguns momentos onde Peter se sente mais próximo ao pai, devido a algumas revelações sobre sua personalidade. Entretanto, a história é prejudicada por ser breve demais. Contendo só 99 páginas, o desenrolar da história vai ficando um tanto apressado e as relações humanas vão ficando prejudicadas. Uma pena porque a riqueza da premissa da relação entre os dois irmãos poderia render bem mais sem causar dano à ação.

    Um ponto positivo que faz uma grande diferença são as ilustrações da dupla Werther Dell’ Edera e Gabrielle Del’Otto. Werther capta muito bem as intenções dos roteiristas, enquanto as cores vivas de Dell’Otto complementam as ilustrações criando painéis de uma beleza única. o estilo torna a história fluida, fazendo com que ela pareça estar em movimento diante de seus olhos, tal como um filme. Nos momentos em que a ação toma grandes proporções, o duo capricha fazendo sequências empolgantes. Entretanto, existem alguns momentos em que eles se destacam: na sequência de abertura, onde o Homem-Aranha gasta seu repertório de habilidades acrobáticas em uma cena de ação que nada deve aos filmes da Marvel. A atenção aos detalhes e a coesão dos painéis daria inveja a muito diretor de cinema. O outro momento é o do cassino, onde captam o humor pretendido pela dupla de roteiristas e depois fazem uma sequência de ação digna de um grande filme de espionagem.

    Porém, como eu disse, nem tudo são flores. Ainda que Negócios de Família seja uma ótima história do Cabeça de Teia, seu potencial para ser um clássico acaba esvaziado por sua curta duração. Entretanto, é uma daquelas histórias que vale a pena ter na coleção para uma releitura rápida sempre que quiser se divertir com um conto que traz o querido Peter Parker em bom momento (e não sendo trucidado pelos roteiristas de suas histórias regulares).

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  • Crítica | Operação Final (2)

    Crítica | Operação Final (2)

    Chris Weitz é um homem de cinema com trabalhos bem diversos. Seu trabalho como roteirista está presente em Rogue One, FormiguinhaZ e Cinderela, filmes bem diversos em temática, e ele conduziu A Bússola de Ouro, O Céu Pode Esperar e Lua Nova. Sete anos após realizar o drama Uma Vida Melhor, ele dá a luz a Operação Final, em parceira com a Netflix. A história do filme retorno a 1960, onde uma força militar israelense vai atrás de um fugitivo nazista da Segunda Guerra Mundial, Adolf Eichmann, que era o responsável pelo gabinete de assuntos judaicos na época e que diferente de Himmler, Goebbels e Hitler, não havia tirado a própria vida.

    A história acompanha Peter Malkin, transitando em um carro antigo, munido de sua farda e de um desejo intenso de fazer justiça. O personagem executado por Oscar Isaac é determinado, e faz um serviço detetivesco para achar os fugitivos do Julgamento de Nuremberg.

    Malkin e Eichmann tem uma história pessoal juntos, e isso é explorado através das idas e vindas do roteiro, que retorna ao passado para mostrar o destino que as outras gerações tiveram, em meio a isso se percebe o avanço de grupos nazistas na América do Sul, em especial no cenário argentino, que é onde se passa a maior parte da história Malkin é um sujeito exemplar, sempre calado e observador, seu olhar é cheio de compaixão com os que sofreram com o holocausto, e essa solidariedade é as vezes confundida por terceiros como pena , fato que deixa alguns israelenses envergonhados. Sua rotina é a de jantar com sua mãe , uma senhora bastante idosa e que não está mas tão plena de suas faculdades mentais.

    Toda essa excessiva necessidade de humanização do personagem faz o filme soar um pouco maniqueísta. O trabalho de investigação a respeito da pessoa que possivelmente é Eichmann envolve uma garota, chamada Sylvia (Haley Lu Richardson), que se envolve com Klaus, filho de Ricardo Klement, que aparenta ser somente um pacato senhor vindo da Palestina, interpretado por Ben Kingsley. Quando o grupo de soldados o acha não demora até ele se permitir ter orgulho pela patente que tinha, lembrando até o número de seu alistamento e aceitando seu destino.

    O suspense do filme e a construção da desventura de Eichmann é muito bem feita, mas as camadas exploradas vão muito além disso, compreendem uma ideia por parte dos israelenses que não consegue ter paz enquanto os responsáveis pelos atos do holocausto não estejam devidamente julgados e punidos, mesmo que isso não traga nem as pessoas que se foram e nem a paz dos que ficaram. O consolo de ver a justiça sendo feita ainda que seja em partes funciona como um breve alívio de uma dor que acompanhou todo um povo, o roteiro de Mathew Orton faz questão de não desumanizar o personagem, ainda que seja preocupante para o espectador que tenha qualquer simpatia pela digital de Adolf / Ricardo, pois o tempo ter passado não aplaca qualquer ato nefasto anterior, ainda mais os que foram cometidos por ele. Acreditar que ele era só uma máquina na engrenagem é sinônimo de ingenuidade e até imaturidade.

    No entanto, sentimento é até esperado, de certa forma, pois Weitz propõe tantas camadas no personagem de Kingsley e amarra isso tão bem na relação com Malkin que não é inesperado que o espectador mais desatento ao quadro histórico não duvide dos crimes que Eichmann cometeu. As faces que o fascismo toma normalmente apelam para sentimentos muito humanos e para comportamentos típicos do homem comum, sendo falacioso e dissimulado para parecer um homem como outro qualquer e esse é um dos maiores perigos do nazi fascismo.

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  • Crítica | Suspiria (1977)

    Crítica | Suspiria (1977)

    Um dos mestres do horror no cinema, o italiano Dario Argento é responsável por um dos filmes mais importantes e cultuados do gênero, Suspiria de 1977, clássico que influenciou décadas e ganhou remake pelas mãos de Luca Guadagnino em 2018. Argento baseou-se no livro Suspiria de Profundis de Thomas De Quincey para criar a mitologia iniciada timidamente no longa, na qual três bruxas milenares espalham dor e morte sob o mundo, a Mãe das Trevas que reside em Nova York, a Mãe das Lágrimas em Roma e por fim, a Mãe dos Suspirios na Alemanha, esta última presente nesse primeiro capítulo da Trilogia das Três Mães, composta também por Inferno (1980) e Mother of Tears (2007).

    No longa, a dançarina americana Suzy Bannion viaja até Fribourg na Alemanha para começar seus estudos de especialização em uma renomada academia de dança, mas sua chegada é conturbada ao ver uma aluna fora de si correndo do lugar durante uma tempestade. No dia seguinte, a notícia do destino da moça recai sobre a academia enquanto Suzy conhece as misteriosas mulheres que coordenam a instituição, aos poucos mais pessoas vão sumindo e a protagonista passa a desconfiar que o lugar possa ser morada para uma antiga irmandade de bruxas.

    Uma coisa interessante revendo o longa é perceber o quanto a atmosfera criada por Argento é marcante, gostando ou não, é uma produção que permanece por muito tempo no espectador. De fato, o maior acerto do filme é o seu visual surrealista baseado em cores fortes e brilhantes, presente em iluminações com o pé no fantástico e em cenários perfeitamente realizados, em linhas e formas. Forma-se uma imagem tão original e hipnotizante que assistir ao filme é como assistir a um pesadelo tão belo quanto sinistro, uma experiência imersa em paisagens sonoras incríveis, são sequências inteiras acompanhadas de murmúrios, gemidos e suspiros, com uma música poderosa criada pela banda de rock progressivo “Goblin”.

    Da parte do elenco, as mulheres que cuidam da escola são responsáveis por uma boa estranheza, algumas não tiram sorrisos assustadores dos rostos e
    outras assustam pelas palavras mansas e mascaradas, já as alunas da academia entregam ótimas cenas de perseguição quando Argento brinca de slasher, brincadeira essa que resulta em sequências memoráveis do longa, seja pelos gritos estridentes, o sangue estilizado ou pela violência gráfica que chega a arrancar risadas nervosas. A protagonista Suzy tem uma interpretação esforçada de Jessica Harper, é nela que o roteiro chega a funcionar pontualmente ás vezes, expondo sua personalidade quase sagaz e sua coragem.

    Porém o roteiro não volta a agradar em outras situações, é um argumento interessante que não sabe se desenrolar, os dois primeiros atos soam rasos
    narrativamente, e o final se apressa e não entrega o clímax que Argento parece ter a intenção de construir nos minutos finais, mas além desses últimos momentos o longa não perde em ritmo e nem em suspense. Mesmo expondo pouco do universo que se passa essa história, Argento sabe implantar doses de mistério que fazem o engajamento ir até o fim. E quando aparecem os créditos é muito fácil entender porque Suspiria é o que é, um suspiro refrescante num gênero que Argento tanto contribuiu.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

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  • Crítica | Los Silencios

    Crítica | Los Silencios

    Filme competidor da Quinzena da Crítica do Festival de Cannes, Los Silencios é uma produção entre Brasil, França e Colômbia. Quase toda falada em espanhol, o filme começa a partir de uma tragédia já ocorrida, subentendida e que é explorada em suas conseqüências aos poucos. No começo um barco corta o rio pela noite escura, carregando ali três pessoas, aparentemente, embora se só notem duas, que são Amparo (Marleyda Soto) e seu filho Fábio (Adolfo Savinvino), a terceira é Nuria (María Paula Tabares Peña), mas só se sabe seu real destino com o desenrolar da trama.

    Beatriz Seigner mostra a família tentando viver após uma tragédia pessoal, sem recursos e como refugiados. Adão (Enrique Diaz), o pai da família pereceu em uma obra e Amparo aguarda a indenização por parte da empresa que o empregava. Quando Fabio é matriculado na escola, não há garantia de que ele poderá merendar lá, e a família está numa situação tão paupérrima que eles aceitam a ida do garoto para lá, ainda que tentem sempre que ele consiga fazer ao menos uma refeição na escola.

    O filme tem uma formula um pouco parada e contemplativa e o fato de ser silencioso faz com que todo suspense seja maximizado. A espera pela chegada do dinheiro que ajudaria a família a viver só não causa mais espanto do que as aparições fantasmagóricas, além evidentemente da surpresa que só se nota da metade para o final, ao mostrar outras menções aos mortos.

    As manifestações sobrenaturais são mostradas de forma tão sem alarde que soam naturais, não casam estranhamento algum, até porque o terror do filme mora exatamente na falta de de esperança e alento. Enquanto Amparo parece desolada e resignada, pensando se aceita ou uma consolação no lugar da indenização, com a seguradora oferecendo a ela uma quantia pequena perto do que ganharia se  achassem os corpos dos mortos, Fábio se torna um menino meio rebelde, que gosta de fumar e que tenta responder de forma agressiva ao mundo que tirou parte de sua família. Sua reação é natural, afinal o que acontece a ele e sua mãe é bastante revoltante, não só pelo acaso como pela ganância de empreiteira que se recusa a pagar o que devem a família.

    Tal qual o recente Mormaço, há uma causa sobre desocupação, com uns compradores misteriosos que fazem ofertas ofensivas e  de preços baixos aos aldeões, bem semelhante a que fizeram com Amparo. Os que moram no lugar onde a família foram morar tem por hábito tentar se comunicar com os mortos, a fim de garantir uma boa passagem. O modo como os não vivos são mostrados é muito bonito, com as roupas deles brilhando, como em neon, como as luzes dos vagalumes e essa composição visual quase poética faz a fotografia de Sofia Oggioni Hatty.

    O final, quando uma carta chega a personagem principal, finalmente se fecha um ciclo, onde tanto vivos quanto os que já foram finalmente terão paz. A denuncia a barganha e o desrespeito aos mortos, a memória deles e aos que ficam só não é maior que a ode a saudade que Seigner monta em seu Los Silencios, filme que tem uma força e uma carga sentimental que não permite ao espectador ficar incólume.

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  • Crítica | Batman & Robin

    Crítica | Batman & Robin

    A primeira fala do Batman de Val Kilmer em Batman Eternamente, envolve ele e Alfred discutindo sobre a janta do herói, com Bruce se negando a comer em casa, dizendo que irá em um drive thru, quebrando já no inicio a ideia de que aquele poderia ser um filme sério. A abordagem que o novo diretor dava a franquia iniciada por Tim Burton em Batman se distanciava cada vez mais daquele tom dark e violento, e seguiria nesse estilo, na nova versão de Batman e Robin, com um início igualmente esdrúxulo, onde após os créditos iniciais e uma apresentação que deveria ser épica – mas que soa patética – do batmóvel é cortada por uma conversa infantil, entre o Robin de Chris O’Donnel, que agora usa um uniforme que lembra o de Asa Noturna nos quadrinhos, com o novo morcego de George Clooney, onde o jovem deseja usar o carro, por conta das gatinhas se amarrarem, enquanto o cruzado encapuzado diz que é por isso que o Superman trabalha sozinho. Essa piada infame talvez tenha sido a pá de cal em cima da pretensão da Warner em usar esse e Superman Lives como iniciativa do seu universo compartilhado no cinema.

    É comum entre fãs do personagem criado por Bill Finger e Bob Kane, dizer que o arqui inimigo do Batman é Joel Schumacher e não o Coringa, e isso talvez seja uma grande injustiça. Claramente a culpa do que foi cometido em Batman e Robin é não única e exclusivamente dele. Em materiais de divulgação dos DVDs e Blurays do filme, o diretor pede desculpas se ofendeu alguém, mas a realidade é a que a responsabilidade que lhe foi imposta era árdua, pois produtores e roteiristas  pareciam embuidos em sabotar essa quarta versão da saga.

    Nos cinco primeiros minutos de filme, Alfred (Michael Gough) faz piada com pizzas, Batman conversa com o Comissário Gordon (Pat Hingle) em um dispositivo televisivo em seu carro, claramente para vender brinquedos não só do carro, como também desse visor, e o Senhor Frio de Arnold Schwarzenegger – que é aliás o primeiro nome nos créditos – é capaz de entre a minutagem de 4:19 e 5:08 ele consegue proferir três frases com trocadilhos relacionados a frio, e seriam 27 ao longo dos 124 minutos de exibição. A obrigação em vender merchandising é da Warner, e esses diálogos artificiais foram escritos por Akiva Goldsman.

    Evidente que Schumacher poderia ter recusado voltar, diante do texto que tinha em mãos e diante das exigências imbecis que o estúdio propunha, mas a realidade é que recusar a realização de um sonho, de poder traduzir no cinema uma historia do seu personagem favorito não é uma decisão fácil, vide Nicolas Cage aceitando ser o Superman e fazendo Motoqueiro Fantasma, mas a dura realidade é que praticamente nada faz sentido aqui.

    Ainda na cena inicial do museu, os capangas de Frio jogam hockei com o diamante que ele roubou, o mesmo que precisaria estar intacto para formar a máquina que tentaria trazer sua esposa a vida. Os exageros continuam, Victor Fries lança uma rajada de gelo na direção do herói, o suficiente para matar de hipotermia o personagem, mas ele basicamente só manieta o Morcego, levemente, cobrindo suas mãos com um gelinho muito bem talhado. Mas em um filme onde patins saem das botas do Batman, onde a dupla dinâmica surfa com as portas da nave do vilão, desliza na cauda de dinossauros de um museu e onde Schwarzenneger faz cosplay de pomba congelada, com direito a asinha estilizada como as de uma mariposa, pode absolutamente tudo.

    Não bastasse um cenário super bizarro ligado a vilões, há um segundo, envolvendo a versão do Homem Florônico com John Glover fazendo experimentos contra a vontade de suas cobaias, no entanto, cabe a Pamela Isley a primeira inteiração daqui, com a sua interprete Uma Thurman lamentando que ainda não conseguiu fundir a estrutura animal com a das plantas. Enquanto isso, é criado Bane, um homem franzino, que é anabolizado por uma droga chamado Veneno, e que está lá para ser vendido entre soberanos de países, com pastiches de reis africanos, sósias de Fidel Castro, de chineses e outros asiáticos,e esse é só o início dos exageros.

    O tal doutor Woodrue de Glover interrompe seu leilão, para tentar convencer Pamela a se juntar a ele, mesmo ela já sendo sua empregada, e a resposta dela é ideológica, de que não servirá ao mal, falando que sua missão na Terra é cuidar da não extinção das plantas. É tudo tão bobo e pueril que jogar prateleiras cheias de líquidos coloridos e acreditar que uma pessoa morrerá só com isso nem é tão absurdo, no final das contas.

    Mas o filme é ousado, tenta estabelecer algumas sub tramas emocionais, duas em especifico, uma explorando a decadência emocional de Fries, tomando por base a boa construção do personagem trágico e viúvo feita durante Batman The Animated Series, além claro da problemática em relação a saúde de Alfred, fato que permite que Clooney e Gough possam dividir algumas poucas cenas de ternura. É uma pena que ambos os aspectos sejam banalizados, com Freeze mandando os capangas dançarem, e com o advento de Barbara Wilson, de Alicia Silvertone, que mais tarde, se tornaria a nova  Batgirl, repetindo quase todo o arco de Dick Grayson em Batman Eternamente.

    A construção das personagens femininas são terríveis. Pamela retorna dos mortos como a Mulher Gato de Michelle Pfeiffer em Batman o Retorno, mas sem metade do charme daquela versão, apesar de estar lindíssima a partir daí. Julie Madison, que foi um primeiros amores do personagem principal nos quadrinhos é sub aproveitada , e Elle Macpherson só aparece em tela com 35 minutos de exibição. Barbara que foi mudada de filha de Gordon para sobrinha do mordomo também não tem um bom desempenho, é só a menina com ideal de libertar o parente dos grilhões de servidão/escravidão que os Wayne o impuseram, mas usufrui da fortuna deles sem receios, e até aceita entrar o bat-squad, apesar de claramente não concordar com os métodos de Bruce. Mais uma vez essas construções de personagem não fazem sentido.

    Talvez se a trama de Alfred em tentar encontrar seu irmão Wilfred para substitui-lo fosse levada mais a sério, daria certo, fato é que achar que Barbara levaria seu legado a frente, além do que seria mais uma preconceituosa conclusão de que a menina aceitaria a condição de faz tudo de bom grado, já que pela ideia dos quatro filmes, é Alfred que cuida sozinho de toda a mansão. Não fosse Silverstone – uma atriz fraca, escolhida basicamente por ser bonita e famosa – a porta voz do plot sobre a condição de saúde de Alfred, possivelmente seria este o cerne emotivo mais forte do filme, ou ao menos um aspecto positivo em meio a toda a péssima execução do combalido roteiro de Goldsman. O fato de Dick ser insensível (ou apenas desatento) com a condição de seu mordomo faz sentido, pois ele é jovem, impulsivo, e um pouco egoísta, como boa parte dos pós adolescentes, enquanto Bruce, que enxerga Alfred como a sua figura paterna, percebe a tentativa do idoso de ludibria-lo.

    O quadro ainda iria piorar, com uma festa temática africana, uma festa a fantasia que conta com Batman e Robin como convidados, que trabalham em prol da caridade a instituições que precisam de recursos. Assistindo os filmes de Chris Nolan atualmente, se entende por que fizeram tanto sucesso, pois o Batman dele não se permite ser usado para fins lucrativos e nem faz aparições publicas assim tão esdrúxulas. Claro que essa sequencia toda é montada para dar vazão aos fetiches de Schumacher por neon, e para apresentar homens musculoso, de tanga e óleo sobre o tórax e bíceps, que lá estão servindo a versão mais sensual de Pamela, a Hera Venenosa, como um pretexto para pôr  para fora fetiches e exibicionismos.

    Há algo de poético e inocente nos beijos de Hera. A morte, vindo através dos lábios de uma dama é um requinte de crueldade bem pensado, ainda mais se o foco é apresentar a fúria vingativa de Gaia ante os humanos. Juntando isso, ao luto que Fries sofre, ao ser enganado por sua nova parceira, quase se compõe um pequeno respiro de humanidade e inteligência no longa, que obviamente é cortado por um plano esdrúxulo, onde a era glacial invadiria Gotham, através do roubo de uma tecnologia espacial pelo Senhor Frio, onde jamais as plantas de Ivy poderiam sobreviver, além de apresentar a cena mais patética de Pat Hingle em toda a franquia, onde ele é seduzido por Pamela, que se recusa a beijá-lo por conta dele ser idoso. É melancólico que esse seja seu ultimo momento dentro da franquia.

    Os trinta minutos finais formam um caminho de uma ladeira percorrida por um veículo de pneus carecas, por mais que parecesse que esses níveis eram ruins, havia uma rota que poderia piorar tudo, e ela foi tomada com muita vontade por parte de quem ajudou a realizar essa obra. Robin Sinal, Barbara abrindo o cd-rom com as informações da bat caverna com o logo do filme ilumando sua face, a briga para medir quem tem pênis maior encerrada com um pedido fraternal de Bruce para que Dick não cedesse a sedução de Hera claramente com ciúmes, não se sabe se da mulher ou do garoto prodígio.

    Hera e Robin quase consumam seu “amor”, em mais uma sequencia das mais vergonhosas. O gesto recatado de ósculo labial, que deveria ser um paralelo equivalente a ousadia de colocar sexo em um filme feito para crianças é cortado por lábios de borracha do sidekick do morcego, e o causo só é resolvido pelo girl Power de Barbara, em uma série de eventos tão toscos que fazem o inicio parecer sério. A classificação que o Newsweek deu para o filme de Grande, Ousado  e Magnifico poderia facilmente por Espalhafatoso, Excessivo e Patético.

    Nem mesmo a música de Elliot Goldenthal funciona, mesmo que tocada sozinha tenha um significado, ao compor o quadro com as imagens. Quando ela é tocada apenas para embalar os carros e veículos que deslizam sobre o gelo, e para ajudar a vender mais bonecos com uniformes diferentes, tudo se banaliza. Mamilos protuberantes, close em partes genitais e o CGI mal empregado não irritam tanto quanto essa necessidade de vender os tais brinquedos, que por sinal, nem eram tão legais, os que eram feitos para os filmes de Burton eram infinitamente mais legais, se comparar então com os dos desenhos, é covardia.

    Robin é o herói impotente, ao ver seu amigo e parceiro cair, ele diz a Batgirl que a eles resta rezar. A vontade de fazer piada passa por cima inclusive da essência dos personagens, não se pensa duas vezes antes. Há muitos momentos vergonhosos para escolher como o preferido no final, se é a quase cena pós crédito entre Hera e Victor, que não faz sentido, se é o neon que invade até a casa de Bruce, ou se é o Senhor Frio guardando a cura para a doença de sua amada consigo em sua armadura, e que serve para ajudar Alfred a viver. No entanto, há algo mágico na obra que Schumacher dirigiu, algo que faz toda essa besteirada cafona funcionar como algo tão ruim que se torna divertido acompanhar o desastre. O objetivo do diretor era fazer o que James Wan conseguiu em Aquaman, um filme de herói histriônico, brega e que funciona por não se levar a sério, mas as muitas influencias da Warner e sua passividade – sem trocadilhos com orientação sexual, obviamente – não permitiram isso, e fizeram ele enterrar a franquia por muito tempo, até Batman Begins, enterrando também o possível filme cinco  Batman Triunfante e Superman Lives de Tim Burton, o que é uma pena, pois o fã mais curioso e merdeiro. Nem a falta de identidade de Batman e Robin sepulta a curiosidade do que viria a partir daqui, ao menos a esse que vos fala. Sempre imaginei como seria um quinto filme, com Fries do lado dos mocinhos, ou com Alfred entrando em ação, mas obviamente que esses absurdos pensados pela minha cabeça quando criança não estavam a altura do que poderiam construir Schumacher e sua equipe.

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  • Crítica | Benzinho

    Crítica | Benzinho

    Benzinho é um filme brasileiro independente, de baixo custo  e bem simples, dirigido por Gustavo Pizzi e roteirizado por Pizzi e Karine Teles que trata da historia de uma família grande que tenta se organizar e viver com as mudanças comuns ao crescimento de cada um de seus membros. O modo com a historia se desenrola é emocional, mas não deixa a racionalidade de lado, ao contrário, é sobre o pilar da realidade e do saudosismo que o longa se mantem de pé.

    Irene (Karine Teles) é casada com Klaus (Otavio Muller), eles tem 4 filhos, sendo que o mais velho deles, Fernando (Konstantinos Sarris) é tão bom no que faz – ele joga handebol – que surge a oportunidade dele viajar e ir até a Alemanha. A família, que já tem dificuldades financeiras enormes pelo fato de seu pai não conseguir muito sucesso nos empreendimentos que tenta levantar, ainda tem que conviver com a presença de Sônia (Adriana Esteves), uma mulher que for agredida por seu marido e foi para a casa da irmã, com seu filho, aumentando ainda mais o tamanho do núcleo familiar.

    O lugar que eles chamam de lar é uma casa velha, com problemas sérios de encanamento, eletricidade e até com a porta. Todos tem que entrar por uma janela que dá para um dos quarto, com um escada improvisada, e tal qual acontece com essa escada, as soluções dentro do filme são igualmente paliativas, as pessoas vão simplesmente vivendo remendo atrás de remendo, achando soluções provisórios para problemas recorrentes, e surpreendentemente essa jornada faz sentido, afinal é como a maioria das famílias brasileiras vivem, mesmo as que já tiveram algum poder aquisitivo como parece ser a focada pelas lentes de Pizzi.

    Há conflitos com pessoas externas, Mateus Solano faz um pequeno papel que ganha importância em um momento chave da trama, mas são as brigas, dissabores e perdoes familiares que mais evocam emoção. São explorados muitos medos comuns , o receio de ver os filhos crescerem e se tornarem independentes, de perder as crias que aliás é comum entre as duas mães Irene e Sônia, além é claro de já ter que se lidar com os problemas comuns e corriqueiros de se administrar uma casa praticamente sozinha.

    Benzinho é sobre Irene, até o nome do filme mostra isso, sendo a forma dela chamar quem lhe é querido, mas trata de tantos outros aspectos de sua mente e psique, como o modo de lidar com seu passado de possível escravidão infantil e a Sindrome de Estocolmo decorrente disso, onde ela ainda trata bem a patroa de seus pais, ou a perda da casa de praia em Araruama que ela tanto gostava, para enfim ter dinheiro para investir em mais uma nova empreitada aventureira de seu marido. Curioso é que o filme fala de maneira muito certeira sobre assunto pesados sem perder a emoção que lhe corre desde o inicio, compondo um quadro de belas imagens, atuações e entregas do elenco e demais membros da produção. É um filme de fato sobre medidas provisórias e sobre a dificuldade de seguir em frente, embora seja claramente preciso, e que estabelece muito bem um retrato das famílias cariocas e fluminense, especialmente quando a câmera enquadra Teles e Muller, um casal cheio de falhas, afetos e que se derramam em alma e talento aqui.

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  • Crítica | Baixo Centro

    Crítica | Baixo Centro

    De Minas Gerais, Baixo Centro é um longa de Ewerton Belico e Samuel Marotta que começa com a andança de Djamba interpretado por Marcelo de Souza e Silva, ao som dos tambores que tocam no ritmo dos Ogãs, prenunciando o drama com elementos das religiões afro brasileiras que ocorrera ali.

    Logo , aparece Robert , o personagem do sempre brilhante Alexandre de Sena, e ele encontra Teresa, uma menina bonita que está nos arredores de um baile de rua que toca rap nas alturas. A moça é feita por Cris Moreira. Logo, aparecem outros personagens, pessoas tão perdidas quanto esses primeiras, gente que não o rumo de seu próprio futuro.

    O hiper naturalismo de Belico e Marotta é embalado também pelos funks tocados durante as andanças dos personagens, onde a maioria das letras dessas músicas tem um discurso consciente e de protesto. Isso acontece sobretudo nas cenas que tem casais no centro das atenções e diálogos entre os jovens.

    Quando andam sozinhos, os personagens são perseguidos com uma câmera que não os apressa e que só observa o lento caminhar desses, algumas vezes acompanhado de uma música instrumental alta, denunciando ou perigo ou angústia, embora essas promessas não se cumpram em meio aos 80 minutos de exibição.

    Baixo Centro tem um desfecho que mira um certo ideal poético, com uma justaposição de rostos em tela que tem o intuito de mostrar que os destinos dos personagens são bastante parecidos, independente até dos rumos que eles dão para os seus atos, mostrando que fatores externos como o social e as forças das autoridades tem peso sim dentro das suas rotinas pessoais. O texto de Belico e Marotta tenta mostrar seus personagens lidando com as frustrações e dificuldades típica da era moderna, mas não consegue chegar a grandes conclusões em meio a observação contemplativa que faz de todas essas situações, e do fracasso que é a tentativa de socializar dentro das grandes cidades, pois as maiores formas de afeto mostradas no filme e na realidade tangível, acontecem em pequenos grupos, geralmente de casais e não em coletivos como se deveria intuir em um grande cidade que reúne tantas milhares ou milhões de pessoas.

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  • Critica | A Terra Negra dos Kawas

    Critica | A Terra Negra dos Kawas

    De Sérgio Andrade, A Terra Negra dos Kawas é um filme que utiliza variações dos mitos indígenas brasileiros como base para contar sua história com elementos fantásticos. Rodado na Amazônia, ele começa com dois trabalhadores brancos perguntando na porta de uma propriedade se eles tem água. Uma senhora os atende, seu modo de andar é sereno e as portas do sítio se abrem sozinhas, de maneira um pouco estranha, mas ainda assim eles aceitam a cortesia dela, e começam a rir logo depois de beber o líquido.

    A reação dos dois é bastante estranha, mas o filme não dá tanta atenção a isso naquele momento, em lugar disso, mostra dois micro universos, um de brancos cientistas estudiosos, e outro de nativos que praticam ritos e que de sua própria forma, estudam as propriedades do locam onde habitam e da terra preta que pisam e que de vez em quando consomem.

    A colisão dos mundos se dá basicamente por conta das estranhas substancias presentes na tal terra negra. Ao ser analisado  pelos personagem de Marat Descarts, Felipe Rocha e Mariana Lima evidenciado que o índices de PH da terra nunca foram vistos, e que cientificamente há algo diferente ali, de fato.

    Na aldeia dos nativos há encontros com outros refugiados, haitianos e se discute uma ligação dessas terras com as do Haiti, as mesmas responsáveis por inúmeros contos de zumbis, inspirando até George A. Romero. A terra é sagrada para os Kawas, e quando a personagem de Severiano Kadassare (simplesmente deslumbrante no filme) mostra o poder transcendental da terra para o personagem de Rocha ele fica ébrio, e ele acha que é bom mostrar para outras pessoas, mas é impedido pela nativa, pois o povo não quer partilhar e não pode partilhar aquilo de maneira globalizada.

    A mensagem por trás do  roteiro de Andrade é de que aquele conhecimento sagrado não é egoísmo, e sim preservação, e essa postura é correta, pois o homem branco tem mesmo a mania de predar inclusive o que ele não entende, e a questão dos Kawas também tem a ver com refugiados, pois eles também saíram de sua terra original, e não se sabe se substância arenosa veio ou não com eles, e esse mistério talvez seja a maior riqueza do filme.

    A questão mais surrealista de A Terra Negra dos Kawas é muito boa, o final peca um pouco por se perder na mentalidade hiper conciliadora entre os povos estranhos que são mostrados, mas a mensagem prossegue forte, em meio aos alucinógenos  que super expandem a mente e sensações e claro, os tambores e risos.

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  • Crítica | Inaudito

    Crítica | Inaudito

    De  Gregorio Gananian, Inaudito é um longa metragem que mira ser  um filme ensaio, a respeito do lendário guitarrista Lanny Gordin, o mesmo que eletrizou Gal Costa, Caetano Veloso, Jades Macalé e companhia, e o modo com a historia é contado varia entre a narração do mesmo e imagens dos lugares que ele julga importantes para a sua carreira. Em suma, é um filme itinerante.

    Já no começo, Gordin toca a música Eu Nasci na China, repetindo que o nome dela se dá por seu local de nascimento. Isso pode parecer obvio para quem o conhece e talvez desimportante para o leitor, mas fato é que Gananian bate nessa tecla o tempo inteiro, para entender Lanny é preciso saber que ele é um cosmopolita, um homem do mundo, capaz de representar esse caráter globalizado no bom sentido em seu trabalho e música.

    O exercício de linguagem lembra bastante outra obra, Sutis Interferências da Paula Gaitan, que fala a respeito de Arto Lidnsay, inclusive na forma de passar as informações e sensações de seus filmes. Nesse ponto, a dificuldade de se expressar por palavras que Gordin tem serve ao filme, dando ele um tom dramático e que exige atenção, ao mesmo tempo que torna ele um pouco complicado para apreciar. Esse é um filme que não deveria passar em uma sala de cinema comum, e sim em uma experiência mais sensorial

    Ao mesmo tempo em que o filme se excede por ser refém de sua formula, a representação da facilidade que o biografado tem em tocar quase qualquer instrumento e estilo é muito bem representada, assim como a sensação de que a arte em sua forma bruta não é entendido pelas pessoas normais.

    Gananian conduz um que filme que filosofa muito, que é espiritualista e conversa com a memória / espírito de ícones musicais (algumas vezes até de maneira literal, como é com Jimmy Hendrix, onde Lanny demonstra sua admiração), e no sentido de falar em legado,  Inaudito acerta demais, apesar de claramente ser longo demais sua exposição e exploração, ainda assim, é uma obra forte.

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