Resenha | Dragões
Para comemorar o ano do Dragão (compreendido entre 2012 e fevereiro de 2013), a Editora Draco realiza uma edição comemorativa, publicando contos com a temática draconiana através de concurso, reunindo 16 histórias na versão impressa. O texto crônico de Erick Santos Cardoso – um dos organizadores da coletânea – que antecede os escritos, é de um tom profético absurdo e insere o leitor nos ambientes e mundos fantásticos que estão por vir.
Buraco dos Malditos:
Pablo Amaral Rebello insere o leitor em seu universo de forma magistral, especialmente pelos seus incomuns diálogos, que emulam a realidade, e também por meio de descrições em tom poético, valorizando mesmo os mais ordinários eventos cotidianos. Sua vasta experiência como jornalista o ajuda a abrilhantar sua história, tornando a busca pela lendária figura em algo verossímil, apesar do caráter fantástico da busca. O mistério que envolve os personagens tem uma brasilidade ímpar, mostrando que para construir uma boa história não é necessário apelar para estrangeirismos e afins. A reimaginação da aventura folclórica é muito bem urdida e equilibra bem a tradição com a contemporaneidade.
Coronel Mostarda:
Flavio Medeiros Júnior escreve uma história mergulhada em referências a cultura pop, desde conceitos comuns a produtos do fandom, séries de tv, clássicos do cinema e até jogos de tabuleiro. Faz de seu conto uma aventura detetivesca fantástica. A figura draconiana é mostrada de forma mística, mas diferente da visão clássica e monstruosa da criatura – é curioso que tenha sido escolhida para abrir a antologia.
O Negro:
A ambientação – na época do Império Romano – garante ao conto de Albarus Andreos um interesse imediato por parte do leitor acostumado com a temática. No começo, ele arranha de forma leve e jocosa a figura de Cristo, mas de forma alguma ofende a figura religiosa, e o seu desfecho contém uma ótima referência ao texto Metamorfose de Franz Kafka.
O Recrutamento da Mulher Dragão:
A narração em primeira pessoa tem um tom confessional, é fácil adentrar na mente e na rotina da personagem, que esmiúça o seu processo de treinamento e de suas iguais, com intuitos ainda misteriosos. Mesmo com os perigos iminentes, há um bocado de feminilidade no comportamento descrito pela narradora, o que reforça ainda mais o subtexto principal. O detalhe mais interessante da história consiste na curiosa reprodução dos dragões, apresentada pelo autor. A história de Antonio Luiz M. C. Costa brinca com questões primordiais como miscigenação e aceitação do diferente, sem descuidar da ação evidentemente.
O Mais Louco dos Surrealistas:
Um mergulho poético ao cotidiano, é como melhor se resume o conto de Bruno Oliveira Couto. Em O Mais Louco dos Surrealistas o autor homenageia Drummond de Andrade, Virginia Woolf, Caetano Veloso. Seus méritos são maiores pela quantidade de referências, mas sua história é equilibrada e competente em entreter o leitor, especialmente com o caráter um tanto apocalíptico do seu final.
A coletânea reúne também as histórias: A Dama das Ameixas, de Karen Alvares, Um Dragão no Porão de Eduardo Barcelona Alves, Mistérios, Mentiras e Dragões de Elsen Pontual Sales Filho, O Primeiro Dia da Primavera de Ana Cristina Rodrigues, Ninho de Dracogrifos de Alec Silva, Operação Rastro Rubro de Ana Carolina Pereira, As Mulheres da Minha Vida de Marco Rigobelli, Salve Jorge de André S. Silva, Hoffman & Long de Cirilo S. Lemos, Capeta de Kássia Monteiro e Devorados de Erick Santos Cardoso, na versão impressa. Na versão digital há histórias de Leandro Leme, Josué de Oliveira, Vitor Frazão, Carina Portugal, Nilton Braga e Nuno Almeida.