Travessia obrigatória do mundo adulto, a adolescência é a fase transitória com maiores lembranças nostálgicas futuras. Diante das transformações do mundo interno em contraste com as obrigações que começam a surgir, além de uma nova compreensão sobre o que o cerca, o jovem representa essa revolução indecisa e confusa por natureza.
Baseado na obra de Maria Mariana e na série homônima da TV Cultura, Confissões de Adolescente, filme dirigido por Daniel Filho – que também produziu a série –, apresenta o universo conhecido das quatro irmãs, situadas em uma versão mais contemporânea. Foca tanto o público-alvo jovem quanto os adultos nostálgicos, apelo que se funda na história e na própria adolescência.
O filme inicia-se simulando o estilo documental, presente na série televisiva, em que jovens apresentam depoimentos diretamente para a câmera. A diferença é que, pontuando a história nos dias de hoje, a montagem das cenas emula as janelas do sistema operacional da Microsoft. Mesmo modificando o modo como as personagens são apresentadas, suas angústias continuam as mesmas. A família das quatro irmãs entra em cena novamente mas com novos nomes diferentes do seriado. Diante da idade do grupo, que abrange dos 14 aos 20 e poucos anos, o roteiro de Matheus Souza tenta manter uma coerência entre as situações vividas por cada idade, e, quando possível, destacar outras histórias das personagens que circundam as principais.
A paleta de personagens apresentados em cena produz reconhecimento imediato no público. São adolescentes típicos representando seus papéis entre amigos inseparáveis, paixões platônicas e os primeiros namoros que começam a surgir, emergindo maiores experiências nesta fase. Pela dimensão ampliada de estilos em cena, a história desenvolve-se regularmente quando deseja ser mais profunda nos dramas adolescentes. As cenas se enchem de melodrama dentro de um roteiro que deveria discutir tais aspectos com maior naturalidade.
Tanto no excesso dramático quanto no cômico, há momentos que soam inverossímeis até mesmo para uma trama juvenil, ainda que, em certas situações, ela saiba dialogar de maneira crítica com outras histórias. Como nas cenas em que um garoto apaixonado aceita o estranho conselho do amigo de tentar parecer misterioso como o vampiro da saga Crepúsculo para conquistar a garota. Apesar do exagero, o recurso se torna sátira da série adolescente, demonstrando o quanto, em um conceito mais realista, é patético um personagem plano que, envolto em mistério e purpurina, tenta seduzir uma mortal.
Diante de muitas referências voltadas ao riso, quando o assunto da gravidez indesejada vem à tona não há dimensão dramática que se sustente, ainda que a interpretação do excelente Cássio Gabus Mendes — sobrinho de Luis Gustavo, o mesmo que defendeu o papel na série — como o pai das irmãs passe a credibilidade e o stress de ser progenitor de quatro adolescentes em uma efervescente Rio de Janeiro. Além de sua participação pontual em cena, há um monólogo dedicado a sua infância que mostra as praias e as mudanças da cidade. Porém, as belas cenas parecem deslocadas do roteiro, parecendo mais um cartão postal vendendo o município do que um elemento propriamente importante à trama. Faz-nos relembrar que não é a primeira vez que uma produção de Daniel Filho abusou do senso de propaganda — lembrem-se do dirigível de A Partilha.
Sem estrutura para assuntos de maior densidade, a trama funciona quando na leveza, no reflexo da sensação pueril e inconsequente permitida pela adolescência. Além de brindar o público com doses de nostalgia através da presença de Maria Mariana, Deborah Secco, Georgiana Góes e Daniele Valente — quarteto central da série televisiva —, no filme, há um pequeno sarau musical que surge após o desfecho da obra: chamando os créditos, a canção dadaísta de Djavan, Sina, conta com a participação de todo o elenco no recital compartilhado.
É tipo Malhação… no cinema.