Nascida e criada no interior da Inglaterra, a escritora Jane Austen produziu narrativas que analisavam com ironia refinada os costumes de sua época, transformando suas personagens femininas em representantes que se diferenciavam pela inteligência e percepção. Uma de suas obras mais lidas, Orgulho e Preconceito, ressurgiu nas telas em 2005 em nova adaptação marcando a estreia de Joe Wright em longas-metragens e o início de sua parceria com a atriz Keira Knightley.
A narrativa de Orgulho e Preconceito poderia ser confundida com um romance histórico, não fossem suas personagens bem delineadas. Aliado a elas, o estilo de Austen promoveu elogiados romances. A adaptação de Deborah Moggach para as telas mantém a vivacidade das personagens, abrangendo com qualidade as aproximadas 400 páginas do romance e alinhando-o a um estilo cinematográfico. A passagem de tempo é feita de maneira natural e implícita, modificando uma das bases do romance moderno, a dilatação temporal, em uma linguagem visualmente acessível, ainda mais quando o tempo é primordial para a história.
A estética escolhida nas cenas visam demonstrar o núcleo familiar, e Wright faz bom uso de cenas filmadas em steadycam, dando agilidade – e certa euforia – a uma casa formada por seis mulheres. O tempo e o espaço são primordiais para representar a espera das personagens e a composição do ambiente. O título da obra revela a estrutura básica das personagens que transitam no romance central, sem saber definidamente de quem é o orgulho ou o preconceito. Elizabeth Bennet é a mais lúcida das irmãs da família, ao mesmo tempo que sua inteligência é uma armadilha para o preconceito. Enquanto Sr. Darcy, um dos personagens mais cativantes e cultuados da literatura, é dúbia e charmosa, sem sabermos de antemão se sua atração pela garota é refreada por não estarem na mesma camada social ou por um orgulho interno.
Sem sombra de dúvida, trata-se de uma história de amor. Conduzida pela pena de Austen, a história não só faz da época um pano de fundo como transforma-a em um personagem coletivo representado pelas irmãs desenfreadas, a matriarca preocupada com o futuro das filhas à procura de bons partidos e outros tipos que personificam uma imagem assertiva e impositiva do século XIX.
Em cena, Knightley demonstra amadurecimento neste papel dramático e um physique du rôle que a fez se dedicar a diversos papéis de época após esta interpretação, e se tornar estrela de outras produções posteriores de Wright. Seu carisma é fundamental para dar credibilidade aos conflitos de Elizabeth e ao embate amoroso desenvolvido durante a narrativa.
A personagem Lisbeth é uma libertária por definição. Deseja sair das amarras obrigatórias do casamento arranjado para procurar a liberdade de escolher quem deseja. O amor é uma transgressão, e a união de um casal improvável também representa uma ruptura para a época. Não à toa ela é o enfoque da história, e não suas irmãs, representadas como mais frívolas e despreocupadas com o amor como liberdade.
O estilo de Austen, mantido nas cenas, demonstra a excelência desta adaptação em não desfigurar a base do romance ao mesmo tempo que estrutura uma linguagem cinematográfica apurada. Uma obra que, devido à sua qualidade, também merece destaque como exemplo de versão definitiva de uma grande composição literária.
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