Após uma severa lesão na perna em sua segunda luta com Chris Weidman, o brasileiro Anderson Silva, um dos lutadores mais consagrados do MMA, retornaria ao UFC marcado pela tradicional jornada de superação, narrada em diversas reportagens televisivas e jornalísticas sobre sua história.
Mesmo avesso a qualquer tipo de esporte, me vi aguardando ansioso pela luta com Nick Diaz e pelo retorno de Silva. Qualquer análise sobre sua performance será deixada de lado, para especialistas. Porém, simpático à trajetória do paulista, assisti ao seu retorno vitorioso. Após a luta, retirei da estante a biografia Anderson Spider Silva: O Relato de Um Campeão Nos Ringues e Na Vida, publicada pelo selo Primeira Pessoa da Editora Sextante, e a coloquei na lista de leituras prioritárias, entre dois romances densos que me propus a ler. Uma autobiografia sempre traz uma leveza narrativa, e funciona como pausa diante de leituras de maior fôlego.
Os parágrafos anteriores são informações desnecessárias aos que procuram somente a análise desta biografia. Mesmo não sendo simpático a esse estilo de composição crítica, em que o escritor fala um pouco de si mesmo, achei interessante, dessa vez, pontuar que minha leitura da obra estava avançada quando, dias após a luta, um exame atrasado de antidoping revelava que Spider fazia uso de substâncias que são proibidas pelo evento. A explicação e os desdobramentos para este acontecimento ainda não foram revelados, mesmo que, em uma análise primária, a mídia em geral considere o fato como uma mancha na boa carreira do lutador. Um movimento triste para sua trajetória de vida, exposta nesta biografia até o ano de 2012, data de lançamento do livro.
Anderson Spider Silva narra de maneira franca e breve a trajetória de Silva. Como a maioria das autobiografias, há menor intensidade em uma estrutura formal e temporal e maior intensidade na conversa direta com o leitor. Uma biografia que permanece entre a cronologia da vida, com altos e baixos de sua evolução, e histórias paralelas de quando conhece outros colegas de profissão, ou mostrando curiosidades de tempos anteriores. Uma jornada íntima do lutador observando seu próprio caminho.
Segunda edição da obra, o livro contém trechos retirados devido ao pedido judicial movido por um dos conhecidos do lutador. Por outro lado, apesar da censura, há um novo capítulo sobre a revanche do século, a luta entre Silva e Chael Sonnen. A história franca sem cortes – salvo a censura judicial – apresenta o bom e o ruim de sua trajetória. O lutador fala sobre a infância e a modificação da estrutura familiar ao ir morar com uma tia, à procura de melhores condições de vida; a batalha diária contra a pobreza; e os trabalhos que realizou até investir nas lutas. Acontecimentos nunca menosprezados por Anderson, pontuando-os como importantes para a formação de seu caráter. Humilde, reconhece que cada treino e companheiro deixaram um ensinamento, mesmo que nem sempre positivo. Por trás do homem equilibrado, confessa momentos de fúria e violência, os quais, devido a sua ponderação e a criação familiar, negava em seguida.
A criação do epíteto Spider surgiu ao acaso, como diversos apelidos em geral. No Japão, um apresentador viu o lutador com uma camiseta do herói criado por Stan Lee e, ao anunciá-lo antes do combate, chama-o pela alcunha que Anderson decidiu aceitar. Desde criança, o Homem-Aranha foi um de seus heróis preferidos, tanto pela coincidente criação familiar – Peter Parker e Anderson Silva foram criados por uma tia – quanto pelo ensinamento “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, uma das frases chave na mítica do aracnídeo.
Ao narrar sua lutas mais importantes, observamos uma visão diferente, nas palavras de quem foi parte fundamental de cada vitória. É impossível não querer procurar os combates mencionados para assisti-los – ou reassisti-los, no caso de seus fãs – após a leitura.
Além da trajetória como lutador, Silva mantém uma filosofia de vida própria, fundamentada pelos ensinamentos de sua tia-mãe e aprimorada com ajuda de diversos mestres e senseis que lhe ensinaram sobre respeito, disciplina e artes marciais. Uma bonita percepção de um lutador que não perdeu de vista seus objetivos primordiais mesmo em um esporte altamente rentável. Uma grande carreira que, no momento, encontra-se maculada, aguardando o seu destino após a revelação de dois exames positivos que registram o uso de medicamentos proibidos. Alguns verão este destino como a confirmação de um homem comum, portanto imperfeito e sujeito a erros e falhas; outros destruirão a imagem conquistada de herói nacional. Seja como for seu futuro, sua história é inspiradora e, ainda que esse motivo seja subjetivo, sem dúvida o trabalho de Spider como lutador foi incrível, e seus recordes comprovam estes feitos. O tempo dirá como veremos Anderson Silva em breve.
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