Destaque do gênero ficcional conhecido como Young Adult, Scott Westerfeld produziu até o momento quatro séries literárias de sucesso. No país, é mais conhecido pela Feios, uma quadrilogia sobre um futuro em que a sociedade é inteiramente plástica, dedicada a uma estética perfeita. Porém, desde o início da carreira seus romances são elogiados dentro do gênero e conquistaram premiações.
Ainda não publicado no país, Evolution’s Darling foi citado pelo New York Times como um dos livros notáveis do ano, recebendo menção honrosa no prêmio Philip K. Dick, dedicado à ficção científica. Tão Perto venceu o Victorian Premier’s Literary Awards, premiação australiana, país em que Westerfield reside boa parte do ano. Enquanto o primeiro título da série Feios venceu um prêmio no ano de sua publicação de melhor livro Young Adult.
Ainda que premiações sejam passíveis de dúvidas, o vasto público e as indicações vindas de fontes variadas podem comprovar seu talento, mesmo que o estilo ou gênero Young Adult seja tão abrangente ao ponto de dificultar uma definição apurada.
Ao contrário da série Feios, em que projeta um possível futuro, Westerfeld olha para o passado para reconstruí-lo em Leviatã, primeiro romance de uma trilogia. A história situa-se na Primeira Guerra Mundial, partindo dos conhecimentos históricos mais básicos para rearranjar-se em narrativa steampunk.
A batalha é a mesma que conhecemos historicamente, mas há um significativo avanço científico composto pelos mekanistas, que batalham com aparatos mecânicos, e os darwinistas que, no desenvolvimento genético, produzem animais híbridos próprios para a batalha.
Neste cenário bélico, estão dois jovens: Alek Ferdinand, príncipe do império austro-húngaro, fugindo com um pequeno séquito após descobrir uma conspiração que assassinou seus pais; e Deryn Sharp, uma garota que disfarça-se de homem para ingressar na Força Aérea Britânica.
Em um primeiro momento, a narrativa constrói-se apresentando as personagens de maneira alternada. Desenvolvendo a ambientação e situando o leitor em uma história que, embora conhecida, foi modificada. Até o primeiro encontro das personagens, a construção narrativa soa repetitiva e burocrática até a ação propriamente.
Devido ao universo especulativo da ficção científica – e talvez o público alvo da história – ilustrações feitas por Keith Thompson acompanham o romance para que se visualize as máquinas de guerra envolvidas na trama, mecânicas e animalescas. Sob este ponto, a edição da Galera Record, selo da Record, é impecável. Com extremo cuidado gráfico tanto na capa quanto nas ilustrações, além de conter na capa interna um mapa dos países envolvidos na batalha e seus respectivos aliados.
As criações de Westerfield são o elemento mais rico da história que segue a tradição do Young Adult e, centrado nas personagens adolescentes, produz o conflito inicial e a aproximação das personagens após um inusitado encontro em um país frio.
Como grande história divida em partes, é evidente o gancho para o segundo romance, que projeta a expectativa de continuidade. Intitulado Behemoth, a segunda parte da saga tem previsão de lançamento no país para o próximo mês.
Pela composição narrativa mista entre steampunk e o estilo Young Adult, Leviatã poderia aprofundar-se mais na matéria ficcional sem as amarras de conflitos primários. Porém, mesmo sob tal aspecto, a narrativa não desagrada aqueles que se interessam somente pela nova ótica da primeira guerra mundial. Um novo universo construído com qualidade e potencial para ser tornar trilogia cinematográfica de sucesso.