Ao olhar para o título do livro Luz e Sombra – Conversas com Jimmy Page, é possível que o leitor pense, ao menos num primeiro momento, que se trata de apenas um título sem maior significado.
Engano.
O conceito de “Luz e Sombra” talvez seja o que melhor define uma das principais características da obra do guitarrista inglês: a alternância de dinâmica entre peso e leveza, velocidade e lentidão dentro de uma mesma canção.
Exemplos da aplicação desse conceito não faltam. Principalmente na obra do Led Zeppelin, uma das maiores bandas de todos os tempos e o grupo ao qual Page é imediatamente associado, como fundador, líder, produtor e principal compositor. Canções como “Ramble On”, “Dazed and Confused” e “‘Stairway to Heaven”, entre tantas outras, são provas vivas de que, para ele, uma composição é formada, antes de qualquer outra coisa, por nuances e variações.
Page é declaradamente avesso a entrevistas. Nunca escondeu que detesta falar com jornalistas. A postura defensiva é fruto do massacre que praticamente todos os álbuns do Zeppelin sofreram nas mãos da crítica americana. Um dos poucos que conseguiram furar o silêncio do músico foi Brad Tolinski, editor da revista Guitar World. O livro é justamente o resultado da compilação de várias conversas que ambos tiveram ao longo dos anos.
Organizado de forma cronológica, a obra mostra toda a história de Jimmy Page – desde seu nascimento até o primeiro contato com a guitarra, ainda na infância. As excursões em grupos pequenos e pouco no início da carreira. O longo período em que trabalhou como músico de estúdio, quando gravou com praticamente todos os grandes nomes da música britânica na década de 1960. A entrada nos Yardbirds. A formação, ascensão e dissolução do Led Zeppelin. Os trabalhos posteriores com o The Firm e o álbum que gravou em parceria com David Coverdale. A reunião com Robert Plant para os álbuns “No Quarter” e “Walking into Clarksdale”. O show solitário do Zeppelin na O2 Arena, lançado ano passado nos cinemas, e a participação no documentário A Todo Volume.
Tudo está lá, costurado por longas entrevistas com o próprio Page e também com pessoas que passaram pela sua vida profissional, como Chris Dreja (Yardbirds), John Paul Jones (Led Zeppelin), Jack White (The White Stripes e Raconteurs) e Paul Rodgers (Bad Company, The Firm e Queen).
Nas conversas, o guitarrista fala sobre a vida, os detalhes das turnês, seu processo criativo, o trabalho como produtor e as técnicas utilizadas por ele para captar o som em estúdio.
Para quem não sabe, Page é considerado um revolucionário no que se refere à captação do som de bateria. Se quiserem um exemplo dessa habilidade, ouçam com atenção o bumbo fantasmagórico e cheio de ambiência tocado por John Bonham no início de “When the Levee Breaks”, do Led Zeppelin IV.
No entanto, há um assunto sobre o qual o guitarrista se esquiva todo o tempo: o seu envolvimento com magia e ocultismo. O entrevistador se esforça para conseguir detalhes, mas Page concede apenas respostas evasivas, o que aumenta ainda mais o mistério sobre este aspecto da sua vida.
Como se sabe, o músico é tão fascinado pelo oculto que, em 1971, comprou a Boleskine – mansão localizada às margens do Lago Ness, na Escócia, e que antes pertenceu ao mago Aleister Crowley. Ele também é o responsável pela adoção dos quatro símbolos rúnicos associados a cada integrante do Zeppelin.
Além de tudo isso, o livro traz uma parte dedicada apenas aos aspectos técnicos da vida de Page como músico: uma relação detalhada de guitarras, amplificadores e pedais usados pelo guitarrista.
Luz e Sombra – Conversas com Jimmy Page é item fundamental para todos aqueles que querem saber mais sobre a história do Led Zeppelin, mas principalmente para quem deseja mergulhar nos detalhes da vida de um dos maiores guitarristas da história do Rock.
–
Texto de autoria de Carlos Brito.
Me deu uma vontade absurda de ler esse! Page é bom demais, assim como Bonham era( um dos maiores bateristas que o mundo já viu, ao lado de Keith Moon)!
Texto legal Carlos, volte sempre querido!
Obrigado, Filipe.
Encontrei esse livro por acaso em uma livraria, e comprei na hora. Ainda não terminei, mas é uma boa leitura, principalmente pra quem se interessa por música. Os detalhes mais técnicos são muito legais, mostrando a experiência absurda de Page.
O documentário A Todo Volume também é ótimo, e nele Page revela um dos segredos da bateria de When the Levee Breaks.