Em sua primeira obra, lançada no Brasil pela Editora Globo, Simone Elkeles apresenta um tradicional universo adolescente típico da maioria das narrativas young adult. Amor em Jogo possui dois narradores diferentes, um garoto e uma garota, intercalando o desenvolvimento da trama. O ideário proposto pela história de amor adolescente ainda está preso no padrão entre mocinho e mocinha, ambos populares à sua maneira e descritos energicamente como sedutores. Uma repetição que parece comum no gênero, sempre destacando personagens ou com muitas qualidades positivas ou com muitas negativas, sem uma dosagem que equilibre a composição das figuras ficcionais.
O estilo alternado de narradores promove maior dinamicidade e evita a parcialidade proposital ao observarmos somente um narrador. Mesmo sob dois pontos de vista diferentes, a história é linear, sem mudanças bruscas de estilo, afinal, não faz parte da intenção da autora buscar vozes diferentes na narrativa, mas sim demonstrar o desenvolvimento da história de amor em ambos os lados da relação.
Ashtyn Parker e Derek Fitzpatrick têm em comum um passado atribulado de difícil compreensão diante da imaturidade natural do adolescente. Capitã do time de futebol americano do colégio, Ashtyn foi abandonada pela mãe quando criança, e o trauma impede-a de aproximar-se de qualquer pessoa, com medo de uma futura rejeição; enquanto o jovem Derek perdeu a mãe na infância e convive somente com a madrasta, já que o pai trabalha em alto-mar como integrante da Marinha. Após um trote na escola, que lhe rende uma expulsão, o garoto é obrigado a mudar-se para Illinois com a madrasta e começar uma nova vida.
O encontro das personagens produz certa originalidade à obra, foge de um tradicional encontro em lugares comuns, como uma escola ou locais de lazer juvenil, para se apresentar em laços fundamentados por parentes: a irmã de Ashtyn é a namorada jovem do pai de Derek. Um acaso que coloca os dois jovens vivendo sob o mesmo teto.
A antipatia inicial de adolescentes contrariados pela invasão do espaço é quebrada aos poucos pela atração física que um sente pelo outro. A narrativa desenvolve pequenas intrigas para dificultar a aproximação amorosa: Ashtyn namora outro rapaz, e Derek é tido como um galinha galanteador. Dificuldades que se sobrepõem e geram uma tensão interna entre amor e medo.
Mesmo que parte da composição dos personagens centrais seja tradicional, com exagero em apresentá-los como populares, engraçados e com um porte físico invejável, uma tipificação do americano médio, a personalidade irônica de cada um é o grande destaque. É certa agressividade que promove bons diálogos e humor durante a história. Ashtyn e Derek cativam o leitor por suas características pessoais, motivo que também nos faz torcer pelo casal.
Na parte final da história, entretanto, Elkeles exagera em algumas descrições eróticas, desequilibrando uma obra que, até então, fazia breves insinuações sobre a sexualidade, detalhes antes apresentados de maneira leve ou atenuados pelo humor. É uma mudança breve na qual se demonstra uma escrita que, por não estar ainda completamente madura, entrega uma cena explícita, talvez como uma demanda para atender a um público mais específico. Ainda assim, as personagens mantêm seu brilho durante toda a trama.
Amor em Jogo é o primeiro livro de uma trilogia de sucesso lançada nos Estados Unidos. Mesmo apresentando as situações típicas de um young adult – estendendo a discussão sobre até que ponto um gênero ou estilo é castrador de uma narrativa –, a obra se mantém e é uma boa indicação, principalmente para os leitores do gênero. O diálogo com o público jovem, apresentando suas incertezas internas, os ápices de desejo, a sensação de incompletude e os medos primários, transpõe com qualidade o universo adolescente para a literatura atual.
Compre aqui: Versão Física | Digital