O sábado chegou e o dia prometia ser o mais lotado de todo o evento. Toda a correria e animação dos primeiros dias não seria nada frente ao clímax do evento. As previsões estavam certas.
O Vortex Cultural foi conferir de perto a palestra de criação de histórias em quadrinhos com ninguém menos do que Danilo Beyruth, quadrinista brasileiro responsável pela premiada HQ Bando de Dois e Necronauta. Como era de se esperar, tendo em vista todas as outras pessoas que vimos no evento, Danilo foi extremamente simpático e deixou todas as pessoas que estavam presentes na sala lotada bastante à vontade.
Em sua palestra, Danilo contou um pouco da forma como ele enxerga as histórias em quadrinhos e qual a lógica básica para a criação de uma. “A história em quadrinhos é uma forma de linguagem, assim como o cinema e a literatura. Linguagem nada mais é do que comunicação”, disse Beyruth. Assim como havíamos ouvido de Daniel Esteves no dia anterior, o público também pode ouvir de Danilo que através da HQ se transmite uma história. Explicou várias partes técnicas do processo criativo e deu várias dicas para as pessoas que se interessam em criar HQs. Uma delas, muito importante, e que vale dizer aqui é “sempre leve caderno e caneta com você, para todos os lugares onde você vá. Assim você sempre anotará suas boas ideias”.
Mais perto do final da palestra, Danilo teve a oportunidade de falar um pouco de seu mais novo trabalho: Astronauta – Magnetar, álbum em HQ cujo personagem principal é ninguém menos do que o velho e conhecido Astronauta da Turma da Mônica (Maurício de Souza), porém participando de uma história com um viés um pouco diferente daquele infantil e humorístico que estamos acostumados com o personagem. Danilo explicou a experiência com o Astronauta, de iniciar um processo criativo com um personagem de outra pessoa, tentar entender o mesmo e partir para uma narrativa com o mesmo sendo o motor principal que move a história. “A primeira coisa foi descobrir que o Astronauta não era um mero astronauta, mas um navegador. Ele está fadado a navegar pelo espaço, enfrentando a solidão e a saudade. Tive que me aproximar de exemplos do tipo, como Amyr Klink, para assim poder me aproximar ao personagem”.
Após a brilhante palestra de Danilo Beyruth, fomos novamente interagir com o resto do público e outros autores de quadrinhos. Uma das principais novidades do dia mais cheio de todo o evento com certeza foram os cosplayers. No local encontramos Stormtroopers, Mulher Gavião, Canário Negro, Arlequina e até mesmo um Freddie Krueger.
Após enfrentarmos uma hora de fila para conseguir autógrafos com alguns expoentes dos quadrinhos como Renato Guedes, Joe Bennet, Rod Reis e Carlos Magno, encontramos com mais um artista independente que estava lançando um trabalho no evento. Dessa vez, conversamos com Gustavo Ravaglio, um dos autores da primeira edição da HQ Capa Preta, juntamente com seu colega Her Ming Hsu Yen. A primeira impressão que se tem do material é a de que ela não é feita por artistas independentes, pois chama atenção e esbanja beleza. Gustavo ofereceu um pouco do seu tempo para falar um pouco conosco:
Vortex Cultural: Gustavo, você poderia nos falar um pouco de como está sendo a experiência da Gibicon para você e seu trabalho?
Gustavo Ravaglio: Eu tenho o meu estúdio e trabalho com quadrinhos, animação e ilustração. Aqui na Gibicon eu estou lançando a minha primeira HQ, o Capa Preta n. 01, então basicamente tem sido uma experiência nova. Nós estamos com uma tiragem boa e está saindo bastante. O público tem gostado bastante e elogiado principalmente nosso acabamento gráfico da revista e tudo o mais. Acaba que dá pra experimentar diversas coisas e vemos o que cai bem para o público e o que não cai. Em todos os sentidos a Gibicon está sendo muito boa para mim.
VC: De onde surgiu a vontade de fazer quadrinhos?
GR: Pode parecer puxação de saco, mas acredite, não é. Na Gibicon passada, quando eu vim no evento, decidi que no ano seguinte eu lançaria um quadrinho e hoje estou aqui. A Gibicon n. 0 significou isso para mim, minha motivação. Foi imediato. O Capa preta é um livro de quadrinhos independentes que pretende ser um novo meio pra divulgar novos artistas, novas histórias e sempre com caráter experimental. O Capa Preta tenta cumprir essa função e por isso pretendemos aumentar o número de artistas conosco, além de continuar com nosso trabalho.
Chegamos finalmente ao fim de mais um dia agitado no evento, que tem se mostrado um verdadeiro sucesso com o público e com os próprios artistas que mostram seus novos trabalhos. O domingo nem passou e o evento já começa a deixar resquícios de que vai fazer falta.
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Texto de autoria Pedro Lobato.