Tag: Albert Popwell

  • Crítica | Sem Medo da Morte

    Crítica | Sem Medo da Morte

    O detetive de modo rude, Harry Callahan, sempre teve suas aventuras pautadas em outros produtos da cultura pop que faziam sucesso na época em que seus filmes iriam estrear no cinema mainstream, e Sem Medo da Morte antes mesmo da introdução de seu astro, é mostrado uma situação capciosa, com uma mulher atraente pedindo carona, fruto de um óbvio despiste, servindo de isca para as ações intempestivas de um grupo terrorista.

    Harry (Clint Eastwood) é introduzido como de costume, após o mote que o fará se mover, tendo de resgatar refém de um malfeitor genérico, resolvendo a situação do modo mais truculento possível. Mesmo com a repetição de elementos, nota-se uma interessante e charmosa abordagem da estilo de vida dos anos setenta, especialmente na bela trilha sonora, repleta do som de metais do jazz, fatores que ajudam a datar ainda mais o protagonista/anti-herói em uma estética que de tão enérgica, beira o fascismo, resultando em uma busca por justiça a qualquer custo.

    O universo em que habita Dirty Harry é amoral como era a atualidade em meio a libertação sexual, e isso se demonstra em dois pontos chave, o primeiro, anedótico, se dá quando em meio a uma perseguição onde o inspetor mal encarado “invade” o set de filmagem de um filme pornô, durante a gravação de uma cena de sexo grupal. Certamente tal aspecto jocoso se deu pela afeição do diretor James Fargo ao tema, lembrado especialmente em Doido Para Brigar… Louco Pra Amar, onde o tom escrachado era ainda mais evidente.

    O outro fator, mais importante e simbólico, é o acréscimo da nova parceira do personagem principal, a detetive Kate Moore (Tyne Daly), que substitui seu antigo assecla, recentemente morto. Um novo conjunto de nuances deveria ser despertado, como a existência de movimentos como o feminismo, crescente em meio a revolução sexual que se instaurava, mas ainda invisível aos olhos conservadores de muitos homens, inclusive de Callahan, mas o que se nota é empáfia comum ao macho brucutu que despreza a mulher, unicamente por ela ser “inapta” a um trabalho tão bruto quanto este, ao menos na ideia retrógrada e conservadora vigente na época.

    O roteiro tem alguns problemas sérios, como o de seguir com alguns estereótipos fálicos, como a associação do negro a violência, ainda que o racismo velado seja um pouco quebrado graças a figura interpretada por Albert Popwell (que já havia participado dos dois filmes anteriores, com cenas menores) chamada Mustapha, uma liderança em meio ao submundo criminal que trabalha aqui como informante de Harry e chega a vestir a máscara de mentor em determinados pontos da trama.  A quantidade de vozes diferentes e que antes eram ignoradas  ganham espaço e não ocorrem à toa, e sim por pressão de seu tempo, já que não há qualquer reflexão em tais temas, somente a exposição delas.

    O modo violento com o qual Harry age piora demais. Seus atos incluem até o uso de uma bazuca, para acertar apenas um homem, fato que serviria de inspiração para o Paul Kersey de Charles Bronson nas fatídicas continuações de Desejo de Matar. A terceira aventura do homem que empunha a Magnum 44 serve de parâmetro para o que se tornariam as franquias de ação no futuro, cada vez mais violentas e banais nos filmes subsequentes.

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  • Crítica | Impacto Fulminante

    Crítica | Impacto Fulminante

    Impacto Fulminante

    Sete anos depois da parte três da franquia Dirty Harry, Clint Eastwood decidiria pela primeira (e única) vez assumir a direção de um filme sobre seu personagem mais famoso, supostamente para salvar Impacto Fulminante da continuação caça-níqueis, um arquétipo que o ícone que era Callahan ajudou a construir no cenário de ação do cinema norte-americano.

    O tom de autoparódia é notado logo em seu início, quando Callahan agride verbalmente um bandido que acabou de ser absolvido pelo sistema legal, usando frases de efeito e um comportamento bastante canastrão, auge que se dá por uma veia sobressaltada na testa de Eastwood. Finalmente os métodos ultra violentos do policial são discutidos, gerando a partir daí uma atitude enérgica, de afastamento deste que é transferido de São Francisco para a Califórnia, onde deveria apenas descansar, o que evidentemente não ocorre.

    A galhofa do filme prossegue, com demonstrações de tiros de Dirty Harry com uma Magnum cujo cano se assemelha a uma vareta de tão grande, bem como o retorno de Albert Popwell em sua quarta participação na franquia, com seu quarto personagem diferente, dessa vez como o amigo do anti-herói, Horace King, um especialista em armas.

    Novamente o detetive se vê em meio a assassinatos em série, mas não ao modo comumente mostrado pelo cinema mainstream. Jennifer Spence, vivida por Sondra Locke, é uma artista que é violentada sexualmente. As lembranças do ato nefasto são traumáticas e reúnem as melhores e mais inspiradas cenas organizadas pelo diretor, que se vale de ângulos estratégicos para causar no público a mesma repulsa ao ato que a vítima sofreu.

    As pinturas da artista retratam as perturbações de uma mulher, remetendo à desconstrução do ser feminino, servindo até de esconderijo para os crimes que ela comete, assassinando cada um dos envolvidos em seu estupro, em cenas nas quais a violência caricatural serve de válvula de escape, como um “descanso” para o caos social em que o filme está inserido, justificando o tom burlesco dos opositores.

    Apesar do final apressado, que inverte os arquétipos de agressor e refém, construídos no decorrer do filme, Impacto Fulminante consegue, por muito pouco, ultrapassar a barreira de ser apenas uma sequência tardia, principalmente por possuir uma direção inspirada, que garante muitos bons momentos para um roteiro que não chega nem perto de ultrapassar a linha da mediocridade.