Tag: Alex Kurtzman

  • VortCast 54 | Piores Filmes de 2017

    VortCast 54 | Piores Filmes de 2017

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Bernardo Mazzei, Bruno GasparCaio Amorim Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar sobre a lista publicada no site sobre os piores filmes lançados em 2017 no Brasil.

    Duração: 110 min.
    Edição: Caio Amorim
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Brisa de Cultura

    Piores Filmes de 2017

    Lista Completa dos Piores Filmes de 2017
    Crítica Rei Arthur: A Lenda da Espada
    Crítica Boneco de Neve
    Crítica Internet: O Filme
    Crítica Death Note
    Crítica Transformers: O Último Cavaleiro
    Crítica A Torre Negra
    Crítica Emoji: O Filme
    Crítica Alien: Covenant
    Crítica Assassin’s Creed
    Crítica A Múmia

    Menções Honrosas

    Crítica Liga da Justiça
    Crítica Mulher-Maravilha
    Crítica Bright
    Crítica Homem-Aranha: De Volta ao Lar
    Crítica A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell
    Crítica O Jardim das Aflições
    Crítica Policia Federal: A Lei é Para Todos
    Crítica O Círculo

    Comentados na Edição

    VortCast 49 | Liga da Justiça
    VortCast 48 | O Que Estamos Lendo?
    VortCast 47 | Homem-Aranha e o Cinema
    VortCast 46 | Melhores Filmes de 2016
    VortCast 44 | Piores Filmes de 2016
    VortCast 30 | Steve McQueen, Diretor
    VortCast 19 | Ghost In The Shell
    Estrelas não garantem mais a venda de ingressos de filmes de Hollywood

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  • Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 1)

    Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 1)

    Cercada de muitas expectativas, Star Trek – Discovery finalmente estreou mundialmente em setembro via streaming , começando por uma entrada animada belíssima, que viaja pelo espaço até a discussão de uma horda de klingons, evidenciando um dos temas polêmicos pregressos a essa série, que seria a aparência dessa raça alienígena. Além dos aspectos visuais não incomodarem – diferente do que é normalmente visto em Jornada nas Estrelas, sobretudo a série Clássica – claramente há um enfoque diferenciado nos primeiros episódios dessa nova fase, além de uma preocupação legítima em parecer atrativa aos olhos das novas plateias, levando em conta todo o grafismo estabelecido no início da parte da saga da Kelvin Timeline, iniciada em Star Trek de J.J. Abrams.

    Assinada em criação por Alex Kurtzman, Akiva Goldsman e Bryan Fuller(que não é mais um dos showrunners), os eventos se passam após a série Enterprise, e anteriormente a Série Clássica (aproximadamente dez anos, ao menos no prelúdio) fato que faz ser curiosa a tecnologia e visual, como ironicamente ocorreu com a saga cujos fãs mantém uma certa rivalidade com Trekkers, em especial no advento do Star Wars Episódio 1 – A Ameaça Fantasma, capitaneado por George Lucas.

    A nave que batiza a série não é mostrada de início, e sim a Uss Shenzhou, que é comandada pela Capitã Phillippa Georgiou (Michelle Yeoh) e tem como imediato (ou número um) Michael Burnham , cuja interprete Sonequa Martin-Green saiu recentemente de The Walking Dead. A primeira inteiração entre as duas é na superfície de um planeta arenoso, que faz lembrar demais a introdução de Além da Escuridão, também em um ambiente diferenciado.

    Apesar de lançados no mesmo dia, os dois primeiros episódios The Vulcan Hello e Battle at The Binary Stars servem para introduzir a personagem principal e outros integrantes da Discovery que viria, entre eles, o alienígena kalpien Saru, executado por Doug Jones, o mesmo que trabalha com Guillermo Del Toro frequentemente, em Hellboy, O Labirinto de Fauno e A Forma da Água, por exemplo. Sua compleição é o de ser fruto de uma raça que é normalmente predada, e ele age sempre com cautela e receio, inclusive externalizando seus medos através de guelras que surgem em seus pescoços, quando está perto de um perigo iminente. Já no início se estabelece uma dicotomia entre ele e Michael, que é uma personagem impulsiva, apesar de sua criação vulcana e da proximidade com seu pai adotivo, Sarek (James Frain), que já foi apresentado antes na franquia.

    Os nervosismos e tensões ocorridas com os klingons nesse grande episódio piloto se explica entre outras coisas pelo passado de Michael, que perdeu seu pais através de um ataque desse vilões. A partir dali ela foi obrigada a deixar de lado sua humanidade, por ser criada em um ambiente onde se reprime as emoções, em Vulcano. Além dos confrontos entre naves grandiosos em comparação com quase todos os outros produtos da marca Jornada nas Estrelas, há um prevalecimento de uma paranoia traumática, que começa com Michael tentando tomar o controle da Shenzoou a fim de atacar os seus inimigos tradicionais e termina com um confronto inevitável entre o Império Klingon e a Federação. O fim desse arco é trágico…

    Grande parte do corpo de fãs trekkers chiou bastante com as mudanças, entre elas a compleição dos klingons, a camuflagem das naves adversárias e os hologramas utilizados para comunicação interna. De fato, cada uma dessas características realmente saltam aos olhos dos que estudam o canône de Star Trek, em especial a linha do Universo Prime (que é a linha do tempo das séries clássicas), no entanto se apegar a isso é uma prática sobretudo fútil, há mais mistérios e posturas estranhas do que as simples corruptelas dos detalhes que só são caros aos fãs hardcore. Mais preocupante que isso certamente é a postura do Capitão Gabriel Lorca, vivido por Jason Isaacs, sob quem está a tutela da nave título do seriado. Ao ser remanejada, como prisioneira após os atos extremos que cometeu em Battle at The Binary Stars, Michael tem novos desafios, os de tentar se reabilitar diante da frota, de ter de lidar com antigos colegas que comandou, como Saru que agora é Comandante Oficial, além de ter que se submeter as ordens pouco ortodoxas de seu capitão.

    A tripulação da Discovery é diferenciada, mesmo em tempos de guerra, onde se há um maior estresse e conflitos frequentes, há de se guardar alguma cordialidade e mínima diplomacia e o que se vê é uma tensão forte entre os tripulantes, com trocas de ofensas que pouco tem a ver com a utopia pregada por Gene Ronddenberry. Apesar de incomoda, há alguns fatos que atenuam tal situação, como a postura de Lorca como um sujeito indócil e pouco inspirador de confiança. Sua forma de comando é agressiva e nada acalentadora. Ele é grosso e completamente diferente dos outros capitães, inclusive de Archer (Scott Bakula) de Enterprise, que é o mais próximo do século atual, já que suas aventuras são no século XXII. Tal postura faz perguntar uma série de questionamentos, que por sua vez geram especulações entre os trekkers, de que possivelmente essa fosse uma série no Universo Espelho, dado o comportamento agressivo geral, ou a simples ligação deles com a vindoura Seção 31, que é uma divisão de assuntos secretos introduzida em Deep Space Nine.

    Os episódios apesar de terem eventos procedurais – como os famosos casos da semana – são caracterizados por ter uma narrativa contínua, onde os eventos dos capítulos anteriores tem muita influência sobre o que ocorre posteriormente. A questão ética envolvendo o uso da critatura que Michael começa a chamar de Tardígrado é muito bem vinda, em especial por mostrar as inconsequências de Lorca, como chefe de equipe e claro, todas as questões morais que cercam o usufruir das capacidades de um ser que mesmo com uma atitude selvagem e bárbara pode ser inteligente, como se prova com o tempo.

    Em Choose your Pain, Lorca se vê em situação de prisioneiro, onde se depara com dois personagens enigmáticos, sendo o primeiro Ash Tayler (Shazad Latig), um sujeito preso no cárcere dos klingons, que depois é admitido entre a equipe da Discovery e claro, Harry Mudd (Rain Wilson), que já havia sido mostrado em Mudd’s Women e I, Mudd da série Classica. Essa versão é bastante diferente do visto no capitulo antigo. Claramente há uma tentativa de tornar Discovery na série mais pessimista dentro do canône, e em se tratando de uma época bélica, mais próxima da realidade do século XXI, natural que assim o seja

    O arquétipo de Burnham envolve dois personagens anteriores, primeiro Worf, o klingon interpretado por Michael Dorn, em TNG e DS9 que foi adotado por humanos, e Tom Paris (Robert Duncan McNeill), de Voyager, que é um sujeito párea, um criminoso em reabilitação que embarca na nave que acabou por se perder, comandada pela capitã Janeway (Kate Mulgrew). Ainda assim, o comportamento guarda características únicas, que normalmente a aproximam do ideal vulcano, tão intensa em si que ela tem uma ligação de alma com Sarek,

    O fato de fazer um diário de bordo faz Michael usar uma narração em off um pouco didática, mas é uma boa lembrança em Magic to make the sanest man go mad, que é um dos poucos momentos procedurais até então. Apesar de pouco compor a história geral, esse certamente é o mais rico e divertido capítulo até aqui, por resgatar a ideia jocosa original de Mudd, por brincar de maneira criativa com um clichê do gênero sci-fi e também por mostrar um lado curioso do engenheiro Paul Stamets (Anthony Rapp), que se mostra um personagem rico e envolvido com quase todas as sub-tramas importantes da temporada, uma vez que é ele quem tem contato direto com os esporos que permitem viajar no tempo e que terão sua razão e funcionamento melhor explorados na segunda parte dessa temporada, além de ser um personagem de personalidade dura, mas com um coração sensível. Já o momento seguinte foi complicado, em Si Vis Pacem Para Bellum, com uma sequência que conseguiu reunir todos os defeitos na confecção de Saru em um só episódio, piorando-os ainda mais, seja com as motivações torpes e ilógicas dele, ou com o CGI mal encaixado e artificial.

    Talvez a problemática mais discutível em qualidade desse primeiro momento em Discovery passe pelo uso dos klingons como antagonistas, não por eles serem factualmente os adversários, poderiam ser romulanos, andorianos, vulcanos, tanto faz, mas sim porque é um clichê tremendo dentro da franquia usá-los como contraponto, e também porque a serie anterior Enterprise mostra que não há tensões tão grandes entre a federação e esse povo. Além disso, as maquiagens dos personagens foram tão mal pensadas que alguns dos klingons que aparecem recorrentemente nem parecem que são os mesmo, a exemplo de L’rell (Mary Chieffo), que só se nota quem é graças as manchas de seu rosto.

    Ao menos, Into the Fores I Go consegue equilibrar bem os elementos bons de Discovery até aqui, que é o nervosismo comum diante de uma situação de guerra contra um adversário desconhecido, além da paranoia de Michael sendo justificada para um momento que lembra demais o comentário visto no piloto dividido em duas partes, onde se relembra o pecado da antiga imediata da Sheenzu, dessa vez com a oportunidade de se fazer um acordo mais amistoso com os seus adversários tradicionais.

    A discussão travada entre Burnham e Kol (Keneth Mitchell) tem algumas camadas, inclusive na simples questão do tradutor universal, que para a humana é a mostra da tentativa pacifica e estabelecer diálogo e para o general é apenas mais uma tática para fazer o seu povo perder sua identidade. Até mesmo o a briga entre os dois personagens é surpreendentemente condizente com a realidade estabelecida para os klingons nas outras series do que tudo o que foi visto até então no que toca esta espécie em Discovery. A honra e o caráter klingon sempre passou pelo desempenho dos seus no campo de batalha e nada mais justo do que haver um confrontamento nesses moldes, para provar que alguém tem valor, a questão é que não há qualquer mínima chance de redenção ou de acordo amistoso, ao menos não nesse período, ainda há de se explorar bastante o tema, infelizmente.

    De qualquer forma, o potencial de desastre que rondou Star Trek – Discovery ainda não se justificou de fato. Como dito antes, romper com o canône não é exclusividade da serie de Goldsman e Kurtzman, tampouco a má recepção por parte dos fãs mais xiitas, basta ver o como grande parte dos trekkies viram Jornada nas Estrelas a Nova Geração. Ainda que tardiamente, o senso de aventura escapista e utópica foi resgatada, mesmo com tantas corruptelas, que em parte, são explicadas por serem esses tempos mais difíceis e menos maniqueístas. Questões éticas como saltos no tempo, uso franco de habilidades da tripulação para se favorecer em um momento de confronto são tratadas de forma parecida com o que faziam Brannon Braga e Rick Berman.

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  • Crítica | A Múmia (2017)

    Crítica | A Múmia (2017)

    A falta de produtos originais faz Hollywood requentar fórmulas antigas com uma tática falida, apresentando tais produtos ao público como se fosse algo novo. Dark Universe, da Universal Studios é apenas mais um expoente desse filão, assim como é o universo da Marvel, DC, Monstros Gigantes (com Godzilla e Kong), e claro, como eram os clássicos de Monstros da Universal. A Múmia, de Alex Kurtzman, é a gênese disso, e como ocorre com seus personagens, parece haver uma maldição sobre sua cabeça.

    A Múmia teve seu primeiro filme em 1932, protagonizado por Boris Karloff em seu papel menos inspirado até então. Nesse ponto, a nova versão é bem fiel, já que tem um Tom Cruise cansado e nada inspirado, na pele do cafajeste bonzinho Nicky Morton, um sujeito que atrás de enriquecer, acaba parando no território da antiga Mesopotâmia, atual Iraque. Lá, se demonstra uma amizade entre ele e Vail (Jake Johnson), além de uma rivalidade/affair com Jennifer (Anabelle Wallis), uma arqueóloga idealista, bastante diferente de Morton.

    No prólogo, é mostrada a origem da criatura, no caso, a princesa egípcia Ahmanet, executada pela (desperdiçada) Sofia Boutella. Essa construção é repleta de boas ideias, mas também se demonstra cheio de problemas de execução, com uma exploração pueril do viés de maldição via sedução, sem conseguir replicar sequer os bons momentos da versão de Stephen Sommers, em 1999, uma vez que esse jamais se aceita como um filme trash, levando-se a sério demais.

    Quanto aos aspectos técnicos, há muitos equívocos, a começar pela fotografia que abusa da neblina e escuridão, matando qualquer chance de susto ou pavor que poderia ocorrer através das aparições do monstros. Os efeitos também são fracos, em especial quando aparecem animais, as escalas de tamanhos são confusas, mostrando normalmente ratos tão grandes quanto gatos e besouros que tem tamanho menor que baratas. O roteiro segue na confusão, tendo entre argumentistas e roteiristas seis pessoas diferentes. Atira-se para todos os lados e pouco se acerta, em especial no tocante as motivações dos personagens, que variam entre a credulidade e o ceticismo muito facilmente.

    A base do filme abuso do maniqueísmo. Não faz sentido a luta do bem contra o mal que é pretendida e claramente o texto tenta alcançar algo que não há como atingir. A pretensão de estabelecer um novo universo a se explorar faz com que as fragilidades dramatúrgicas fiquem ainda mais evidentes, tornando até as participações de Russel Crowe como Henry Jekyll algo caricato e banal. Sua personalidade aliás é de qualidade risível, uma vez que varia entre exposições bobas e show-off de transmutação e discursos piegas e vazios sobre a dicotomia entre humanos e monstros.

    A solução final para a resolução da tal maldição soa tão esdrúxula quanto a vista no recente Esquadrão Suicida, já que grande parte dos poderes envolvendo a tal múmia não ocorreriam se a organização de Jekyll não intervisse como o fez. Apesar de mirar muito alto A Múmia é bastante aquém de seu potencial, servindo apenas como um pontapé muito capenga para a nova franquia do Dark Universe, não convencendo sequer no final que estabelece para si, repleto de contradições que só denigrem as poucas coisas boas levantadas na história.

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  • Crítica | O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro

    Crítica | O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro

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    Imagine uma casa muito bem projetada. Quartos, sala, cozinha, banheiros, todos no lugar certo e com tamanho ideal. Mas na hora da decoração, algo sai errado. Alguns cômodos ficam bonitos e funcionais, outros parecem bregas e de mau gosto. Ou simplesmente horríveis mesmo. Agora substitua “casa” por “filme” e aplique o mesmo raciocínio. O resultado será a definição precisa desta segunda aventura do Homem-Aranha da nova geração. Aguardado com desconfiança devido à controvérsia que marcou seu antecessor, O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro consegue a proeza de acertar nos aspectos mais difíceis e falhar infantilmente nos mais fáceis.

    A narrativa é situada logo após os eventos de O Espetacular Homem-Aranha. A personagem está estabelecida como um herói já mais experiente e adorado pela maioria dos nova-iorquinos. Peter Parker já está ganhando uns trocados vendendo fotos para o Clarim Diário (que aparece só através de menções, assim como J. Jonah Jameson) e segue namorando Gwen, ainda que assombrado pelas últimas palavras do capitão Stacy. Outra herança do primeiro capítulo é o misterioso passado do pai do herói, ligado a Oscorp, empresa que se revela cada vez mais como o centro dessa nova franquia. Dão as caras Norman e Harry Osborn, com uma dinâmica bem diferente da esperada  e muito interessante. E, da mesma forma que o Lagarto na aventura anterior, o(s) inimigo(s) da vez também surge(m) da Oscorp.

    O filme consegue combinar várias linhas narrativas e amarrá-las de forma satisfatória. O ritmo é acelerado, mas funcional, praticamente não há sensação de elementos corridos ou mal explorados. Tecnicamente ele também é acima da média, não só os efeitos visuais como também os sonoros chamam a atenção positivamente. As cenas de ação são bem empolgantes, ainda que seja incômodo o exagero em enfatizarem o espetáculo e a louvação ao herói. Duro de engolir as grades de isolamento e plateia quase sempre presente, como se as ações do Homem-Aranha fossem algo planejado, uma parada ou desfile.

    Andrew Garfield é um bom Homem-Aranha e um fraco Peter Parker. Explicando: o herói está mais espirituoso e brincalhão, o verdadeiro Amigão da Vizinhança dos quadrinhos. Mas sem a máscara, ele parece ser indeciso entre ser o hipster descoladão do primeiro filme e o Peter de verdade. Não um nerd CDF babão, mas um cara um tanto atrapalhado, que os outros não levam muito a sério. Isso é importante, pois faz parte da identidade secreta. Garfield parece ter sido informado disso e melhorou em relação ao capítulo anterior. Mas se mostra um ator limitado e limita-se a gaguejar ocasionalmente. Sorte dele que em vários momentos a ótima Emma Stone está em cena para salvá-lo. Há um inegável carisma entre os dois, e o romance vai-e-volta é bastante convincente, típico de jovens/pós-adolescentes, como são os personagens.

    A apreensão maior era, sem dúvida, referente à presença de três vilões na mesma história. A lembrança de Homem-Aranha 3 criou o dogma de que isso não funciona. Mas como Capitão América 2 acabou de mostrar, isso é bobagem. Aqui, Electro, Duende Verde e Rino dão as caras em diferentes momentos, e cada um tem sua função bem definida na trama, sem atropelos. Por outro lado, se na organização do tempo de cada um não há problemas, o desenvolvimento individual tem suas falhas. E a maior delas, ironicamente, está no inimigo que dá o subtítulo ao filme.

    Max Dillon, o Electro, tem a motivação mais fraca, simplória e imbecil já vista em filmes de super-herói. Ele é movido por inveja, birra e desejo de ser notado e fazer amigos. Mas tudo tratado de um jeito lamentável, vergonha alheia. Não há timidez, solidão ou inadequação social que justifiquem a mentalidade de uma criança de 5 anos que ele apresenta. Jamie Foxx está propositalmente caricato, não há mérito nem culpa dele. Por conta disso, é difícil apontá-lo como “vilão principal”, apesar de seu altíssimo nível de poder (lembrando muito a versão Ultimate, na qual ele peita até o Thor). Electro é, ao longo do filme, vítima, ferramenta e ameça, mas lhe falta personalidade pra ser um verdadeiro antagonista. Esse papel acaba pertencendo a Harry Osborn.

    A amizade de Peter e Harry é introduzida de forma retroativa, o que não prejudica em nada. Dane DeHaan mais uma vez provou ser um grande ator, vivendo seu papel com tanta intensidade que chega a ofuscar o protagonista. Harry tem suas motivações bem desenvolvidas, e sua “queda para o lado negro” é orgânica e convincente. Até os 40 minutos do segundo tempo, pelo menos. O roteiro se apressa e força a barra na hora em que Harry assume sua segunda identidade. Não há grandes justificativas para ele usar aquele traje e equipamentos, a impressão foi que alguém se lembrou que isso era OBRIGATÓRIO e não se incomodou em embasar.

    Aliás, faltou também uma explicação sobre por que a Oscorp possui diferentes projetos de armamentos. Nos quadrinhos do Universo Ultimate a empresa está inserida numa corrida armamentista, mas no filme isso não é mencionado explicitamente. Nessa linha, o Rino, em sua curtíssima participação, serve apenas como prelúdio para os futuros planos do estúdio. E para mostrar que o universo do Homem-Aranha é isso, novas ameaças surgem a todo instante, reforçando a importância e a necessidade do herói. O senso de responsabilidade de Peter Parker é testado e redimido neste filme, após ter sido incrivelmente mal apresentado no primeiro. Pena que, para isso, uma tragédia fosse necessária.

    Pra quem conhece um mínimo dos quadrinhos, era um evento esperado. Mas para o público infantil, aquele que Garfield declarou ser o foco da produção, deve ter sido um baque e tanto, uma violenta quebra no tom leve e bem humorado da produção. Essa vontade de atingir todas as faixas etárias naturalmente é algo nocivo ao filme, mas há que se louvar a coragem dos realizadores. Um dos momentos mais marcantes e pesados da vida do herói, fundamental na sua formação de caráter, ganhou uma ótima representação. Resta saber se, nos próximos filmes, existirá coerência em adotar um clima menos infantil. O Espetacular Homem-Aranha 2 ainda não foi o grande filme que o herói merece, mas mostrou potencial e disposição em explorar seu universo. Não custa ter boa vontade e torcer pra evolução continuar.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Além da Escuridão: Star Trek

    Crítica | Além da Escuridão: Star Trek

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    O novo Além da Escuridão – Star Trek comprova que J.J. Abrams conseguiu o que parecia impossível: unir todo o universo da franquia sem atrair a ira dos fãs – que levam muito a sério o assunto e costumam não ser tolerantes com o que consideram infidelidade. J.J. fez uma reciclagem de temas, conflitos e personagens. E obteve o que muitos filmes recentes não alcançaram: pegar um universo incrustado na cultura pop, fortemente associado a atores diferentes dos que dispõe e, de alguma forma, fazer com que todos se importem como antes, colocando o entretenimento de qualidade para caminhar lado a lado com a inteligência.

    Se, no primeiro filme que assinou, o diretor introduziu personagens famosos da série, optando por contar de onde eles vieram e como se tornaram cadetes, até virarem heróis, neste, J.J. esmiúça como as relações de respeito, amizade e carinho entre eles foram pavimentadas. O diretor usa o passado para criar algo novo. Presta uma grande homenagem à série, aos filmes e aos personagens. Se já tinha adiantado isso em relação a Kirk e companhia, ele agora causa impressão com outro ícone da franquia, o vilão Khan, o mais famoso de Jornada nas Estrelas, que ganhou uma roupagem completamente diferente na ótima interpretação de Benedict Cumberbatch (o Sherlock Holmes do seriado homônimo atualmente no ar na TV). O caso é o mesmo do Coringa de Batman, que, quando feito por Jack Nicholson no filme de Tim Burton, em 1989, parecia imbatível, até que Heather Ledger se apossasse do personagem na trilogia criada por Christopher Nolan. Este, por sinal, também foi uma influencia para J.J., não só nos temas, mas também nas belas imagens capturadas em IMAX, depois que o diretor de Star Trek assistiu, a convite do próprio Nolan, a O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

    Apesar das várias referências que vão emocionar os fãs de primeira hora, Into Darkness também foi concebido para entreter o público que nunca foi ligado a esse universo. É um filme de ação feito com habilidade – um filme em que a ação está sempre a serviço da trama. É interessante que J.J., junto com o diretor de fotografia Dan Mindel, use o mínimo possível de truques de CGI nas cenas que envolvem atores e movimento – e, com isso, obtenha uma boa dose de realismo, mesmo nas sequências mais fantasiosas. Percebe-se que há uma aura de tensão constante sem que ela seja gratuita ou interfira na trama.

    Um grande mérito é que o novo filme faz exatamente o que a série sempre fez: usar um cenário futurista para fazer um comentário contemporâneo sobre algum tema em voga na sociedade – no caso, o terrorismo; suas causas e consequências; a legitimidade, ou não, de se criar uma guerra com o objetivo de eliminar uma ameaça futura; a necessidade bélica do ser humano; os limites do militarismo; e os que servem à guerra ao terror. Into Darkness apresenta alguns conflitos morais complexos, como os bons roteiros de Star Trek sempre fizeram. Um dos questionamentos parte de uma intenção de se matar um homem sem um julgamento justo, sob a alegação de que ele é terrorista. O filme é, em última instância, uma alegoria transparente de uma reação desproporcional contra um ato de terror. Bem de acordo com as crenças de Gene Roddenberry, a narrativa se concentra nos valores humanos e no papel do indivíduo dentro da sociedade. E, mesmo com tudo de espinhoso que o filme retrata, a visão otimista de Roddenberry está presente. Em Star Trek, o futuro convive bem com o passado: naves sobrevoam a cidade de São Francisco, enquanto os nostálgicos bondinhos continuam lá servindo a população.

    J.J. demonstra que, até a chegada desse otimismo, não foi fácil e houve uma longa caminhada. O roteiro de Roberto Orci e Alex Kurtzman recebeu um tratamento de primeira de Damon Lindelof, parceiro de longa data do diretor e também um dos responsáveis pelo fenômeno Lost na TV. Outra característica desse estilo de roteiro, que também esteve presente em Os Vingadores, sucesso no ano passado, é o aprendizado de lições de vida por parte dos personagens icônicos, como a do papel de um líder, para Kirk, e a da complexa fronteira entre a lógica e a sensibilidade, para Spock, isso tudo entre outros temas que se prestam ao escrutínio, como a amizade, a lealdade, a ética e as regras. Por trás da mensagem de “explorar novos mundos”, existe o descobrir a si mesmo.

    A descoberta de Spock é um tema à parte. O ator e diretor Leonard Nimoy, apesar de muito grato à sua vida profissional e de ser um entusiasta de Jornada nas Estrelas, logo quando a série clássica foi cancelada, foi o que mais renegou seu passado a serviço de seu personagem (inclusive, com o livro Eu Não Sou Spock). Mas é ele a ponte para a chegada do novo elenco. Esta é sua oitava participação em um filme da franquia feito para o cinema. São as ironias do destino – que é altamente ilógico.

    O mestre de J.J., o cineasta Steven Spielberg, também recebe seu tributo, engendrado na cena inicial – uma clara homenagem ao começo de Caçadores da Arca Perdida. Não é à toa que a célebre revista Cahiers Du Cinéma aponta J.J. Abrams como legítimo sucessor de Spielberg. E J.J. Já deu mostras de pode ir além: onde nenhum diretor jamais esteve.

    Texto de autoria de Mario Abbade.