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  • O Esquadrão Suicida: Melhor filme da DC?

    O Esquadrão Suicida: Melhor filme da DC?

    Vamos aos fatos: por mais que eu seja um grande fã dos quadrinhos da DC e tenha sempre torcido para que seu universo cinematográfico fosse tão bem-sucedido quanto o da Marvel, todos concordamos que a casa de grandes personagens como Batman, Superman e o Esquiador Escarlate vem patinando em suas adaptações live action. Fica muito claro que, para se afastar da concorrente, a DC apostou em retratar seu universo de forma mais realista, sombria, séria… O que se mostrou ser uma tremenda de uma bomba, já que seu universo capitaneado pelo “visionário diretor Zack Snyder” se mostrou muito aquém do esperado. O Homem de Aço, primeiro filme desse universo estendido, mostra um Superman confuso e sombrio, o oposto do que ele deveria ser e representar. Estaria tudo bem se isso fosse arrumado na continuação, mas Batman vs Superman: A Origem da Justiça consegue ser ainda mais confuso e fora de propósito. Os fãs, evidentemente, esperariam que tudo se encaixasse no Liga da Justiça, de 2017, e a lambança foi ainda maior! Para que esse universo faça algum sentido, foram precisas uma versão estendida de BvS e um novo corte de 4 horas de Liga da Justiça de Zack Snyder. Ainda assim, é muito mais fácil acompanhar vinte e tantos filmes da Marvel do que ter que fazer um curso de várias semanas para entender minimamente o tal Universo Estendido da DC.

    Mas aí vieram uns pontos fora da curva. Aquaman deu uma banana marinha pra essa linha darkzêra e nos mostrou um filme extremamente colorido e divertido, com uma história aventureira que fez com que o herói mais zoado dos Superamigos se tornasse cool nos dias de hoje! Shazam! foi outra grata surpresa, trazendo um quê de Ben 10 pro personagem e imediatamente criando identificação tanto com o público infantil quanto adulto (que viu ali aquele clima nostálgico do Tom Hanks em Quero Ser Grande, só que com poderes). Arlequina e as Aves de Rapina também foi um filme muito divertido, tendo como principal qualidade o fato de irritar nerdolas que reclamam de “lacração” (hahahahahahahahahaha, eu não me aguento! Hihi!). E logo depois, no mesmo ano, a diretora Patty Jenkins provou que mulheres podem, sim, estar no mesmo patamar de diretores homens que fazem filmes ruins, lançando Mulher Maravilha 1984, que inovou em seu estilo sendo uma bomba de qualidade inversamente proporcional a do primeiro filme da Amazona, de 2017.

    E aí temos O Esquadrão Suicida!

    Voltemos no tempo um pouquinho antes de falar dessa novo filme. Esquadrão Suicida, filme de 2016 que nos apresentaria pela primeira vez nos cinemas a Força-Tarefa X, foi um fiasco! A história que chegou aos cinemas quase não fazia sentido, a equipe pequena deixava claro que quase ninguém morreria (exceto o injustiçado Amarra) e a ameaça que eles enfrentaram era risível (uma feiticeira rebolante). Fora o Coringa, que andava pelo entorno do filme sem propósito algum para a trama e que não faria falta alguma se fosse completamente limado do corte final. Aliás, dizem que existe um “snydercut” do filme do David Ayer que seria melhor do que aquilo que vimos. Bobagem, não tem conserto não! Mas por alguma razão que ninguém sabe qual (cof, cof, Arlequina, cof), o filme acabou caindo nas graças da galera do marketing e rendeu boas vendas de cadernos, camisetas e tatuagens de palhacinhas. Esquadrão Suicida, afinal, era uma excelente ideia, só que porcamente executada. Merecia uma segunda chance. E aí veio o filme de 2020.

    Os primeiros 14 minutos de O Esquadrão Suicida é tudo que o filme inteiro de 2016 deveria ter sido! Uma missão secreta de infiltração com vilões altamente dispensáveis, ação, traição, mortes e execução por deserção, tudo está ali! Em CATORZE minutos! Não é preciso muito tempo de tela pra se explicar do que se trata a Força-tarefa X, nem por quê eles têm o apelido de Esquadrão Suicida, nem muito tempo explicando o background de cada personagem, porque eles são descartáveis. Um cara russo que é proficiente em arremesso de dardos, um que ninguém sabe quais são os poderes, outro que é, literalmente, uma doninha… Ótimo, vamos pra ação!

    Uma coisa que vemos muito em filmes de heróis é a economia de personagens, principalmente vilões. Geralmente, não usam muitos para não desperdiçar o que poderia ser usado mais tarde, ou apenas mostram um vislumbre, como foi com o Darkseid no Snydercut, para que se plante a semente de um filme futuro que, na real, nunca acontece. James Gunn faz o oposto disso. Nunca usaram o Starro como vilão em nenhum filme da Liga? Bora botar ele aqui! Pacificador, Sanguinário, Bolinha…? AH, MANDA PRO PAI! Não tem nenhuma vergonha de se utilizar de personagens que, vamos ser sinceros, não teriam outra chance de aparecer no cinema mesmo! Diferente de Snyder, que parece ter vergonha de personagens galhofa como o Jimmy Olsen (que ele matou na versão estendida de BvS), Gunn abraça a estética dos comics em todos os elementos de seu filme, seja nos uniformes bregas como o de Dardo ou do Pacificador, seja na própria narrativa. O diretor não tem vergonha de colocar dois personagens em CGI totalmente irrealistas para os padrões Snyderescos, e nos brinda com Doninha e Tubarão-Rei, sendo esse segundo o mais carismático de todo o filme (com voz do Garanhão Italiano Sylvester Stallone).

    O Esquadrão Suicida é um filme que não tem vergonha de suas origens nos gibizinhos. Ao contrário, abraça todo esse absurdo, conta com a suspensão de descrença do público e nos entrega diversão amalucada e violenta da mais alta qualidade! Claro que, passada algumas semanas de seu lançamento, já sabemos que o filme flopou nas bilheterias. Infelizmente, isso se dá mais por questões externas, como o marketing confuso (é uma sequência, um remake ou um reboot?), a classificação indicativa alta, o elenco com grande número de personagens desconhecidos e, obviamente, a pandemia que impossibilita a lotação das salas de cinema. Ainda assim, é possível que o filme tenha lançado algumas das sementes que germinarão nos próximos filmes da DC, tanto no tom quando na estética e, esperamos, com bons roteiros e direção ousada. Pode não ser o melhor filme da DC de todos os tempos, mas com certeza é o mais importante dessa década!

  • Crítica | Os Novos Mutantes

    Crítica | Os Novos Mutantes

    Envolto em muitas polêmicas e adiamentos, Os Novos Mutantes é o longa de Josh Boone que aborda as histórias do grupo mutante da Marvel que seria a geração posterior aos clássicos X-Men. Baseado nas HQ homônimas de Chris Claremont e Bob McLeod, o filme ficou por muito tempo em um limbo de exibição após a compra dos estúdios Fox pela Disney, e entre a possibilidade de estrear direto em streaming e ir para o cinema, acabou indo pela segunda vertente, embora por pouco tempo devido a pandemia de Covid 19.

    A história começa mostrando uma perseguição a Dani Moonstar, personagem de Blu Hunt que, nos quadrinhos, vem a ser uma das líderes da equipe Novos Mutantes. Não demora a aparecer ela sofrendo um grande trauma, sendo acolhida por uma médica, a Dra. Reyes, personagem de Alice Braga que tenta parecer simpática, mas que em momento nenhum engana o espectador mais atento. Logo ela vai até uma estranha mansão, onde se encontra com um quarteto de jovens, a saber Illyana Rasputin/Magia (Anya Taylor-Joy), Sam Guthrie/Míssil (Charlie Heaton), Roberto da Costa/Mancha Solar (Henry Zaga) e Rahne Sinclair/Lupina (Maisie Williams).

    A maioria dos jovens são diferentes de suas contrapartes dos quadrinhos, o que não é exatamente um problema normalmente, mas que em alguns casos, se torna bem incômodo por conta de serem personagens excluídos socialmente para além até do preconceito com mutantes. No entanto, nenhuma incongruência irrita mais do que a quantidade de arquétipos vazios apresentados. Há a garota problema, o rapaz conquistador barato, o menino do interior que tem dificuldades de lidar com os outros, além de rivalidades que fazem pouco ou nenhum sentido e supressão da identidade indígena da protagonista.

    Mesmo que essas questões possam ser importantes (e são, em sua maioria) se forem ignoradas sobram questões complicadas de roteiro. Uma delas, relativa ao poder de Sam. Nos quadrinhos ele se torna invulnerável ao voar e por mais que não se fale isso de maneira categórica no filme, imagina-se que funciona da mesma forma, já que suas roupas ficam intactas quando entra em ação, no entanto ele fica com uma tipoia no braço graças a um machucado de quando está usando o poder. Além disso, o choque do quinteto de jovens com a figura vilanesca não faz muito sentido, pois eles são bem mais poderosos que esse opositor.

    Um dos boatos mais fortes a respeito do filme, era que o material de trailer dele era um viral irônico, que brincaria com a possibilidade de um filme de terror com elementos de super heróis. A teoria da conspiração consistia em afirmar que Boone mudou o tom do filme para se adequar ao horror já que o trailer fez sucesso, e mesmo que isso seja negado, em alguns pontos parece ser verdade, uma vez que as partes focadas no horror não assustam, não há sequer clichês ruins mas bem encaixados ao menos, como jumpscares, e o tal terror psicológico não se justifica.

    A essência dos personagens também não tem muito a ver com os originais, Sam é demasiadamente perturbado, condição essa compartilhada entre todos em menor grau, são traumatizados e isso os torna como bem genéricos entre si, diferenciando-os apenas pela aparência e poderes. A maioria deles tem até um lugar do cenário para ficar a maior parte dos momentos, e essas condições todas juntas fazem com que o filme se assemelhe demais com os desenhos animados de herói dos anos 60, onde todos os personagens eram iguais, tirando suas cores de colantes.

    Apesar do roteiro tentar manter algum mistério a respeito do lugar e da intenção das pessoas que circundam o lugar de estudos, não há sutilezas nas relações entre os garotos. Eles não são tridimensionais, se prendem demais aos arquétipos e tabus comuns a filmes de delinquência juvenil. Hunt não parece ter talento dramático o suficiente para protagonizar um filme de proposta tão ousada, tampouco a direção e roteiro parecem maduros para seguir essa toada diferente para um filme do Universo X. Do ponto de vista técnico a fotografia é clara demais até nos momentos de horror, os efeitos especiais não são muito realistas, e ficam pior sob essa luz.

    Os Novos Mutantes foi sabotado pelos filmes da Fox, especialmente X-Men: Fênix Negra, mas também não se sustenta bem, as intenções dos personagens, que deveriam soar dúbias, são obvias até para quem jamais leu os gibis, além disso, a tentativa de mostrar a sexualidade de alguns personagens é tola e reducionista, não se trabalha dramaticamente os romances, tampouco a relação de camaradagem entre personagens, que é um dos alicerces da HQ original.

  • Crítica | A Cabana

    Crítica | A Cabana

    A Cabana é um best-seller, escrito pelo canadense Philip P. Young, no ano de 2007. Curiosamente, foi uma história que não nasceu para ser publicada, já que Young a imprimiu para entregar aos seus filhos durante o Natal de 2005, pois se tratava de algo que ele escreveu para confortar a si mesmo. Contudo, após despertar o interesse de dois produtores, a história foi reescrita algumas vezes e foi rejeitada em todas as editoras religiosas que poderiam publicá-la, até que os dois produtores (ambos ex-pastores) em questão, Wayne Jacobsen e Brad Cummings resolveram abrir sua própria editora e lançarem o livro. A aceitação foi tamanha que atingiu, além do público alvo, pessoas de diversas outras religiões, além daqueles que não são “pessoas de fé”. Com isso, o livro foi traduzido para o mundo todo, além de figurar na lista de best-sellers dos principais meios de comunicação ao redor do globo o que rendeu, inclusive um desentendimento jurídico entre Young, de um lado e Jacobsen e Cummings, de outro, onde o escritor pleiteou na justiça royalties que não teriam sido repassados.

    Como quase todo sucesso literário vira filme, com A Cabana não foi diferente.

    Mack Phillips, interpretado por Sam Worthington, é um pai de uma bela, perfeita e feliz família, que toda semana, sem falta, entregam parte de seu tempo para celebrar Deus e os ensinamentos das Escrituras nos cultos de sua congregação. Percebe-se que Mack está lá apenas para acompanhar sua esposa, Nan (Radha Mitchell), a mais religiosa entre os 5 membros da família. A identidade que Nan tem com Deus é tamanha que ela e sua filha menor o chamam de Papai, que seria algo mais carinhoso do que apenas “Pai”. Durante um fim de semana em que Nan precisa trabalhar, Mack leva seus filhos, os adolescentes Kate (Megan Charpentier) e Josh (Gage Munroe) e a pequena Missy (Amélie Eve) para passar o fim de semana acampando nas montanhas, junto de um lago como costumam fazer quase que sempre. Durante o camping, um dos adolescentes se afoga e ao sair para socorrê-lo junto de outras famílias, Missy é sequestrada e nunca mais é encontrada. Inclusive, vestígios de que a menina sofreu abusos e uma consequente morte foram encontrados numa cabana abandonada nas montanhas.

    Com esse terrível acontecimento, a história salta alguns meses no tempo e podemos perceber que a família foi destroçada pelo fato. Nan é a mais centrada no que se diz respeito à perda da filha, porém, Mack, Kate e Josh, simplesmente pararam com os sorrisos que tinham anteriormente para viverem uma vida de depressão e desgosto, cada um à sua maneira. As coisas começam a mudar quando Mack tira de sua caixa de correio um envelope com o seguinte recado: “te espero na cabana”. Atormentado por poder confrontar o assassino de sua filha, o protagonista não pensa duas vezes e embarca numa viagem que mudará a sua vida para sempre.

    Com essa premissa, rapidamente, a jornada de Mack vai muito além do que ele imagina, sendo que na verdade, ele acaba por encontrar Jesus Cristo, vivido pelo israelense Avraham Aviv Alush, que imediatamente transforma o local afetado por um tenebroso inverno numa bela, ensolarada e colorida floresta. Não demora muito para conhecermos Deus, representado de forma proposital pela figura feminina de Octavia Spencer, além da jovem Sarayu (Sumire Matsubara), que representa o Espírito Santo.

    O filme se estende por um longo período em que Mack, além de ajudar a Trindade nos afazeres domésticos (algo bem leve e lúdico uma vez que cozinha com Deus, faz serviços de carpintaria com Jesus e planta com Sarayu), os confronta, muitas vezes com ódio, sobre os por porquês de Deus ter deixado sua filha ser brutalmente assassinada. E é assim que conhecemos Sophie (Alice Braga), que coloca Mack numa emocionante situação. O filme oscila o tempo todo com as emoções do espectador. Num determinado momento arranca risos da plateia, sendo que, minutos depois, é possível ouvir choros na sala do cinema. Esse mix de sensações se deve ao roteiro leve de John Fusco, que tem em seu currículo, clássicos como A EncruzilhadaJovens Pistoleiros e mais recentemente era a mente por trás da série Marco Polo, da Netflix. Fusco usa tudo em seu favor e consegue fazer piada até com o fato de Jesus conseguir andar sobre a água. Também não podemos deixar de mencionar a direção do inexperiente, porém, competente, Stuart Hazeldine, que até então só tinha um único filme e não sentava na cadeira do diretor desde 2009.

    Como dito, o filme é longo e acaba por perder um pouco o ritmo. Nota-se que o segundo ato se estende demais com situações que podem ser consideradas desnecessárias e quase não deixa espaço para a conclusão, que, aparentemente, foi bastante acelerada na sala de edição. Ainda assim, A Cabana tem pouquíssimos aspectos negativos, mas deixa muito claro qual a mensagem que Young, Fusco e Hazeldine queriam passar, tanto no livro, quanto no longa metragem. E podemos dizer que a missão foi cumprida com sucesso. Vale destacar que o filme foi feito para todas as pessoas, uma vez que não existem momentos de “pregação”, mas, obviamente, é um filme que atinge um público específico.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Latitudes

    Crítica | Latitudes

    Viver dentro de um relacionamento amoroso é, normalmente, algo complicado, seja pelos altos e baixos comuns à gangorra emocional inerente à vida ou às dificuldades em conviver com as diferenças. Latitudes, segundo filme longa-metragem de Felipe Braga, foca em Olívia e José, que são vividos – intensamente – por Alice Braga e Daniel de Oliveira, personagens que têm a única chance de suas vidas de contar uma história realmente interessante.

    A trajetória dos dois é mostrada através de encontros casuais, sendo o primeiro deles em Paris, quando José age como um perfeito cavalheiro, acompanhando a dama que parecia ébria, até o hotel onde ela estava hospedada. Na intimidade, eles trocam carícias e credenciais pós-coito, uma vez que jamais haviam se visto, e decidem se encontrar novamente, para compreender melhor qual era a real química entre os dois.

    À medida que o roteiro avança, aumenta também o nível da discussão entre eles. Ao mudar de cidade, José e Olivia acabam se encontrando novamente, e a cada paragem, há mais um degrau percorrido na ligação. Quando se encontram em Londres isso fica ainda mais claro, quando discutem se vale a pena continuarem a se ver, ainda que as cenas intercaladas possam contradizer a fala dita pela mulher. O homem, apesar de se resguardar, deixa transparecer em seu rosto a vontade de que aquilo não termine, já que tudo aquilo se configura como um fruto proibido, e a volúpia o move para frente, para querer mais.

    Ao passear em uma das gôndolas de Veneza, José demonstra ter um olhar espaçado e voltado para o nada, refletindo e, ao mesmo tempo, olhando-se internamente, analisando a vaziez e a completude de sua própria vida. Uma vez em terra firme, ele vai em direção àquela que o faz sentir a plenitude do seu espírito. Os momentos em que o casal trava as conversas mais inspiradas são os que ocorrem após suas relações carnais, onde o medo da intimidade inexiste.

    Longe da civilização e longe de suas casas, acontece a primeira discussão entre eles, devido a um gesto inofensivo. É o estopim para que ambos comecem a transparecer a miséria emocional em que estão inseridos em suas vidas normais, deixando que isso resvale naquela ligação emocional e carnal que não compreende uma relação verdadeira.

    Pela primeira vez dentro da fita, a lente chega em solo brasileiro. Em São Paulo, há uma demonstração de como é a vida de José, fundamentada no mundo real, onde finalmente revela a sua cônjuge o que acontece nos intervalos entre um voo e outro, durante seus muitos trabalhos de fotógrafo. O destino dele se completa, já que a relação primária do filme é a dele com Olívia. As poucos, os dois universos, que antes eram separados por eras e eras de distância emocional, começam a colidir e a se misturar. José é corajoso em se revelar, em mostrar seus sentimentos, ainda que essa coragem possa ser facilmente confundida, ou associada, com impulsividade.

    Após mergulhar na vida do moço, a intimidade de Olívia é mostrada, com seus escrúpulos sendo justificados por ter outras situações semelhantes às que tem com José. Os diálogos inspirados resumem toda a estafa e confusão da psiquê da mulher, que não consegue dar vazão a sua própria vontade, ao menos não de modo pleno ou de maneira boa o suficiente para os seus próprios desejos. Apesar de negar com todas as suas forças, Olívia não consegue fugir de si mesma, da vontade de pertencer e de ter a posse de uma pessoa.

    Após alguns atritos, as duas partes se aceitam e começam a se conhecer de verdade, pulando de encontro em encontro, muito longe da realidade de estarem juntos. José é para Olívia o que ela é para ele, um oásis, a calmaria que curiosamente sobrevive à aridez do cotidiano, o paraíso em meio a uma existência desértica, insossa e sem sentido, o bom motivo que ambos têm para continuarem vivos, e talvez, o único momento em quem ambos podem ser sinceros, verdadeiros, sem qualquer característica hipócrita ou máscaras, onde somente as almas e os corpos nus prevalecem.

  • Crítica | Elysium

    Crítica | Elysium

    elysium

    Neil Blomkamp parece não querer sair do gueto. O cineasta utiliza uma ambientação bastante parecida com a de Distrito 9, especialmente no aspecto de favela, só que de uma forma mais “globalizada”, pois a comunidade carente em Elysium não se restringe somente a periferia de Joanesburgo, mas sim ao mundo todo, transformando a “aldeia global” num autêntico puxadinho sem reboco.

    A premissa tem em sua base um conceito bastante semelhante ao mostrado por Phillip K. Dick em Caçador de Androides – e que foi suprimido no filme de Ridley Scott. Como no conto, os ricos e aptos vivem fora da Terra, por esta não comportar mais a capacidade de estabelecer-se uma vida plena e saudável. A trama se passa em 2154 num futuro sujo e pessimista. A comparação visual com Mad Max, e seus filhotes bastardos, é inevitável, cenários desertos em meio ao que antes eram grandes metrópoles – e tal característica até ajuda a gerar empatia pela história contada.

    Polícia automatizada, agente da condicional robótico e repressor, sarcasmo como ato digno de punição, tudo isso para demonstrar a decadência da humanidade e também a inexistente compreensão às necessidades do próximo. A empatia está fora de cogitação, há uma valorização enorme do bem-estar puramente egoísta, sem importar com o social. A sociedade retratada sofre um controle coercitivo e de mão de ferro, que protege os ricos e estabelece normas rígidas aos pobres, punindo severamente os que não as cumprem. Temas como o combate à imigração, trabalho em regime semi-escravo e sem as mínimas condições de saneamento também são ventilados.

    O roteiro de Blomkamp é sem rodeios, pontual e preciso, isso é bom até certo ponto, até que as resoluções tornem-se coisas rápidas e fáceis de resolver, algumas até piegas. A construção dos personagens deixa a desejar. A atuação de Matt Damon é equivocada, mal dá para acreditar em seu drama e seu esforço dentro do emprego para fugir da marginalidade. Max, seu personagem, não parece o bandido arrependido que o script exige, e a ligação dele com Frey – Alice Braga na atuação mais lúcida do filme – soa forçada, assim como o laço afetivo automático de Max pela filha doente de seu antigo amor. Wagner Moura está histriônico e caricato, mas não compromete. Jodie Foster faz a encarnação da mulher autoritária, fria e insensível, mas que ao final parece resgatar um pouco de sua humanidade, recusando a ajuda da enfermeira, como que se punindo por seus atos errados. O filme trabalha com arquétipos demais, e o tema exigia algo mais profundo. O destaque vai mesmo para Kruger – Sharlto Copley – que faz um Chuck Norris rejuvenescido, que é até carismático, mas em momento justifica a virada que ele deu no final.

    Da terça parte para o final, o roteiro passa a apresentar um sem número de coincidências desnecessárias. Lembra muito os erros de Prometheus, com um ótimo início e um final aquém das expectativas, mas não tão desastroso quanto o primeiro. Elysium tem um amontoado de coisas boas, mas que  peca pela alta previsibilidade, problema que passa longe do excelente trabalho anterior do realizador.