Review | Krypton – 1ª Temporada
Criada por David S. Goyer e Damian Kindler (de Stargate SG-1 e Sleepy Hollow), Krypton era cercada de expectativas negativas e algumas (bem poucas positivas), até por conta de Goyer estar a frente da produção e também por ser do canal Syfy, conhecido por produções mais “trashs”, no entanto o que se viu foi algo bem diferente. A Primeira temporada tem 10 episódios, e começa focada em Seg-El (Cameron Cuffe), avô de Kal El, o Super Homem, e mostra uma divisão social do planeta que dá nome ao seriado por casas nobres e castas que vivem em partes diferentes do planeta.
O avô do protagonista Val-El (Ian McElhinney) faz as vezes de Jor-El nas historias clássicas do Super, denunciando que algo terrível ocorrerá com o planeta, e os tradicionalistas não acreditam que há vida inteligente fora desse planeta, desse modo, a casa dos EL é rebaixada, pela autoridade suprema chamada Voz de Rao, feito por Blake Ratson, que aliás, quando é exigido, tem um belíssimo desempenho.
A trama da série é mais contida, mostrando a evolução de Seg entre a infância e adolescência rebelde e violenta. O fato da história ser inédita é um fator positivo, pois não há material base para contradizer nem para o bem e nem para o mal, embora um dos principais plots, envolvendo a viagem no tempo de um personagem encontre ecos nas historias do Starman que James Robinson e Goyer escreveram lá atrás.
A produção se vale demais de efeitos práticos, fazendo com que todo o visual seja em cenários ou figurinos não deixem a desejar em nada para produções mais caras. Kandor e as outras cidades de Krypton são bem bonitas, e tem identidade própria, embora evoquem inspirações bem fáceis de identificar, as partes nobres, no alto, onde vivem os mais ricos o visual lembra o das prequels de Star Wars, sobretudo o visto em Ataque dos Clones, só copiando os aspectos positivos. Já as partes suburbanas lembram no lado externo os quadrinhos Knights of the Old Republic, e nos internos, Babylon Five, Deep Space Nine e Andromeda, series Sci-fi dos anos noventa. O programa também leva em consideração a mitologia de Homem de Aço. Boa parte do visual dos clãs adversário do EL vem do filme e convenhamos, de todos os aspectos do filme de Snyder esse é o melhor. Ainda há umas pitadas da Krypton Ainda assim, há alguns elementos da Krytpon de Superman o Filme. Já o regime de castas e sociedade meio distópica é mais original, e dá camadas de importância bem legais a série, fazendo superar por exemplo as tramas juvenis de romances e envolvimentos sentimentais entre os personagens mais novos.
Da trama principal no começo, há a possibilidade de Kev ascender e rankear sua família de novo, tornando os EL em honrados de novo, mas com condições que ele não abraçaria. Toda esta parte gera um pouco de enfado, mas nada ao nível dos novelões da CW, até porque há um número bom de personagens trambiqueiros e canalhas, fazendo lembrar os frequentadores da cantina de Mos Eisley vista em Uma Nova Esperança, sem falar que a versão de Adam Strange traduzida no desempenho de Shaun Sipos.
As outras famílias não tem um desempenho dramático tão bom quanto e com tanta importância quanto os EL e os Zod, e isso é bom, por permite a série ser simples em no drama juvenil, variando entre os amores, tentações e formação de casais, deixando em segundo plano diante do cenário de calamidade e do desenrolar dos fato políticos. Há boas referências aos Borgs vistos em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, e o recado visual é bem dado, mesmo sendo quase copiada a assimilação dos borgs, o modo como é encaixado não faz parecer forçado, ao contrário, parece bem reverencial.
Os cenários em CGI não são muito naturais, mas não comprometem tanto. Em alguns momentos, lembram a recente reimaginação de Star Trek que Seth McFarlane faz em The Orville, mas não apela para a licença poética anacrônica e datada da Space Opera citada. Ainda assim, as dificuldades orçamentárias são bem escondidos, e isso se reflete até nas atuações, feitas por gente que não é tão conhecida, a exceção de um ou outro personagem mais veterano.
Outro fator legal é pôr todos os membros da Casa Zod como negros, liderados pelo personagem de Colin Salmon. Ver uma raça alienígena poderosa, tradicional nas historias em quadrinhos ter uma casta de negros é bem válido, mesmo que um de seus líderes se torne um vilão famoso. De certa forma – e guardadas as proporções bem diferente entre obras – tem um caráter semelhante ao de filmes como Pantera Negra, pois mostra negros com relevância e poder em um mundo que não é comandado por eles, mas que sabem de sua importância. Em alguns quesitos, ela acerta até mais que Raio Negro 1ª Temporada e se iguala a 2ª Temporada desse mesmo programa.
Muitos se discutiu em Jornada nas Estrelas: Voyager sobre Tuvok, um vulcano ser negro, mesmo que nada indicasse que na raça de Spock não houvesse variação de cor de pele, e essa máxima cabe também aos kritponianos. O problema de Krypton em relação aos Zod é o de ainda não saber os rumos que eles tomarão, provavelmente sendo tiranos visto o histórico do General Zod nos quadrinhos, livros, séries, filmes, mas mesmo isso não invalida essa inclusão. É preciso humanizar os vilões, e por negros como papeis de destaque numa série com tão boas idéias e que não é tão ligada ao nicho de consumo negro segue ainda mais válido, até porque aparentemente o mais famoso dos Zod age de maneira autoritária isoladamente, não representa o pensamento do seu povo, necessariamente, e extremistas podem vir de qualquer espectro político, racial ou religioso, e é bem sempre ficar atento a esses. Mesmo com ele liderando a casa, é uma boa demonstração de como o povo desesperado faz más escolhas de liderança.
Aos poucos de desenrola uma outra sub trama, envolvendo também viagem no tempo, e uma ameça de bomba de destruição do planeta, basicamente para mostrar uma outra versão de Apocalipse que visualmente é muito melhor que o de Smallville e de Batman Vs Superman. É uma pena mesmo que essa série não faça parte do suposto universo compartilhado da DC nos cinemas, pois é bem melhor construído que os filmes e isso possivelmente é mérito do consultor e roteirista David Kob, que supervisionou os dez roteiros, tendo Goyer escrito somente o primeiro.
Depois de toda uma movimentação de revolta, e de um assumir de Adam Strange como uma versão do Gladiador Dourado (ao menos na motivação), Krypton termina discutindo a Zona Fantasma, reabrindo velhas feridas e discutindo ainda que de maneira superficial a gravidade de condenar alguém a um exílio. O apogeu de Brainiac faz dessa a melhor versão do vilão alienígena que se vale de tecnologia desde as tentativas de tradução do personagem para quaisquer telas, e é uma pena que não tenha sido bem feito nos filmes – mesmo em Superman 3, onde se tentou muito, ou em Smallville.
O final consegue ser aterrador e surpreendente em camadas dramáticas, mesmo que seus fatos já sejam esperados. Colin Salmon está soberbo e a possibilidade do futuro/presente ser completamente mudado e destruído é um plot que certamente será difícil de resolver na segunda temporada a estrear em 2019. Há muito futuro para Krypton explorar, mesmo que o cliffhanger deste primeiro ano soe um bocado sensacionalista, certamente é das séries da DC a que tem mais potencial para ser diferenciada, divertida e escapista.
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