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  • Crítica | O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio

    Crítica | O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio

    O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio começa simples, com uma gravação de sua heroína, a Sarah Connor de Linda Hamilton, que estava ausente desde o 2º filme, ainda no manicômio falando a respeito do dia do Juízo Final, em 1997. A gravação a fazia parecer paranoica, mas ela era autoritária, forte, bem resolvida  e durona, e a escolha por começar  esse sexto episódio da franquia no cinema, que relembra outras cenas clássicas, inclusive fazendo uma rima visual que, apesar de ser um recurso clichê, aqui combina demais, com as comparações das diferentes praias, uma no caos futurista e outra na calmaria pré tragédia pessoal.

    Uma das maiores preocupações por parte dos fãs, era se Tim Miller conseguiria repetir os bons momentos de O Exterminador do Futuro e O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final no quesito ação, e ao menos nesse sentido, não há do que reclamar. Os 20 minutos iniciais são de uma ação frenética absurda, e mesmo os efeitos especiais soam naturais, bem melhor do que o rejuvenescimento de O Exterminador do Futuro: Genesis, que visto hoje, faz Arnold Schwarzenegger parecer realmente um boneco mal feito.

    A introdução dos novos personagens é um pouco apressada,mas o ritmo acelerado faz com que o estranhamento seja facilmente driblado. Tanto Grace (Mackenzie Davis) quanto Dani Ramos (Natalia Reyes) são personagens que parecem um pouco apagadas, mas até  para manter o mistério em torno delas, faz sentido isso ocorrer. A luta que Grace tem com o Exterminador REV-9 de Gabriel Luna é sensacional, em especial a sequencia na estrada, pós saída da fábrica, uma pena que boa parte desses momentos já tivessem sido antecipados no material de divulgação.

    Hamilton, no presente do filme, acrescenta demais a trama, seja no espírito de guerrilheira que  ela veste, como no aspecto de heroína de ação que prosseguiu evoluindo, tal qual foi em T2. Aliás, o núcleo de protagonistas ser todo formado por mulheres é um aspecto muito bem vindo, e ela que faz lembrar os momentos mais legais de mulheres badass do cinema recente, quase como uma Charlize Theron mais madura, uma evolução da Imperator Furiosa de Mad Max: Estrada da Fúria e da espiã de Atômica.

    O roteiro de David S. Goyer, Justin Rhodes e Billy Ray não é primoroso. A historia se perde um pouco ao não causar muito impacto com aspectos novos da franquia, e com essa outra versão do destino da humanidade. Talvez a quantidade grande de roteiristas e de argumentistas ( foram cinco, incluindo o produtor James Cameron) tenha ajudado a diluir essa importância que deveria ter sido dada. Além disso, há uma reciclagem tanto da trama de T2, quanto de muitos aspectos das continuações que foram “descanonizadas”. De O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas, há  o conceito de uma mulher viajando no tempo e sendo badass, de O Exterminador do Futuro: A Salvação, o conceito de um humano aprimorado e de T: Genesys, a questão do envelhecimento do tecido orgânico do T-800 de Arnold.

    Apesar de se valer demais de flashbacks – o que é ruim – ao menos é possível observar como essa versão do futuro é suja, lembrando inclusive Aliens: O Resgate em boa parte dos aspectos, mostrando que Miller é muito reverencial ao legado de Cameron. No entanto, a repetição de ciclos, com mulheres sempre se sacrificando pela sobrevivência da humanidade, não é tão bem traduzida para a parte da nova geração. Ao menos, o sub plot do T-800 é bem legal, e faz sentido mesmo com a suspensão de descrença. Se as máquinas são capazes de se revoltar e exterminar os homens, não há porquê elas não evoluírem ao ponto de criar uma espécie de ética própria, ainda mais se essa máquina não tiver nenhuma ordem ou comando. A mensagem sobre propósitos e a necessidade de tê-los é um pouco piegas, mas não chega a ser ofensivo, até porque Schwarzenegger está engraçadíssimo, à vontade como há muito não se via.

    Exterminador do Futuro: Destino sombrio acerta demais nos aspectos ligados a action movies, tem sequencias de luta muito boas, um bom vilão, que não deixa tanto a desejar para o T 1000 de Robert Patrick, e que tem em Linda Hamilton sua âncora, com uma atuação muito tocante e inspirada da veterana atriz, com um desempenho tão bom que quase faz esquecer que Reyes e Davis não estão tão bem.

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  • Review | Krypton – 1ª Temporada

    Review | Krypton – 1ª Temporada

    Criada por David S. Goyer e Damian Kindler (de Stargate SG-1 e Sleepy Hollow), Krypton era cercada de expectativas negativas e algumas (bem poucas positivas), até por conta de Goyer estar a frente da produção e também por ser do canal Syfy, conhecido por produções mais “trashs”, no entanto o que se viu foi algo bem diferente. A Primeira temporada tem 10 episódios, e começa focada em Seg-El (Cameron Cuffe), avô de Kal El, o Super Homem, e mostra uma divisão social do planeta que dá nome ao seriado por casas nobres e castas que vivem em partes diferentes do planeta.

    O avô do protagonista Val-El (Ian McElhinney) faz as vezes de Jor-El nas historias clássicas do Super, denunciando que algo terrível ocorrerá com o planeta, e os tradicionalistas não acreditam que há vida inteligente fora desse planeta, desse modo, a casa dos EL é rebaixada, pela autoridade suprema chamada Voz de Rao, feito por Blake Ratson, que aliás, quando é exigido, tem um belíssimo desempenho.

    A trama da série é  mais contida, mostrando a evolução de Seg entre a infância e adolescência rebelde e violenta. O fato da história ser inédita é um fator positivo, pois não há material base para contradizer nem para o bem e nem para o mal, embora um dos principais plots, envolvendo a viagem no tempo de um personagem encontre ecos nas historias do Starman que James Robinson e Goyer escreveram lá atrás.

    A produção se vale demais de efeitos práticos, fazendo com que todo o visual seja em cenários ou figurinos não deixem a desejar em nada para produções mais caras. Kandor e as outras cidades de Krypton são bem bonitas, e tem identidade própria, embora evoquem inspirações bem fáceis de identificar, as partes nobres, no alto, onde vivem os mais ricos o visual lembra o das prequels de Star Wars, sobretudo o visto em Ataque dos Clones, só copiando os aspectos positivos. Já as partes suburbanas lembram no lado externo os quadrinhos Knights of the Old Republic, e nos internos, Babylon Five, Deep Space Nine e Andromeda, series Sci-fi dos anos noventa. O programa também leva em consideração a mitologia de Homem de Aço. Boa parte do visual dos clãs adversário do EL vem do filme e convenhamos, de todos os aspectos do filme de Snyder esse é o melhor. Ainda há umas pitadas da Krypton  Ainda assim, há alguns elementos da Krytpon de Superman o Filme. Já o regime de castas e sociedade meio distópica é mais original, e dá camadas de importância bem legais a série, fazendo superar por exemplo as tramas juvenis de romances e envolvimentos sentimentais entre os personagens mais novos.

    Da trama principal no começo, há a possibilidade de Kev ascender e rankear sua família de novo, tornando os EL em honrados de novo, mas com condições que ele não abraçaria. Toda esta parte gera um pouco de enfado, mas nada ao nível dos novelões da CW, até porque há um número bom de personagens trambiqueiros e canalhas, fazendo lembrar os frequentadores da cantina de Mos Eisley vista em Uma Nova Esperança, sem falar que a versão de Adam Strange traduzida no desempenho de Shaun Sipos.

    As outras famílias não tem um desempenho dramático tão bom quanto e com tanta importância quanto os EL e os Zod, e isso é bom, por permite a série ser simples em no drama juvenil, variando entre os amores, tentações e formação de casais, deixando em segundo plano diante do cenário de calamidade e do desenrolar dos fato políticos. Há boas referências aos Borgs vistos em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, e o recado visual é bem dado, mesmo sendo quase copiada a assimilação dos borgs, o modo como é encaixado não faz parecer forçado, ao contrário, parece bem reverencial.

    Os cenários em CGI não são muito naturais, mas não comprometem tanto. Em alguns momentos, lembram a recente reimaginação de Star Trek que Seth McFarlane faz em The Orville, mas não apela para a licença poética anacrônica e datada da Space Opera citada. Ainda assim, as dificuldades orçamentárias são bem escondidos, e isso se reflete até nas atuações, feitas por gente que não é tão conhecida, a exceção de um ou outro personagem mais veterano.

    Outro fator legal é pôr todos os membros da Casa Zod como negros, liderados pelo personagem de Colin Salmon. Ver uma raça alienígena poderosa, tradicional nas historias em quadrinhos ter uma casta de negros é bem válido, mesmo que um de seus líderes se torne um vilão famoso. De certa forma – e guardadas as proporções bem diferente entre obras – tem um caráter semelhante ao de filmes como Pantera Negra, pois mostra negros com relevância e poder em um mundo que não é comandado por eles, mas que sabem de sua importância. Em alguns quesitos, ela acerta até mais que Raio Negro 1ª Temporada e se iguala a 2ª Temporada desse mesmo programa.

    Muitos se discutiu em Jornada nas Estrelas: Voyager sobre Tuvok, um vulcano ser negro, mesmo que nada indicasse que na raça de Spock não houvesse variação de cor de pele, e essa máxima cabe também aos kritponianos. O problema de Krypton em relação aos Zod é o de ainda não saber os rumos que eles tomarão, provavelmente sendo tiranos visto o histórico do General Zod nos quadrinhos, livros, séries, filmes, mas mesmo isso não invalida essa inclusão. É preciso humanizar os vilões, e por negros como papeis de destaque numa série com tão boas idéias e que não é tão ligada ao nicho de consumo negro segue ainda mais válido, até porque aparentemente o mais famoso dos Zod age de maneira autoritária isoladamente, não representa o pensamento do seu povo, necessariamente, e extremistas podem vir de qualquer espectro político, racial ou religioso, e é bem sempre ficar atento a esses. Mesmo com ele liderando a casa, é uma boa demonstração de como o povo desesperado faz más escolhas de liderança.

    Aos poucos de desenrola uma outra sub trama, envolvendo também viagem no tempo, e uma ameça de bomba de destruição do planeta, basicamente para mostrar uma outra versão de Apocalipse que visualmente é muito melhor que o de Smallville e de Batman Vs Superman. É uma pena mesmo que essa série não faça parte do suposto universo compartilhado da DC nos cinemas, pois é bem melhor construído que os filmes e isso possivelmente é mérito do consultor e roteirista David Kob, que supervisionou os dez roteiros, tendo Goyer escrito somente o primeiro.

    Depois de toda uma movimentação de revolta, e de um assumir de Adam Strange como uma versão do Gladiador Dourado (ao menos na motivação), Krypton termina discutindo a Zona Fantasma, reabrindo velhas feridas e discutindo ainda que de maneira superficial a gravidade de condenar alguém a um exílio. O apogeu de Brainiac faz dessa a melhor versão do vilão alienígena que se vale de tecnologia desde as tentativas de tradução do personagem para quaisquer telas, e é uma pena que não tenha sido bem feito nos filmes – mesmo em Superman 3, onde se tentou muito, ou em Smallville.

    O final consegue ser aterrador e surpreendente em camadas dramáticas, mesmo que seus fatos já sejam esperados. Colin Salmon está soberbo e a possibilidade do futuro/presente ser completamente mudado e destruído é um plot que certamente será difícil de resolver na segunda temporada a estrear em 2019. Há muito futuro para Krypton explorar, mesmo que o cliffhanger deste primeiro ano soe um bocado sensacionalista, certamente é das séries da DC a que tem mais potencial para ser diferenciada, divertida e escapista.

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  • Crítica | Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2)

    Crítica | Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2)

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    “The Red Capes are Comming”. A frase de Lex Luthor (Jesse Eisenberg) que se fez famosa no trailer de Batman vs Superman: A Origem da Justiça remete ao herói da independência dos EUA, Paul Revere — que também virou música na voz de Johnny Cash — atuando como mensageiro nas batalhas de Lexington e Concord. Ele chegou a Boston em seu cavalo gritando esta frase em referência aos soldados ingleses que usavam capas vermelhas.

    E é com a reação da humanidade à vinda de um força maior coberta por capa vermelha que a trama se move por boa parte do primeiro ato. O surgimento de uma espécie alienígena representa duas grandes questões da modernidade: a retirada do ser humano do pedestal de ser mais poderoso do universo, e a materialização de sua relação ambígua entre amor e temor que boa parte das religiões têm com relação às divindades. Se na Antiguidade a existência de uma força maior era um fato, hoje a fé é desmotivada e se mostra enfraquecida, como relatou Nietzsche, indicando que a fé tornou-se secundária na vida moderna, dando origem ao que ele chamou de Super-Homem (Ubermensch – Além do Homem) capaz de controlar o mundo à sua volta e não mais um joguete das fatalidades.

    Ainda assim, porém, existe a ideia de que nossos erros são a raiz da raiva de forças as quais não alcançamos total controle, tal é com as forças da natureza. Essa ideia preenche a relação de crime e castigo, amor através do temor e fidelidade forçada, conceitos essenciais para entender por que a invasão de uma divindade causa reações tão paradoxais à população do filme, temendo um deus que perde a calma caso alguém não se ajoelhe para pedir perdão.

    O medo, a febre que cresce nos corações são o motor de uma guerra, seja ela forjada em palavras ou com fogo, e é desta característica que Lex Luthor se aproveita para trabalhar sua megalomania caótica de quem não apenas desacredita e confronta, mas pretende ser o deus de seu tempo. Sua amargura é descrita numa citação breve do argumento da contradição dos fatos do filósofo David Hume para a inexistência de um deus. Porém sua maquinação não é racional como aquela da filosofia, mas sim solitária e apaixonada a ponto de impedi-lo de se contentar em matar apenas o deus metafórico e tornar-se senhor de si. O surgimento de um verdadeiro deus não se traduz para ele como uma afronta ou temor, mas na oportunidade de vingança que vai além das ruminações de quem espera respostas filosóficas. Tudo isso relaciona-se com sua performance física e verbal ao trazer um pouco de outras encarnações deste que é um dos maiores vilões dos quadrinhos, mostrando-se leve, sagaz e manipulador ao retratar o yuppie moderno da era da informação em toda sua vaidade.

    Nenhum pecado será perdoado. E é com este mantra enraizado em seus traumas que a orfandade trouxe que Batman/Bruce Wayne (Ben Affleck) e Superman/Clark Kent (Henry Cavill) interagem para criar os dois lados de uma mesma moeda. A vontade e a necessidade de fazer algo frente ao que se entende como errado são uma arma poderosa, porém polissêmica, e por isso capazes de produzir não só grandes feitos como também grandes tragédias, tal qual religiões, em que um mesmo conceito é capaz de tanto fazer alguém dar a vida em prol de um ideal quanto é capaz de dar as armas para dizimá-la. Para ligar estes dois personagens, o truque foi usar uma coincidência dos quadrinhos para representar os amores mais profundos dos meninos (apesar de a Mulher-Maravilha representar muito bem o gilrpower e mostrar-se superior e mais saiba que qualquer outra pessoa da trama, este é um filme que fala essencialmente aos meninos) e ligá-los emocionalmente.

    As duas grandes surpresas do filme ficam na performance e representação que Affleck trouxe ao Homem-Morcego, e Gal Gadot como Mulher-Maravilha, todavia o casting é irrepreensível. Como seus alteregos, a coisa funciona igualmente bem. O Batman se mostra brutal, poderoso e amedrontador em sua performance física exacerbando violência e em sua postura e fala que jamais recuam, deixando claro que sua principal gadget é o medo que provoca. Uma personificação exemplar que relaciona o figurino e o forte apelo à fantasia mostrando um Batman capaz de feitos improváveis, mas não necessariamente impossíveis.

    A Mulher-Maravilha é especialmente bem tratada, tanto por sua música-tema, que é mais impactante e carismática que a de seus companheiros de cena, quanto pela cinematografia (não por acaso é colocada no centro da Trindade), tratando de mostrar uma heroína inabalável e divina na essência do termo. Ela demonstra em suas linhas de diálogos já ter passado pelos sofrimentos que hoje os demais heróis passam. Mesmas dúvidas, mesmas tristezas, mesmas perdas, mas com a sabedoria de que não há recompensas em viver acima das nuvens, ciente de que a corrupção do poder sempre chega.

    O roteiro é coeso, mesmo com a abertura para as loucuras temporais que a DC trabalha nos quadrinhos, e possui todas as pontas costuradas pelos sempre talentosos Chris Terrio (Argo) e David Goyer, que se utilizaram de ao menos duas grandes histórias clássicas dos heróis-título. Apesar desta competência, faltam pausas para assimilar e deixar respirar certas ideias do filme e assim algumas conclusões podem soar falsas ou apressadas. Falta a mesma contemplação para justificar a ação, que, apesar de ser intensa e poderosa, conta mais com a pose do que com movimentos ao capturar muito da estética e linguagem narrativa dos quadrinhos. O recurso que nas mãos de outro diretor poderia traduzir-se em cenários enfadonhos, é bem aproveitado por Zack Snyder, o qual entende que o que há de especial na linguagem visual dos quadrinhos é justamente o preenchimento entre um quadro e o outro exigido do público, e por isso produz cenas que, independente da apreciação do todo, funcionam por si só.

    Ainda assim, o ritmo traz algumas perdas para a narrativa e à estrutura dos atos, que iniciam e terminam a ação em períodos incomuns nos demais filmes de super-heróis (tanto da Marvel quanto da Trilogia Nolan), o que afeta a noção de tempo do filme, desregulando as emoções sobre os acontecimentos e prejudicando a entrega. Ao decidir emocionar pela fantasia de se observar a trindade dos quadrinhos agora em carne e osso e pelo jogo esquemático e inteligente do roteiro, a direção acaba optando também por evitar emoções mais profundas, formando um filme rebuscado e apaixonado, mas carente de amor.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | Batman vs Superman: A Origem da Justiça (1)

    Crítica | Batman vs Superman: A Origem da Justiça (1)

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    O que interessa aos heróis não é brigar entre si, mas sim lutar por um bem maior. Só que alguém fez o diretor Zack Snyder – que como cineasta é um ótimo designer de videogames, além de famoso por seus exageros – entender e aplicar isso no cenário de um filme que precisava ser épico, mas diferente de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Se o Superman de Henry Cavill quer na soberania de suas ações se retratar e nos fazer esquecer de O Homem de Aço, o Batman de Ben Affleck vive num mundo à parte dos filmes de Christopher Nolan, sendo o mais sisudo e inflexível dentre os exibidos no cinema. Um personagem ao mesmo tempo limítrofe às próprias fraquezas, mas que chega a acender o bat-sinal no céu de Gotham e enfrentar um Deus, tão furioso quanto ele, para subvertê-las e não ter que enfrentá-las a base de vodka ou psiquiatria contra os traumas do passado; esses sim, invencíveis. E que tudo em Batman vs Superman: A Origem da Justiça gire em torno do peso de outrora sobre o presente, para que enfim seja erguida a ponte do universo DC Comics no Cinema, da mesma forma que a Marvel já conseguiu. Passou da hora.

    Um filme de responsabilidades, seguro de si para incorporar mais certezas que dúvidas sobre o futuro; dúvidas oriundas da falta de planejamento da DC e Warner – muita boataria e fato que é bom, nenhum! Todavia, quando o Morcego e o Homem de Aço dividem a tela pela primeira vez, num show de efeitos especiais de doer os olhos tamanha a complexidade visual, fica difícil não sorrir. Porque, numa analogia indireta à fazenda dos pais adotivos de Superman, o campo está arado e só falta colher os frutos, já que o próprio filme é fruto, em parte, das vaidades estéticas e sufocantes de seu diretor – dessa vez muito mais consciente do poder do material que tem em mãos do que quando rodou Watchmen -, filme após filme, pavimentando e aprimorando o mirabolante universo DC na telona, mesmo que essa seja uma atitude retumbante, mas atrasada e vacilante no êxito, até agora… Até agora, pois o terceiro ato é o grande trunfo da obra.

    A produção vem lotada de surpresas, e isso não poderia ser melhor, principalmente num tempo em que qualquer easter-eggs de fenômenos pop é motivo de intermináveis fóruns, internet afora. Também por isso, o filme apresenta um bom equilíbrio entre tantos personagens dividindo a mesma história. É notável, em especial no ótimo terceiro ato, como Snyder sabe aproveitar a extremidade da tela de cinema IMAX, ampliando sem comiseração esse potencial da situação, o que faz uma lenda ser mito quando a máscara racha durante a luta, o que neste caso aprimora o espetáculo e amplia suas ilusões, mesmo que o 3D ao longo do filme seja 100% preguiçoso e inútil, o que parece demonstrar que o diretor estava preocupado demais na empolgação da coisa, para “enxergar” onde mora o razoável numa luta tridimensional como essa.

    Filme frenético, moderno, cheio de fúria, fogo e barulho, mas calma, não é Mad Max, mesmo! Do começo ao fim, estudamos e sentimos o poder que move o certo e o errado, o bem e o mal que o Cinema nos ajuda a definir e validar no valor de seus símbolos e mitos. Batman vs Superman: A Origem da Justiça é um filmaço, é o desenho da Liga da Justiça com atores reais e um pouco da seriedade de Nolan (um dos produtores do filme), mas o melhor, claro, feito sobremesa, é deixado para o fim.

  • Crítica | Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D

    Crítica | Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D

    Nicky Fury Agente da SHIELD 1

    Muito antes de Samuel L. Jackson aceitar o convite da Marvel Studios para estrelar o papel do coronel caolho da  agência da S.H.I.E.L.D., seria feita uma versão de Nick Fury, produzida por Avi Arad, Stan Lee e roteirizada por David Goyer. A escolha para o papel principal não poderia ser mais sui generis, com o aporte de David Hasselhoff, ainda na esteira de S.O.S. Malibu, em um papel tão canastrão quanto o que fizera neste e em Super Máquina.

    O Fury de Hasselhof é ainda mais agressivo e arredio do que a última versão cinematográfica do personagem, nada afeito a ordens, um rebelde que sabe o poder que tem, mesmo como subalterno dentro a agência de espionagem. O desrespeito as regras começa pela clássica cena em que acende um fósforo na parede, movimento comum a qualquer brucutu, ainda mais condizente com um militar que não aguenta desaforos.

    A fluidez com que é conduzido o filme de Rob Hardy  é tamanha, que se assemelha às encenações teatrais de colégio em fase de ensino fundamental. Não há como levar a sério qualquer dos conflitos entre a S.H.I.E.L.D. e a Hydra, que a priori, agiria desde a época da Alemanha Nazista, porcamente encenada por um elenco que abusa de falas aos gritos, overacting e muitos exageros visuais, com direito a cabelos extravagantes e sotaques californianos imitando horrorosamente o tom europeu de falar.

    É difícil escolher o aspecto mais chocante do telefilme, se é o fato do protagonista estar sempre oleoso, se é o tapa-olho que denuncia a completa falta de continuísmo ao se trocar frequentemente o objeto de hemisfério corporal, o bronzeamento artificial justificado do modo mais burrificado possível ou os cenários em CGI que fazem inveja aos diversos mockbusters da Asylum.

    O conjunto de semelhanças visuais com as HQ’s é incabível, sendo incrivelmente esdrúxulo, não fazendo sequer sentido dentro da métrica do argumento em alguns pontos, resultando até em contradições lógicas, como o ato de usar couro em um ambiente extremamente quente como a embarcação marítima/aérea em que a instituição se situa.

    Fury é leviano, durão e baddass, convive bem em meio ao mundo que o cerca, mesmo neste ambiente repleto de cenários de papelão que lembram demais o que é visto em produções de baixo orçamento. A trama se arrasta nos momentos finais, com direito a ressurreição de inimigos centenários, que só retornam para morrer logo depois, e uma larga apresentação de coadjuvantes genéricos, que não deixam o público esquecer do quão trash é o longa. Após um apelativo gancho para uma continuação, a resolução de Fury é curiosa por ir contra a burocracia típica da organização, ainda que o modo como é realizado não tenha qualquer inteligência. Nick Fury Agente da S.H.I.E.L.D. consegue ser tão pleno em seus defeitos, que provoca no seu espectador um riso involuntário, provindo do que já se chamava em 1998 por Marvel Studios, ainda que em outra encarnação da produtora.

  • Crítica | Batman Begins

    Crítica | Batman Begins

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    Demorou certo tempo para a Warner trazer o Cavaleiro das Trevas novamente às telas, após a destruição causada por Schumacher com Batman & Robin. Ao descobrir sobre o interesse da produtora, Christopher Nolan demonstrou sua vontade em realizar um longa-metragem e esboçou breves ideias iniciais a respeito do projeto.

    Antes mesmo de realizar longas reuniões com executivos, Nolan convidou o roteirista David S. Goyer para juntos trabalharem em uma versão do roteiro, ao mesmo tempo em que seu desenhista de produção concebia visualmente as ideias criadas por ambos.

    Quando os executivos puderam conhecer a história de Nolan / Goyer, também tinham em mãos diversos protótipos desenvolvidos a respeito do uniforme e carro da personagem, e também da cidade de Gotham City. Elementos que começaram como testes na garagem de Nolan e tornaram-se presentes no filme.

    Batman Begins não só narra a origem do herói como também é o primeiro marco da narrativa de Nolan. O filme explora a lacuna de sete anos em que Bruce Wayne ficou fora da cidade. Lacuna que, diz o diretor, nem mesmo foi explorada em gibis.

    A personagem dos quadrinhos aproxima-se daquela vista nas telas: um homem que realizou uma jornada interior e teve maciço treinamento com diversos mestres para tornar-se aquilo que ambicionava. Além da composição como um herói, conhecemos também o pequeno círculo de confiança de Bruce Wayne: Alfred, o paternal mordomo, Lucius Fox, mentor tecnológico do morcego e Jim Gordon, o policial que lhe inspira confiança.

    Antes de o personagem vestir o manto, a história apresenta a jornada de Bruce Wayne. Nela, é desenvolvida a psicologia desde sua infância, com seu medo pelos morcegos, e as maneiras necessárias para explorar o terror interno. Antes mesmo de o público ver o Homem Morcego, há confiança e credibilidade na jornada estabelecida por Wayne.

    As tramas apresentadas são costuradas com perfeição. Inicialmente, Batman desenvolve uma luta contra a máfia da cidade, tentando ajudar a promotora Rachel. Conforme adentra as investigações, descobre que o Dr. Jonathan Crane aproveita-se do contrabando para desenvolver uma droga própria que impele o medo. A jornada do morcego constitui-se em uma luta com elementos ainda desconhecidos por ele.

    Batman foi criado para ser um tanque de guerra em forma de homem. Tem o aparato necessário e conhece as lutas marciais mais definitivas. Nolan não queria transformar a violência em espetáculo, mas sim em um elemento que assustasse o público. Dessa forma, oferece-se credibilidade à composição da personagem.

    A produção foi rodada quase inteiramente em locações ou estúdio, utilizando muito pouco do CG. Boa parte da cidade de Gotham foi levantada em grandes estúdios; a cena da caverna possui, de fato, um lago submerso e até mesmo o batmóvel foi construído como um veículo funcional de verdade, com quatro metros e mais de duas toneladas.

    Os elementos constituem uma realidade crível para o espectador. É retirado da personagem seu conceito colorido dos filmes anteriores, compondo um ambiente sombrio e real. Por conseguinte, estabelece-se com eficiência a composição de Christian Bale entre Bruce Wayne e Batman. Dando vazão e justificativa a um homem que a noite vira um símbolo.