Tag: Dennis Hopper

  • Crítica | Apocalypse Now

    Crítica | Apocalypse Now

    O filme de guerra definitivo, ou quase isso. Quase porque existe Vá e Veja, mas Francis Ford Coppola chegou muito perto em 1979 de roubar o trono desse filme soviético – essa sim, a mais delirante história de conflitos militares já feita no cinema. Veja: a perspectiva histórica aqui não poderia ser evitada, já que estamos pisando num panteão de lendas e falando sobre monumentos titânicos de uma arte engrandecida por tais façanhas. Apocalypse Now, por exemplo, é fenômeno único, um tour de force que jamais será repetido ou reproduzido pelos efeitos especiais de um James Cameron. Poucas vezes Hollywood foi tão longe com as suas imagens, tão verdadeira ao enquadrar o caos e o horror que leva um país a atacar o outro, e dentro dele, se desesperar. O diretor de O Poderoso Chefão, na década do seu mais famoso diamante, ainda estava com uma fome incontrolável de cinema, fome de contar a história mais ousada que ninguém mais seria louco de contar. E depois disso, não teve como não saciá-la.

    Baseado nos livros Despachos no Front e No Coração das Trevas, no auge da fracassada guerra do Vietnã, um coronel americano louco por poder se deserta do exército, e passa a comandar uma tropa de nativos para resistir a outros brancos invasores. O coronel Kurt (Marlon Brando) não é maluco por enxergar o imperialismo do seu povo e não aceitar sua manipulação, mas por reproduzi-lo nos vietnamitas por conta própria. Assim, uma missão saindo de Saigon visa localizar e exterminar Kurt nas profundezas das selvas de um país-manicômio, lar de um inferno na Terra devido à forte invasão “democrática” dos EUA. Helicópteros avançam ao som de Wagner numa cortina de fogo enquanto o Vietnã explode mas revida, não só com armas improvisadas nas mãos de civis, e sim com a loucura que volta como um bumerangue e atinge como um míssil a mentalidade cada vez mais fragilizada do capitão Willard (Martin Sheen) e seus recrutas. Se quem não fala inglês merecia morrer, a intolerância e a petulância dos americanos nunca sofreu por isso um carma e um trauma tão fortes igual aqui. Ninguém vai voltar pra casa, e se voltarem, nenhuma psicóloga vai lhes ajudar com os gritos daquelas crianças.

    Bem antes do coronel/ ditador Kurt finalmente expor sua face, num magnífico plano negro e alaranjado dentro de um purgatório conquistado por sua soberba de imperador, Coppola critica de forma visceral a política de invasão dos Estados Unidos através de suas consequências com os envolvidos, homens antes comuns e que perdem a moral e a sanidade servindo a pátria. Com toda a certeza pode-se averiguar que o Oscar de 1980 foi negado a Apocalypse Now por este ser dois dedos na ferida americana, potente demais na força de sua mensagem nada subliminar. Para atingir a experiência de uma catarse cinematográfica naturalista, Francis Ford Coppola quase se suicidou com as dificuldades no Vietnã, liderando uma tropa de atores e técnicos sob total pressão do governo local, com grana do próprio bolso financiando as filmagens, e um Marlon Brando impossível de se trabalhar junto (muito acima do peso, alcoólatra e relutante até o último segundo de viver na mata fechada para interpretar Kurt), além dos prejuízos financeiros pessoais e ao estúdio – o martírio nunca chegava ao fim, e os jornais já acusavam a aventura de O fracasso. O universo queria Coppola no sanatório, mas ele já estava dirigindo o seu.

    Hoje, quarenta anos depois e com várias versões do diretor, é um exagero aceitável afirmar que Apocalypse Now e Agonia e Glória, de Samuel Fuller, foram os últimos épicos de guerra vindos de Hollywood, cinemão em todos os aspectos, sujos e que nunca apelam a extravagâncias, com suas vaidades técnicas poderosamente bem aplicadas numa duração a qual nunca desejamos o fim. Steven Spielberg tentou em 1999 um feito parecido com o seu grande O Resgate do Soldado Ryan, e anos antes Oliver Stone tirou seu Platoon da manga, filme-propaganda americana e repleto de apologias irritantes que Spielberg romantizou até o talo com seu sentimentalismo divertido mas hipócrita (a bandeira americana dançando no vento ao som de fim de novela). A ironia mora, talvez, no fato de Trovão Tropical, a paródia meio esquecida de tudo isso feita por Ben Stiller, em 2008, ser bem mais interessante que toda essa panfletagem do Tio Sam. Coppola, se a fez, fez para subvertê-la sem medo. O mundo é um teatro regido por doidos que dormem mal, e esse foi aonde ninguém foi, ganhou Cannes e dinheiro nenhum, e quase se matou no carnaval pagão de criar a sua própria Monalisa de celuloide.

  • Crítica | Momentos Decisivos

    Crítica | Momentos Decisivos

    O filme de David Anspaugh começa com uma viagem de carro com o protagonista Norman Dale (Gene Hackman) viajando pelas estradas interioranas dos Estados Unidos, evocando todo o caráter provinciano de Momentos Decisivos. O longa trata da trajetória do Coach Dale, homem cujo passado possuialgumas manchas e mágoas, e que retorna para sua terra como bom hoosier (o nome original do filme é Hoosiers), a fim de trabalhar como treinador de basquete do time de uma pequena escola em Indiana, em uma época que pequenas agremiações foram permitidas disputar o estadual.

    A música de Jerry Goldsmith dá o tom ideal para o filme, ajudando o roteiro de Angelo Pizzo variar de forma fluida entre o temperamental comportamento de Dale e o drama vivido por ele. Hackman está em boa forma, e parece mergulhar muito bem no papel de instrutor de atletas, isso garante ao longa um caráter fidedigno. Aos poucos, a história vai ganhando mais contornos dramáticos.

    O filme cai em uma jornada bastante piegas, especialmente no que diz respeito ao personagem de Dennis Hopper, o auxiliar Shooter, um bêbado local que ajuda Norman a conduzir o time. As dificuldades que ele tem em se manter sóbrio são responsáveis por momentos dignos de um sensacionalismo execrável. Ainda assim, sua performance fez Hopper concorrer ao Óscar de melhor ator coadjuvante à época.

    Os momentos da partida final são muito bem registrados, com slow motion bem utilizado, embalado pelos temas de Goldsmith. Momentos Decisivos, apesar do espírito inspirador, soa bobo em muitos momentos, mas ainda assim faz um belo registro do esporte e contem ótimas atuações dos veteranos Hopper e Hackman.

  • Crítica | Super Mario Bros.

    Crítica | Super Mario Bros.

    O começo do filme de Annabel Jankel e Rocky Morton ocorre com a música tema da primeira fase do jogo de NES, homônimo ao filme. Na introdução de Super Mario Bros. se mostra uma animação mambembe, mostrando os dinossauros conversando sobre sua subsistência, logo depois se dá um salto de 65 milhões de anos em que se fala que há um dimensão que reúne a vida dos humanos com a dos dinossauros, caso esses últimos não fossem extintos. Para se ter noção da confusão que é a temática do filme, ainda se volta mais 20 anos, o motivo para tais saltos temporais não é muito bem explicado e tudo isso ocorre nos primeiros cinco minutos de tela.

    Sem qualquer preâmbulo ou explicação minimamente plausível, o vilão Koopa é mostrado, por um Dennis Hopper completamente perdido em meio ao texto de Ed Solomon, Parker Bennett e Terry Runte. Logo, o Brooklyn é mostrado, inicialmente em uma cena onde um ovo de dinossauro é deixado numa igreja. Tempos depois,  na atualidade, há o chamado aos dois encanadores e mecânicos Mario Mario (Bob Hoskins) e Luigi Mario (John Leguizamo), logo eles encontram Daisy (Samantha Mathis), uma bela arqueóloga/paleontóloga que tem sempre as pernas a mostra, e após  uma desventura no subterrâneo do Brooklyn, eles se vêem entrando em outra dimensão, o tal mundo onde homens convivem com dinossauros.

    A personificação dos personagens centrais é pífia, com Daisy como princesa em perigo e não Peach – referência essa à Super Mario Land, para Game Boy – um Luigi meio sul-americano sem bigode que nada tem a ver com o italiano alto. Além desses, a maior parte dos vilões também é mal encaixada, como os Goombas, Bertha, e até o herói cogumelo Toad. Parece que a ideia era só usar o nome dos personagens sem qualquer identificação ao produto original além disso.

    Os raptos das mulheres dos protagonistas faz com que os irmãos corram por uma cidade futurista e decadente, em alguns momentos lembrando Blade Runner e em outras sendo completamente risível. A pior parte é perceber que o filme não se trata de uma paródia, pois se leva a sério demais.

    A configuração política deste mundo também soa confusa, com uma não decisão sobre o modo de governo, se seria monarquia, com Koopa como soberano, ou presidencial, já que o mesmo é candidato a alguma coisa. Também não há uma tentativa de aprofundar uma possível dualidade entre esses dois estados, ao contrário, o que se vê é um filme que tenta emular qualidades do cinema de Tim Burton, buscando uma atmosfera mais adulta, mas esbarrando em um péssimo texto.

    Ao final, se entende um pouco da evolução entre os mundos, com o lar de Koopa sendo resultado da evolução dos dinossauros, ainda que isso seja confuso, uma vez que Bowser – ou Rei Koopa – nos games era uma variação entre tartaruga e dragão e não um Tiranossauro Rex, tampouco os goombas eram reptilianos.

    Além do roteiro terrível, as atuações são igualmente caricatas e desmedidas. Leguizamo é um herói sem carisma, Hoskins parece ter vergonha de ser o nome principal no pôster desse filme e Hopper só seguia ladeira abaixo na fase decadente em que vivia. Os efeitos digitais são terríveis para à época e a construção do mundo fantasioso faz perguntar onde foram parar os mais de quarenta milhões do orçamento do longa, dinheiro bastante alto na época, e que obviamente não foi recuperado.

    As questões políticas do outro mundo faz lembrar mais a Shao Khan e do rei de Edenia em Mortal Kombat do que a mitologia dos irmãos encanadores. A questão envolvendo Daisy soa confusa e nada familiar – exceto pelo fato de o rei antigo voltar para a forma humana, como em Super Mario Bros. 3 – para quem era aficionado pelo mascote da Nintendo, assusta demais perceber que deixaram um produto tão confuso ser lançado em circuito comercial. Nada da essência super colorida, lúdica e lisérgica ficou, apenas uma tentativa de transformar o em um cyberpunk completamente incabível, com direito a cena pós-créditos que quebra a quarta-parede e gancho para uma continuação que nunca veio.

    https://www.youtube.com/watch?v=wtMZKYnLg5c

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  • Crítica | Hell Ride

    Crítica | Hell Ride

    Silencioso em seu início, Hell Ride é movido pela ilusão de uma musa que inebria o imaginário de Pistoleiro, personagem de Larry Bishop, ator que também dirige o filme. Logo no começo, ela é cortada, já que assim que abre a boca, termina com qualquer possibilidade de santidade na abordagem da fita. Em menos de quatro minutos de exibição, os signos visuais já demonstram a rotina do seu herói, ligada  – e muito –  a sexualidade e violência extremas.

    O arquétipo gráfico provindo dos filmes noventistas de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino (produtor do filme) é notado de cara, ao mostrar um deserto repleto de sangue, chumbo, cadáveres e referências à figura diabólica, além de uma ode à pornografia em geral. A tentativa de emular os momentos de Um Drink no Inferno é válida, no entanto, o excesso de flashbacks e a linha temporal pouco afeita à normalidade são maneirismos que irritam o público logo no início, a despeito até da estética de “sexo, drogas e rock’n roll“.

    Ultrapassada essa excessiva transição temporal desmedida, é contada uma trajetória de vingança que remete a um infante que assiste à morte de uma índia cherokee inocente, resultado de uma inimizade entre duas gangues de motoqueiros que cobram um alto preço pela morte. Os dois lados opostos são os Victors, liderados na contemporaneidade pelo Pistoleiro, e os 666 Wings, afiliados a Billy Wings (Vinnie Jones), que com sua metralhadora/besta, impinge aço àqueles que se opõem a sua vontade e ao seu regime.

    A volúpia por repetir alguns dos elementos de ebriedade vistos em Sem Destino soa risível. Bishop filma momentos em que são manejadas drogas pesadas, causando na lente uma diminuição de velocidade, como se o mundo tentasse adequar-se à tontura causada pelo uso excessivo de entorpecentes. O artifício funcionou para os anos sessenta, mas em 2008 soa como um pastiche, como um conto caricatural sobre os elementos típicos do estilo de vida sob duas rodas.

    O elenco de coadjuvantes é estrelado pelas figuras carismáticas de Michael Madsen, David Carradine e Dennis Hopper, que tentam esconder a falta de capacidades dramáticas dos protagonistas, especialmente de Eric Balfour, que vive o novato Comanche dos Victors. Toda a curta duração do filme se encaminha para o embate entre Pistoleiro e Billy Wings. Uma vez alcançado, o entrave mostra-se truncado, mas com uma boa dose de violência extrema, qualidade que demora demasiadamente a ser explorada, mas que ainda assim é insuficiente para as expectativas ligadas a um filme B, como esse.

    Todo o sangue e depravação que vêm dos quase noventa minutos de duração do filme de Larry Bishop escondem uma mensagem de fraternidade e honra, que, no entanto, não é super explorada, uma vez que o roteiro se rende até aos clichês mais básicos como a tão repetida questão do amor imortal, tendo a justiça como o norte e objetivo a ser seguido. Em paralelo aos comentários sociais e anárquicos dos filmes que o inspiraram, Hell Ride não diz quase nada, serve apenas uma distração munida de elementos comuns aos produtos de mountain bike.