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  • Resenha | Submissão – Michel Houellebecq (2)

    Resenha | Submissão – Michel Houellebecq (2)

    Capa Submissao

    Boas notícias: o mundo está ruim para todo mundo, as relações de trabalho pioram num ritmo alucinante sob o lema “é cada um por si”, o sentimento de insegurança cresce numa escala universal cada vez mais, e um personagem como o Coringa é exaltado num filme de mais de um bilhão nas bilheterias. Sintomas de uma insatisfação, medo e um pessimismo quase que generalizados, de 2010 para cá, após as dificuldades de um sistema econômico globalizado que parece nunca ter se recuperado 100% da crise de 2008, e o nascimento forte e oportuno de um conservadorismo político que se revigorou após um longo coma. No receio de um futuro onde negros e gays serão cada vez mais respeitados, e a ciência terá um papel tão relevante quanto a religião já teve (e tem) na humanidade, a maioria das pessoas que pede pelo novo não troca o certo pelo duvidoso, ironicamente, e voltam vinte casas no jogo da vida, aos tempos em que “o mundo não era chato” e deixando-se acreditar, gerações depois, que menino veste uma cor, e menina outra.

    Num futuro pré-histórico, a única evolução possível é a do formato da Terra. Nesse cenário que por si só parece tão caótico quanto outros famosos da ficção, a França em 2022 é engolida por um conservadorismo imbatível através da Fraternidade Muçulmana, que entre outras medidas pretende estalar um currículo escolar adaptado aos ensinamentos do Alcorão as crianças francesas, além de retirar o financiamento do ensino público para que todos os pais queiram matricular seus filhos no ensino particular muçulmano. Nessa condição de Submissão aos valores externos ao país, as eleições se desenrolam e tudo leva a crer que essa será a nova realidade de uma nação ocidental e até então sócio democrata. Nisso, o professor universitário François, da faculdade de Sorbonne, se vê completamente apreensivo e intimidado diante da possibilidade de um estado autoritário. Assim, o regime islâmico se estabelece no seu país e François não sabe como reagir, apesar de uma crescente sensação de fuga ser cada vez mais plausível aos temores de um simples professor de letras.

    Sucumbindo aos receios de um possível dogma que irá recair, por vias eleitorais, a todas as instituições da França, a começar pela universidade que trabalha, logo no dia seguinte as eleições François acorda e já espera pelo pior, desde o comportamento dos seus alunos (que não se altera) a violência das manifestações públicas de quem ainda pretende defender a democracia francesa. A paranoia parece tomar conta dele, e seus contatos que começam a retirar seu dinheiro dos bancos públicos. Estimulado a fugir de Paris, onde o pior pode acontecer, François arruma as malas e parte da capital, ciente de escapar de um desastre que, para ele, de certo irá se abater aos que ficam, pois tudo irá (aparentemente) mudar com os novos costumes. Um forte debate étnico e humanitário se forma a partir das expectativas e dos preconceitos de um homem pensando e repensando o desconhecido, algo proposto na narrativa por Michel Houellebecq e que se torna a base de uma história conflituosa por natureza.

    Submissão dialoga perfeitamente, com grande charme e ritmo constante na narrativa em primeira pessoa, junto as mudanças de um mundo globalizado e sua recepção aos olhos não só da maioria das pessoas, mas daquelas que dissonam a grande voz, e por isso, sentem-se cada vez mais solitárias com suas verdades. Mudanças essas que intimidam o status quo das coisas pela rapidez que acontecem, e que afetam ideologicamente, sobretudo, todos aqueles que ainda não estão alienadas pelo lado mais doce que o espetáculo da mídia nos apresenta. François tem medo do amanhã, e foge da chuva um mês antes dela, porventura, vir a cair – ou não. Há muito o que se comparar aqui com outras distopias mais surreais que essa, mas que também transmitem um cenário de achatamento ao indivíduo, tal o clássico 1984, de George Orwell. A diferença primordial a suas possíveis comparações é que Submissão é absolutamente objetivo a ideologia atual da política mundial, importando-se menos ao impacto tecnológico das mudanças sociais e mais com o quadro mental do cidadão diante do novo, e do diferente. Um livro publicado no Brasil pela editora Alfaguara, e tão relevante à atualidade quanto poderia ser.

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  • Resenha | Rosario Tijeras – Jorge Franco

    Resenha | Rosario Tijeras – Jorge Franco

    “Rosário gosta de mim”, a mentira final. Antonio se engana porque precisa disso. Eis o auto engano que um amante silencioso conta, para si mesmo, o tempo todo, dentro ou fora do hospital, ao lado e na frente da garota veneno que ele nunca aprendeu a desamar, como deveria. Se a América Latina ferve e é pura paixão, e instinto (muitas vezes carnal, e tempestuoso), vibrando e resistindo com sua identidade diante das mudanças do tempo, o notório escritor Jorge Franco nos brinda nesta novíssima literatura colombiana com uma relação nada romântica entre dois opostos que a vida atraiu, justamente para que, juntos, achem forças para enfrentá-la nos seus momentos mais difíceis. Rosario Tijeras, marco latino e de gigantesca vivacidade de 1999, começa no maior desafio que os dois já tiveram de passar, sobrevivendo entre o submundo da violenta cidade de Medellín, e a alta sociedade colombiana.

    Ela, cravejada de balas na emergência de um hospital; e ele, torcendo para que ela acorde para, enfim, revelar seu amor pelo mulherão que nunca pôde ser menina. O que existe entre Rosario e seu fiel amigo, um misto de dependência e resistência, é a separação do romantismo com o amor, bastante comum no cético século XXI, numa realidade dura demais para o primeiro existir e se dar bem. Na verdade, nada é bem-sucedido para quem dança com a morte, a fim de ter o que comer no dia seguinte, como se não houvesse outra coisa a se fazer – e muitas vezes, não há. Mas Rosario, aquela que adorava botar medo nos homens só pela fama perigosa do seu nome, ela ria na cara do perigo, e agora, semimorta, pagou um preço muito bem pago por isso. Franco, hábil escritor, reserva para Rosario Tijeras um estudo de ambiente a partir dos seus personagens, servindo ainda como um belo e delicioso estudo de antropologia e sociologia do comportamento de jovens homens e mulheres das periferias mais violentas, do terceiro mundo.

    Rosario, a mais impiedosa e bronzeada das femme fatale cor-de-canela, andava no limiar dos abismos como se estes fossem parentes próximos. Neles, circulava com os mais diversos machos, cujo beijo de um incluiu uma bala certeira à queima-roupa, para dar fim a seu reinado de loucuras, e inconsequências não tão eternas, assim. O narrador, seu tristonho Don Juan que nos detalha a vida dessa Capitu, ainda mais (muito mais) dissimulada que a de Machado, sabe que ela é uma assassina capaz de tudo. Mas um coração de amores platônicos, como bem nos lembra e nos comprova este romance, não se rege pela razão, como se Antonio já tivesse comprado, há muito, o papel oficial de anjo da guarda dessa perfídia matadora. Franco usa de sua irresistível prosa para nos levar por uma viagem de sensações, aqui, com um efeito tridimensional capaz de envolver o mais sisudo dos leitores a um embate entre vida e morte, nessa Colômbia imprevisível e carnavalesca em todos os sentidos – como todo país latino-americano, que se preze.

    Letal até no nome (Tijeras, não por acaso, é tesoura em espanhol), Rosario gosta dele, mas Antonio a ama, e esse sentimento é bom e grande demais para Rosario. Quão trágico é esse dilema tão banal, nos quatro cantos do mundo, mas que em Medellín toma proporções mais dramáticas que a mais cruel das separações. Uma cidade impiedosa para gente mais ainda, afinal, Rosario não tem medo da morte, nem de homens perigosos e vingativos. Ela seduz a todos, ganhando assim um pouco mais de tempo para tentar ser feliz – sempre com Antonio, irmão que a vida lhe deu. Ah, a friendzone… a vida é cheia de coisas mal resolvidas, e grandes obras como essa, publicada no Brasil pela editora Alfaguara, numa boa tradução ao português, tentando organizar e ampliar os sentidos daquilo que nunca vem à tona, e junto de alguns que se vão, fica enterrado para sempre quando a brincadeira termina. Rosario era esperta, mas há sempre um peixe maior.

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  • Resenha | O Homem de Areia – Lars Kepler

    Resenha | O Homem de Areia – Lars Kepler

    “Está sempre escuro quando ele vem.”

    Não é de se estranhar que o autor Lars Kepler, o pseudônimo do casal Alexandra e Alexander Ahndoril, ganhou uma solene notoriedade com esse O Homem de Areia. Já lemos ou certamente assistimos inúmeras histórias sobre psicopatas e seus desaparecidos, numa aldeia global de pessoas trancafiadas na liberdade dos seus condomínios. Lidando com o fim dessa privacidade e da segurança, e metaforizando nossa alienação midiática por meio da ação de um assassino que se comporta como uma entidade que ninguém consegue ver, ou muito menos capturar, a publicação da editora Alfaguara não deixa dúvidas sobre a influência narrativa que ela pode exercer em outras obras do gênero policial, e suspense. Em Estocolmo, Suécia, pessoas começam a sumir feito pegadas na neve, e o mapa do país inteiro começa a ser marcado pelo DNIC (Departamento Nacional de Investigação Criminal) como se a ameaça fosse tão real, quanto onipresente.

    Mas não há espaço para monstros de fantasia, na vida real: nós somos os nossos próprios monstros. O que há, portanto, é um risco e uma ousadia a serem consideradas, aqui: descrever um cenário formado e influenciado constantemente por enigmas e segredos não desvendados, em um mundo contemporâneo (e quase que distópico) em que somos sempre vigiados pelas instituições públicas e/ou grandes corporações, já é um feito nobre por si só. Se é possível realmente passar despercebido numa realidade de mil olhos sempre abertos, pergunte ao serial killer Jurek Walter, então. Um homem quieto e reservado e fora de qualquer suspeita, o talento de Jurek era ser invisível, além de fazer suas vítimas de sequestro serem irrastreáveis por anos a fio – até ser finalmente pego, e sob a luz de severas investigações profissionais, continuar a ser um mistério desencadeando muitos outros ainda a acontecer, e motivos inimagináveis para velhos teoremas perturbadores que nunca iriam ganhar solução, sem a sua captura.

    O Homem de Areia, o apelido estranhamente infantil de uma das vítimas sobreviventes ao seu tenebroso sequestrador, que joga um pó nas suas caras e as faz adormecer de imediato, é um suspense calcado não apenas no compromisso hipnótico e bem-sucedido aqui de se criar um ótimo thriller policial hiper-realista, onde nada nem ninguém é o que parece ser, mas na complexidade dos nossos tempos em que as coisas não parecem fazer sentido, e muitos andam no escuro de uma ignorância resistente, mesmo na era da internet, ou seja, da informação. Da mesma forma em que é impossível rastrear todos os crimes e a psicologia por trás deles de um psicopata estratégico e inteligente (indo muito além dele, na trama), não se entende com exatidão os defensores da teoria da Terra plana, ou a empatia majoritária de uma população por políticos que reúnem os piores valores que um ser humano, como representante de seu povo, pode expressar contra ele, e seu bem-estar individual, e coletivo.

    A questão de quem coloca areia nos nossos olhos salta das páginas, se questionarmos a verossimilhança de uma história brilhantemente bem costurada sobre a corrida contra o tempo de Joona e Samuel, dois jovens polícias suecos, montando um quebra-cabeça surpreendente sobre as motivações e os efeitos do terror urbano que vem das sombras. E não adianta fechar os olhos, porque quando ele quer, nós adormecemos. Quando o horror vem de quem não existe, e ao mesmo tempo, espreita as janelas acessas de uma casa, de madrugada, nosso instinto de sobrevivência não se aquieta até descobrirmos a fonte da nossa insegurança, mas mantê-la presa não acabará com os pesadelos aqui de fora: eles nasceram aqui. Joona e Samuel sabem que estão lidando com uma mente calculista e que não merece ser subestimada, e para entendê-la, precisarão ser consumidos por suas horripilantes características. É preciso entender o inimigo a fim de combatê-lo, mesmo que o antagonista seja o motivo das suas próprias trevas.

    Em rápidos capítulos feitos para prender nossa atenção no que, muito em breve, está para acontecer, Kepler mantém um controle absoluto sobre a tensão que pratica em nós, reféns de uma leitura ágil e muito intrigante sobre o princípio básico do suspense – o desconhecido e os seus símbolos bem articulados. Indo cada vez mais a fundo na lógica desumana das perversões que o homem é capaz de fazer com o outro, os envolvidos na teia de crimes de Jurek nunca mais serão os mesmos, em uma trama que vive de suas divertidas e dramáticas reviravoltas, ainda que trabalhadas com precisão através do forte senso de atração que toda imprevisibilidade oferece as boas narrativas que dependem dela – como, de fato, é o caso com essa obra. Numa era que deveria ser de luz e uma maior segurança aos cidadãos vigiados, o simples vislumbre da escuridão e o que ela representa já nos deixa arrepiados. O mal desdenha a iluminação, a demoniza, mas nem por isso ele é imune a ela. Um grande livro.

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  • Resenha | Sargento Getúlio – João Ubaldo Ribeiro

    Resenha | Sargento Getúlio – João Ubaldo Ribeiro

    “Mas dentro da igreja eu não atirava, porque deixava de ser igreja, não se pode matar dentro da igreja, mata-se lá fora.”

    Para quem Getúlio narra sua estória? Ninguém sabe. Talvez para seu criador, João Ubaldo Ribeiro, que nunca escreveu para si, e sim para nós. Membro da Academia Brasileira de Letras, é de um dos nossos geniais orgulhos nacionais, tendo virado lenda póstuma entre 2014, e a eternidade. Como legado, eis então a sua prosa mais consagrada, Sargento Getúlio, adaptado ao Cinema no ótimo filme de 1983, com Lima Duarte encarnando, numa entrega total do ator, como de praxe, um dos mais popularmente controversos e polêmicos personagens da literatura brasileira. Em ambas as mídias, a história de Ubaldo ignora o tempo em que acontece, aqui nos anos 40, preferindo focar-se nos principais e mais fortes e irônicos aspectos políticos, e sociais da vida nordestina, e do Brasil, enquanto país de mil facetas, lendas e valores regionais.

    Uma fábula perturbada por suas questões éticas, e políticas, que assombram cada uma das ações, e da própria voz do personagem título. Sargento da Polícia Militar em Aracaju, Sergipe, Getúlio mora no mundo, e vê o nordeste inteiro como a rua onde cresceu, casou, foi corneado, matou quem o corneou, e matou muito mais. Agora, servindo como ‘cabo eleitoral’ de um novo político de Aracaju, o velho Getúlio, já amargo e pelejado, é incumbido de escoltar um prisioneiro político sem nome (bixiguento, geralmente) do sertão de Paulo Afonso, na Bahia, até de volta a Aracaju, mais precisamente até a Barra dos Coqueiros, no litoral do estado sergipano. E no que parecia ser fácil no começo para a alma itinerante, mostra-se uma viagem de retorno ao estado de Sergipe tão custosa, e lazarenta, pra macho nenhum botar defeito.

    A cabo de levar sua entrega, a autoridade e seu inseparável amigo, Amaro, percorrem as veredas de um Brasil profundo e habitado por figuras típicas de paragens sem leis, onde primeiro vem a violência e depois a humanidade – sem jamais contar com a civilidade cínica das metrópoles. Na verdade, Ubaldo Ribeiro não promove somente, nesta obra-prima traduzida para diversos idiomas, a folclorização bruta do sertanejo, permitindo-se investigar as raízes de um povo e do seu imaginário, adoravelmente rurais, mas ainda, o choque entre um mundo agreste e arcaico com a modernização de um Brasil urbano, e em constantes mudanças sociais que não atingem facilmente seus tártaros interiores. Realidades de um mesmo estado, falando (na teoria) o mesmo idioma, mas que Getúlio desconhece. Sua língua-mãe é a faca, a bala, seu código de ética imutável. O cabra nunca que usaria uma gravata – ao bicho solto, é coleira.

    Entre as contradições, as fragilidades, as brigas e as virtudes de Getúlio, o jagunço sertanejo para quem missão dada é missão cumprida, e mesmo após a morte se necessário for, podemos analisar o retrato de um povo submetido a situações extremas, cuja responsabilidade ética por seus atos responde, na maioria das vezes, aqui, apenas a questões de sobrevivência. Pois, em terra de urubu, cangaceiro e padres perdidos em meio a violência errante, quem poderá julgar a brutalidade que os homens usam para cumprir com os seus mandatos? Getúlio não entende de política, apenas faz o seu dever e acabou. Seu primitivismo é usado como escudo aos inimigos. Como motor para dar o próximo passo. Como atestado de masculinidade. Como a resposta rústica, enfim, para o Ser ou Não Ser de Shakespeare.

    Se a Barra dos Coqueiros é o Eldorado do sargento, penando com o seu preso a tiracolo, e que chega até a ser violentado, mais de uma vez, por aquele que piedade fora de uma igreja nunca conheceu, é o próprio nordeste a figura crucial do livro. O jeito que Ubaldo descreve seus caminhos, suas pedras, seu céu, sua comida é impressionante, de cair o queixo diante de um esplendor característico estendido em uma escrita simplesmente invejável. Mas nada que se compare ao esplendor narrativo de Sargento Getúlio: construído a partir de uma espécie de monólogo de grande dinamismo e inventividade literária, em oito capítulos, formula-se assim a fala ininterrupta e criativa do protagonista e seus conterrâneos, conhecendo-se, através dela, o começo e o fim das causas e consequências dessa inesquecível odisseia pelo sertão abissal de um Brasil lendário.

    O próprio vocabulário vasto que o livro incorpora em sua linguagem, por vezes de difícil assimilação para quem não está integrado no linguajar e cultura locais, e seus vocábulos, é forjado por uma ressonância e um brilhantismo semântico sem-igual. Portanto, da mesma forma que Ubaldo não procurou vilanizar ou redimir essas figuras de um nordeste implacável, mas dar-lhes uma dimensão mais ética e política para engajar o leitor à reflexão, e ao debate que motivam e sucedem as suas ações, as palavras que o escritor usa não deixam dúvidas: há uma consciência regional aqui enorme, e explícita em todo o corpo do romance, mas principalmente, em um dos seus melhores momentos. Quando confrontado pela moralidade (questionável) de um padre a abandonar sua violenta diligência, a intensidade da resposta de Getúlio ao sacerdote é um daqueles raros momentos que não saem da memória de nenhum(a), repito, nenhum(a) leitor(a). Ubaldo não é para amadores.

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  • Resenha | Elegia do Irmão – João Anzanello Carrascoza

    Resenha | Elegia do Irmão – João Anzanello Carrascoza

    Elegia do Irmão, da Editora Alfaguara, é o novo romance do experiente contista João Anzanello Carrascoza. Espécie de diário familiar construído em capítulos curtos e sentimentais, o livro é escrito por um narrador sem nome que deseja registrar e homenagear os passos de sua irmã, Mara, diagnosticada com uma doença grave que a levará à morte.

    Mais lembrado pelos seus livros de contos ou infanto-juvenis, a produção de romances de Carrascoza é pouca, mas apresenta um tema constante: a família. Em adicional, todas as famílias do autor passam por alguma espécie de ruptura calcada da relação direta com o tempo. Contudo, se nos livros anteriores conseguíamos ver a ação cronológica como peça principal da trama, em seu romance, o tempo age nas entrelinhas acelerando e extinguindo as esperanças sobre a vida de Mara. A “elegia”, originalmente um poema lírico triste que prenuncia ou anuncia morte, é, portanto, o registro do irmão de Mara para os últimos dias dela.

    Sobre o irmão de Mara, sem nome, podemos dizer que detinha por sua irmã o amor mais fraterno que se possa imaginar. Encontramos nele não exatamente o contraponto de Mara, mulher apresentada sempre como segura de si, independente e esperta, mas um homem sincero e aberto ao simples (porém rugoso) amor entre irmãos. Por conta disso e também pressentindo a dor da ausência futura, o irmão trata de descrever as situações do passado e do presente ao lado de Mara. Pululam cenas da infância, adolescência e vida adulta entre os dois. Em todas elas, a linguagem poética, sentimental e também fúnebre toma as linhas; antes que uma elegia, conseguimos ler uma homenagem sincera sobre uma vida que está condenada à morte.

    Desde o início sabemos que Mara vai morrer. Isso cria um efeito de cumplicidade e pêsames para com o narrador-irmão de forma que largar a leitura é como deixar de compartilhar aquele sofrimento humano: a iminência da morte. E como não largamos a mão dele, conhecemos Cravinhos (cidade natural do escritor e onde a trama é ambientada), e as histórias familiares que ainda sobrevivem na memória dos daquela família.

    Os pequenos capítulos do livro (momentos do diário), atestam o grande poder de síntese e clareza de Carrascoza. As palavras não sobram; são todas exatas, como pesadas a cada linha a fim de manter a mesma suavidade e beleza da narrativa. Assim, a história é sensível, podemos notar facilmente, mas carrega o tom fúnebre do porvir; por isso, todos os momentos onde as lembranças são alegres, sentimos também nós aquele vazio da ausência futura. O livro mantém essa ponte sensível entre as duas emoções e o efeito é dos mais complexos de se encontrar em Literatura – e dos mais belos de se ler. Desses livros que se nota a humanidade.

    Texto de autoria de José Fontenele.

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  • Resenha | Bravura Indômita – Charles Portis

    Resenha | Bravura Indômita – Charles Portis

    Bravura Indômita, de Charles Portis, publicado pela editora Alfaguara por conta do filme de mesmo nome dirigido pelos Irmãos Coen — o romance teve sua primeira adaptação para os cinemas em 1969, dirigido por Henry Hathaway (A Conquista do Oeste) e estrelado por John Wayne — e é uma clássica aventura de faroeste de época. Protagonizado por Mattie Ross, uma menina de quatorze anos que abandona a fazenda natal para caçar o homem que matou traiçoeiramente seu pai e roubou seus pertences. Ela convence o agente federal Rooster Cogburn, e posteriormente, o Texas Ranger LaBoeuf a ajudá-la na empreitada. O resultado é uma aventura com toques de humor negro, surpresas e violência que resgata a atmosfera árida e agressiva presente durante a expansão da costa Oeste norte-americana de meados do século XIX.

    Como muitos romances do século XIX e XX, Bravura Indômita foi publicado originalmente em folhetins de jornal durante o ano 1968. Por conta disso, é daquelas histórias que entretém a cada capítulo, porque, para garantir a edição do dia seguinte, tinham que fisgar o leitor diariamente em poucas páginas. Um sintoma da criação voltada ao jornal é o primeiro parágrafo da narrativa. Em duas frases extensas, Portis conta o motivo e o desfecho da narrativa, sobrando, ao público, acompanhar como uma garota de quatorze anos conseguiu sair de casa para matar o assassino de seu pai.

    Os outros parágrafos do primeiro capítulo cuidam de informar mais sobre o pai da menina e a fazenda onde moravam, tudo para que os leitores tomem um lado: condenar o assassinato contra o homem de família. Assim, acompanhamos Ross,uma menina muito prática e decidida, mas também teimosa e mordaz, e é justamente essa vingança de onde menos se espera, com a companhia de dois anti-heróis, que torna a trama fabulosa e interessante.

    A aventura é uma montanha russa. Entre se apresentar, convencer que a acompanhem na tarefa e chegar ao destino combinado, Mattie Ross ultrapassa barbáries, momentos trágicos, cômicos e mantém a compostura destemida de quem vai vingar o pai. Nota muito positiva aos diálogos; todos eles desvendam os temperamentos dos personagens e funcionam impulsionando a narrativa e complementando as informações descritas.

    Frases, em geral, curtas, dão o movimento e força da aventura. Tudo é descrito de forma coesa, sintética, como a transparência única de um Oeste ainda não totalmente conhecido. É uma jornada de descobrimento, é bom que tenhamos certeza, e personagens bem feitos, situações das mais variadas e excelentes descrições nos mantêm ansiosos até o desfecho onde Mattie Ross finalmente encontra o nêmesis de seu pai. Apenas uma observação, os filmes de 1969 (Hathaway) e 2010 (Irmãos Coen) possuem um final diferente do livro de origem. Por isso, indico que leia a obra de Portis e se decida sobre qual o melhor desfecho para a história de Mattie Ross, Rooster Cogburn e LaBoeuf.

    Texto de autoria de José Fontenele.

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  • Resenha | O Elefante Desaparece – Haruki Murakami

    Resenha | O Elefante Desaparece – Haruki Murakami

    Por definição, tempestades perfeitas são eventos raros e únicos, com vestígios duradouros para o bem ou para o mal. Chegam com imponência justamente quando se esquece o guarda-chuva em algum lugar. Se o maldito estivesse em suas mãos, gota alguma cairia do céu. Mas você está vulnerável: tênis novos, cabelos penteados, celular e livros caros em uma mochila que não, meu amigo, não é impermeável. Tempestades perfeitas, veja só, precisam chacoalhar o seu núcleo e arrastar com fúria as barricadas internas, promover enxurradas que destroem a letargia erguida por horas de televisão e discussões rasas. Do contrário, será um chuvisco.

    Meu primeiro Murakami foi uma tempestade perfeita. Chegou sem aviso logo nos primeiros capítulos de Norwegian Wood. Fui o primeiro a estranhar o impacto que o livro de Haruki Murakami causou na minha cabeça. Mas depois da primeira caneca de café na frente do livro, fiquei absorto nas páginas frias de um protagonista sem nome, distante e preso num triângulo amoroso abalado por um suicídio.

    Eu estava em Londres quando comecei o livro. sentado na mesa da cozinha na casa da minha irmã. Tinha um tempo limitado para terminar a pesquisa de mestrado, mas durante três ou quatro dias, tudo em que conseguia pensar era no livro de Murakami. Longe de casa há tempos, com cicatrizes emocionais tão recentes que voltavam a sangrar ao menor dos toques, vivia a maior parte do tempo sozinho, flutuando entre livros e escrita, quilômetros corridos e conversas passageiras, pesquisas e aulas, sempre com a cabeça em outro lugar, como se jamais fosse permitido pertencer ao presente.

    Caminhando nas ruas escuras e encharcadas de Londres, sentia os efeitos da minha tempestade perfeita exclusiva. E não podia ser diferente. Foram meses em que me fechei para quase todo contato humano e me concentrei em entender o que acontecia comigo. Vislumbrar algum tipo de caminho para me guiar. Norwegian Wood me pegou sem guarda-chuvas. Um livro com personagens de impressionante complexidade e diálogos rítmicos que fluem suavemente com facilidade, como dançarinos acostumados com o piso do salão.

    Do frio ao calor, anos mais tarde, tenho em mãos O Elefante Desaparece, conjunto de contos recém-lançado pela Alfaguara com tradução direto do japonês por Lica Hashimoto. Entre o garoto no meio da tempestade em Londres e o homem de volta ao seu país natal, as feridas foram bem cicatrizadas.

    Os 17 contos da coletânea representam o maior festival para os que jogam o Bingo Murakami. Contos que buscam a estranha beleza nos diálogos entre desconhecidos que se abrem numa decisão de último instante, derramando sobre pessoas aleatórias os mais profundos medos e reflexões. Ao mesmo tempo que evocam detalhes vívidos com a maestria de um texto bem composto. Histórias rápidas que cortam a gordura narrativa, porém, entregando ao leitor um texto que não se desperdiça com reflexões sobre o tempo.

    É como se cada pequena história fosse uma versão condensada e com menos impacto dos livros mais longos: obsessão por partes específicas do corpo. Gatos e mais gatos. Pensamentos sexuais estranhos. Discos de jazz e espaguete às dez da manhã. Telefones que tocam de forma peculiar enquanto o protagonista decide, à lá Shakespeare, se deve atender ou não. Desaparecidos sem deixar vestígios. Gatos desaparecidos com algum vestígio. Escritores que saem todos os dias para correr entre 5 a 7 quilômetros.

    Como a obra do autor é urbana, na maioria dos contos estão presentes contrastes entre a cacofonia do trânsito e do santuário doméstico, de apartamentos apertados aos grandes casarões dos ricaços. Tókio, populosa, apertada, confusa e alienante é um palco onde se procura, antes de tudo, silêncio e privacidade para reencontrar a identidade mais profunda. Uma busca que pode terminar na composição de outro indivíduo.

    O tema da identidade é um dos mais caros ao autor. Desde Norwegian Wood, passando pelos contos, até chegar ao Kafka à Beira Mar e o divisor 1Q84, há uma procura da segunda metade de um indivíduo. Uma busca que talvez termine na figura do outro. Uma análise profunda que nos faz navegar por águas estrondosas, mesmo quando o mar está tranquilo. Uma jornada que resulta em ruas estranhas e passagens subterrâneas que não são facilmente acessíveis. Não raro, a procura leva ao total desprendimento do indivíduo, uma quase alienação de si, de suas estruturas temporais e sociais. É quase irônico o quanto Murakami explora essa ideia, perder-se ao procurar a si mesmo. Assim, das ruínas, sabemos que o trabalho será árduo e tomará boa parte dos próximos anos, mas é quase uma resiliência derrotista que toma conta de algumas personagens: do fundo do poço, só há um caminho a seguir.

    O Elefante Desaparece também segue os que fogem das pequenas facetas do mundo banal. O casamento, a vida acadêmica, horas intermináveis no escritório apertado, o que não deixa de ser uma fuga de si mesmo. No conto Sono, este resolve faltar a uma esposa de dentista, uma mulher que vive o máximo tédio, deixando-se levar pelas águas do tempo. É o tipo de casamento em que uma das partes divaga durante o sexo, cujo tesão há muito secou e apenas a rotina os mantém. Ela, então para de dormir. E na ausência do descanso, da restauração do sono, encontra vitalidade. Devora livros, move o corpo por mais tempo e pesquisa os motivos do sono. É uma escolha difícil, buscar uma cura para o que acontece – a incapacidade crônica de dormir – e viver uma  entediante vida em família, se ela pode viver ao máximo enquanto a falta de sono rapidamente clama o resto de seus dias.

    Em outra história encontramos no fundo da garrafa o escape das obrigações sociais. Na constante luta pela liberdade, há uma sutil crítica de que somos animais sociais de hábitos tão complexos e contraditórios, que nem mesmo percebemos a falta de nexo. O resultado? Escolhemos correr, mas nos prendemos sempre ao mesmo percurso, um quilômetro depois do outro, cada passo por vez. Uma fuga em círculos.

    Claro, poderia discorrer longamente sobre os contos do livro, mas procuro apontar ao leitor as nuvens no céu. Olhe para elas. Pesadas, não? E esse vento? Sinta a umidade carregada no ar, a estática que parece dançar ao nosso redor por toda nossa pele, o cheiro de ozônio de uma tempestade de raios. Vai chover.

    Ao menos é o que parecia.

    Sou escritor. Nos últimos anos, tudo que li se encaixa em fantasia, exceto por um ou outro título de não-ficção aqui e ali, sempre comprimidos entre títulos do A Roda do Tempo, Malazan ou qualquer coisa com sílabas demais para enumerar. Li para me entender e me educar no campo, mais a trabalho do que por lazer, apesar de meu amor por tudo que a Fantasia representa. Aos poucos, senti os efeitos da overdose de Balrogs e Dragões, dos clichês do herói bucólico que encontra o mentor e parte até a caverna secreta, e comecei a ansiar por outras áreas da ficção. Escolher um Murakami era o mais óbvio, uma velha luva para cobrir minhas mãos na fria escuridão. Sim, as nuvens ainda estão sobre nossas cabeças. Mas porque a chuva não veio?

    Foi com surpresa que encarei meu céu limpo, eternidade em azul, cada nuvem tão presente quanto o elefante desaparecido. Uma gota sequer para molhar o rosto. Um dos fatores que manteve o ar tão seco vem da brevidade dos contos. Por natureza, não há espaço para desenvolver todos os temas propostos, explícitos e implícitos. Não é por acaso que o primeiro conto do livro, O Pássaro de Corda e as Mulheres de Terça-feira, voltou na forma de romance, o Crônica do Pássaro de Corda – o mesmo aconteceu com Norwegian Wood, originalmente Firefly, que aparece em Blind Willow, Sleeping Woman, ainda inédito no Brasil.

    Por vezes, quando a história finalmente ganha impulso, encontramos um final abrupto. É uma falsa impressão de que o texto é raso, pois todo o conteúdo está lá, em cada página, em cada uma das linhas bem escritas. Talvez o problema venha do próprio Murakami, cujo estilo pede um pouco mais de volume para encontrar seu próprio ritmo. Eis o trompetista, que com maestria toca o Jazz, apresentando ao ouvinte uma coletânea de músicas pop. A verdadeira beleza de suas narrativas estão no prazer das longas e solitárias corridas. Não nos tiros explosivos que deixam os músculos das pernas queimando.

    Assim, a chuva é uma promessa no horizonte, nada mais. Como leitor, também sou diferente daquele rapaz afogado na tempestade perfeita. Marido, pai e escritor, não mais perdido em ruas de tom noir. Quando meu cérebro não desliga e o sono foge, é por conta de ansiedades diferentes daquelas, um tanto reais e assustadoras, distante das questões que outrora me consumiam quando Norwegian Wood me aguardava na cabeceira da cama.

    Todos mudamos, é o que criaturas vivas fazem. Adaptamo-nos ou não. Ganhamos e perdemos. Odiamos. Amamos. Tomamos partidos e escolhemos dentre religiões. Por vezes, decidimos não acreditar, fácil assim. O fato é que tempestades perfeitas podem chegar e nunca cair. Algo não estava perfeito, afinal.

    E desta vez, a culpa também é minha. O Elefante Desaparece não deve nada ao leitor quando todos os contos foram lidos. Porém, eu mudei. Em muitos aspectos, ainda sou o mesmo. Gosto de matar monstros imaginários ao jogar dados de vinte lados; não gosto de funk ou livros da Ayn Rand. Ao mesmo tempo, não sou mais o mesmo. E isso é o que basta. Se hoje abrisse Norwegian Wood e mergulhasse no livro pela primeira, talvez não encontrasse uma tempestade perfeita. No fim, Murakami tinha razão: eu me perdi e assim, consegui me reencontrar.

    Talvez um dos contos tenha o jazz ideal de tempestade. E se não o tiver, tudo bem: tempestades perfeitas são raras.

    Maurício Ieiri é um historiador que não faz História. Atualmente, tentando descobrir o que fazer com sua vida, partindo deste exato momento até o dia em que morrer. No meio tempo, escreve ficções. Participou do blog coletivo Os Caras do Clube e recentemente lançou seu primeiro romance, Incursões. 

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