Resenha | O Coração do Cão Negro
Quem não curte uma boa história épica e medieval no melhor estilo Game of Thrones e Conan? O volume 1 de O Coração do Cão Negro, da Avec Editora, certamente é para fazer quem não gosta do gênero se hipnotizar nas aventuras do mercenário errante Anrath. Na Irlanda de 1022 depois de Cristo, a magia e o fantástico ainda é tão presente quanto a montaria e a espada de nosso guerreiro gaélico e criado pelos vikings. Guerreiro este moldado pelas tragédias, longe de ser nobre a ponto de ser um herói, e obrigado a fugir após salvar o amor de sua vida das mãos de um tirano que lhe jurou vingança, e horrores piores.
Aqui, para iniciar a trama à frente de toda uma mitologia criada pelos criativos e inteligentes César Alcázar e Fred Rubim, uma dupla de gaúchos que pedem para sua criação virar um filme ou série no melhor estilo do (superestimado) fenômeno The Witcher, seguimos os passos do destemido Anrath, aquele que busca por um amuleto que conduz seu portador a rota de um esplendoroso tesouro, resguardado por terríveis forças muito além, em todo seu poder, do intelecto e forças humanas. Nisso, Anrath se envolve num culto de sacrifício aos deuses, ganância sobre-humana e vingança extrema, numa jornada repleta de reviravoltas em que ninguém está a salvo.
Tanto Alcázar quanto Rubim percebem o enorme potencial criativo de sua ideia, seu mundo e seus elementos icônicos, e exploram essa fantasia histórica com sabedoria e a paixão dignas de autores que prezam pela qualidade da obra, acima de tudo. Valendo-se então de muitas referências, cria-se em O Coração do Cão Negro uma realidade medieval e europeia própria, adoravelmente instigante cujos dilemas e conflitos violentos estão acima do bem e do mal, acima do mundano, e aquém numa primeira leitura a valores que podem salvar o homem dele mesmo – amor, compaixão, senso de comunidade, etc. Tal barbárie dá o tom nestas páginas de traição, e selvageria, e nisso, pode-se ver relances de uma humanidade presa em batalhas sem fim.
Os traços e as cores aqui nos mergulham num conto de proporções épicas e sombrias, em que nada é mais valioso que a lâmina de uma espada. Anrath e sua amada, ainda vivos e dependentes um do outro, descobrem que devem desconfiar de tudo e todos, e estarem abertos a entender que, as vezes, é de quem menos esperamos que vem a ajuda mais forte, e sincera. A trama deste primeiro volume de O Coração do Cão Negro é bastante simplista, mas acerta em cheio em despertar a nossa sede de voltarmos a esta realidade que, de original, nos oferece uma visão sádica e um romantismo trágico a uma era em que a paz ainda se fazia como um conceito desconhecido, mas talvez, até nos corações mais rubros e peçonhentos, almejado por todos.
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