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  • Crítica | Horror Noire: A Representação Negra no Cinema no Terror

    Crítica | Horror Noire: A Representação Negra no Cinema no Terror

    Muito se discute a respeito da maneira pejorativa com que personagens negros aparecem no cinema, na televisão e nas demais encarnações do audiovisual. Desde a época do cinema antigo,  em que dificilmente havia atores pretos, com brancos interpretando-os utilizando a famigerada black face, ou em séries e novelas dramáticas, em que os atores são escalados para papéis de subserviência ou banditismo, há uma evidente falta de representação real. O intuito de Horror Noire: A Representação Negra no Cinema no Terror é estudar esse fenômeno dentro dos gêneros do horror e terror. Faz uma análise com qualidade e com diversas citações e louvor à figuras históricas do cinema de terror.

    Xavier Burgin, iniciante na direção de longas, começa seu filme em uma sala de cinema, onde coloca personagens dos bastidores do cinema de Hollywood vendo filmes. A escolha para iniciar a conversa foi óbvia: Corra! de Jordan Peele, que representa tudo o que o documentário defende. Uma historia sobre e feito por negros, sobre traumas e medos em comum entre todas as raças. Aos poucos, desenvolve a conversa com fatos consumados e com outros filmes. Entre eles não só filmes do gênero mas também O Nascimento de uma Nação de D.W. Griffith que glorificou a Klux Klu Klan. O roteiro se baseia no livro Horror Noire (publicado aqui pela DarkSide Books) do professor Robin R. Means Coleman e atravessa o trabalho de artistas como Oscar Micheaux e Spencer Williams, artistas que faziam papéis importantes nas produções do gênero mas que eram restritos a papéis estereotipados. Ainda assim, essas participações eram menos problemáticas que outras tantas.

    De fato, no inicio do cinema falado não havia muito espaço para papéis com artistas negros, em grande parte como certa evolução do preconceito ratificado e estabelecido pela obra de Grifith. Os filmes de Monstros da Universal quase não tinham papel para homens e mulheres negras. Exceção a um mago, feiticeiro ou personagem místico, um clichê que ainda permanece no cinema e hoje é conhecido como o Negro Místico. Além desse, o documentário também aborda a questão do Negro Sacrificial, que consiste em um personagem negro disposto a salvar alguém branco.

    Ao mesmo tempo em que associam filmes de monstros gigantes à coloração da pele como algo temido (a exemplo de King Kong de 1933), também se louva A Noite dos Mortos Vivos de George A. Romero, não só pelo papel de protagonista de Duane Jones, mas também por que o terror de perseguição era real e mais universalizante. Assim, Horror Noire reúne participações de outros diretores como Rusty Cundieff (Contos Macabros), Ernest R. Dickerson (Bones), William Crain de (Blacula), e também apresenta participações de atores como Tony Todd, Miguel A. Nuñez, Ken Foree, Rachel True e Keith Todd com bons depoimentos apontando como poderia ser cruel a busca por papéis relevantes, ainda mais após a popularização da blaxploitation.

    O documentário é uma ótima forma de conhecer a historiografia do cinema norte-americano e as histórias de quem sempre foi relegado ou ao limbo ou a pequena importância. Bem como é um catálogo bem explicativo de como era o cinema da segunda metade do século passado abordando o negro. Bergin traça um bom retrato do cinema dos dois últimos séculos e ainda faz um afago emocional ao público, trazendo falas muito sinceras e sentimentais dos entrevistados. É uma reverência a arte que reconhece a representatividade como parte importante da cena mas não confunde isso com qualquer movimento revolucionário. Ao contrário, mostra que é preciso movimentação de pessoas e vontade política para favorecer o povo.

  • Resenha | Creepshow

    Resenha | Creepshow

    Creepshow foi um projeto que homenageou os quadrinhos de terror dos anos 1950, especialmente aqueles publicados pela EC Comics, como Contos da Cripta. O resultado foi o lançamento simultâneo de um filme (leia nossa crítica aqui) e um quadrinho, ambos com o mesmo nome e as mesmas cinco histórias. Apesar das semelhanças, cada obra merece atenção, pois carregam algumas particularidades.

    Vamos falar da história em quadrinhos, publicada recentemente no Brasil pela DarkSide Books.

    A obra traz cinco histórias curtas escritas pelo mestre Stephen King, que envolve temáticas variadas, mas sempre focada no terror. E tendo em vista que a intenção era homenagear os quadrinhos de terror de época, nada melhor que trazer artistas envolvidos com o gênero. A capa ficou a cargo de Jack Kamen — já conhecido por seu trabalho como desenhista de histórias de suspense, terror e ficção científica da EC Comics —, que faz referência ao filme, pois mostra o garoto com a revista em mãos. Já as histórias ficaram sob a responsabilidade de Bernie Wrightson, com uma carreira extensa e renomada nos quadrinhos, tendo trabalhado nas principais editoras americanas, inclusive cocriando o personagem Monstro do Pântano, ao lado de Len Wein, na DC Comics. Wrightson faz um traço realista e detalhado, que remete ao estilo dos quadrinhos de época da EC. As cenas são bem construídas, e algumas delas ficarão na sua memória por muito tempo. Uma pena que ambos os artistas já se foram.

    Dia dos Pais, inicia o álbum e mostra uma senhora de idade que visita o túmulo de seu genitor todos os anos na referida data. O túmulo está na propriedade da família, e esta aproveita a ocasião para se reunir. Os fatos envolvendo a morte do pai são repugnantes e o desfecho é maravilhosamente trash.

    A Solitária Morte de Jordy Verrill nos apresenta um caipira que vive imaginando as situações antes que elas aconteçam. É a típica pessoa que imagina todas as possibilidades antes de tomar uma atitude, e fica sonhando acordado. Certo dia, um pequeno meteorito cai em sua propriedade, localizada na zona rural. Mas a falta de cuidado de Jordy com o material alienígena trará consequências inesperadas.

    A Caixa gira em torno de uma… caixa. Na verdade, uma grande caixa de madeira encontrada pelo zelador da universidade. Nela está escrito Expedição ao Ártico (seria uma referência indireta ao conto Nas Montanhas da Loucura, de H.P. Lovecraft?), e seu conteúdo permanece um mistério até que o professor Dexter Stanley é chamado para averiguar o objeto. O que tem dentro dela?

    Indo com a Maré já se inicia com alguém enterrado numa praia, apenas com a cabeça exposta. Ele implora que o tirem dali. O responsável está diante dele, e não demonstra compaixão alguma. Por que ele está enterrado? Este, provavelmente, é o conto mais George Romero da obra.

    E por fim, Vingança Barata revela um sujeito que tem sérios problemas com uma infestação de baratas. Se por um lado é a história menos interessante, por outro traz aspectos visuais bacanas que reforçam o traço fantástico de Wrightson, onde a enorme quantidade de baratas causa sentimentos de repulsa.

    Interessante notar que o som tem um papel importante em vários seguimentos, onde as onomatopeias fluem pela arte sequencial, causando um efeito narrativo bem legal, uma espécie de agonia, com o som repetindo de novo e de novo enquanto as coisas acontecem. Quando o som é bem usado em uma mídia sem som, nota-se a qualidade dos artistas envolvidos.

    Vale dizer que a obra se aproxima mais do “terrir” do que do terror, como acontecia com diversas publicações do gênero. O próprio narrador, exclusivo da versão em quadrinhos, deixa bem claro que a obra não se leva a sério ao se dirigir ao leitor, em uma quebra da quarta parede e utilizar uma linguagem sarcástica e bem humorada ao comentar os acontecimentos de cada uma das cinco histórias. Os diálogos dos personagens também optam pela linguagem coloquial, cheio de gírias e palavras propositalmente erradas para caracterizar alguns personagens (por exemplo, o zelador chamar o professor de “dotor”). Tudo isso gera uma atmosfera mais descontraída à obra.

    Em suma, um quadrinho que não vai te aterrorizar, mas sim divertir. Algumas cenas são perturbadoras, sim, e ficarão cravadas na memória, mas nada que irá te traumatizar. Tudo isso, aliada à excelente qualidade do material (capa dura com verniz localizado, tamanho grande, boa impressão e papel grosso) fazem de Creepshow um belo lançamento da DarkSide. Recomendado aos fãs de histórias pulp de terror e o cinema trash e, claro, a todos que gostaram da versão cinematográfica dirigida pelo mestre George Romero ou são fãs de Stephen King e Bernie Wrightson.

    Compre: Creepshow.

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  • Crítica | Creepshow

    Crítica | Creepshow

    Creepshow foi o projeto que lançou simultaneamente um filme e uma história em quadrinhos. A obra cinematográfica foi dirigida por George Romero e roteirizada por outro grande mestre, Stephen King, além de ter como um dos produtores Richard Rubinstein. Interessante notar que este é um dos pouquíssimos casos em que Romero dirige sem roteirizar. Mesmo assim, a dupla Romero-King funcionou muitíssimo bem.

    O filme começa mostrando um pai repreendendo o filho (Joe King, filho de Stephen) que está lendo uma revista em quadrinhos de conteúdo duvidoso.  Essa revista é, adivinhem, Creepshow, que mostra cinco histórias de terror com muita violência e bizarrice. O pai joga a revista no lixo, e a partir daí, o filme começa a mostrar as cinco histórias. Vários clássicos do terror seguiram esse formato de contar várias histórias num único filme, como por exemplo Black Sabbath, do saudoso mestre italiano Mario Bava. E não é pra menos, Creepshow referencia, principalmente, os quadrinhos de terror dos anos 1950, em especial aqueles publicados pela EC Comics. Tanto que a revista em quadrinhos foi desenhada por um artista da editora. A decisão de publicar o quadrinho mostrado no filme foi uma sacada genial, e vale muito a pena conferir as duas obras, pois cada uma tem seu charme macabro e algumas diferenças.

    Conforme já dito anteriormente, o filme conta as cinco histórias do quadrinho, Creepshow. Cada segmento é desenvolvido separadamente, não havendo qualquer ligação entre eles. Podemos considerar cada história um episódio de uma série. Para o formato quadrinhos, essa estrutura funcionou um pouco melhor, pois cinco histórias em um único filme, por mais que sejam bons, perde-se o dinamismo da obra e torna-se cansativo ao final. Se este for o seu caso, basta assistir um ou dois segmentos por dia, e tudo se resolve.

    A primeira história, Father’s Day (“Dia dos Pais”), mostra uma senhora (Viveca Lindfors) que, na referida data, visita o túmulo do pai às quatro horas da tarde, todos os anos, desde a morte do genitor. Ao longo da narrativa, descobrimos a causa da morte do pai e, ao final, somos brindados com momentos de terror clássico. Destaque para os efeitos práticos e para a maquiagem sempre fantástica de Tom Savini.

    O segmento The Lonesome Death of Jordy Verrill (“A Solitária Morte de Jordy Verrill”) tem uma abordagem mais cômica que resulta em uma desgraça ao personagem. Tudo começa quando um pequeno meteorito cai na propriedade de Jordy. Ele não toma os cuidados necessários ao manipular o material alienígena e acaba assinando seu atestado de óbito. Destaque para a atuação horrenda, porém divertida, de King, que consegue dar um ar de boboca e inocente a Jordy.

    A seguir, Something to Tide You Over (“Indo com a Maré” na tradução dos quadrinhos), já possui algo interessante no título original, que pode ser traduzido de inúmeras formas. É um jogo de palavras divertidamente mórbido, onde “tide” pode significar “maré”, mas a expressão “tide you over” seria algo como “sobreviver mais um pouco”, “passar por uma dificuldade”, ou ao pé da letra, “ser encoberto pela maré”,o que faz muito sentido no contexto do segmento. O grande destaque aqui é Leslie Nielsen, que vive um marido traído buscando uma forma extremamente sórdida de vingança: enterrar a esposa e seu amante na areia da praia, apenas com a cabeça exposta, e esperar a maré dar conta dos dois. Mas tratando-se de Romero e King, sabemos que a história não irá terminar por aí.

    The Crate (“A Caixa”) traz o seguimento mais longo e com maior desenvolvimento de personagens. O zelador da universidade (Don Keefer) descobre, por acaso, uma caixa guardada embaixo de uma escada protegida com uma grade. Ele chama o professor Dexter Stanley (Fritz Weaver) para ajudá-lo a tirar a grade de proteção e tomar posse daquela caixa. Nela, está escrito “Expedição ao Ártico” com data do século XIX. O que uma caixa está fazendo guardada ali por mais de um século? Aqui teremos belas cenas de gore utilizando uma iluminação bem exagerada para causar o clima de horror, o que foi reproduzido na história em quadrinhos. Efeitos práticos e muito sangue ilustram este segmento e vai agradar todos os amantes do terror clássico e do trash.

    O quinto segmento, They’re Creeping Up On You (algo como “Estão rastejando em Você”, ou ainda “Elas vão te Aterrorizar”), é o único levemente chato, pois a história e personagens, apesar de trazer ideias interessantes, mostrando o pior lado do ser humano, não tem um ritmo muito bom. Entretanto, o protagonista do segmento, vivido pelo saudoso E.G. Marshall, é detestável e consegue de forma efetiva causar repúdio ao espectador. Além do que, teremos as cenas mais memoráveis de todo o filme: baratas. Sim, milhares de insetos repugnantes dão vida aos momentos de grande aflição do personagem. São milhares de baratas reais, efeitos práticos sensacionais, sons asquerosos e a cena final, com certeza, é uma das coisas mais fantásticas já feitas no cinema de horror.

    Entre os segmentos há animações bem legais, o que aproxima o filme da obra em quadrinhos. Além disso, várias cenas possuem elementos de histórias em quadrinhos, seja desenhos ou até os quadrinhos em si. Ao término dos segmentos, voltamos à “realidade” para mostrar novamente a família do jovem garoto. Teremos uma brincadeira com as propagandas contidas no quadrinho e um desfecho sinistro e trash devido a uma atitude peculiar do jovem garoto. Por mais que cinco histórias possam cansar um pouco, o resultado final é uma belíssima homenagem não só a EC Comics, mas também aos quadrinhos e cinema clássico de terror.

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  • Crítica | Orgulho e Preconceito e Zumbis

    Crítica | Orgulho e Preconceito e Zumbis

    1Se o Orgulho e Preconceito de 2005 (filme de ‘inhos’: lindinho, certinho, e muito mais bobinho que o astuto livro de Jane Austen, mas acerta por não tentar ser o novo Barry Lyndon) aposta no poder do casamento entre palavra e visual clássicos e simbólicos, a soma de Austen, a escritora do belo romance de 1813, com The Walking Dead já avisa, tal em Sangue Negro, que a leveza dos campos ensolarados será inevitavelmente tingida de vermelho, cedo ou tarde*. O problema é que na sátira de 2016, sangue é jorrado tão vulgarmente quanto as influências de um dos filmes mais confusos do ano: Ao invés de se espelhar nos melhores exemplares de um sub-gênero que infecta tudo, hoje em dia, tal o ótimo A Noite dos Mortos Vivos, de 1968, deixa para se apoiar no grotesco e na banalidade da violência que a série da AMC tanto abusa, talvez para cativar um público que já não liga em assistir miolos e outras nojeiras explodindo. George Romero não queria isso, o rei dos zumbis não perderia seu valioso tempo com amálgamas que só tornam inferior seu legado de horror e terror artístico; qualidade essa que Orgulho e Preconceito e Zumbis, longa baseado na obra de humor de Seth Grahame-Smith, tenta bravamente ao menos cutucar, mas surpreende nem mesmo suas traças por não conseguir o mínimo alcance almejado.

    *nota-se a observação, acima, pois o “cedo ou tarde” simplesmente não existe, ou seja não há nenhuma busca pelo refinamento de uma trama que dialoga com conceitos ancestrais pré-globalização (a valorização da linhagem familiar) e atuais (a banalização violenta da vida humana, com pais matando filhos e vice-versa nos noticiários). Logo no começo, sente-se o paradoxo que esse paralelo não pode funcionar, numa época que não combina com a violência inevitável em torno de uma pandemia contra cavalheiros, donzelas e suas relações quase virginais. Assim, inserir zumbis nessa fórmula mais do que clássica (e clichê, de tanto que foi repetida) não revitaliza nada, e ao invés de passar verniz em mobília velha, acaba invalidando qualquer intenção de paródia ou antítese ao material original. Não à toa, o filme demorou demais para ser produzido, já que os produtores previam o desastre que estava a caminho.

    Não que o desastre profetizado (e ensaiado) de fato aconteça, posto que a diversão, pelo menos, é quase garantida para uma plateia que não se interessa no drama emocional de donzelas virgens assistindo o pôr-do-sol em pastos viçosos. Mesmo assim, tanto no belo filme de 2005 quanto neste, os discretos charmes e absurdos da burguesia sobrevivem, postulando uma seriedade que em Orgulho e Preconceito e Zumbis torna-se um tiro no pé para uma versão que tenta apostar na sátira, e é incapaz de fazê-la acontecer. Por exemplo: Se na história de origem, as cinco irmãs (a maioria insuportável) da família Bennet são cultivadas para se casar, unicamente, e assim viverem “felizes para sempre” com seus pretendentes, aqui elas vão à luta desde o começo, quase que perfeitas amazonas, matando seus mortos-vivos que, na melhor das hipóteses, podem representar suas gaiolas, seus donos e tradições crônicas que as enjaulavam, sob vestidos, silêncio e regras sociais britânicas ultra-rígidas. Metáfora bacana, mas super mal aproveitada.

    Mesmo esse empoderamento feminino, aqui, é subvertido pela deselegância que a violência, não apenas traz, mas sobretudo do jeito que é mostrada e até celebrada, cuja importância vital para (o fiapo d)’a trama gira em torno de momentos constrangedores, como os conflitos amorosos (ninguém liga, cadê os zumbis?!), ou a teoria do livro do apocalipse, quando o filme tenta nos fazer entender os motivos de uma pandemia zumbi no século XIX (oi?), e francamente: Esclarecimentos num filme satírico colam tanto quanto o desempenho do elenco; Sam Riley como Mr. Darcy vai atualizar sua concepção de ‘ridículo’, no mesmo ano que tivemos o palhaço do Jared Leto. Entenda como quiser… Salpicado por poucos momentos de honestidade sobre o que a obra, realmente, poderia vir a ser (sob a tutela de uma visão e condução melhores), uma saudade certamente se acentua e cresce quando percebemos o peso do equívoco na tela: Planeta Terror, de Robert Rodrigues. Foco na premissa, foco na abordagem, e de repente a soma dá certo. Não é mágica, mas um filme bom faz parecer que é.

    E dane-se a coerência do título com a obra, não é mesmo? O absurdo aqui não vem da situação, portanto, mas de como essa é desenvolvida, beirando o ofensivo; beirando a vergonha e a falta de bom-senso. E eu nem citei como tudo parece uma versão piorada dos terrores medievais do mestre Mario Bava… Mas, afinal, Orgulho e Preconceito e Zumbis é mais romance, mais drama ou terror estilo gore? Nenhuma das coisas, é lógico, e há até episódios superiores de The Walking Dead (da 1ª temporada, é lógico²). É, bem antes do final, uma reles salada mal-temperada de intenções irregulares que, inevitavelmente, só não irá direto para o inferno das paródias que saíram pela culatra de sua investida no Cinema, pois será alvejada no purgatório das ridicularizações de crítica e público, esse segundo cada vez mais atento e crítico, idem, já que aqui nem os figurinos deslumbram ninguém – o que é aquele tapa-olho na coitada da Lena Headey, diva de Game of Thrones? Conclusão: O preço do aluguel anda desumano.

     

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  • Crítica | Birth of the Living Dead

    Crítica | Birth of the Living Dead

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    Desnecessário dizer o tamanho do impacto do subgênero do terror de “zumbis” na cultura pop. A série de TV The Walking Dead, mesmo com todos os seus problemas, insiste em quebrar recordes de audiência, e as novas gerações cada vez mais se sentem atraídas pelas criaturas lentas e devoradoras de carne humana.

    Se o documentário Doc of the Dead tenta entender um pouco deste fenômeno de forma geral, o filme do diretor Rob Kuhn, Birth of the Living Dead (também conhecido por Year of the Living Dead) enfoca especificamente o filme que deu origem a todo este frenesi pelos mortos, o clássico A Noite dos Mortos Vivos, dirigido por George A. Romero e lançado em 1968.

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    Considerado como o reinventor dos zumbis e introdutor dessa nova, porém antiga, criatura no imaginário popular, A Noite dos Mortos Vivos possui também outras características marcantes que o fizeram ser tão cultuado. Enquanto Hollywood na época fazia apenas filmes épicos caríssimos, ou produções dentro de um formato conservador, o terror era deixado de fora por ser considerado um gênero B, quase perto da pornografia. A fase dos filmes deste gênero havia ficado para trás, com os monstros clássicos e super insetos radioativos.

    Romero e seus amigos de uma pequena produtora de Pittsburgh, que até então só filmava comerciais, decidem fazer um filme de terror baseado em uma história que Romero já havia escrito. Filmado de forma participativa e heroica, em que cada pessoa fazia muitas vezes duas ou mais funções na produção, o filme custou apenas 114 mil dólares. Mesmo contando com a desconfiança de todos sobre a finalização do projeto (inclusive do próprio Romero), o filme aos poucos vai ganhando terreno e conquistando o público enquanto o aterroriza como nenhum outro filme havia feito até então.

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    No cerne deste novo terror está este novo monstro que surgia, mas que não tinha participação de nenhuma conspiração do governo, da mídia ou de quem quer que fosse. Pior: não havia explicação. O monstro estava lá à espreita, e ao mesmo tempo que não era ninguém em específico, era todo mundo. Se em todas as narrativas de terror havia a perspectiva de um novo recomeço no dia seguinte, os zumbis mostravam que não havia. Eles eram uma força lenta, mas incrivelmente resilientes.

    Ao traçar paralelos com o terror da guerra do Vietnã e também da agitação política dos EUA na época do movimento pelos direitos civis, o filme vai por um caminho conhecido, mas acerta ao propor que a atração do público por este tema e por este tipo de monstro se dá justamente pelo fato de que agora o monstro não tem mais receita de como ser vencido. Não há mais segurança e ninguém está a salvo, e era exatamente isso o que a sociedade dos EUA vivia na época, onde a antiga e estável sociedade estava sendo demolida por novos atores sociais e caindo em uma realidade brutal.

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    Com curta duração, o documentário aposta em seu visual arrojado, com storyboards muito bem feitos, para ajudar a contar a história de como o filme foi feito. Porém, com poucas entrevistas, e somente dois que efetivamente participaram na produção do filme original, falta um direcionamento mais voltado a como o filme foi feito além da opinião de Romero. Talvez a presença dos atores originais pudesse ter contribuído mais nesse sentido. Algumas entrevistas de pessoas que viram o filme na época são interessantes, mas sequências de um professor mostrando o filme a crianças soam desnecessárias e um pouco forçadas.

    Birth of the Living Dead possui alguns problemas técnicos. Em diversos momentos conseguimos ouvir barulhos de fundo na captação de som, e a edição também deixa a desejar. Porém, apesar de simples, Kuhn faz um filme eficiente mesmo parecendo mais um bootleg do que algo oficial, como se estivesse parafraseando o objeto do documentário, o que de certa forma deixa um charme. Intencional ou não. Aos fãs do gênero e estudiosos de cinema e cultura pop em geral, é uma boa contribuição.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Resenha | A Noite dos Mortos-Vivos e A Volta dos Mortos-Vivos – John Russo

    Resenha | A Noite dos Mortos-Vivos e A Volta dos Mortos-Vivos – John Russo

    A Noite dos Mortos-Vivos é um título que dispensa apresentações. O filme de 1968, o “Avô de Todos” os produtos culturais estrelando zumbis, influenciou o cinema de horror como um todo e gravou na História o nome do cineasta George Romero. Menos famoso, seu colega John Russo foi corroteirista do longa e também pautou sua carreira com este tema. Ele adaptou A Noite dos Mortos-Vivos em versão literária, em 1973, e posteriormente lançou A Volta dos Mortos-Vivos, continuação idealizada, mas nunca produzida, para a telona (sem nenhuma relação com o filme homônimo de 1985). Agora as duas histórias foram reunidas em publicação da editora Darkside, dando aos fãs brasileiros a chance de conhecerem um dos clássicos do gênero.

    Retornar à fonte, no caso uma obra tão referenciada e cujos conceitos foram tão difundidos e reinterpretados ao longo dos anos, é uma experiência curiosa. Em A Noite dos Mortos-Vivos, é possível perceber o nascimento de ideias que se tornaram padrão: a incerteza sobre a origem do problema; o destaque às pessoas; a urgente e quase irracional luta pela sobrevivência; e, principalmente, a crítica social mediante a análise do comportamento humano em situações extremas. Sob esse prisma, certos elementos podem ter seu peso ignorado, caso a contextualização não seja considerada: o americano médio retratado como covarde; o negro sendo o protagonista e macho alfa; a jovem garota surtando e sendo um fardo para todos (item apontado, na época, como uma crítica ao feminismo). Tudo isso altamente transgressor nos anos 60. Atualmente, nem tanto.

    Outros aspectos soam estranhos hoje em dia, quando a palavra “zumbi” está quase sempre atrelada ao “apocalipse”: aqui, a ideia não é o fim da civilização, mas sim uma crise momentânea que pode ser controlada pelas autoridades, com algum esforço, e que atinge principalmente isoladas áreas rurais. Uma provável explicação para esse direcionamento é bastante óbvia: a limitação técnica e de recursos para a produção do filme forçou o roteiro a percorrer caminhos mais simples. Corroborando essa teoria, apenas os mortos recentes e bem preservados se erguem – não complicando demais o trabalho da maquiagem. Além disso, a trama se concentra em um pequeno grupo de sobreviventes resistindo em uma casa, trabalhando mais a tensão de pessoas normais numa situação inimaginável (de maneira muito eficiente, aliás) do que a exploração gore dos cadáveres ambulantes.

    Mais ambiciosa é a trama de A Volta dos Mortos-Vivos, situada dez anos depois do primeiro evento. A mesma região, o Meio-Oeste dos EUA, volta a sofrer com uma infestação dos desmortos canibais. Mais movimentada e pesada, a história acompanha famílias de caipiras, um perverso bando de saqueadores, além de heroicos, porém azarados, policiais. Aqui surgem elementos familiares, como perseguições e fugas desesperadas, o sentimento de desesperança diante da situação (o desapego a personagens é digno de George R. R. Martin) e a confirmação de que o verdadeiro problema são os vivos.

    Com um texto seco e direto, condizente com o conteúdo e com o belo trabalho gráfico característico da editora, A Noite dos Mortos-Vivos e A Volta dos Mortos-Vivos é um livro instigante, com pouco mais de 300 páginas de rápida leitura. Já que a moda, ou modinha, de zumbis parece longe de acabar, é uma boa pedida deixar de ser bazingueiro e conhecer a origem de tudo.

    Texto de autoria de Jackson Good.

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  • Crítica | Despertar dos Mortos

    Crítica | Despertar dos Mortos

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    Sem enrolação nenhuma, George Romero já joga na mesa todas as suas cartas, mostrando ao público o estado de nervos alterados que tomou os vivos, através das reações de uma equipe de TV que transmite informações aos cidadãos americanos sobre a praga dos mortos. Em meio ao caos presente no estúdio, alguns personagens se recusam a passar em rede nacional uma lista de abrigos fornecida pelas autoridades, que está desatualizada. Pouco tempo depois disso, é mostrada uma incursão da polícia em um prédio e no meio da ação um policial surta e passa a atirar em pessoas vivas, só sendo detido por fogo amigo. Essas experiências todas acontecem em menos de 10 minutos corridos e deixam claro o caráter deste filme.

    Há um claro antagonismo em relação ao cenário do primeiro episódio da Trilogia Zumbi de Romero. Ao contrário de Noite dos Mortos Vivos, este Dawn of the Dead não se passa numa cidade do interior, mas sim em uma metrópole, o que proporciona um olhar ainda mais atual para o apocalipse que se instaurou. Outro fator novo é a demonstração das memórias dos zumbis, que faz com que hábitos de sua vida normal voltem, mesmo após terem sido transformados.

    Segundo um cientista, interpretado por Richard France – um dos personagens mais curiosos, mesmo com poucas cenas –  os undeads não são canibais, pois não comem seus semelhantes, só carne humana fresca. É com esta fala que a questão da inteligência das criaturas é discutida pela primeira vez: ele afirma que os infectados têm por hábito repetir o que faziam em vida, dizendo que podem fazer uso de objetos e ferramentas de fácil manejo, mas não teriam perícia o suficiente para utilizar-se de armas de fogo. Aqui é demonstrado, ainda que timidamente, que estes seres estão em evolução.

    Apesar do clima trash e das maquiagens pouco convincentes – que funcionavam melhor com a  fotografia preto e branco –, o roteiro de Romero toca numa temática atual e critica o consumismo, associando o ato de comprar a um instinto primitivo humano – por isso o shopping estaria cheio de descerebrados. A forma de filmar o grupo de sobreviventes – em algumas passagens – andando lentamente, quase se arrastando, semelhante aos zumbis, faz discutir quem são os mortos na realidade. Isso é resquício da inspiração no romance de William Matheson, Eu Sou a Lenda. O agente que faz com que os protagonistas abandonem seu porto seguro não são os ressuscitados, mas sim os vivos, que tentam saquear o shopping. O bando de mercenários encabeçados por Tom Savini arromba tudo, inutilizando um bom esconderijo. O grupo em sua maioria age como seres irracionais, querendo unicamente tomar os pertences das lojas.

    Mais uma vez Romero põe um negro como protagonista e último sobrevivente, assim como no episódio anterior, reforçando o caráter crítico de sua filmografia. Despertar do Mortos não é um filme perfeito, carece principalmente de um orçamento razoável, mas é uma das primeiras amostras da genialidade do pai de um gênero de filmes hoje copiado à exaustão.

  • Crítica | Madrugada dos Mortos

    Crítica | Madrugada dos Mortos

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    A estreia de Zack Snyder foi em uma refilmagem e dificilmente seria melhor. Seu Dawn of the Dead é diferente de tudo o que Romero propôs como apocalipse zumbi e ainda assim é muito competente. O ritmo dos ataques é frenético, a transformação é praticamente instantânea e o departamento de arte não poupa galões de sangue falso.

    O imediatismo não é só devido ao fato dos mortos-vivos serem velozes, as criaturas são quase sobre-humanas, a sobrevivência é muito mais difícil e as condições de vida escassas. Não há tempo para ajudar pessoas ou resgatar entes queridos, é cada um por si. Madrugada dos Mortos é um fôlego novo no gênero, e muito superior aos seus primos pobres – Resident Evil e afins.

    O remake é certamente a obra mais acertada de Snyder. Sua forma de filmar causa arrepios, isola os personagens através da angulação da câmera e passa a atmosfera de desespero sem precisar ser didático. A música que acompanha os créditos iniciais – The Mans Come Around de Johnny Cash, serve como ótimo resumo dos fatos ocorridos após a infecção. A discussão proposta pelo roteiro é igual a mensagem de George Romero, mas é atualizada para uma nova geração, que cresceu vendo os vídeo-clipes da MTV, e o realizador é muito competente, pois engloba o espectador mais novo ao mesmo tempo que não esquece o velho fã de mortos andantes.

    O elenco está bastante à vontade. Ving Rhames faz um policial sem muita paciência para o moralismo comum ao outros sobreviventes, mas que no fundo se importa com o grupo. Sarah Polley faz uma protagonista que evolui muito com o decorrer da trama, de uma frágil e condescendente enfermeira até uma líder nata. Mesmo os clichês são bem utilizados, e não denigrem a obra.

    O filme é repleto de momentos grotescos. A cena do parto e toda a atmosfera que a envolve é sinistra, amedrontadora e asquerosa. É tenso e muito divertido. Snyder gravou um curta metragem – que está nos extras do DVD da versão nacional – mostrando o cotidiano de Andy (Bruce Bohne), que grava em vídeo desde o início do apocalipse zumbi até a sua transformação. Isso acrescenta muito a trama, e tornou-se prática comum nos filmes do diretor – vide o mockumentary  Sob o Capuz de Watchmen.

    O plano de fuga arquitetado pelo heróis é estúpido, e nos 20 minutos finais todos viram exímios atiradores. Há um julgamento moral muito forte, até puritano em alguns pontos, os personagens que caem são os que antes eram mostrados com alguma “parafilia” latente – seja homossexualidade, poligamia ou o registro visual de relações sexuais – mas o recurso é comum a filmes de Terror, e não causa tanto descontentamento quanto à redenção de um dos anti-heróis.

    As cenas pós-créditos são ótimas, e dão um aperitivo de como seria a vida dos sobreviventes após a chegada na ilha. Quando o inferno estiver lotado, não haverá escapatória para os que ainda permanecem vivos.

    Ouça nosso podcast sobre Zack Snyder.

  • Filmes sobre o Fim do Mundo

    Filmes sobre o Fim do Mundo

    melhores filmes sobre o fim do mundo

    O medo sempre esteve presente dentro de cada um de nós, para alguns isso se transmuta em uma possível data onde o fim dos tempos chegará. Não são poucas as pessoas que propagam essa política de medo, algumas vezes exercidas através de governos autoritários de forma indireta, ou agindo abertamente por meio de religiões e seitas extremistas. O fato é que essas movimentações que ocorrem de tempos em tempos, seja com a Guerra Fria e o perigo iminente de um guerra nuclear, ou com a virada do milênio e calendários maias, o cinema sempre esteve presente retratando o fim do mundo, muitas vezes abrindo os olhos do espectador para o problema real, seja de forma irônica, lírica ou chocante. Portanto, segue abaixo uma lista de 10 filmes, com a visão de 10 grandes diretores (nada de Michael Bay e Roland Emmerich) sobre o epilogo de nossas vidas.

    A Última Esperança da Terra (Boris Sagal, 1971)

    Baseado na obra de Richard Matheson (existem três versões da história), A Última Esperança da Terra foi estrelado por Charlton Heston e mostra um pouco da paranoia causada pela guerra nuclear. O personagem de Heston vive em uma metropóle completamente dizimada por uma guerra e aparentemente só. O filme traz uma postura antibelicista, além de explorar vários pontos do fanatismo religioso.

    Fonte da Vida (Darren Aronofsky, 2006)

    Apesar de não seguir o padrão dos filmes de “fim do mundo”, Fonte da Vida é uma grande história sobre amor e morte, ciência e espiritualidade, e claro, o início e o fim de tudo. De maneira delicada, duas tramas contidas no filme se entrelaçam e culminam em um última, onde o personagem de Hugh Jackman, completamente só na imensidão, consegue a resposta de sua existência.

    Dr. Fantástico (Stanley Kubrick, 1964)

    Kubrick aproveita o auge da Guerra Fria para fazer uma comédia repleta de ironia sobre os temores da humanidade de uma possível guerra nuclear. Destaque para a interpretação de 3 personagens por Peter Sellers. Simplesmente genial. Dr. Fantástico é um manifesto antiguerra, tudo isso numa das mais mordazes sátiras da história do cinema

    A Estrada (John Hillcoat, 2009)

    A jornada de um pai e seu filho em um mundo pós-guerra nuclear. Hillcoat deixa a sutileza para as atuações do elenco, já que o roteiro e a direção do filme não dão espaço pra isso, apenas para um mundo sem vida e grotesco de pai e filho, onde a esperança se esvai a cada passo. Grande filme.

    A Noite dos Mortos Vivos (George Romero, 1968)

    A Noite dos Mortos Vivos é um paradigma para o cinema como um todo. O primeiro trabalho de Romero é consolidado como uma das produções independentes mais bem sucedidas do cinema, serviu como base para o estabelecimento dos zumbis como conhecemos hoje e influência para o modo de fazer cinema, além de ter um dos finais mais surpreendentes da história.

    Os 12 Macacos (Terry Gilliam, 1995)

    Os 12 Macacos traz uma visão pós-apocalíptica de um futuro onde um vírus dizimou boa parte da população mundial e a única solução da Terra é enviar alguém para o passado para consertar o que motivou esse futuro. Gilliam constrói um senso de urgência e angústia à todo momento. O filme traz ainda uma forte mensagem de voltarmos nossos olhos para o presente e a valorização do que temos hoje.

    Melancolia (Lars Von Trier, 2011)

    Melancolia trata da história de um planeta (Melancolia) que irá colidir com a Terra. Nesse cenário apocalíptico somos apresentados para os conflitos internos, medos e distúrbios de cada personagem e como isso afeta cada um deles. Lars Von Trier utiliza a temática de filmes catástrofe para um estudo sobre o ser humano e sua finitude. 

    Limite de Segurança (Sidney Lumet, 1964)

    O principal problema de Limite de Segurança foi ter sido lançado alguns meses depois do seu co-irmão (e já mencionado aqui), Dr. Fantástico. Diferente do filme do Kubrick, que se tornou cult, Limite de Segurança já não é tão conhecido, sendo revisado pela maioria dos críticas muito tempo depois. Ambos os filmes retratam o mesmo tema, contudo, Lumet opta por uma visão densa e mais politizada que Kubrick e acerta em cheio.

    Filhos da Esperança (Alfonso Cuaron, 2006)

    Cuarón traz uma visão futurista bastante aterradora. Há quase 20 anos não nascem mais bebês, a humanidade está a beira da extinção e o mundo se tornou um caos completo. A construção de personagem de Clive Owen, com seu cinismo e onipresença em tela. É impressionante como a visão de mundo futurista do diretor é atual. O futuro de Filhos da Esperança já chegou e nós não nos demos conta.

    Vampiros de Almas (Don Siegel, 1956)

    Apesar de várias outras refilmagens, algumas mais interessantes que outras, nenhuma supera a versão do diretor Don Siegel. O cineasta dá uma aula de cinema em Invasor de Almas, construindo uma visão apocalíptica de forma tensa, ágil e econômica. A trama conta a história onde as pessoas não são mais as mesmas, apesar da aparência física e das lembranças. Siegel retrata o período de paranoia que os EUA viveu durante a caça às bruxas promovida pelo senador Joseph McCarthy, ou indo mais longe, dando sua visão de um mundo sem emoções.

    Menção honrosa a vários outros títulos que tiveram de ficar de fora mas vale uma conferida: O Fim do Mundo, 4:44 – Último Dia na Terra, Wall-E, Mad Max, Planeta dos Macacos, A Máquina do Tempo, O Menino e seu Cachorro, Donnie Darko, Akira, O Dia em que a Terra Parou, Sunshine, Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo, A Sétima Profecia, Extermínio, O Abrigo, O Sacrifício, Guerra dos Mundos, Marte Ataca, Exterminador do Futuro, entre tantos outros.