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  • Resenha | Batman: A Queda do Morcego – Volume 1

    Resenha | Batman: A Queda do Morcego – Volume 1

    Quem não gosta de um bom arco de personagem? Ainda mais quando ele é um vilão, sejamos honestos. Na terra do Batman, o Coringa sempre ganha os holofotes, trabalhado em oitenta anos por uma miríade impressionante de talentos. Mas em 2012, Christopher Nolan (após ter entregue o mais inesquecível dos palhaços do crime) teve a chance de mudar isso, e nos entregar um Bane a altura do Cavaleiro das Trevas – não como o seu oposto, brincando com todo esse maniqueísmo da cultura pop, mas ameaçador o bastante para, literalmente, quebrar o guardião de Gotham. Falhou, e nas suas mãos Bane virou apenas um terrorista egocêntrico falando igual o Darth Vader. Na sua abordagem hiper-realista, Nolan não se permitiu explorar pra valer um dos mais interessantes antagonistas do Batman, mas está tudo bem: temos um A Queda do Morcego para chamar de nosso.

    Neste primeiro volume publicado pela Panini Comics no Brasil, nota-se o esforço bem-sucedido de se criar um A Piada Mortal mais colorida e aventuresca para Bane. Em suas profundas origens escritas por Chuck Dixon e outros, o arquétipo do vilão é moldado para justificar o seu caráter não-diabólico por natureza, e sim o puro reflexo de toda a dor e tortura que o garoto, e depois o homem, passou. Em A Queda do Morcego, temos menos Batman e mais Bane, desde o seu nascimento na prisão de Pena Duro, em um país caribenho esquecido por Deus. Crescido entre os piores tipos, o menino viu a cara da morte muito antes de ter pelo no peito e viu também a ruindade como única moeda quando se mora no inferno. Enclausurado, Bane atingiu o limite do físico e do intelectual, exercitando a mente e envenenando seu corpo ao máximo. E de desafio a desafio, finalmente Gotham City o atraiu pelo maior de todos, no horizonte: capturar o incapturável. E dobrá-lo.

    Desafio aceito. Desta forma, Bane promove o caos na mais violenta das cidades, libertando os doentes do asilo Arkham e usando, um a um, para se voltarem contra Batman e Robin sem dó. Exaurindo-os. Desesperando-os. Estratégico, e muito além de ser uma mera massa de músculos, Bane espera até a carne ser amassada pelo Coringa, Charada, Mulher-Gato e outros vilões para, então, desferir o nocaute final e comandar Gotham a punhos de ferro, na maior vitória de todas. Mas o destino, sempre ele, traz reviravoltas que o grandalhão mascarado jamais esperaria – e nem nós. Em vinte e duas histórias construídas a base de muita ação e momentos eletrizantes (incluindo o mais assustador Espantalho já visto), A Queda do Morcego glorifica os ícones imortais dos quadrinhos em um belo arco central de ascensão e danação, ao ilustrar com força e adrenalina um dos eventos mais clássicos e mais comentados da história do Batman.

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  • Resenha | A Morte de Batman: O Filme

    Resenha | A Morte de Batman: O Filme

    Há certo tempo, os quadrinhos da DC Comics – bem como da Marvel – se desenvolvem em histórias seriadas, normalmente, dividas em sagas com desdobramentos e sub-tramas. Após a saga A Queda do Morcego, responsável pela literal destruição do Cavaleiro das Trevas, o arco A Cruzada marcou a fase de um novo Batman, Jean Paul Valley, um personagem mais violento e agressivo que o morcego original. Tanto essa saga quanto A Morte do Superman foram lançadas na mesma época, demonstrando a intenção do estúdio em movimentar o mercado editorial com severas modificações em seus principais heróis.

    Lançado na era do formatinho na revista Super Powers 36, A Morte do Batman – O Filme introduz o Coringa em conflito com esse novo Homem-Morcego. Mesmo situado dentro do segundo ato da Queda, a trama funciona mais como um respiro dentro da longa saga, trazendo em cena uma das personificações desse vilão definitivo. A ação se centraliza no desejo de Coringa em assassinar Batman, produzindo in loco um filme sobre o feito.

    A faceta do vilão é apoiada mais em sua composição galhofeira e nonsense. Sem intenção de conectar essa história ao arco central, o roteirista Chuck Dixon opta por uma trama apoiada em referências cinematográficas e em um Coringa menos ensandecido, mais cômico do que violento.  O humor ridículo do vilão se alia a um estilo mais hippie nos desenhos de Graham Nolan, demonstrando como a década de 90 também se marcou pela errônea tentativa de revitalizar personagens modificando-o pequenos detalhes de seus traços, fato que, posteriormente, só destacou a estranheza que essa época foi para os quadrinhos.

    Se a dinâmica entre Batman e Coringa sempre funcionou como um certo respeito entre arqui-inimigo, essa trama demonstra que a tônica não se estrutura da mesma forma com Jean Paul Valley.  Demonstrando-se um morcego mais violento e menos racional, o novo Batman deseja mata-lo de uma vez por todas e, claro, é impedido pela polícia de Gotham. O leitor sabe que a intenção é somente um conflito superficial, que proporciona as diferenças de um herói a outro e serve, apenas, para preservar o vilão para outro embate.

    Mesmo sendo funcional como história fechada, ainda mais devido a presença do vilão definitivo do personagem, A Morte do Batman – O Filme não se destaca como uma história significativa. Talvez na época de seu lançamento, funcionasse para desenvolver melhor o novo morcego. Vista com distanciamento, como não interfere na saga em si, se pauta somente como uma leitura divertida pela veia mais cômica do vilão e com as diversas referências ao universo cinematográfico.

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  • Resenha | Batman: Contágio

    Resenha | Batman: Contágio

    Batman Contagion

    Lançado em 12 partes nas revistas mensais de Batman e seus aliados, Contágio foi publicado no país em quatro edições pela Editora Abril, entre março e abril de 1998, em Batman – Vigilantes de Gotham #17 e #18 e Batman #17 e #18. O arco nunca foi relançado no país, mas, como é costume nos Estados Unidos, a saga foi republicada em uma edição compilada .

    A intenção de Contágio é apresentar um elemento a mais nas tradicionais aventuras do Morcego. Em uma época em que Batman sofreu um grave acidente e sobreviveu à lesão na espinha, escolher como vilão um vírus com alto potencial destrutivo apresenta um novo elemento capaz de sobrepujar o herói e, talvez, amenizar os exageros cometidos dois anos antes na saga A Queda do Morcego.

    Tratando-se de um herói que conquistou a fama de indestrutível por conta da capacidade estratégica, física e de arsenal ilimitado, um vírus letal é uma dimensão nova que vai além das tradicionais brigas com vilões. Vista com distanciamento temporal, a saga parece antecipar outras duas grandes histórias interligadas entre si: Terremoto e Terra de Ninguém, excelentes arcos publicados dois anos depois desta.

    A narrativa inicia-se indo direto ao ponto. Azrael, um dos aliados do morcego – e quem veste o manto na época do acidente quase fatal – informa que um vírus letal, uma variante do Ebola, chegará a Gotham City através de um homem infectado. A personagem em questão é um rico empresário que deseja construir um condomínio de luxo autossustentável. Ironicamente, o ambiente controlado acaba sendo o ponto de partida da infecção na cidade. Tentando impedir o contágio, Batman e seu esquadrão assumem frontes distintas para descobrir a origem do vírus e procurar sobreviventes de uma epidemia anterior, ocorrida no Alaska. Por ser uma narrativa que atravessa as revistas de todos os personagens do universo do Morcego, Robin é o herói que mais se destaca, tendo como missão a busca e resgate de um sobrevivente de um contágio ocorrido anteriormente. No local, o menino prodígio conta com a ajuda de Mulher-Gato, vivendo, na época, uma relação conturbada com os vigilantes de Gotham.

    A urgência prometida pelo tempo escasso não aparece nos quadrinhos. Como um líder informal da cidade, Batman pouco aparece no início da trama. Sua presença é inferida pelos personagens e não está ligado diretamente com a ação. A história desenvolve-se com seu esquadrão, Robin, Mulher-Gato e Azrael, procurando por sobreviventes. Enfocando mais a busca por uma vacina do que a destruição de Gotham, a dimensão da epidemia é diminuída, e a figura do morcego fica sem uma função específica na história. Por que sua presença na cidade é tão importante quando deveria ser ele o líder à procura da cura?

    Para manter o ritmo narrativo das doze partes, surgem mais ganchos do que o necessário. Um esforço para acelerar um início levemente arrastado e sem uma tensão iminente devido ao contágio. Somente quando um dos heróis é afetado pelo vírus, a urgência aumenta e a trama torna-se mais ágil, dividindo-se entra a histeria coletiva da cidade, os vigilantes tentando proteger a população e um Batman ciente de que a cidade pode sucumbir a qualquer momento e nada fazendo para ajudá-la. A trama também traz o retorno de Gordon como Comissário no comando da polícia, em uma bonita cena em que ele e o Morcego discorrem sobre o amor e ódio que sentem pela amaldiçoada Gotham.

    Mesmo não sendo um arco brilhante, Batman – Contágio demonstra a possibilidade de inserir novos elementos nas tradicionais tramas de heróis sem que estas se tornem destoantes. Uma vertente utilizada em grandes sagas pela DC Comics na década seguinte.