Tag: Greg Kinnear

  • Crítica | Zona Verde

    Crítica | Zona Verde

    Engana-se quem acha que Paul Greengrass nega qualquer patriotismo, ou niilismo inerentes a política americana para focar na ação, pura e simples de um dos mais genéricos thrillers políticos de Hollywood desde o medíocre Leões e Cordeiros, com Tom Cruise e Meryl Streep, de 2007. Nenhum cineasta americano iria perder, hoje ou num passado distante, a chance de se discutir os dois lados de uma política internacional cada vez mais destrutiva e que assola o mundo com barbáries balísticas, capitalismo selvagem e imposições econômicas, e ideológicas. Ridley Scott bem que tentou em Falcão Negro em Perigo, e convenceu a poucos. A única que parece ter saído ilesa no debate sobre um conflito aparentemente interminável, e cada vez mais complexo foi Kathryn Bigelow, tanto em A Hora Mais Escura quanto no (principalmente) ótimo Guerra ao Terror, pelo qual ganhou um merecidíssmo Oscar de direção. Dois filmes de sua autoria de grande domínio temático, sempre entre o real e o ficcional, e nunca expostos a um sensacionalismo banal.

    Zona Verde está no meio termo entre o que esperamos de um filme de ação no oriente médio, com ampla intromissão militar norte-americana, e o que aguardamos de um filme de Greengrass, particularmente reconhecido por sua habilidade no gênero de ação. Sua câmera tremida está presente, é claro. Os efeitos sonoros retumbantes, também, e o ritmo ágil nem se fala. Os elementos do Cinema de Greengrass inspiram tantos outros cineastas de sua geração, e em atividade (até o cinema sul-coreano mantém parte da sua atenção nele), mas quase nenhum americano consegue superá-lo, vide o excelente O Ultimato Bourne, filmaço de ação destituído de temas políticos traiçoeiros se debatendo na credibilidade de uma história, e o divertido mas ainda assim irregular Capitão Phillips. Filme mais recente com Tom Hanks, mas eficaz e eficiente no averiguar de que, pelo menos em Hollywood, ninguém usa uma câmera pra filmar um corre-corre tenso e ininterrupto igual ele, especialmente após a morte de Tony Scott, dos fantásticos Inimigo do Estado e Deja Vú, outro (ex) ás americano nesse quesito.

    No filme em questão, ao longo de toda a turbulenta investigação da equipe liderada por Roy Miller (Matt Damon, cheio de saudades de ser Jason Bourne) Iraque afora, em busca de armas químicas perigosíssimas, e durante o grande (e previsível) plot twist que mexe e inverte as situações da trama, acabando por subverter o próprio propósito da missão militar de todos, é notável como Greengrass se divide entre fazer com que o cenário vire um parque de diversões para tiroteios e bombardeios, e contar a história do ponto de vista mais sério e dramático como ela parece exigir que seja enxergada, e mantida, contando com meia-dúzia de personagens arquetípicos para isso. Contando também com um roteiro cheio de simplicidades na amostragem de uma realidade dura e cruel para com os habitantes e as instalações militares da região sitiada, o filme não decepciona seu público-alvo, e consegue sim encontrar um equilíbrio bacana na sua clara proposta de ser um entretenimento reflexivo, de boa qualidade.

    Acima de tudo, em momento algum (como na boa sequência de invasão militar a casa de um general iraquiano, uma cena de RPG com atores, em que a história coloca em cheque a verdadeira face impositiva da democracia dos EUA), o cineasta se deixa levar pelo entretenimento vão, e fácil, e demonstra um empenho considerável para entender, cada vez mais, os inúmeros problemas e enormes desafios práticos desse impasse econômico e cultural com sutis exaltações as políticas estratégicas dos EUA. Greengrass é cuidadoso aqui, e foge de arbitrariedades explícitas para traçar um quadro verdadeiro mas não tão imparcial assim de uma situação difícil, por natureza. Contudo, ao final, resta-nos a constatação que não há nenhuma cena marcante ou detalhe realmente inesquecível que faça com que Zona Verde seja impactante para aqueles que se consideram, ou não, fãs de filmes bélicos contemporâneos, indo levemente além de um lugar-comum dentro da filmografia do cara, com representantes mais sedutores do seu talento, e do próprio gênero que não escapa de estar incluso.

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  • Crítica | Tudo Por Um Furo

    Crítica | Tudo Por Um Furo

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    Adam McKay é responsável por dirigir alguns dos filmes mais hilários da carreira de Will Ferrell, como Ricky Bob: A Toda Velocidade, Quase Irmãos, Os Outros Caras e, claro, Âncora – A Lenda de Ron Burgundy. A esperada continuação do filme mais notável da parceria entre McKay e Ferrell começa tão estúpida e boba quanto o primeiro episódio, com toda a gritaria típica dos filmes do ator e a estupidez de Ron, mostrando a perfeita caricatura do jornalista televisivo moderno.

    A trajetória de Burgundy é interrompida com poucos minutos de exibição. Seu status quo é quebrado e a lenda é contestada, sendo logo mandado embora. A sequência de eventos que ocorre após a fatídica notícia é absolutamente hilária, sendo praticamente impossível para o espectador não rir. O renascer deste como jornalista após a humilhante constatação de sua incompetência é reunir a sua trupe novamente – nada mais clichê e certamente não poderia ser menos engraçado do que foi, pois cada um dos seus coadjuvantes está em uma situação das mais curiosas e absurdas: Champ Kind (David Koechner) tornou-se dono um restaurante fast-food que serve asinha de morcego empanada; Brian Fantana (Paul Rudd) faz ensaios fotográficos com pequenos gatos e se excita deveras com isto; enquanto Brick Stamland (Steve Carrell) acredita estar morto e é tão burro que vai ao próprio enterro. Toda a ironia da antiga rotina deles, ao invés de se repetir, é substituída por cenas ainda mais “babacas” que as anteriores.

    Tudo dentro do roteiro faz parecer um teatro dos absurdos. O machismo e racismo de Burgundy parecem não ter diminuído nada com o passar dos anos. Associados à intelectualidade média de norte-americano, esses preconceitos fazem da comédia algo sem muito compromisso com o politicamente correto, o que é muito raro, principalmente com o fato de não ser associada somente a jocosidades sexuais por necessidade. Todos os grupos secularmente excluídos recebem sua dose de gracejos: negros, gays, mentalmente prejudicados, latinos e mulheres.

    Seu retorno obviamente não é fácil, e ele tem de enfrentar novas rivalidades dentro da emissora, que só circula notícias, e na casa de sua esposa e atual ex, Veronica Corningstone, a ainda bela Christina Applegate. O método antiquado como Ron vê o mundo cobra o seu preço. Há necessidade de se reinventar como profissional da informação e como figura masculina, e sua saída é usar um discurso ufanista e sensacionalista voltado para o público que está dentro do maior denominador comum. Sua seleção de matérias visa reforçar a ideia de que a América é o melhor lugar do mundo para se viver, ignorando tudo o que aconteça à volta do mundo e que seja relevante. A falta de noção impera no modo de operar do laureado e premiado jornalista, e a ausência de limites faz com que todos não achem estranho ensinar o público a enrolar e fumar cachimbos de crack na televisão ao vivo. Tudo é tão absolutamente louco que, por mais nonsense que seja o cenário, o circo midiático maluco torna-se lógico e faz total sentido dentro daquele universo tão estapafúrdio.

    Uma boa novidade é o romance em que se metem Brick Tamland e Chani Lastname (Kristen Wiig), uma personagem desequilibrada mentalmente com direito a alguns distúrbios e transtorno obsessivo-compulsivo, inclusive com o mesmo background de origem militar para tais demências. Quando este tem de ir ao seu encontro, é apresentada a ela uma miscelânea enorme de variações de preservativos, inclusive os que não funcionam na prevenção de gravidez. A primeira interação do responsável pela previsão do tempo na tela verde é tão incrivelmente idiota que se torna uma das cenas que mais causaram gargalhadas nos últimos tempos.

    A falta de tato social de Ron continua intacta, se não aumentada. O affair que tem com Meagan Good  (Linda Jackson) o faz exagerar ainda mais com os estereótipos raciais. Até na mesa da família da moça utiliza-se de todo tipo de insinuação sexual, especialmente das mais sujas, com o que ele acha ser natural, unicamente pelo fato dos presentes serem negros, o que, em sua cabeça, os faz mais liberais nos assuntos relacionados ao coito poli e monogâmico. Um drama dos mais trágicos acontece com ele, e Burgundy se enfia numa luta contra o vício em crack que o faz agir como um pai ausente e irresponsável seletor de notícias. Quando cobre uma aleatória perseguição de carros, consegue uma entrevista de Veronica com Yaser Arafat, que vem a falar de sua tentativa de pacifismo com Israel. Seus índices de audiência atingem picos estratosféricos, mas sua fama é interrompida por um acidente que tira a sua visão, e consequentemente a capacidade de comunicar notícias via teleprompter.

    Depois da volta por cima e reinvenção enquanto cego, Ron Burgundy tem à sua frente um dilema moral: continuar a carreira cobrindo fatos sem importância ou ir ver o seu filho homenageá-lo em um recital. Sua escolha é a moralmente correta e ele se alinha com as coisas que o fazem bem, reatando as suas amizades e retornando ao seu verdadeiro amor, como na maioria dos último bons filmes de Ferrell. Ficaria um gosto de decepção se não fosse pela ótima cena repaginada da batalha entre jornalistas que reúnem ainda mais cenas de notícias, com participações especiais das mais diversas, entre humoristas e atores consagrados. Uma épica batalha contendo muita violência e referências das menos cabíveis possíveis, num dos exercícios de Deus Ex Machina com justificativa das melhores possíveis e um argumento providencial muito bem encaixado.

    O humor de Tudo por um Furo é universal, mas o roteiro faz ainda mais sentido para quem é comunicólogo. Todas as sandices mostradas em tela fazem da obra algo difícil de se levar a sério, obviamente não fazendo uso de humor inteligente ou cerebral. Por isto mesmo é uma obra única, por ser pensada e feita como uma troça de uma indústria que se leva demasiado a sério pela responsabilidade de informar. O filme é corretissimamente pensado e acerta muito dentro de sua proposta. Analisar algo fora desse escopo é total perda de tempo.

  • Agenda Cultural 01 | Caçadores de Recompensa, Rita Cadillac e Uma Surra de Bunda

    Agenda Cultural 01 | Caçadores de Recompensa, Rita Cadillac e Uma Surra de Bunda

    Bem vindos a bordoFlávio Vieira (@flaviopvieira), Amilton Brandão (@amiltonsena) e Mario Abbade (@fanaticc) se reúnem para comentar tudo o que está rolando no circuito cultural dessa semana, com as principais dicas da semana em cinema, teatro, quadrinhos e cenário musical. Em uma linha alternativa de dicas atemporais, selecionamos alguns petardos interessantes dentro do ramo literário, além de explicarmos como será o formato que iremos adotar. Não perca tempo e ouça agora o seu guia da semana.

    Duração: 44 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: Gustavo Kitagawa

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    Comentados na Edição

    Quadrinhos

    Sandman: Edição Definitiva – Vol. I
    Resenha Homem-Aranha: Com Grandes Poderes

    Literatura

    Ilha do Medo – Dennis Lehane
    Resenha Os Senhores do Arco – Conn Iggulden
    O Hagakure: A Ética dos Samurais e o Japão Moderno – Yukio Mishima

    Música

    Marduk
    Placebo
    Bad Company – Hard Rock Live

    Teatro

    O Meu Sangue Ferve por Você

    Cinema

    Crítica Caçador de Recompensas
    Crítica As Melhores Coisas do Mundo
    Crítica Zona Verde
    Crítica Mary & Max
    Crítica Rita Cadillac: A Lady do Povo

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