Resenha | Chico Bento: Pavor Espaciar
Tendo como pontapé inicial o projeto MSP 50 – Mauricio de Sousa Por 50 Artistas — que propunha uma reinterpretação dos personagens clássicos de Mauricio por 50 artistas diferentes —, as graphics novels MSP ganharam forma três anos depois com o anúncio de quatro álbuns: Astronauta – Magnetar, Turma da Mônica – Laços, Chico Bento – Pavor Espaciar e Piteco – Ingá, todos publicados pela Panini Comics. A intenção do projeto era compor um álbum inteiro dedicado a cada personagem, formato bastante familiar com publicações europeias como Spirou, que teve uma série de histórias produzidas por diferentes quadrinistas, cada um deles utilizando um estilo e abordagem diferente daquele pensado por seus criadores (essa coleção tem sido publicada no Brasil pela SESI-SP Editora).
Depois de um início arrebatador com uma história no espaço repleta de elementos ficção científica em Magnetar (roteiro e arte de Danilo Beyruth e cores de Cris Peter), e, posteriormente, uma aventura nostálgica e emotiva em Laços (texto e traços dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi), foi a vez de Gustavo Duarte fazer sua releitura do caipira mais simpático da Vila Abobrinha: Chico Bento. Tarefa nada fácil, principalmente para um personagem tão querido, bem como para aqueles leitores que podem chegar completamente desavisados na obra do autor. Explico. A obra do quadrinista tem um caráter autoral, seja pelo seu traço característico, como também pela narrativa gráfica própria, que pouco se vale de texto para compor seus quadros.
Pavor Espaciar aborda uma história de humor onde Chico Bento, Zé Lelé, o porco Torresmo e a galinha Giserda acabam sendo abduzidos por alienígenas. O nonsense e o humor do autor permanecem presentes, compondo uma história divertida, repleta de referências à cultura pop como ao milharal de Sinais, filme de M. Night Shyamalan; o apresentador Giorgio Tsoukalos, do programa Alienígenas do Passado, do canal History Channel; um sabre de luz de Star Wars pendurado ao lado de instrumentos de abate e corte de animais; e ainda um Michael Jackson em uma câmara criogênica; entre outros.
Mas nem tudo são flores, Duarte parece inicialmente desconfortável. Se um dos pontos altos de sua obra é seu dinamismo, transformando os personagens em seres que parecem se movimentar quadro a quadro – quase como uma animação -, aqui em alguns momentos a narrativa sequencial parece truncada, com a ação, que deveria ser eletrizante, quase desconectada da proposta da própria história. Talvez as poucas páginas tenham prejudicado o resultado final, e isso fica claro em algumas concessões feitas para desenvolver a narrativa, como a utilização de balões de textos, algo não muito comum em seus quadrinhos com tramas mudas.
Apesar disso, Pavor Espaciar é uma história divertida, destacada pelo traço limpo e funcional de Duarte com o acréscimo de ainda ser colorizado, diferentemente de alguns de seus quadrinhos independentes. Alem da trama, o álbum possui um texto de abertura de Mauricio de Sousa — assim como acontece em todas as graphics — e ainda um texto de quarta capa de Roger Moreira, vocalista da banda Ultraje a Rigor.
Longe de ser um álbum tão bem realizado e comentado quanto os trabalhos anteriores em Astronauta e Turma da Mônica, ou mesmo Piteco, pelo paraibano Shiko, Chico Bento – Pavor Espaciar é bastante subestimado pelos seus leitores, mas que no geral, tem muitos mais pontos positivos do que o contrário.
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