Tag: holocausto

  • Crítica | Sobibor

    Crítica | Sobibor

    Sobibor era durante a Segunda Guerra Mundial um campo de concentração nazista em que o grosso dos aprisionados era formado por ciganos e russos, isso de certa forma justificaria o motivo para que Konstantin Khabenskiy dirigisse o seu filme. De início é mostrado de uma forma sensacionalista alguns soldados nazistas vendo pessoas se batizando em um rio, e na mentalidade deles, esse batismo só poderia ser feito por judeus. Para os alistados da Alemanha, a vida dos judeus serviria somente para fazer trabalho escravo, e claro, para enriquecer o Reich.

    Essa mentalidade gananciosa, apesar de extremamente maniqueísta, revela bem qual era o modus operandi do governo de Adolf Hitler, além do que o filme não tem qualquer receio em parecer nojento, há momentos onde o gore sobressai até as atuações de seu elenco, com uma exibição bem generosa de vísceras, amputamentos e dilacerações, em especial sobre os concentrados menos subordinados.

    O primeiro grande problema do longa é que seu elenco é de nacionalidades diversas, e a solução para driblar a questão linguística foi a de dublar alguns personagens, em especial quando se precisa falar alguma língua que não o russo, e isso faz um humor involuntário ocorrer, e dado que Khabenskiy é ator (e inclusive está no elenco do filme), seria de bom tom tomar atenção para esses aspectos.

    O filme soa ultra dramático, se vale de clichês comuns e mal executados, que faz parece-lo uma cópia de outros filmes dentro desse subgênero, o que é uma pena, pois a história real poderia gerar uma nova perspectiva não só de como funcionou a guerra e a intolerância de Hitler, bem como agiu a resistência. O levante que ali ocorreu era revanchista, em uma versão moderada do que Tarantino fez em Bastardos Inglórios, claro, sem toda a hiper violência e irrealidade que o diretor emprega em suas obras.

    As imagens de dor e sofrimento não tem sua importância valorizada, pois parecem jogadas em meio um roteiro confuso e problemas de atuação conforme já havíamos mencionado. Além do diretor, outra figura famosa é Christopher Lambert, que até tenta fazer um oficial nazista de mentalidade dúbia, mas não consegue, um pouco por conta da barreira da língua (é um ator norte-americano, de origem francesa, que fala alemão em um filme russo), ou pela unidimensionalidade de seu papel.

    Não há muito o que se elogiar no longa. Ao menos, ele consegue mostrar o quão cruel e desalmados eram os atos dos soldados nazistas, e culpa corretamente os alistados e oficiais pelas atitudes nefastas que tomam, não suavizando nada, mesmo que boa parte deles usassem a desculpa de estar apenas seguindo ordens. Ainda assim, é muito pouco para um filme cuja pretensão é tão grande.

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  • VortCast 58 | Maus e as Atrocidades do Nazifascismo

    VortCast 58 | Maus e as Atrocidades do Nazifascismo

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Thiago Augusto Corrêa (tdmundomente) e Filipe Pereira (@filipepereiral) recebem Delfin (@DelReyDelfin), do Terra Zero, para comentar um pouco sobre a obra de arte de Art Spiegelman: Maus. Falamos um pouco sobre a carreira do artista, o contexto geopolítico existente na época e a importância de toda essa discussão nos dias de hoje.

    Duração: 112 min.
    Edição: Pablo Grilo, Caio Amorim e Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Julio Assano Junior
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Metamaus: A Look Inside a Modern Classic, Maus (em inglês) – Compre aqui
    É Isto um Homem? – Primo Levi – Compre aqui
    K: Relatos de Uma Busca – Bernardo Kucinski – Compre aqui

    Outras Obras de Art Spiegelman

    À Sombra Das Torres Ausentes – Compre aqui
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  • Crítica | Negação

    Crítica | Negação

    Dirigido por Mick Jackson e adaptado para o cinema pelo escritor David Hare, baseado no livro Negação (History on Trial: My Day in Court with a Holocaust Denier), o filme conta o embate legal entre Deborah E. Lipstadt (Rachel Weisz) e David Irving (Timothy Spall). Irving acusou Lipstadt – assim como a editora britânica da autora, Penguin Books – de difamação por denegrir seu trabalho acadêmico de negação do Holocausto. Diferente da maioria dos países, em que cabe ao querelante provar sua acusação, no sistema legal britânico, não há presunção de inocência, recaindo o ônus da prova sobre o acusado. Sendo assim, cabia à equipe de advogados contratados pela Penguin – encabeçada por Richard Rampton (Tom Wilkinson) e Anthony Julius (Andrew Scott) – provar que a queixa de Irving era infundada.

    Irving, sendo um estudioso da Segunda Grande Guerra e principalmente de Hitler, acusou Lipstad de ter afirmado que ele manipulara e distorcera evidências a fim de isentar o Reich e, por conseguinte, Hitler de ter matado judeus deliberadamente. Enquanto a maioria de nós, leigos, ou melhor, não-advogados pensaria que o melhor argumento seria confirmar a ocorrência do Holocausto, os advogados de defesa optaram, sabiamente, por combater a difamação que Irving dizia ter sofrido. Deborah deixa claro que sua intenção era reafirmar o Holocausto, dando voz aos sobreviventes e aos que pereceram nos campos de concentração. Contudo, os advogados a convencem, muito a contragosto, de que a estratégia planejada por eles era a melhor opção. E, ao final, do julgamento, em um veredito de trezentas e poucas páginas, o juiz Charles Gray (Alex Jennings), dá ganho de causa à defesa por ter efetivamente provado que Irving, sim, distorcera evidências a fim de defender seus pontos de vista e que, portanto, o que Lipstad dissera não configurava difamação.

    A história, em si, é bastante direta. O que chama a atenção são as questões suscitadas pelo evento. Como é possível que existam pessoas capazes de colocar em dúvida um evento histórico dessa magnitude? Simplesmente por não haver fotos que o comprovem, como diz Lipstad a seus alunos? O quão fácil é distorcer a verdade, usando apenas palavras, falácias e argumentos tendenciosos?

    É o trecho de Denying the Holocaust: the Growing Assault on Truth and Memory, em que Lipstad descreve os métodos de Irving, que ele usou para acusá-la:

    “Irving é um dos mais perigosos porta-vozes do negacionismo do Holocausto. Conhecedor da evidência histórica, ele a distorce até que ela se adapte a suas inclinações ideológicas e objetivos políticos. Um homem convencido de que o grande declínio da Grã-Bretanha foi acelerado pela decisão de entrar em guerra contra a Alemanha, ele é muito hábil em pegar informações corretas e moldá-las para confirmar suas próprias conclusões. Uma resenha de seu recente livro, Churchill’s War, publicada no New York Review of Books, analisa corretamente sua prática de tratar as evidências de forma parcial. Ele exige “prova documental absoluta” quando o assunto é provar a culpa dos alemães, mas se baseia em evidências altamente circunstanciais para condenar os Aliados. Essa é uma descrição correta não apenas das táticas de Irving, mas das dos negacionistas em geral”.
    (p.181)

    Conciso, de abordagem simples, trata o assunto de forma direta, sem floreios ou melodramas desnecessários. E, apesar de parecer muito um telefilme, tem aquele “quê” a mais que faz o espectador continuar pensando a respeito das questões levantadas durante a exibição do longa-metragem. Ainda que em termos de produção, o filme não possua nada de excepcional, além de seu elenco, Negação se mostra um daqueles filmes importantes e necessários em nossos tempos.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Austerlitz

    Crítica | Austerlitz

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    Experimento de Sergei Loznitsa, Austerlitz tem uma proposta e premissa interessantes, mas com uma execução bastante calcada no preciosismo. O documentário de aproximadamente 90 minutos registra os memorias do holocausto abertos ao público, que recebem muitos visitantes todos os dias, a fim de não esquecer os horrores ali ocorridos e que tais atrocidades não se repitam.

    O diretor de Minha Felicidade e Na Neblina acaba por denunciar um fato terrível, e a culpa por isso é compartilhada. A câmera do diretor se mantém estática em alguns pontos de um antigo campo de concentração que está sempre cheio de visitantes. Ao mesmo tempo em que uma minoria de pessoas horrorizadas com o ocorrido naquele lugar e que mal conseguem manter o equilíbrio emocional ali, há também uma maioria esmagadora de visitantes que tiram selfies perto dos objetos de tortura, tornando a dor alheia do passado judeu em um espetáculo turístico, banalizando por completo todo esse sofrimento.

    Esse holocausto comercial estabelecido no longa tem um caráter de desrespeito total com a memória do local e dos que lá sofreram. Ao mesmo tempo em que os funcionários tentam mostrar aos visitantes que ali muitos tiveram suas vidas encerradas ou destruídas, há uma clara alienação e ignorância por parte de quem por lá passa. O próprio fato de cobrar ingresso para a entrada neste local soa hipócrita, diante dos discursos inflamados dos guias, que não estão lá necessariamente para alertar sobre os causos, e sim para ser o norte turístico dos pagantes.

    A questão central é que Loznitsa registra toda essa atrocidade, mas não faz qualquer julgamento com sua câmera. Esse formato funcionaria perfeitamente em um filme curta ou média metragem, mas em um longa-documentário sua escolha não faz muito sentido dentro da proposta apresentada. Sua função de denúncia se esvai, sobrando um tom de banalização, ainda que em menor escala. Ainda assim, Austerlitz não é longo, mas é moroso e exige paciência de quem o vê, sendo bem desnecessário sua duração, apesar de seus 90 minutos de duração.

  • Crítica | Memórias Secretas

    Crítica | Memórias Secretas

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    Associar o novo filme do diretor Atom Egoyan (com roteiro de Benjamin August) ao cultuado thriller de Christopher NolanAmnésia é quase um reflexo do espectador. Em ambos os casos, o protagonista precisa se lembrar todos os dias das tarefas a serem executadas em busca de algo que o complete na missão. Porém, enquanto Leonard faz o tipo durão e jovem, Christopher Plummer entrega Zev Guttman, um frágil senhor beirando os 90 anos com princípio de demência, subvertendo os clichês do thriller de perseguição.

    Guttman e seu companheiro de uma casa de repouso, Max Rosenbaum (Martin Landau), são ambos sobreviventes de Auschwitz. Max, um antigo perseguidor de fugitivos nazistas, consegue rastrear um último comandante do campo de concentração, aquele diretamente responsável pela morte de seus familiares. Então incumbe a Zev a tarefa de encontrar e executar o carrasco de seus parentes, já que o oficial está usando o nome de Rudy Kurlander, um prisioneiro morto na Polônia.

    Após a morte de sua esposa, Zev sai em busca de seu objetivo, e a excelente interpretação de Plummer nos passa a todo momento a fragilidade de um senhor de tal idade em busca de alguma redenção no final da vida. Enquanto Zev viaja, acompanhamos a busca de seu filho Charles Guttman (Henry Czerny) para tentar encontrar o pai.

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    Após rastrear os primeiros Kurlanders, que depois se descobre que não eram quem procuravam, Zev encontra John Kurlander (Dean Norris), o filho de um antigo nazista e saudosista da guerra. O fato de ele e o falecido pai serem nazistas convictos é usado pelo diretor para salientar uma crítica interessante, pois ambos são “colecionadores” de itens nazistas, uma característica de muitos simpatizantes do nacional-socialismo atualmente. A intensa interpretação de Norris como o neonazista John às vezes beira o exagero, mas realiza a função de nos mostrar a dedicação de Guttman em cumprir seu objetivo. Nessa sequência se destaca um dos pontos fortes do filme, a utilização visual e sonora de alegorias aos campos de concentração que sutilmente assustam o protagonista, como alarmes, bombas explodindo em pedreiras, cachorros latindo, dentre outros.

    Ao encontrar o último Kurlander da lista, o filme caminha para seu clímax, com Zev, Kurlander e Charles juntos. Porém, a escolha de subverter a trama e transformar Guttman em um algoz e em objeto de sua própria busca, apesar de ser momentaneamente interessante, enfraquece o próprio personagem antes estabelecido. Somos, em alguns segundos, obrigados a acreditar que aquele cidadão que viveu por décadas nos EUA normalmente, e só agora mostra sinais de demência, havia esquecido completamente quem era. Além disso, o personagem atinge a redenção por um caminho bem conhecido do espectador.

    Enquanto seu amigo Max Rosenbaum se sente realizado pelo seu ardil em se vingar de dois algozes ao mesmo tempo, o espectador talvez não se sinta da mesma forma. Tamanha construção narrativa poderia ter sido utilizada de forma mais interessante se a subversão pela subversão tivesse sido deixada de lado.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | O Filho de Saul

    Crítica | O Filho de Saul

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    Concorrente forte ao Oscar de melhor filme de língua estrangeira, O Filho de Saul narra uma história em Auschwitz-Birkenau, por volta de 1944, focando em judeus concentrados através dos olhos de Saul Ausländer (Géza Rohrig), um húngaro membro do Sonderkommando, que na prática é um grupo de presos que ajuda os soldados nazistas a organizar os cativos. O roteiro mostra o protagonista atrás de um objetivo que aos poucos se desenvolve, quase sempre de modo bastante silencioso, aspecto que faz eco com a falta de voz que os religiosos do judaísmo sofriam enquanto eram maltratados no período da Segunda Guerra.

    A direção de László Nemes é bastante inventiva, ainda mais para um iniciante em longas-metragens. É o estilo de filmagem que garante os piores defeitos da fita, já que em quase todo momento a câmera acompanha o movimento de Saul em busca de seu estranho objetivo, tentando emular sua obsessão em busca do objetivo que lhe cabe.

    A tentativa de apresentar planos contínuos sofre com a constante quebra do estilo, e soa cansativa pelo uso extensivo da técnica. A harmonia da história é quebrada, restando um preciosismo extremo, sensação completamente inversa da empatia que deveria imperar em um filme que apresenta uma faceta interessante sobre o holocausto.

    Piora a situação pelo desempenho de Rohrig, que varia entre o sujeito traumatizado e o homem com uma missão impertinente. Não há como sentir empatia pelo personagem, e a ambiguidade que deveria ocorrer no ideário acaba prejudicada pela incapacidade de equilíbrio entre atuação e direção. Há um potencial enorme a se explorar, desde o ingresso de Saul no limbo que ocorre em estar, Sonderkommando, e a clara dicotomia entre servir aos opressores e entregar seus comparsas, bem como em sua missão de tentar achar um rabino, para encomendar a alma de seu filho morto.

    Existe até uma tentativa de incorrer à possibilidade de stress pós-traumático, não deixando claro se a motivação do protagonista é real ou fantasia de sua mente já perturbada. O que segue pelas quase duas horas de filme – e que aparentam ser bem mais, dado o enfado que provoca no espectador – é uma trajetória retilínea, redundante e nada inovadora, que facilmente seria bem contada em um curta-metragem, e que teria muito mais impacto se houvesse uma preocupação em não apelar para alternativas gratuitas de filmagem, que resultariam em uma maior apreciação do produto e maior aderência e compadecimento ao sofrimento dos homens.

    A sensação que predomina em O Filho de Saul, tanto em métrica quanto em história, é a prepotência em contar de modo diferenciado um drama já muito alardeado pelo cinema mainstream, em nada diferenciado dos muitos filmes temáticos executados nos Estados Unidos.

  • Resenha | Segredo de Família

    Resenha | Segredo de Família

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    Segredo de Família, de Eric Heuvel, holandês e um dos grandes cartunistas e ilustradores da atualidade, chega ao Brasil pelas mãos da Quadrinhos na Cia. Heuvel tem formação em história e suas obras são conhecidas pela caráter educativo e o contexto histórico onde costuma retratar um pedaço da história da humanidade, e essa graphic novel trata exatamente disso.

    Na trama, conhecemos Jeroen, um jovem que vai até a casa de sua avó procurando objetos que possam ser vendidos no Mercado de Pulgas do Dia da Rainha, um evento especial na Holanda em que a população sai às ruas para aproveitar a música ao vivo, comes e bebes, além do próprio comércio de mercadorias usadas que são vendidas no mencionado Comércio de Pulgas.

    No meio das coisas de sua avó, Jeroen descobre um antigo uniforme policial holandês, uma estrela judia de tecidos, antigas fotografias e um álbum de recortes. Essa descoberta desperta uma série de lembranças e leva a avó de Jeroen a narrar a história de sua juventude em Amsterdam durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial.

    O roteiro de Heuvel traça um paralelo com a história de Anne Frank, adolescente alemã de origem judaica, que morreu aos quinze anos no campo de concentração de Auschwitz, vítima do holocausto. Apesar de alemã, Anne se mudou para Amsterdam em 1933, fugindo da ascensão nazista que crescia cada dia mais. Em Segredo de Família, a avó de Jeroen tem como sua melhor amiga Esther, uma judia alemã que também se muda para Amsterdam fugindo da Alemanha antes do início da grande guerra.

    Os pontos fortes da graphic novel são os relatos de acontecimentos históricos e os papéis que cada personagem desempenha nessa grande catástrofe mundial. Heuvel procura se abster de julgar as atitudes de cada um deles, evitando julgamentos morais. O traço cartunesco do autor é muito similar ao do belga Hergé (Tintim), o que não deve ser mera coincidência.

    Um grande trabalho que tem como tema central o holocausto; no entanto, deixa muito a desejar se comparado a obras como Maus.

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