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  • Resenha | Limit

    Resenha | Limit

    Limit é aquele tipo de mangá que, quanto menos você souber do que se trata, melhor, pois a história muda bruscamente logo no primeiro volume. Porém, a menos que o mangá caia no seu colo ou você compre por mero acaso do destino, preciso te dar um mínimo de informações sobre ele. Por outro lado, a mudança brusca é apenas um dos pontos positivos do mangá,que ocorre bem no início. Quando nosso editor me entregou os seis volumes publicados pela Editora JBC, nem vi a sinopse da capa. Já comecei a ler direto, e isso me trouxe uma surpresa interessante.

    Logo no início, temos uma aparente história de colegial japonês. A turma está animada por causa de uma viagem que acontecerá em breve. E aí começa tudo: o ônibus sofre um grave acidente, cai no meio de uma mata e praticamente todos os alunos morrem! Os poucos sobreviventes terão que se virar até que o resgate chegue… isso se realmente chegar.

    A situação extrema de sobrevivência trará consequências a todos. Por exemplo, a protagonista Mizuki Konno, que era totalmente indiferente em relação aos acontecimentos à sua volta, se vê forçada a interagir com seus colegas para sobreviver. O dito “mundo perfeito”dela, onde não havia necessidade de interações e preocupações, acabou. Quando a água bate, não tem jeito, ou você muda, ou morre (literalmente).

    Uma das colegas encontra uma pequena foice e a utiliza como instrumento de poder para  tentar subjugar as outras. No “mundo real”, ela era reclusa e desdenhada, a típica garota rekeitada da escola (e veremos que sua história pessoal é bem pesada, outro trunfo deste mangá: trazer temas sensíveis de uma forma muito competente).

    Um detalhe curioso é que todos os sobreviventes são garotas. Ou será que não?

    Diversas situações tensas ocorrem, e o fato de serem jovens estudantes traz ainda mais impacto. Nada comparado a Battle Royale, mas ainda assim, nas devidas proporções, é digno de nota.

    Precisamos destacar a belíssima arte, feita por Keiko Suenobu. O traço, as cenas, o ritmo da narrativa, tudo é muito bem desenvolvido e favorece o roteiro. Isso faz com que a leitura seja fluida e rápida. E como já mencionado anteriormente, alguns temas pesados são abordados de maneira orgânica, tal como violência doméstica.

    Cada personagem é muito bem construída, tendo personalidades definidas. O relacionamento entre eles são um verdadeiro turbilhão de altos e baixos. O título do mangá fez jus à sua história: uma situação extrema leva o ser humano ao seu limite. Parece ser uma obra pouco conhecida aqui no Brasil, o que é uma pena. Vale muito a leitura.

    Compre: Limit.

  • Resenha | Feridas

    Resenha | Feridas

    Feridas é protagonizada por duas crianças de 11 anos de idade. Poderia ser um fator que amenizaria as coisas. Poderia. Não foi, muito pelo contrário. A densidade foi inversamente proporcional à idade dos protagonistas, e isso impressiona.

    Keigo e Asato se tornam amigos na escola. Os dois garotos têm algo em comum: problemas familiares graves (um mais que o outro). Asato descobre ter um poder incomum de transferir feridas dos outros para si. A transferência pode ser total ou parcial. Ao longo do tempo, Asato desenvolve sua habilidade, tornando-a cada vez mais eficaz. E ele passa a agir de maneira cada vez mais altruísta, o que aparentemente é bom, mas existe um motivo obscuro por trás disso.

    Publicado pela JBC, Feridas é mais uma parceria excelente entre o artista Hiro Kiyohara (Another, Coin Laundry Lady) e Otsuichi, responsável pela história. A outra parceria, Só Você Pode Ouvir, segue um estilo parecido, onde uma história simples com elementos leves de fantasia serve como pano de fundo para assuntos mais profundos. Em Feridas, o acerto foi ainda maior.

    Este mangá é corajoso por colocar crianças em situação de vulnerabilidade no protagonismo. Keigo sofre agressões físicas constantes de seu pai alcoólatra, enquanto que Asato foi esfaqueado pela própria mãe. Sim, a obra faz jus ao título: não são meras feridas físicas. São feridas na alma e no coração. De duas crianças.

    Quanto mais Asato desenvolve seu poder, mais ele quer ajudar os outros. A consequência é carregar a ferida dos outros, e cada vez mais os machucados se acumulam. O pequeno Asato carregando feridas de inúmeras pessoas. Um fardo muito pesado para uma criança, não é?

    Keigo tenta apoiar o amigo, mas chega num ponto em que essa ajuda começa a ficar perigosa ao próprio Asato. Sendo o bom amigo que é, Keigo diz para ele parar de ajudar, caso contrário a própria vida estará em risco. Asato não interrompe seu ímpeto altruísta, e Keigo encontra uma solução que, obviamente, não vou contar.

    Aqui temos uma alegoria óbvia quanto ao poder de Asato. Uma criança, símbolo da pureza e inocência, tem uma espécie de poder divino capaz de ajudar os outros. Porém, Asato teve o corpo e a alma feridos pela própria mãe, o que, à primeira vista, tiraria a inocência do garoto. Ao mesmo tempo, coloca-o quase num patamar de mártir. Foi a real intenção de Otsuichi? Não sei, mas como dizem por aí, o artista perde o monopólio de interpretação a partir do momento em que publiciza sua obra. Esta é uma das visões possíveis.  Minha sugestão é que você leia o mangá e tire suas próprias conclusões, é uma obra que vale muito a pena pela forma como temas tão pesados são tratados.

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  • Resenha | Tsumitsuki: Espírito da Culpa

    Resenha | Tsumitsuki: Espírito da Culpa

    Hiro Kiyohara tem como obra mais conhecida o mangá Another. O artista japonês também produz diversas histórias curtas, contadas em volumes únicos, por exemplo Só Você Pode Ouvir, ou mesmo um compilado de esquetes bizarras (Coin Laundry Lady).  Aqui temos mais um exemplo de mangá em volume único: Tsumitsuki: Espírito da Culpa, publicado pela Editora JBC.

    Em uma cidade do interior do Japão, uma nova aluna, Chinatsu Takada, chega à escola. A jovem Takada, aos poucos, vai conhecendo as lendas locais, em especial sobre os tsumitsukis, espíritos que se alimentam do remorso humano. As coisas ficam mais sinistras quando Takada conhece Kuroe, um garoto que sabe muito sobre os tais espíritos. Os dias vão passando e coisas estranhas começam a acontecer na cidade. Mortes bizarras ocorrem e ninguém sabe a causa. Mas nós sabemos, claro: são os tsumitsukis.

    A ideia destes espíritos é interessante. Entidades que tomam o corpo da pessoa e, aos poucos, vai tomando seu controle, como se fosse corroendo a pessoa de dentro para fora. É semelhante a uma doença progressiva terminal, não há cura, não há escapatória, e cedo ou tarde você vai ser tomado por ela e morrer.

    Por vezes esquecemos que a história tem uma protagonista. Há foco em alguns núcleos narrativos que dão uma boa dinâmica. Kuroe acaba sendo o personagem mais interessante por seu ar misterioso. Apesar de não haver um desenvolvimento tão profundo, os personagens são bem definidos em suas convicções e personalidade na medida do possível, afinal é um mangá de volume único.

    Há um bom clima de suspense, aliando-se aos belos traços de Kiyohara e sua boa habilidade narrativa. A história se desenvolve bem, os personagens idem, apesar de não ser algo extraordinário. É o tipo de obra com ideias legais e história básica, o que não chega a ser algo ruim. Existem momentos tensos e impactantes, às vezes inesperados. Ponto positivo. De resto, a trama se mostra um pouco arrastada, mas não ao ponto de gerar desinteresse ou vontade de abandonar a leitura.

    Muitas pessoas podem olhar a capa, ler a premissa e esperar ler um mangá de terror. Não é. Existe suspense, momentos de horror, mas não espere algo assustador ou perturbador à la Junji Ito. Espere algo na linha de Another com alguns momentos sangrentos e grotescos. O resultado final é interessante, mas não memorável. Vale a leitura, especialmente aos apreciadores ou fãs do trabalho de Kiyohara.

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  • Resenha | Another

    Resenha | Another

    Dentre as várias obras de Hiro Kiyohara, provavelmente esta é a mais conhecida. Seguindo uma praxe em sua carreira, Kiyohara adaptou uma obra escrita para as páginas de um mangá. O autor da obra original é Yukito Ayatsuji, que não poupa elogios ao artista pela ótima adaptação que fez. Diz que houveram mudanças bem-vindas e adaptações dignas de nota. Estas declarações podem ser conferidas no último volume.

    Another tem uma atmosfera de suspense e terror envolvendo jovens estudantes de uma escola japonesa. O protagonista Sakakibara, ao ingressar no terceiro ano, começa a perceber atitudes estranhas de seus colegas, e dentre eles, uma solitária garota de tapa-olho, Mei Misaki. A trama se desenvolve em torno dos mistérios da Sala 3-3 onde Sakakibara e Misaki estudam. Há uma espécie de maldição que acomete aquela sala, matando alguns de seus integrantes. E a terceira turma do terceiro ano sofre desse mal há décadas.

    Existem diversos elementos interessantes na história. O primeiro deles é a dúvida de Sakakibara em relação a Misaki: ela está viva ou morta? Só ele enxerga a garota? São dúvidas que prendem a atenção do leitor e causam certa intriga. A narrativa é bem desenvolvida e, aos poucos, conhecemos um pouco mais da história de Misaki e sobre a famigerada maldição. Por mais que exista o elemento fantástico (maldição), a história se mantém muito próxima da realidade.

    Vale destacar a arte de Kiyohara, sempre muito boa e precisa, com grande habilidade narrativa. O artista consegue compor cenas bonitas com toques de macabro, nada aterrador ou bizarro do nível Junji Ito, até porque esta não é a proposta de Another. Aqui temos um quê mais psicológico, gerando inúmeras e constantes dúvidas sobre o que está acontecendo e sobre a própria sanidade dos personagens. Mas não se engane, existe cenas sangrentas no mangá, mas geralmente a violência não é tão explícita.

    A princípio, o mangá teria apenas 2 volumes, mas o artista insistiu que fosse mais prolongado, e no final das contas, conseguiu. A história é bem desenvolvida, com alguns detalhes sutis que se fazem importantes no final, e não há enrolações. Em sua maior parte, há um clima de mistério com pontuais momentos de humor. No geral, destaca-se a tentativa de descobrir os mistérios por trás dessa maldição. Há alguns momentos cansativos na leitura, mas nada que comprometa em demasia o resultado final.

    Vale destacar alguns subtextos interessantes. Sakakibara é órfão de mãe e seu pai é bem ausente, pois o jovem foi morar em outra cidade e acaba mantendo apenas esporádicos contatos via telefone. Sua figura materna acaba sendo Reiko, irmã de sua falecida mãe. Em relação a Misaki, há reflexões sobre ser ignorada e solidão, que será desenvolvido e justificado ao longo da obra.

    Foi um grande acerto da Editora JBC publicar Another aqui no Brasil. É uma obra conhecida pelos fãs de anime/mangá, e com razão. Temos muitas qualidades aqui, que às vezes parece apenas um “terrorzinho adolescente”, mas logo o estereótipo cai por terra. Além do que, o desfecho é visceral. As edições possuem páginas iniciais coloridas, outro acerto na edição brasileira.

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  • Resenha | Steins;Gate

    Resenha | Steins;Gate

    Rintaro Okabe, também conhecido como Okarim, é um Jovem excêntrico que se autoproclama como Cientista Maluco, conhecido como Hououin Kyouma, perseguido pela misteriosa Organização por sua grande “influência”. Seu sonho é criar invenções inovadoras para mudar a humanidade e assim se tornar um cientista rico e famoso. Junto a seus colegas de laboratório, Okabe e seus amigos formam a equipe que compõe o Laboratório de Experimentos do Futuro (Mirai Gajetto Kenkyūjo), onde passam grande parte do tempo tentando desenvolver seus inventos. Sua equipe é composta pela carismática Mayuri Shiina, amiga de infância de Okabe e também por Itaru “Daru” Hashida, seu colega da época do colégio. Quando não está no Laboratório, Mayuri trabalha em uma cafeteria local chamada Mayqueen Nyannyan e adora fabricar Cosplay como hobby. Já Daru é um ótimo programador, Otaku e um experiente Hacker. Em resumo, Mayuri é a musa do laboratório enquanto Daru é a mão de obra. A mais recente e promissora invenção do laboratório é o maravilhoso TeleForno, um forno de micro-ondas que pode ser controlado por celular. Mas infelizmente, a única coisa que consegue fazer é congelar comidas frias e transformar bananas em meleca. O TeleForno precisa de mais testes…

    Passado em 2010 na cidade de Akihabara no Japão, Steins;Gate conta o decorrer das conseqüências dos experimentos de Okabe, após conhecer Kurisu Mikase, jovem prodígio de uma universidade norte-americana, durante um simpósio científico, onde acaba encontrando a jovem morta de maneira misteriosa. Ao tentar contatar Daru, Okabe sente uma presença misteriosa, e descobre que sua realidade não é mais a mesma de segundos atrás. As pistas começam a aparecer quando um satélite aparece misteriosamente no prédio onde o simpósio aconteceria, e também quando a jovem Kurisu aparece viva bem na sua frente. Juntando as informações, Okabe e sua equipe (agora composta por Kurisu, apelidada de Cristina por Okabe) descobrem que qualquer aparelho telefônico ligado ao TeleForno acaba se tornando chave para o que vem a se tornar uma espécie de Máquina do Tempo, capaz de enviar uma mensagem para o passado, sendo possível modificar acontecimentos específicos e assim mudar o futuro, o atual presente dos personagens. Okabe também descobre que apenas ele possui a habilidade de se lembrar dos acontecimentos anteriores às mudanças feitas pelas mensagens, podendo identificar as diferentes linhas de tempo, o que o faz chamar sua habilidade de Reading Steiner.

    Tentando adquirir mais informações sobre o funcionamento da mensagem enviada para o passado, algumas experiências são realizadas, mas apenas Okabe parece capaz de observar as mudanças, sendo assim cada vez mais complicado de os resultados serem analisados, até mesmo quando as pesquisas de Daru descobre o envolvimento de um possível projeto da SERN, uma entidade governamental, sobre o mesmo assunto. Moeka Kiryū, uma moça que não desgruda de seu celular, tropeça com Okabe durante o incidente do simpósio enquanto procura pelo mesmo computador, se juntando ao grupo na esperança de conseguir a máquina para poder estudá-la. Nesse tempo, Mayuri descobre que a família de sua colega de trabalho, Feiris Nyannyan, uma menina que adora a cultura otaku de Akihabara, havia doado esse computador anos atrás para o templo local, templo este onde mora um amigo dos parceiros do Laboratório, o jovem Ruka Urushibara, um garoto freqüentemente confundido com uma garota por sua aparência andrógena e personalidade dócil e sensível. Ao conseguir o computador, os documentos são decifrados, e logo é descoberto que o TeleForno poderia ser a chave que todos procuram.

    Lançado em 2009 para o Xbox, o jogo em forma de visual novel Steins;Gate foi adaptado por Yomi Sarachi para Mangá no mesmo ano com 3 volumes, com uma arte limpa e simples que parece bem fiel a arte do jogo ao qual se baseia, também ganhando duas continuações por outros autores, uma adaptação em Anime em 2011 com 24 episódios, e um longa animado em 2013. Mesmo sendo personagens carismáticos no jogo, e aparentemente, mais explorados no anime, o mangá deixar claro quem são os personagens principais, pois sua trama é centrada na relação entre Okabe e Kurisu, e, mesmo assim, parece apressado demais em seu desenvolvimento. Com enredo denso e complicado, e mudanças bruscas em certos pontos da estória, o mangá tem problemas sérios em alguns núcleos, deixando os personagens secundários em um segundo plano tão forte que quase parecem desaparecer, aparecendo apenas em momentos chave para a estória avançar. A velha técnica do “ele estava aqui o tempo todo, você apenas não tinha percebido”.

    A trama ainda contém traços semelhantes ao do filme Efeito Borboleta, de 2004, porém evoca uma premissa mais voltada à ciência do que para o sobrenatural. Talvez seja também adequado comparar com o enredo do conto “O som do trovão” (1953), de Ray Bradbury, que também possui a premissa de que uma mudança feita no passado modifica a linha temporal presente, por menor que elas sejam, envolvendo os personagens em diversas ocasiões em que seria necessária uma visita ao passado para tentar modificar algo que teria dado errado causando uma mudança drástica em seus futuros, assim sendo necessária uma nova viagem para concertar os acontecimentos divergentes. E, assim como no conto e no filme de 2004, pesar de também presente o fenômeno conhecida como Paradoxo Temporal, (fenômeno que teoriza a viagem do tempo se tornando nula uma vez que ela é feita apenas para mudar um evento, pois, assim que o evento é desfeito, a viagem se torna desnecessária), este não parece afetar o personagem principal, dando assim maior conexão deste com a estória e as viagens que são feitas ao longo do enredo. Apesar das semelhanças, as motivações dos personagens são claramente diferentes, porém, uma obra não anula a outra, talvez uma pessoa se identifique mais com a história japonesa de enredo científico, talvez o romance fantástico sobrenatural de 2004 seja mais atraente, ou quem sabe o inventivo conto de Bradbury seja ainda mais interessante.O Mangá de Steins;Gate foi publicado no Brasil em 2015 pela Editora JBC também em 3 volumes.

    Texto de Bruno Gaspar.

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  • Resenha | Só Você Pode Ouvir

    Resenha | Só Você Pode Ouvir

    Ryo tem dificuldades em se comunicar com as pessoas, inclusive colegas de escola. Todos possuem um celular, menos ela. Seu desejo em possuir um vai aumentando a cada dia. Aumenta até o ponto de ela criar um celular imaginário. Até aí, nada de mais. As coisas mudam quando ela decide tentar ligar para números aleatórios… e alguém atende.

    O título da obra já é sugestivo, apenas Ryo ouve o celular imaginário (por motivos óbvios). Porém,  cria fortes vínculos com duas pessoas  via telefonia imaginária: uma mulher de quase 30 anos de idade e um rapaz um ano mais velho que ela. Interessante que a mulher será uma espécie de conselheira de Ryo, inclusive para ajudar no relacionamento com seu novo amigo.

    O elemento fantasioso  serve para destacar a parte humana da história, especialmente a solidão. Ryo sentia uma solidão constante por sua dificuldade em se comunicar. A garota sequer gosta da própria voz. Quando inicia a comunicação com os novos amigos, ela visivelmente se torna mais feliz. Cria laços com seus novos amigos imaginários (?) e vai se abrindo aos poucos. Em determinado momento, ela faz um teste para confirmar se estas pessoas são reais.

    Este é um dos vários exemplos de história simples e bem contada. O roteiro de Otsuichi, foi baseado no conto Carta de Amor, de Jack Finney. Ele é bem modesto ao afirmar que sente vergonha de ter escrito este roteiro, mas descarrega todos os elogios ao artista Hiro Kiyohara que deu vida à trama nas páginas de mangá. E merecidamente, pois Kiyohara possui um traço belíssimo e muita qualidade narrativa.

    Ao longo da narrativa, Ryo passa a refletir sobre diversos assuntos, e o leitor, inevitavelmente, a acompanhará. A solidão é tratada com muita sensibilidade, sem melodramas ou forçações de barra, muito pelo contrário. Neste ponto, a obra é muito pé no chão e muitos leitores poderão se identificar com as situações e sentimentos vivenciadas por Ryo. A leitura é bem leve, com poucos textos por quadro.

    De uma premissa simples depreende-se um desfecho emocionante e profundo. Uma bela obra em volume único publicado pela Editora JBC.

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  • Resenha | Socrates in Love: O Amor Sobrevive ao Tempo

    Resenha | Socrates in Love: O Amor Sobrevive ao Tempo

    Quem julga este mangá pela capa está cometendo um erro grave. Traço leve, cores claras, casal apaixonado, tudo leva a crer que será mais uma historinha de amor. Não desta vez.

    Socrates in Love é uma adaptação em mangá do best-seller homônimo do autor japonês Kyoichi Kakayama. A proposta é mostrar o lado “ruim” do amor, ou seja, o sofrimento e a parda. Não é uma ideia nova, mas é feita de maneira competente. Nas palavras do próprio autor, a ideia surgiu quando se deparou com a seguinte frase em um livro de filosofia: “o amor é uma forma de violência que obriga as pessoas a pensarem”.

    Nas primeiras páginas, o protagonista Saku está arrasado porque uma pessoa importante morreu. Isso mesmo, o autor joga na sua cara logo de início e dá o tom da narrativa. Isso poderia tirar o impacto da obra, mas basta lembrar de outros exemplo, como o maravilhoso longa de animação japonesa O Túmulo dos Vagalumes, para saber que, quando a história é bem construída, o impacto virá de qualquer jeito.

    A pessoa em questão é Aki, o primeiro amor da vida de Saku. Os dois se conhecem na escola e passam a cultivar uma relação.  Ambos descobrem o amor juntos e se apaixonam cada vez mais. Porém, já sabemos o que acontecerá no final. Mas como acontecerá? Qual será a causa da morte? De que forma ambos lidarão com isso? É nesse ponto que o impacto acontece.

    Todos os momentos de alegrias e tristezas são retratados de forma belíssima pela artista Kazumi Kazui. Interessante notar que o traço de Kazui é um meio-termo entre delicado e firme. Os personagens possuem olhos grandes, mas o contorno é um pouco mais grosso, e juntando com a boca, resulta em rostos menos delicados que o padrão. Em contrapartida, isso não mitiga a retratação das emoções, muito pelo contrário. Ao longo da narrativa, há uma montanha-russa de emoções do casal, sejam felicidades grandes, sejam momentos de partir o coração.

    A história poderia ser um melodrama apelativo que termina em morte, resultando no impacto pelo impacto. Felizmente, não é o caso. Toda a história é desenvolvida de forma que o leitor criará empatia pelos personagens. As situações banais ajudam nesse desenvolvimento e não se tornam cansativas. Aquele lenga-lenga de casal novo é deixado de lado, muito diferente do que acontece em Ore Monogarati, por exemplo. Por mais que Saku e Aki sejam jovens e estejam descobrindo o amor, existe um toque de maturidade narrativa. A partir da segunda metade do mangá, o clima se torna cada vez mais pesado.

    Quando Saku está narrando a história, optou-se pelo fundo preto e letras brancas. Além da óbvia ideia de luto, também podemos interpretar como a ideia de tristeza ou mesmo de um maior teor reflexivo da narração. Por vezes, a narrativa ocupa quadros inteiros ao invés de pequenas caixas dentro da cena. São os momentos que enfatizam mais as emoções do personagem.

    Talvez este mangá passe batida por muita gente, ainda mais com a capa “fofa” e o nome “love” no título. O livro original, aparentemente, é desconhecido aqui no Brasil, mas só temos a agradecer à Editora JBC por trazer este mangá para nós.

    Compre: Socrates in Love.

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  • Resenha | Prophecy

    Resenha | Prophecy

    Prophecy mostra a relação entre a sociedade e a internet. Muito mais do que uma simples ferramenta, é um ambiente em que qualquer um pode expor suas opiniões. Algo que pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal, principalmente sabendo da facilidade do anonimato. Do simples comentário à disseminação de ódio e idolatria de atos cruéis, tudo pode ser glorificado pelos corajosos anônimos por detrás do monitor.

    Eis que um sujeito com máscara de jornal posta vídeos na internet dizendo que vai punir determinadas pessoas ou entidades. O motivo? Fazer justiça, talvez. Uma justiça torta ou justificável? Impossível não lembrar das convicções ideológicas de Light Yagami, o protagonista de Death Note, mas em menor proporção, afinal, mesmo cumprindo suas punições, se restringe a pouquíssimas “vítimas”.

    A trama se desenrola basicamente em dois núcleos: o vilão, apelidado de Homem-Jornal (ou simplesmente Jornal) e a divisão da polícia que investiga crimes cibernéticos. A narrativa é dinâmica, não há muita enrolação e, ao longo dos três volumes publicados pela Editora JBC, os detalhes e motivações vão sendo revelados pouco a pouco. Podemos dizer que há um bom desenvolvimento dos personagens, o que não significa algo extremamente profundo. São personagens que cumprem seu papel na história, mas nenhum deles irá marcar o leitor e ser lembrado posteriormente. Talvez a figura do Jornal.

    Um ponto interessante é a expressa referência às mídias sociais reais. Além do que, em diversos momentos são mostrados a reação do público em relação aos atos do Jornal, e a tradução tomou o cuidado de manter uma linguagem típica da internet, com abreviações, palavrões e sequências de letras simulando risadas. São elementos que aproximam a história da nossa realidade e nos faz lembrar de nossas próprias experiências na internet.

    A narrativa é eficiente e consegue manter o interesse do leitor até o fim, mesmo que o desfecho não seja apoteótico ou memorável. Talvez não tenha sido essa a intenção do autor Tetsuya Tsutsui, mas de forma geral, conseguiu montar uma história verossímil. A sobriedade se reflete no traço firme do autor, que procura não utilizar um viés mais caricato, típico de alguns mangás. As suas escolhas de enquadramentos buscam o tempo inteiro dizer algo para além da trama e de seus personagens, demonstrando bastante maturidade, ao menos do ponto de vista gráfico. Para quem procura um mangá mais pé-no-chão, terá uma leitura agradável.

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  • Resenha | Hellsing

    Resenha | Hellsing

    Dinâmico, gráfico e um dos responsáveis pela mudança na narrativa do seu gênero, Hellsing é um mangá de ação publicado originalmente em 1997, escrito e ilustrado por Kouta Hirano. Publicado no Brasil pela editora JBC, a compilação de 10 volumes seguiu o modelo de tankôbon já publicado pelo autor, formato em que cada volume conta com diversos capítulos e serve como uma publicação independente. Os volumes contam com bastante qualidade gráfica e reproduzem com fidelidade o material elaborado por Kouta. Além disso, é preciso elogiar os extras em cada edição, que não apenas contam com comentários e piadas do próprio criador, mas também trazem histórias adicionais do mesmo universo, produzidas antes que ele tivesse mais coesão.

    O foco da história é na Ordem Real dos Cavaleiros Protestantes, a Hellsing, organização secreta fundada por Abraham Van Helsing, o mesmo personagem do livro do Bram Stoker. O principal objetivo da organização é a defesa da Inglaterra de forças sobrenaturais, atuando onde o exército tradicional não consegue. A sua principal arma é um vampiro, Alucard, que serve fielmente a Integra Hellsing, herdeira da organização. Posteriormente, outras organizações aparecem, como a Iscariot, divisão do Vaticano com os mesmos fins, e a Millenium, uma divisão sobrenatural de soldados nazistas que conseguiram fugir da guerra e procuram estabelecer uma guerra eterna.

    A principal qualidade do mangá é a forma com que ele consegue desenvolver a história. O seu ritmo, baseado nos filmes de ação da época, funciona bem em conjunto com a ação frenética e desenfreada. Diferente de outros mangás, o autor não se preocupa em explicar minuciosamente todos os elementos ou estabelecer um sistema verossímil de poderes. O importante não é como o universo funciona, mas sim o que está acontecendo nele. Essa acaba sendo a principal contribuição de Hellsing para os mangás: trazer uma narrativa ocidentalizada e mais dinâmica para o gênero. Outro aspecto interessante é que, apesar do autor falar que Hellsing teve início como um mangá erótico, a única dica disso é na tensão sexual presente entre alguns personagens, sem necessariamente ser retratada graficamente. A única parte visual que se faz questão é a violência, tendo direito a empalamentos, decapitações e outros elementos que são os principais motivos para o mangá ser indicado para maiores de idade.

    Dos problemas, o principal é a exaltação aos nazistas, muito mais presente nas partes extras do que necessariamente na história. O autor em alguns momentos faz alguns comentários e desenhos desnecessários de suásticas que poderiam ser encarados como preocupantes, apesar do tom de piada. Os traços também podem gerar alguma confusão, principalmente nos momentos em que muito elementos aparecem na página, mas não é algo que está presente em todos os momentos do mangá.

    É importante falar que Hellsing é um produto da sua época e vários elementos gritam isso. O traço utilizado pode ser encontrado em diversas produções contemporâneas, algo que o próprio autor deixa claro ao compará-lo com Trigun, lançado dois anos antes. Além disso, a temática utilizada, de um universo sombrio povoado por criaturas sobrenaturais era lugar comum na década de noventa. Não à toa que Buffy: A Caça-Vampiros, O Corvo e Entrevista com o Vampiro são produções lançadas nesse mesmo período. Até mesmo o nome dos capítulos pode acabar datando o período de produção, já que são baseados em jogos da época, e incluem claras referências para o autor. Como é o caso de Castlevania, que não apenas divide a temática de criaturas sobrenaturais, como o próprio nome do personagem principal do mangá é o mesmo que o de um dos personagens do jogo, sendo Drácula escrito ao contrário.

    Pelas características já faladas, Hellsing é um mangá de leitura fácil e descomplicada. Acaba sendo uma ótima opção para uma leitura depois do trabalho, já que não precisa de muito raciocínio pra ser compreendido, tal qual os filmes blockbusters de onde vem a inspiração para o seu ritmo. A única diferença é que eu não recomendaria pedir uma pizza e se entreter, já que a gordura pode acabar estragando as páginas.

    Texto de autoria de Caio Amorim.

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  • Resenha | O Cão de Caça e Outras Histórias

    Resenha | O Cão de Caça e Outras Histórias

    Um dos pilares do terror e horror ao lado de Edgar Alan Poe, H. P. Lovecraft sempre instigou a imaginação de seus leitores. Com uma predileção pelo horror sobrenatural, em narrativas sempre marcadas por personagens-observadores diante de assombros, o autor se consolidou como um dos mestre do gênero e ainda hoje é reverenciado em diversas publicações em editoras diversas.

    Como é comum a grandes autores, suas narrativas também ganham outros formatos demonstrando a queda de barreira de interpretações artísticas. Lançado pela JBC em dezembro de 2015, O Cão de Caça e Outras Histórias foi o primeiro e único lançamento de Gou Tanabe no país. A obra reúne três histórias de Lovecraft, desenhadas e adaptadas pelo mangaká.

    A primeira dificuldade enfrentada pela adaptação é transformar uma narrativa subjetiva em uma versão objetiva dos fatos. Muitos contos do autor são escritos em primeira pessoa, relatos de um observador parcial que compartilha com o leitor sua experiência. Dessa forma, o horror é construído parcialmente no texto e completado pela imaginação do público. Embora as descrições configurem as formas, é o leitor que cria o espetáculo visual em sua próprio imaginação. Transpor uma narrativa desse estilo para desenhos, inicialmente, diminuem o escopo de interpretação. Consequentemente, as histórias também perdem impacto.

    Para o leitor que a partir desse mangá descobre Lovecraft, será possível ponderar alguns temas em comum de sua obra como a loucura dos homens, o universo desconhecido como algo assustador e outras manifestações sempre aliadas a impressões parciais, responsáveis por atingir o leitor em cheio. As três histórias apresentadas na edição, O Templo, O Cão de Caça e A Cidade Sem Nome transitam por esses polos de maneira respeitosa e correta com a obra. Mas estão longe de causar o impacto necessário para reverenciar com qualidade um dos grandes autores do gênero.

    Ainda que se reconheça um bom potencial nas tramas, bem como situações que hoje são exploradas em excesso por filmes de terror americano, O Cão de Caça e Outras Histórias é uma daquelas adaptações formais em excesso, funcional pelo valor que a obra original possui, mas quase sem nenhum valor próprio extra além da homenagem.

    Compre: O Cão de Caça e Outras Histórias.

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  • Resenha | All You Need Is Kill

    Resenha | All You Need Is Kill

    All You Need is Kill foi lançado originalmente em 2004 no formato light novel, muito difundido em terras nipônicas. A obra tem como autor Hiroshi Sakurazaka e ilustrações de Yoshitoshi Abe (conhecido por Serial Experiments Lain). Em 2014, a obra ganhou uma adaptação hollywoodiana (No Limite do Amanhã) e um mangá. É sobre este que falaremos agora.

    Tudo acontece em um futuro onde alienígenas invadiram a Terra. Batizados de Mimetizadores, eles iniciam a destruição da humanidade sem dó, nem piedade. Para tentar combater os monstros, foram criadas forças especiais onde os soldados utilizam armaduras mecanizadas que, além de protegê-los, garantem força extra para os combates.

    Keiji Kiriya se vê preso em um loop temporal onde revive um mesmo período continuamente. O loop começa quando Keiji está deitado na cama, e termina com sua morte em batalha no dia seguinte. Após cada morte, o loop se reinicia e ele vivencia tudo de novo. Porém, com as repetições, ele vai, aos poucos, deixando de ser um soldado inexperiente e ganha muita força e habilidade. E claro, a cada loop, tenta descobrir o motivo pelo qual essa anomalia temporal está acontecendo. Outra personagem de destaque é a americana Rita Vrataski, a combatente mais habilidosa do mundo. Rita foi ao Japão com sua equipe e lá seu caminho irá se cruzar com o de Keiji.

    De início, devemos destacar a excelente arte de Takeshi Obata (Death Note, Bakuman), que dispensa elogios. O artista tem um excelente traço e constrói muito bem as cenas. Em alguns poucos momentos de combate, elas ficam um pouco confusas devido ao excesso de traços, mas nada que comprometa a qualidade final da obra. Alguns quadros merecem ser observados por longos instantes.

    Se analisarmos a sinopse da história, não vemos nada de inovador. Diversas obras já mostraram invasões alienígenas, loops temporais e soldados com armaduras mecanizadas. Mesmo assim, a junção dos elementos criou algo interessante e bem narrado pelo roteirista Ryosuke Takeuchi. A história se desenvolve muito bem, tem ótimo ritmo e consegue manter a qualidade ao longo dos dois volumes.

    A questão principal do mangá é a tentativa de Keiji descobrir o motivo pelo qual os loops acontecem. É bizarro notar que ele se acostuma com a morte após sucumbir dezenas de vezes. Mas isso não será a única coisa que afetará o jovem soldado. Rita fará parte da trama e acaba sendo um pouco mais interessante que Keiji.

    Temos aqui um bom produto lançado pela Editora JBC. Não é a obra mais original do mundo, mas é bem feita e funciona muito bem como entretenimento. Ao invés de tentarem maluquices extremamente complexas usando os loops temporais, optaram por fazer algo mais simples, o que é um ponto positivo. O desenvolvimento tem um quê de complexidade, mas a resolução é simples e funcional. Essa é uma boa qualidade da obra: simples, mas não simplista.

    Compre: All You Need Is Kill.

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  • Resenha | Coin Laundry Lady

    Resenha | Coin Laundry Lady

    Ao longo de sua carreira, o artista japonês Hiro Kiyohara, autor de Another, fez alguns capítulos bem curtos sobre uma garota que vivia numa lavanderia. Tudo isso foi compilado em Coin Laundry Lady, lançado no Brasil pela Editora JBC em volume único, incluindo páginas coloridas.

    Primeiramente, parabéns pela coragem, JBC. Este é um mangá que tem um potencial gigantesco de ser odiado por grande parcela do público, e mesmo assim lançaram por aqui. Digo isso porque esta obra aposta em um tipo de humor muito peculiar, nitidamente voltado para o público japonês, sem muito apelo aos leitores de outras culturas. Explico.

    Por se tratar de inúmeros capítulo curtos e fechados, inexiste uma sequência narrativa de uma história maior. Não há muita conexão entre os capítulos, a não ser os locais e personagens. Isso se justifica pela forma que o autor concebeu esta obra, fazendo capítulos esporadicamente. Me parece algo despretensioso, feito pela diversão, mas que deve ter agradado algumas pessoas, caso contrário não teria sido compilado em um volume único de quase 200 páginas.

    No decorrer da leitura, fui atravessando os capítulos sem grandes esforços, sendo os belos traços de Kiyohara o ponto mais forte da obra. Quanto à história em si, nada mais é do que um compilado de loucuras aleatórias, sem muito sentido, mas que estavam minimamente divertidas. Os capítulos curtos ajudam a manter o ritmo de leitura. Não é o tipo de mangá que se lê de uma só vez, visto a falta de uma história central. Não há nada extremamente engraçado que arranque gargalhadas. Não me pareceu essa a intenção do autor. Por outro lado, as situações absurdas e aleatoriedades são engraçadinhas e renderam alguns sorrisos.

    Sugiro cautela em relação a este mangá. Quem não é acostumado aos quadrinhos orientais tem 97,9% de chance de detestar Coin Laundry Lady. Vejo inclusive uma boa parcela de leitores assíduos de mangás que podem reprovar esta obra. Recomendo apenas para quem busca uma leitura casual, “desliga-cérebro”, que apenas quer ler algo bem desenhado sem grandes tramas ou narrativas. Este é aquele mangá que não pode ser levado a sério em momento algum e, no final das contas, é um passatempo mediano.

    Compre: Coin Laundry Lady.

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  • Resenha | O Homem que Foge: Nigeru Otoko

    Resenha | O Homem que Foge: Nigeru Otoko

    Este mangá de volume único lançado pela Editora JBC é vendido como “um conto de fadas para adultos”. Tal definição é controversa e soa bem pretensiosa, muito semelhante à obra em si. A artista japonesa Natsume Ono aposta em um traço diferente da maioria dos mangás e numa narrativa com poucas falas. Por conta disso, O Homem que Foge não vai agradar todo mundo (e foi este o meu caso).

    É possível ler as 200 páginas em poucos minutos devido às poucas falas. A autora mantém um ritmo narrativo com muitos quadros mudos, o que dá muita agilidade e dinamismo à obra. No entanto, ainda que isso seja um de seus maiores méritos, talvez seja o seu maior defeito: o minimalismo não funcionou tão bem, tornando a história vazia e pueril durante boa parte de seu desenvolvimento.

    Na trama, existe uma lenda em que um urso habita a floresta local e somente crianças podem vê-lo. Quem passar um dia inteiro com esse urso terá um desejo realizado. E o tal “homem que foge” está relacionado a esta lenda.

    A história é voltada a um público adulto e mais maduro. A questão debatida aqui é a fuga dos problemas e o “eu contro o mundo”, e isso realmente é discutido de forma interessante. Entretanto, não há um grande desenvolvimento nesses temas e muitas coisas são deixadas em aberto. Algumas pessoas vão enxergar profundidade, introspecção e reflexão na história. Eu vejo uma tentativa de enganar o público, tal como alguns “jogos artísticos” ou filmes que não entregam nada e fingem ter discussões profundas quando, na verdade, te oferecem um fiapo de história que pode ser interpretado de infinitas formas. Assim fica fácil ter diversas interpretações.

    Ao longo dos cinco capítulos, pouca coisa relevante é mostrada, e só há um desenvolvimento real nas últimas páginas. É muito estranho passar dezenas de páginas e não ter muito o que se discutir. O próprio estilo de arte remete a isso, traços finos e que parecem não ter qualquer arte-finalização, quase feito às pressas, repleto de rabiscos e traçados tremidos e bastante simplificados. Isso foi claramente proposital, basta ver a obra anterior de Ono, House of Five Leaves, onde os desenhos possuem melhor acabamento. De certa forma, as ilustrações “desleixadas” fazem sentido dentro do contexto do mangá, ainda que cause um certo incômodo e até mesmo artificialidade dentro da própria proposta da autora.

    Recomendo esta obra com ressalvas. Por mais que existam sutilezas e aspectos interessantes — principalmente em sua conclusão —, O Homem que Foge promete muito e entrega pouco, soando bastante vazio no final das contas. A obra tenta fugir dos mangás convencionais, o que é um mérito, mas se mostra pretensiosa. Consigo ver pessoas gostando do mangá, mas definitivamente não é para todo mundo. Se tiver oportunidade, leia, tire suas próprias conclusões, vai demandar poucos minutos do seu tempo e, quem sabe, a história consiga falar algo pra você.

    Compre: O Homem que Foge: Nigeru Otoko – Natsume Ono.

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  • Resenha | Level E – Vol. 1

    Resenha | Level E – Vol. 1

    Do mesmo autor de Hunter x Hunter e Yu Yu Hakusho, Level E é um mangá repleto com os traços característicos desse autor, que cria histórias carregadas de densidade em uma trama séria que prende a atenção e simultaneamente divertem, com vários elementos de humor que aliviam e equilibram muito bem essa história entre humanos e alienígenas. Publicado pela Shonen Jump pela primeira vez de 1995 a 1997 (acredito que um pouco depois de ter terminado Yu Yu Hakusho) e sendo lançado atualmente pela editora JBC em três volumes.

    Com pouca ênfase no desenho dos cenários (ainda que os que apareçam sejam muito detalhados) e nas cenas de luta, o foco é completo nos personagens que, por mais que os traços não sejam inteiramente únicos (ou incrivelmente incomuns), é evidente o empenho do mangaká ao dar ênfase nos sentimentos e nas expressões de cada um deles. Poucos mangás que já passaram pela minha mão foram capazes de passar de maneira tão precisa os detalhes faciais de cada personagem, seja quando estão irritados, indiferentes, tristes ou preocupados. Sem contar, claro, que desde Hunter x Hunter eu tenho certeza de que não existe alguém capaz de desenhar rostos tão ameaçadores quanto a dos personagens de Togashi:

    Level E

    Afora isso, gostaria de comentar também sobre seus personagens. Com bases e personalidades consistentes, todos eles carregam características únicas e, algumas vezes, inusitadas. Seja o personagem briguento que entende dos assuntos de marginais, mas que no fundo é uma boa pessoa ou o príncipe dos alienígenas que age feito uma criança mimada e é uma dor de cabeça para todo mundo. Todos eles carregam peculiaridades que divertem (ou irritam). Sem contar a inevitável atribuição de um misto de humano e excêntrico presente nos E.T.s da história que muito provavelmente te faz duvidar qual deles é o que tem mais sentimentos.

    Outro aspecto interessante é uma linha muito tênue posta entre o bem e o mal. Afinal, os alienígenas estão na Terra e é nela que a história se passa. Nesse contexto, muitos não são realmente criaturas agradáveis ou até mesmo amigáveis, mas a principio o autor deixa claro que, às vezes, certos acontecimentos não são guiados pela maldade – ou pela loucura -, mas sim por algo incontrolável e a falta de escolhas, descobrindo que alguém que muitas vezes você acha que é o vilão da história é, na verdade, apenas mais uma vítima de algo que vai muito além.

    Para finalizar, devo dizer que o primeiro volume mostra dois aspectos de um mesmo universo e nos apresenta uma história rica que promete muito para os dois volumes seguintes. Um mangá repleto de detalhes que lidam com a coexistência entre duas naturezas discrepantes, mas que ainda assim carregam similaridades. Sem contar, claro, que o único motivo de uma das raças alienígenas mais perigosas que já destruíram inúmeros outros planetas viverem pacificamente na Terra é: baseball. Com isso dito, deixo minha recomendação para todos que procurem um ótimo e curto mangá para acompanhar.

    Texto de autoria de Thiago Suniga.

  • Resenha | Death Note: Another Note – O Caso dos Assassinatos em Los Angeles

    Resenha | Death Note: Another Note – O Caso dos Assassinatos em Los Angeles

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    Um aspecto interessante da vertente virtual do atual mercado de entretenimento é a aproximação entre produtores e consumidores, sobretudo por meio das redes sociais. Os comentários lançado no Twitter de um autor de nosso agrado, por exemplo, tende a revelar traços desconhecidos de sua personalidade. Em especial, é interessante descobrir que, como nós, esses realizadores são também consumidores que admiram determinadas pessoas e se inspiram em determinadas obras. No mundo dos animes e mangás, é bastante comum que autores citem e comentem obras de terceiros, seja na mídia impressa, “oficialmente”, ou no meio digital, de modo mais pessoal.

    O aclamado novelista Ryohgo Narita, autor dos sucessos Baccano! e Durarara!! é um exemplo apropriado, não apenas por comentar regularmente séries que acompanha, como Fate/Zero e Bleach, em seu Twitter (@ryohgo_narita), mas principalmente por ir um pouco além em sua apreciação, deixando de ser um mero consumidor para tornar-se criador. Em suma, Narita, além de idealizador de seus próprios títulos, é também um autor de fanfics (fan fiction, ficção de fãs), ou seja, alguém que escreve estórias se apropriando de outro universo ficcional, podendo ou não usar personagens já estabelecidos. Entretanto, por ser um autor de renome – embora a qualidade de seus contos, poucas vezes encontrada nesse tipo de escrito, não deva ser ignorada –, Narita consegue o que para a maioria dos fãs é um mero sonho: publicar oficialmente essas estórias. Suas light novels Toaru Jihanki no Fanfare, que se passa no amplo cenário da franquia To Aru Majutsu No Index, e Spirits Are Forever With You, uma side-story do sucesso mundial Bleach, receberam elogios, apoio e colaboração dos criadores originais, Kazuma Kamachi e Kubo Tite, respectivamente, e alcançaram o feito de serem canonizadas, ou seja, tornarem-se parte oficial desses universos. E este é apenas um entre inúmeros casos. O notório novelista Nisio Isin (NisiOisiN) foi igualmente feliz ao publicar, em 2006, Death Note – Another Note: O Caso dos Assassinatos em Los Angeles, intrigante história ambientada no realístico mundo de um dos mais populares mangás da década passada, Death Note, de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata.

    Narrado em forma de notas por Mihael Keehl, o Mello, um dos mais importantes personagens da por muitos odiada segunda fase da história original, o livro consiste num relato informal sobre um evento citado uma única vez pelos idealizadores de Death Note. Embasado na afirmação feita no segundo volume do mangá por Naomi Misora, agente reformada do FBI que protagoniza uma das mais interessantes passagens do roteiro de Ohba, que diz já ter trabalhado com o misterioso L, o maior detetive do mundo, anos antes do maníaco Kira começar a agir (informação aparentemente irrelevante, esquecida ou simplesmente relevado por muitos leitores), o autor criar um thriller policial nos moldes clássicos, desafiador e imprevisível, destrinchando o caso em que L e Misora trabalharam juntos para deter o metódico serial killer conhecido como Beyond Birthday, o Caso dos Assassinatos em Los Angeles.

    A premissa, extraída de uma minúscula brecha deixada no material original, já demonstra a criatividade e habilidade textual de Nisio Isin, atestada a cada frase e parágrafo de (quase) todo o livro. Deixando de lado os ostensivos diálogos de muitas camadas, que perduram por páginas a fio e caracterizam seus maiores sucessos, com destaque para a série Monogatari (da qual já forma adaptados televisivamente os volumes de Bakemonogatari e Nisemonogatari, tendo Kizumonogatari sido anunciado como longa-metragem com previsão de estreia ainda para 2012), nesta obra temos um Isin bastante descritivo, que se certifica de expor em detalhes os cenários e ocorridos, soltando pistas para que, como em qualquer bom livro detetivesco, o leitor reúna em sua mente as peças do quebra-cabeça e, caso capaz, desvende-o antes do término das 173 páginas que compõem o romance.

    Engenhoso nos assassinatos e cenas de crimes, o autor desenvolve um sagaz e obscuro jogo intelectual entre o assassino e os detetives, esporadicamente aliviado por pitadas de humor negro e sarcasmo do onisciente narrador, e diálogos afiadíssimos, quase embates verbais entre dupla, ou melhor, trio de personagens que preenche a narração. Deixando-nos cientes das regras e perto das respostas (mas nunca perto o bastante) o romance se mantém interessante até a conclusão. Mas, infelizmente, apenas até a conclusão do caso em si, sucedida por um verborrágico e desnecessário epílogo, que destoa por completo do restante deste belo suspense.

    Embora não seja impecável, Death Note: Another Note – O Caso dos Assassinatos em Los Angeles é, em meio a tantas iniciativas infelizes que infestam os mundos do cinema e dos quadrinhos, um excelente prelúdio do mangá, recomendado a todos os seus fãs. Com um preço nada amigável (R$ 29,90), o livro foi lançado em nossas terras pela Editora JBC. E mesmo que a edição não faça valer o valor exibido na capa, o conteúdo certamente o faz.

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.