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  • Resenha | Batman: A Queda do Morcego – Volume 1

    Resenha | Batman: A Queda do Morcego – Volume 1

    Quem não gosta de um bom arco de personagem? Ainda mais quando ele é um vilão, sejamos honestos. Na terra do Batman, o Coringa sempre ganha os holofotes, trabalhado em oitenta anos por uma miríade impressionante de talentos. Mas em 2012, Christopher Nolan (após ter entregue o mais inesquecível dos palhaços do crime) teve a chance de mudar isso, e nos entregar um Bane a altura do Cavaleiro das Trevas – não como o seu oposto, brincando com todo esse maniqueísmo da cultura pop, mas ameaçador o bastante para, literalmente, quebrar o guardião de Gotham. Falhou, e nas suas mãos Bane virou apenas um terrorista egocêntrico falando igual o Darth Vader. Na sua abordagem hiper-realista, Nolan não se permitiu explorar pra valer um dos mais interessantes antagonistas do Batman, mas está tudo bem: temos um A Queda do Morcego para chamar de nosso.

    Neste primeiro volume publicado pela Panini Comics no Brasil, nota-se o esforço bem-sucedido de se criar um A Piada Mortal mais colorida e aventuresca para Bane. Em suas profundas origens escritas por Chuck Dixon e outros, o arquétipo do vilão é moldado para justificar o seu caráter não-diabólico por natureza, e sim o puro reflexo de toda a dor e tortura que o garoto, e depois o homem, passou. Em A Queda do Morcego, temos menos Batman e mais Bane, desde o seu nascimento na prisão de Pena Duro, em um país caribenho esquecido por Deus. Crescido entre os piores tipos, o menino viu a cara da morte muito antes de ter pelo no peito e viu também a ruindade como única moeda quando se mora no inferno. Enclausurado, Bane atingiu o limite do físico e do intelectual, exercitando a mente e envenenando seu corpo ao máximo. E de desafio a desafio, finalmente Gotham City o atraiu pelo maior de todos, no horizonte: capturar o incapturável. E dobrá-lo.

    Desafio aceito. Desta forma, Bane promove o caos na mais violenta das cidades, libertando os doentes do asilo Arkham e usando, um a um, para se voltarem contra Batman e Robin sem dó. Exaurindo-os. Desesperando-os. Estratégico, e muito além de ser uma mera massa de músculos, Bane espera até a carne ser amassada pelo Coringa, Charada, Mulher-Gato e outros vilões para, então, desferir o nocaute final e comandar Gotham a punhos de ferro, na maior vitória de todas. Mas o destino, sempre ele, traz reviravoltas que o grandalhão mascarado jamais esperaria – e nem nós. Em vinte e duas histórias construídas a base de muita ação e momentos eletrizantes (incluindo o mais assustador Espantalho já visto), A Queda do Morcego glorifica os ícones imortais dos quadrinhos em um belo arco central de ascensão e danação, ao ilustrar com força e adrenalina um dos eventos mais clássicos e mais comentados da história do Batman.

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  • Resenha |  Batman Nº 1 (Abril Jovem – 3ª série)

    Resenha | Batman Nº 1 (Abril Jovem – 3ª série)

    As dinâmicas diferentes entre o mercado americano de quadrinhos em comparação ao brasileiro inviabilizam certas opções editoriais. Salvo exceções pontuais como algumas edições da Image na época da Abril e, recentemente, The Walking Dead republicado pela HQM em edições únicas, nossas revistas sempre se formaram pelos mixes. Ainda hoje, o custo-benefício de um mix permite a leitura de mais de uma revista a um preço ainda atrativo. Se há pontos positivos como o preço, há arbitrariedades negativas que sempre incomodaram os leitores como a escolha dos títulos bem como uma arbitrariedade para publicação de novas revistas.

    Ainda hoje, a Panini Comics compõe suas revistas mensais – tanto mix quanto as revistas lançadas no mês – de uma maneira difícil de compreender, para dizer o mínimo. Muitas vezes, certos títulos se iniciam em algum mix e depois de alguns arcos ganham revistas próprias (dois exemplos, um de cada casa: Deadpool da Nova Marvel, lançado inicialmente em X-Men Extra, antes de ganhar revista própria, e Esquadrão Suicida dos Novos 52, lançado primeiro em uma edição conjunta com a Aves de Rapina, depois em três encadernados solo, em seguida para a revista do Arqueiro Verde, finalizando suas edições em uma revista própria, ufa.).

    A prática, porém, não é somente da atual editora. Desde a Abril, a escolha de novas edições e novos números fundamentavam pontos de partida ao leitor, sempre promovendo novas revistas com o atrativo nº1 na capa. A 3ª série de Batman lançada a partir de 1990 pela editora representa esta afirmação. A nova revista em um espantoso formato americano, foi arbitrariamente lançada sem nenhuma mudança editorial vinda de fora. Observando com distanciamento, a primeira edição de Batman apresentava o que hoje a Panini segue tanto em formato quanto em número de páginas. (Desde o Renascimento, as edições mensais tem saído com 50 páginas, com duas histórias por mês. A exceção é o tipo de papel atual em couchê ou alguma variação brilhante).

    A primeira edição da nova revista apresenta uma boa fase do Morcego reunindo um time de ouro: John Byrne e Jim Aparo compondo uma aventura em três partes intitulada As Muitas Mortes de Batman. Se hoje o processo de fortificação do personagem o faz um humano quase perfeito (um contrassenso que os leitores não ligam porque, afinal, trata-se do Batman), é interessante observar uma abordagem mais leve, tanto na narrativa que não abusa do fator-morcego como nos traços ainda sem uso excessivo de cores pretas e sombreamentos.

    A trama se inicia com uma possível morte de Batman. Uma cena do crime em que o morcego é encontrado crucificado. Aos poucos, percebe-se que há um assassino na cidade que traveste seus mortos com o uniforme do herói. Byrne mostra sua excelência narrativa ao compor um primeiro ato sem nenhuma fala. Apenas desenvolvendo as cenas para que Aparo desenhe com a qualidade costumeira. Assim, o primeiro ato marca a urgência da morte do Morcego, bem como mostra a reação dos personagens queridos do público a essa notícia. O herói só aparece de fato na trama na segunda parte.

    Seguindo uma estrutura narrativa tradicional dos quadrinhos com um narrador em terceira pessoa desenvolvendo o enfoque da trama – um resquício literário presente na nona arte – se debruçar sobre histórias antigas sempre evocam as comparações sobre as diferentes formas de se compor uma HQ e, ainda assim, produzir uma trama eficiente. Se hoje há um excesso de sagas e prolongamentos desnecessários, com histórias normalmente com 4 a 6 partes no mínimo, é sempre positivo observar como, ainda que seja uma frase exageradamente batida, o menos é mais. Em somente três partes, a dupla cria uma boa trama investigativa, explora os conceitos tradicionais da personagem e ainda não se prolonga além do necessário, resultando em uma história robusta que se não tem certa visão cerebral como se tem dos quadrinhos atuais, é divertida ao extremo.

  • Resenha | Batman 70 Anos: Volume 4

    Resenha | Batman 70 Anos: Volume 4

    Batman 70 anos - vol 4

    O quarto volume que encerra o especial de 70 Anos de Batman, lançado pela Panini em março de 2010, tem como tema a morte. Um evento que nunca é derradeiro para um herói, mas torna-se uma jornada atribulada a ser superada como tantas outras. A seleção apresenta sete histórias com ênfase em décadas passadas, principalmente as de 60 e 70, com duas delas. Em um plano geral, as quatro edições apresentaram ao leitor contemporâneo visões diferenciadas do Morcego, ainda que o terceiro volume com duas histórias de ElseWorld – traduzidas no país como Túnel do Tempo e analisadas separadamente no site em Gotham City 1889 e Batman – Pulp Fiction – seja considerado aquém de uma coletânea que pretendia ser um resgate dos 70 anos da personagem.

    Assim como nas edições anteriores, a seleção é importante se o leitor também observar atentamente as diferentes formas narrativas dos quadrinhos em décadas passadas. A ausência de alguma introdução, ou de qualquer outro comentário, deixa este papel inteiramente nas mãos do leitor. Neste compilado, algumas histórias são pequenos exercícios de possibilidades que se valem do famoso o que aconteceria se para apresentar um atestado de óbito do Morcego ou envolvê-lo em situações de quase morte.

    Nas histórias, percebe-se a evolução da linguagem dos quadrinhos. Inicialmente, os narradores eram os próprios roteiristas, e a personagem, quando desejava expressar algo, diretamente fazia-o por meio de um balão de fala – recurso utilizado no teatro, em que quase tudo é diálogo – ou em balões de pensamento. O aprimoramento desta linguagem levou o narrador-personagem a uma melhor interação entre narração e o desenho.

    A primeira história do encadernado, A Estranha Morte de Batman!, é inventiva ao apresentar uma metalinguagem entre personagem e roteirista. Garder Fox realiza uma pequena trama inicial que termina com a perseguição de um bandido, e, após este ato, o próprio criador adentra a história, refletindo como seria esta trama se, por acaso, Batman morresse. O recurso da quebra da quarta parede – o espaço imaginário em que o leitor observa a trama – quase caiu em desuso nas HQs. Salvo Grant Morrison, que demonstra apreço pelo jogo entre obra e leitor, o narrador onisciente não parece mais adequar-se ao conceito realista, algo que muitas tramas desejam na medida do possível. Mesmo trabalhando com uma possibilidade, a trama não perde o final feliz, com um Batman de outra Terra retornando a Gotham para terminar a formação de vigilante de Robin.

    A Vingança de Robin! É acompanhada por Superman nesta aventura em que o menino prodígio tenta se vingar da morte do mentor. A trama parece reconhecer que o início dos quadrinhos era simplista, e, de maneira equivocada, tenta parecer mais densa, exagerando em elementos de dedução e científico que, mesmo para o pupilo do maior detetive do mundo, parece exagerado. Os heróis se tornam cerebrais em um limite improvável, como em uma cena que Robin rastreia um vilão, que usa uma luva de feixes de luz, utilizando um rastreador residual que lhe possibilitou traçar o caminho do inimigo.

    A terceira história, O Cadáver Que Não Queria Morrer é a melhor do encadernado, ainda que um tanto mórbida se observarmos a base temática. A trama faz parte da famosa revista The Brave and The Bold, que apresentava histórias em parceria com outros heróis. Na aventura, Batman morre em meio a uma investigação, e Elektron entra em seu corpo para, entre estímulos de energia, movimentar o Morcego para uma última investigação. O elemento bizarro não tira o suspense da história e de maneira absurda demonstra que, mesmo morto, o Cavaleiro das Trevas é capaz de desvendar crimes e de quebra parecer o personagem central de Um Morto Muito Louco.

    A mais longa das tramas, Onde Você Estava Na Noite em Que Batman Foi Morto?,  é dividida em quatro partes e também carrega um falso sentido de profundidade. Com a morte de Batman, vilões promovem um julgamento informal para descobrir quem foi seu assassino, afinal todos querem se vangloriar do aniquilamento do Morcego. São quatro os depoentes apresentados: Mulher-Gato, Charada, Luthor e Coringa. Mas é inverossímil um julgamento formal com a presença da galeria de vilões, como júri, respeitando regras como uma audiência verdadeira, como se os vilões fossem organizados e não imprevisíveis. Além de uma breve participação de Superman, a trama contém um bobo plot twist que revela a sabedoria estratégica do Morcego, novamente exagerada.

    Com apenas 14 páginas, em contraposição à longa história anterior, Enterrado Vivo apresenta um bom clima, mas sua brevidade impede aprofundamento adequado no desaparecimento de Batman. A diferença desta trama é perceptível, mas o final é antecipado e ameno demais, terminando em um final feliz com Superman, Robin e Comissário Gordon sorrindo. Uma pureza que não cabe mais nas épocas sombrias de Gotham.

    A últimas duas histórias foram lançadas respectivamente em 1997 e 2001. As páginas inteiramente coloridas, sem a borda branca de outras fases, é um demonstrativo de um estilo narrativo que se mantém até hoje. São tramas com narradores em primeira pessoa, com os desenhos e a ação trabalhando em sincronia. A primeira foi publicada no oitavo número de Chronicles e tem Thalia como personagem central narrando sua missão, dada pelo pai, de matar o Morcego. A filha de Ra’s Al Ghul se divide entre a obrigação com o familiar e o amor pelo herói, amor este que gerou até um filho, o garoto Demian, inserido na cronologia oficial por Morrison em Batman e Filho. A última história, com apenas quatro páginas, foi publicada em uma edição de Asa Noturna como secundária. É tão breve e boba que está presente na revista apenas pela incapacidade de inserir-se uma aventura maior. Trata-se de um sonho em que Mulher-Gato imagina o casamento com Batman e sente ciúmes quando, próximo da lua de mel, o Cavaleiro das Trevas precisa combater o crime. A história termina quando Selina acorda. Nada demais.

    Como exercício de possibilidades, o compilado demonstra que a morte sempre esteve presente nas histórias em quadrinhos como um dos recursos narrativos mais utilizados. Porém, longe dos dois primeiros volumes, que ao menos tentam apresentar um panorama do herói, as histórias das estranhas mortes de Batman não deveriam se destacar como parte de uma série que deseja ser um referência para os 70 anos da personagem.

  • Resenha | Batman: Morte em Família

    Resenha | Batman: Morte em Família

    Batman - Morte em Familia - capa

    Em comemoração aos 50 anos do Homem Morcego, a DC Comics procurou uma maneira inédita de celebrar. Deu ao público o poder direto de escolher o destino de uma personagem. Cientes de que o aniversário perderia seu destaque com uma decisão de pequeno calibre, coube aos leitores definirem se o personagem de Jason Todd, o segundo Robin, viveria, dando sequência às histórias da dupla dinâmica, ou morreria, acrescentando novo elemento dramático à frágil psiquê de Batman.

    Nas palavras de Denny O´Neil, até então a DC Comics mantinha o diálogo com seus leitores por cartas e conversas em convenções. Quaisquer decisões feitas pela editora seriam recebidas, criticadas ou não, aos poucos, conforme ocorre o natural feedback das leituras. Seria um feito inédito para o público escolher ativamente o destino de uma personagem e, em uma votação feita por telefone, a sentença foi dada a favor da morte de Jason Todd.

    Em março de 1983, Jason Todd fez sua primeira aparição na revista do morcego. Em época pré-Crise Nas Infinitas Terras, a origem da personagem era muito semelhante a do primeiro Robin, Dick Grayson. Uma redundância desnecessária e modificada na estrutura pós-Crise. Jason manteve-se órfão, mas, dessa vez, é encontrado nas ruas tentando roubar os pneus do Batmóvel. Mesmo que Todd tenha personalidade diferente da de Grayson, o Morcego decide adotar o garoto e treiná-lo para assumir o manto de menino-prodígio.  Três anos após esta reformulação, a personagem não era aceita pelo público como era o Robin anterior. A decisão natural foi procurar modificar a caracterização do garoto. Porém, dessa vez, com a escolha centrada nas mãos do público.

    Ao observar o passado da personagem e as histórias que surgiram a partir deste acontecimento, a morte de Jason Todd teve saldo positivo. Promoveu mais uma fissura no espírito fragilizado de Batman, evidenciando contornos sombrios que sempre estiveram presentes no herói. Porém, como uma saga comemorativa de 50 anos, o arco Morte Em Família – publicado no país pela Abril também como A Morte de Robin – é fraco e nada memorável.

    Mesmo que o desenlace tenha sido escolha do público, o roteiro de Jim Starlin não parece ter estudado previamente a motivação destes acontecimentos, tanto a curto prazo, nas histórias seguintes à morte do Robin, como a longo prazo, em um futuro que seria possível prever um terceiro Robin. Como um todo, o arco parece feito ao acaso, costurado de maneira inverossímil, como se minutos após o encerramento das votações que escolheram um fim para Todd, surgisse nas bancas a história completa.

    Se a personagem era odiada pelos leitores, parece que não foi bem recebida também pelo roteirista, tamanha precariedade que compõe esta história derradeira. O fim de Jason Todd inicia-se em seu passado. Após ser afastado do cargo por excesso de violência, o garoto retorna à sua antiga casa e recebe de uma vizinha documentos antigos dos Todd, descobrindo em sua certidão de nascimento que a mãe com a qual conviveu em seus anos não era sua mãe verdadeira. Resta-lhe como pista apenas a inicial do nome de sua possível genitora. Ao cruzar os dados de cadernetas do pai com os dos computadores da Batcaverna, o garoto sai em uma viagem ao Oriente Médio à procura de sua matriarca. Em paralelo à investigação de Jason, o Coringa, preso desde o acidente com Barbara Gordon, foge do Asilo Arkham. Após ter seus bens retidos pelo governo, procura um míssil em um de seus esconderijos ocultos e tenta vendê-lo a terroristas libaneses.

    A utilização do argumento estrangeiro parece um recurso fácil para desenvolver uma história. É comum observarmos que muitas sequências, principalmente de filmes, valem-se de uma ambientação não habitual como forma de apresentar novidade. A composição de coincidência do roteiro é exagerada até mesmo para uma história em quadrinhos, uma das artes que mais abusa das casualidades. O retorno do Palhaço do Crime é apenas um elemento a mais para celebrar o aniversário de Batman. Um vilão com muita presença que não poderia ficar de fora de uma história que deseja ser épica. Se normalmente seria difícil arquitetar um retorno que fosse sustentável após a triunfal narrativa A Piada Mortal, composta por Alan Moore, torna-se ainda mais precário utilizar a personagem somente por seu status de grande vilão.

    Investigando o passado, Robin encontra-se na mesma região, o Oriente Médio, para onde Coringa e Batman também viajam a fim de conter a situação. Neste ambiente convergem os acontecimentos trágicos. Composta em seis partes, a saga Morte em Família apresenta um único capítulo capaz de sustentar uma carga dramática. Neste, à procura de Jason, Batman faz uma mea culpa e revê a sua trajetória ao lado de seu companheiro atual, admitindo a insensatez de colocá-lo como ajudante. Um suspiro de profundidade para uma trama que parece ocorrer ao acaso.

    A presença de Coringa, com a motivação de vender um míssil para um terrorista, parece improvável. Ainda mais se indagarmos como é possível que um bandido do submundo de Gotham consiga manter contas em banco reconhecidas pelo governo para, já na prisão, ter seus bens congelados. Mesmo que seja possível inferir o uso de “laranjas” em suas transações, ainda é improvável imaginar o Palhaço sem um ás na manga que lhe dê o dinheiro necessário sem precisar revender um míssil no exterior, desmontá-lo-o e montá-lo novamente no local. Elementos absurdos até mesmo para uma personagem anárquica e insana.

    Muitas coincidências permeiam a narrativa. Batman encontra Robin na cidade, pois ambos estão no mesmo hotel. A possível mãe de Jason está envolvida com o submundo, coincidentemente chefiado pelo Coringa. Uma história que, vista com distanciamento, demonstra sua gigantesca falha em ser épica, sendo uma referência apenas pela morte em questão.

    Como é necessária uma história marcante, Superman aparece nos capítulos finais como apoio a um Bruce Wayne desolado e com desejos de vingança. Porém, nada é mais inexplicável do que a reviravolta que faz de Coringa o novo embaixador do Irã. O capítulo em questão não só demonstra o desgaste do arco que poderia encerrar-se antes como também exagera no absurdo. Como se a possível vingança do Homem Morcego fosse maior do que a dor de ficar de luto por mais um amigo falecido.

    Como marco, Morte em Família falha miseravelmente. Parece ser uma história que tenta agradar ao público, unindo personagens conhecidas e um desfecho escolhido para elas. Como se a mera presença das personagens fosse suficiente para uma grande aventura, ainda que sem um argumento que tenha uma coerência mínima e o suspense ou drama adequados.

  • Resenha | Batman 70 Anos: Volume 2

    Resenha | Batman 70 Anos: Volume 2

    Batman - 70 Anos - Vol. 2 - Os Segredos da Batcaverna

    O segundo volume lançado pela Panini Comics em comemoração aos 70 anos do Cavaleiro das Trevas é uma coletânea dedicada à Batcaverna, central de operações do Morcego desde a criação da personagem.

    A escolha das histórias não busca um panorama como na edição anterior, mas centra-se na época de ouro da década de 40 e 50 para apresentar aventuras que explicam diversos dos artefatos encontrados e destacados no interior da caverna, principalmente na famosa Sala de Troféus. Como um colecionador, Bruce Wayne mantém uma sala que recorda diversos crimes solucionados em parceria com Robin. Dessa maneira, descobrimos a origem de diversos objetos conhecidos na sala de operações, como o dinossauro mecânico, a moeda gigante de um centavo, entre outras curiosidades da infraestrutura de ser um herói milionário, tal qual a criativa gama de batarangues utilizada em ocasiões diversas. Itens que, vistos com distanciamento, não são coerentes com as atuais histórias sombrias, mas fazem parte da história do encapuzado.

    As 16 histórias apresentadas estão divididas formalmente em três partes: Troféus da Batcaverna, Origem da Batcaverna e Contos da Batcaverna. Ainda que as divisões sejam arbitrárias, apresentam tramas com o mesmo tema e sem nenhuma diferença.

    Em relação aos primórdios de Batman, as histórias ganharam maior agilidade, mesmo que continuem pueris. A personalidade do Morcego é bem definida por um senso cômico de fazer piadas com trocadilhos envolvendo os bandidos, um humor de época engraçado, mas sem soar agressivo. Mesmo que por meio de outra abordagem, há consistência nas tramas, as quais ainda atingem o objeto primordial de uma leitura de entretenimento.

    Em uma seleção dedicada à caverna, há um grande equívoco de se inserir nela a história O Homem do Capuz Vermelho. Embora seja uma excelente e importante trama, a primeira que modifica a origem do Coringa e lhe dá o passado do vilão Capuz Vermelho, ela não possui nenhum vínculo com a temática em questão.

    Somente três histórias são dos últimos 30 anos. Teatro de Sombras marca a volta de Wayne à batcaverna sob a mansão. Na década anterior, com Dick Grayson indo para a faculdade, Bruce realocou a caverna em um de seus edifícios na cidade. No retorno, a personagem presta ajuda à família de Robert Kirkland Langstrom, o vilão Morcego Humano, que, na época pré-Crise, era um fã de Batman e criador de um soro para obter os poderes de um morcego de verdade.

    O Homem Que Cai é uma das tradicionais edições que recontam elementos da origem da personagem. Com uma ambientação próxima da contemporânea e utilizando-se do roteiro de Danny O´Neil, a trama foca Bruce Wayne desde sua adolescência, no que se tornaria o ponto de arranque para a fundação da caverna, momento em o jovem cai em um buraco perto da mansão Wayne – cena repetida em outras histórias e vista também no início de Batman Begins, de Christopher Nolan.

    Publicado em janeiro de 82 em The Brave And The Bold #182, Interlúdio na Terra 2 apresenta, também pré-Crise, uma aventura de Batman na outra Terra. A aventura é bem executada e demonstra ao público pós-Crise como era a interação das diversas Terras ante a grande saga que modificou as estruturas da DC Comics.

    Finalizando a seleção, uma pequena história publicada em Bizarro Comics (2001), com roteiro de Paul Pope – que produziria depois o interessante Batman: Ano 100 – e desenhos de Jay Stephens. Uma narrativa doce em que um pequeno garoto descobre a existência real da batcaverna. Um argumento sensível que apresenta um viés raro da personagem sempre sombria.

    Sem a obrigatoriedade de histórias representativas de cada época, este segundo volume ganha coerência em relação ao primeiro e com a qualidade da Era de Ouro, ainda que muito diferente das atuais narrativas soturnas. Ao contrário da edição anterior, o segundo volume apresenta quatro páginas indicando as modificações da caverna através das décadas. Porém, a coleção continua sem nenhum texto introdutório e nenhuma outra informação extra deste rico material.

  • Resenha | Batman 70 Anos: Volume 1

    Resenha | Batman 70 Anos: Volume 1

    Batman 70 Anos - Vol. 1

    Na celebração dos 70 anos de criação do Cavaleiro das Trevas, a Panini Comics lançou quatro volumes em homenagem ao Morcego. Batman 70 Anos – Volume 1 apresenta um compilado amplo de histórias publicadas em décadas diferentes, demonstrando como a personagem sofreu modificações durante vários períodos.

    Mesmo um leitor de anos das histórias do Batman precisa confiar no editor quando se tratam de edições compiladas. Salvo quem se aprofundou na personagem e conseguiu lê-la em sua totalidade, a seleção é filtrada pela visão do editor, cuja exigência é de que tais histórias não possam ultrapassar as tradicionais 25 páginas. Deixa-se de fora, portanto, a maioria das narrativas de 20 anos para cá em que se difundiram os arcos em diversas edições.

    A capa é dedicada a uma das imagens mais realistas do herói, desenhada pelas talentosas mãos de Alex Ross. O conteúdo apresenta nove histórias, cada uma representada por uma década, salvo a década de 80, com três aventuras.

    A primeira história é a única que foge da cronologia temporal com uma narrativa de 1986, Origens Secretas: Estrelando o Batman da Era de Ouro. É uma abertura interessante se considerarmos que a edição pode ser a porta de entrada para novos leitores. Mesmo contando uma história de um Batman anterior ao contemporâneo, a base de sua origem está presente, sendo uma boa alfabetização-morcego que resume a essência da personagem.

    Professor Hugo Strange e Os Monstros é o primeiro gibi de Batman a ser lançado oficialmente – na primavera de 1940 – e a segunda história a ser apresentada na edição. A questão de escolher uma primeira aventura é arbitrária. Poderia ser a estreia do herói na Detective Comics, mas optou-se por uma das histórias do primeiro número de Batman (1940). Com desenhos de Bob Kane, criador do herói, a trama apresenta o retorno de Strange de maneira simples se comparada às tramas atuais.

    Mais de 100 edições à frente, mesmo tendo estreado quase que em sincronia com Batman, o menino prodígio Robin entra em cena em uma história lúdica. O Morcego ajuda um carro desgovernado e salva a família Jones. De presente, o bebê do casal ganha o nome de Batman e, ao crescer, sente-se impelido pelo senso de justiça. A trama não tem nada do conhecido lado sombrio da personagem e chega a cometer um erro referencial estranho. No interior das histórias, não se passaram dez anos para que o garoto – recém-nascido nas primeiras páginas – alcançasse uma idade suficiente para se aventurar em ser um Batman postiço. Por outro lado, observamos como o herói era visto na época e como os temas eram mundanos, sem uma elaboração maior de sagas.

    Sob este aspecto, há exagero didático. As narrativas, que acompanham os desenhos, ainda não pareciam compostas para o mesmo objeto. Considerando que os quadrinhos engatinhavam na época, é perceptível a falta de arrojo técnico entre texto e imagem, ainda não tão bem integradas neste início. Outro ponto de referência sobre a mudança paradigmática do Morcego é que não havia problema algum com eventuais baixas de vilões, elemento que, hoje, impede Batman de dar um fim definitivo a diversas personagens.

    Publicada em fevereiro de 1963, Prisioneiro de Três Mundos dá um passo além na narrativa, melhor integrada entre desenho e texto e demonstrando talentosamente como uma história de 25 páginas pode ser enxugada em três partes bem desenvolvidas. Indo além dos crimes mundanos, Batman lida com a chegada de um alienígena que o transporta para outra dimensão. Se a história parece diferente de início, ao menos é bem explorada e demonstra bom crescimento narrativo com tramas narradas em paralelo. Há a presença das primeiras encarnações de Batwoman e Batgirl, personagens da Era de Prata que sumiram (recentemente Batwoman foi reintegrada no reboot). Apresenta também um Bruce Wayne tão devotado ao crime que evita deixar-se seduzir pela Batwoman, evidenciando sua retidão em relação ao crime e somente ela.

    Estas histórias também apresentam um recurso não mais utilizado atualmente, o de fazer a primeira página da história uma abertura que apresenta um quadro significativo da narrativa. Nos dias de hoje, as tramas utilizam o flashback narrativo como gancho, porém as primeiras páginas com um desenho impactante eram um bom teaser do que iria acontecer e, sem dúvida, agitaram os leitores da época que folheavam as edições.

    As três histórias seguintes foram lançadas na década de 80 em período anterior a Crise Nas Infinitas Terras. De Quantas Maneiras Pode Se Matar Um Robin traz parte do elemento sombrio que atualmente parece necessário para o funcionamento de uma boa narrativa do encapuzado. A trama é um jogo psicológico entre Batman e um vilão que sequestrou Robin e demonstra quantas formas o menino-prodígio poderia morrer. Novamente, o habilidoso recurso de utilizar capítulos em uma história de 25 páginas é utilizado, dando dinamicidade à trama, além de uma boa dose de suspense.

    Dialogando com a morte dos pais de Bruce Wayne e com a tradição de que Thomas Wayne sempre foi um exemplo dentro de Gotham, O Último Natal do Batman é um retorno ao passado que coloca em xeque a integridade de Thomas. Na época, o herói encapuzado possuía traços mais pesados, com uniforme mais ameaçador e os olhos na máscara funcionando como traços pontudos de um olhar sempre irritado. Helena, sua filha com Mulher-Gato, é o apoio que o ajuda a desvendar se o pai foi um criminoso ou apenas incriminado.

    Todos Os Meus Inimigos Contra Mim! é a primeira menção ao Coringa, o conhecido grande arqui-inimigo do Morcego. Apesar de aparecer somente na quinta história do compilado, o roteiro de Gerry Conway produz um grande plano em que o vilão convoca diversos outros comparsas conhecidos para um ataque definitivo a Batman. A trama marca a 500ª aparição de Batman na Detective Comics, o que explica a reunião épica para a edição. Também marca a primeira aparição de Jason Todd, que se tornaria o futuro segundo Robin. Antes da Crise, a origem de Todd era exatamente a mesma de Dick Grayson, menino-prodígio primordial. A diferença é que é o próprio Grayson que adota o garoto nesta história, terminando em final feliz, com direito à união das personagens de mãos dadas caminhando juntas em um dia ensolarado.

    A primeira história pós-Crise surge seis anos depois, originalmente publicada em The Batman Chronicles 5: uma aventura infantil do pequeno Bruce Wayne e de sua relação com Alfred. Embora demonstre com eficiência o paternalismo do mordomo, a escolha desta história serve como diferencial das habituais tramas do Morcego. Até porque nesta época a maioria das narrativas era dividida em diversas partes.

    Fechando a edição, mais um exercício dentro de muitos que surgiram a partir da origem oficial de Bruce Wayne como herói. Dessa vez, Brian Michael Bendis e Michael Gaydos situam a biografia da personagem em uma história em preto e branco que faz referência direta ao clássico de Orson Welles, Cidadão Kane. Uma bonita história que aproxima os elementos do filme – popular e rico homem é morto e um repórter investiga sua história para uma matéria –, entrelaçado com os amigos e inimigos do Morcego, num interessante final que trata a origem da palavra Rosebud neste contexto.

    Como primeiro volume de uma seleção comemorativa, o início é mais funcional do que seu fim. Como todo compilado, a escolha é limitada, dando-nos a impressão de que muito ficou de fora em razão das páginas dentro das necessárias. Infelizmente, há total falta de textos informativos ou qualquer aditivo que ampliem o brilho desse panorama que, apesar de não parecer completo, é uma edição importante, ainda mais se considerarmos que boa parte desse material nunca saiu em formato americano no país.