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  • Resenha | Antes de Watchmen: Coruja

    Resenha | Antes de Watchmen: Coruja

    AWCoruja

    As oito histórias que formam Antes de Watchmen foram lançadas nos Estados Unidos de maneira simultânea. Como o Brasil não comporta o formato de edições com vinte e cinco páginas, a Panini Comics optou pelo lançamento dos arcos fechados de cada personagem com edições mensais em estilo das edições especiais da editora: capa cartonada e papel couché.

    A obra que se tornou icônica e considerada por muitos o livro sagrado dos quadrinhos é também um produto altamente rentável. Ainda mais depois da versão cinematográfica dirigida por Zack Snyder. O que explica porque, mesmo quando a  história original é fechada, uma grande equipe de roteiristas e desenhistas se reuniram para apresentar novas histórias dos personagens criados por Alan Moore e David Gibbons.

    Antes de Watchmen – Coruja foi o primeiro arco escolhido para o lançamento no país. Apresentando um dos grandes personagens da série original que destaca-se pelo lado humano, além de uma representação que nos traz a mente outros mascarados que fazem da noite o ambiente para a ação.

    Dividida em quatro partes, a primeira é a tradicional apresentação da personagem. Daniel Dreiberg é um jovem que vive em uma família desestabilizada por um pai castrador e agressivo. A figura do herói Coruja é seu ponto de fuga e maneira para lidar com a própria realidade. A devoção ao mascarado leva-o até seu esconderijo, onde pede por um treinamento que resultará na aposentadoria do Coruja original, Hollis Mason, que entrega o manto a Daniel.

    A trama avança anos a frente para outro encontro importante na vida de Daniel. Em um patrulhamento, se depara com outro encapuzado conhecido como Rorschach, nascendo uma parceria. Juntos formam uma dupla de bom e mau herói. Em meio a uma perseguição, Coruja encontra uma dominatrix de um clube de sadomasoquismo intitulada Dama do Crepúsculo que provoca a ira de Rorschach por ser uma prostituta, mas promove simpatia em Daniel. A partir desde ponto a história se divide mostrando as duas personagens de maneira paralela.

    Coruja e Rorschach têm em comum um passado tortuoso. Viveram em famílias desequilibradas com pais agressores mas lidaram de maneira diferente com tais problemas. Talvez a distinção destas escolhas foi o que fez J. Michael Straczynski inserir tão ativamente a personagem de Rorschach dentro de um arco que não o seu. Se o contraste torna-se maior, os paralelos narrativos parecem falta de um argumento mais interessante.

    Coruja ao lado da Dama do Crepúsculo investigam uma série de assassinatos de prostitutas, ignorados pela polícia por serem pessoas marginais à sociedade. Rorschach se revela um devoto religioso que encontra em sua paróquia e na amizade com o pastor um breve elemento de apoio. Ainda que as tramas se interliguem, não se justifica as diversas páginas dedicadas a mostrar o passado de outro mascarado que não Coruja.

    Se a função desta nova imersão no universo Watchmen é apresentar um enredo anterior ao original, que se fizesse introduzindo novos elementos ou conduzindo uma boa história aventureira dos heróis (a série solo do Coruja poderia ser uma simples investigação criminal). Já que seria impossível e inadequado exigir a profundidade da obra original.

    Os bons elementos da história se concentram em pequenos detalhes que dialogam com a série original, apresentando situações que antes conhecíamos apenas pela citação das personagens. São estes elementos que costuraram todos os arcos já que o epílogo anunciado no projeto nunca foi lançado.

    Este também foi o último trabalho de Joe Kubert que saiu de cena em seguida.

  • Resenha | Sandman Apresenta – Os Caçadores de Sonhos

    Resenha | Sandman Apresenta – Os Caçadores de Sonhos

    SANDMAN-OS-CACADORES-DE-SONHOS

    Não sei se foi você que veio a mim ou eu que fui até você. Nem se foi realidade ou se foi sonho, adormecido ou desperto. Estou perdido nas trevas de um coração abatido. Se foi sonho ou realidade, que decidamos nesta noite.”

    Digo desde já que as chances de eu ser imparcial falando de Neil Gaiman são remotas. É com certeza um dos escritores que mais me influenciaram; admiro-o com todo o respeito e sempre fico empolgado quando vejo um livro ou quadrinho que foi roteirizado pelo mesmo. Não foi à toa que não demorei cinco minutos para comprar Sandman – Os Caçadores de Sonhos quando vi em uma livraria.

    Primeiramente, esta obra foi lançada em formato de livro, em comemoração ao décimo aniversário de Sandman. À época, Gaiman transcrevia para o inglês os diálogos de filmes de Hayao Miyazaki, o que o fez estudar sobre mitologia japonesa. Foi da leitura do conto A Raposa, o Monge e o Mikado dos Sonhos que surgiu a inspiração para a adaptação da história para o mundo de Sandman, pois havia enxergado uma grande semelhança com o universo do seu personagem. Juntou-se ao artista Yoshitaka Amano e concluiu um trabalho que foi recebido de braços abertos por todos os fãs. Dez anos se passaram e P. Craig Russell resolve adaptar a obra literária de Gaiman para uma história em quadrinhos. Felizmente, o resultado deste trabalho grandioso se encontra em minhas mãos.

    Os Caçadores de Sonhos conta a história de um Japão antigo em que criaturas mitológicas e lendas viviam entre os humanos. Certo dia, uma raposa apostou que faria um humilde monge perder a guarda de seu templo, porém acabou se apaixonando por ele. Um maldoso senhor, que dominava as artes de magia demoníaca, cobiçou a força interior do monge e a queria roubar para si a qualquer custo. O Rei dos Sonhos se vê em favor de um amor que nunca deveria ter acontecido.

    Não é necessário dizer mais nada sobre a história. A sinopse acima é o suficiente para ilustrá-la na imaginação virgem de quem ainda não a leu e atiçar a curiosidade.

    P. Craig Russell faz um trabalho grandiosíssimo adaptando com delicadeza para a linguagem dos quadrinhos uma história que já havia feito bastante sucesso. Consegue transpor em imagens todos os elementos e a atmosfera presentes nas histórias de Neil Gaiman. Se aproximando ainda mais do universo em que se passa o conto, o artista, juntamente com o colorista Lovern Kindzierski, mistura a beleza da arte asiática e técnicas da art nouveau europeia, para assim criar um padrão de proximidade da arte com aquilo que o leitor está lendo. Os traços de Russell, juntamente com as cores de Lovern, são simples, porém ricos em detalhes, sempre valorando os elementos importantes de cada quadro que se vislumbra.

    Para aqueles que já conhecem as histórias de Sandman, este livro é uma obrigação, pois ainda podemos contar com ilustrações lindíssimas de vários artistas diferentes (como Mike Mignola, Yuko Shimizu, Paul Pope, Joe Kubert e do próprio Russell) nos extras do encadernado.

    Falar mais sobre este lançamento apenas seria continuar insistindo no óbvio. Minha intenção inclusive não é dar spoilers, longe disso, pois estaria incorrendo em um erro gravíssimo para aqueles que leem as obras de Gaiman. Meu objetivo, porém, é incentivar a leitura e a experimentação (porque é assim que visualizo a leitura deste, como uma experiência) desta belíssima obra.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.