Tag: John Krasinski

  • Crítica | Um Lugar Silencioso

    Crítica | Um Lugar Silencioso

    Um Lugar Silencioso é uma curiosa produção de terror: se estabelece a partir da premissa de que criaturas monstruosas cegas acabam com a vida humana a menor menção de som possível, fazendo com que as pessoas tenham que viver em silencio caso queiram sobreviver. O enfoque dramático se situa na família composta pelo casal Lee (John Krasinski que também dirige o longa) e Evelyn (Emily Blunt) que sofrem um trauma terrível no passado e, mais tarde, reestruturam sua família com as crianças Regan (Millicent Simmonds) e Marcus (Noah Jupe) e um novo bebê que está a caminho.

    A premissa é muito boa e a condução do suspense acompanha essa ideia inteligente. Krasinski dirige seu terceiro longa, o primeiro no gênero terror, com uma mitologia muito rica, apesar de pouco expositiva. O fato de não possuir muitos diálogos apresenta certa criatividade narrativa para desmistificar toda a mecânica das criaturas monstruosas e os hábitos de quem quer continuar vivo.

    A desolação mundial não é muito mostrada graças a precariedade da vida dos personagens principais e consequente da dificuldade de comunicação global.  No lugar do convívio pessoal sobra a paranoia pela proximidade do perigo. De certa forma, a família é auto suficiente não só na produção dos recursos para viver, como também nas questões que envolvem as descobertas do modus operandi dos monstros. O habito de falar por meio de sinais é bem explicado pelo fato da garota Regan ter um problema de surdez. Ou seja, mesmo antes daquela situação limite, seria natural para os parentes conversarem assim. Bem como há uma situação complicada com um bebê vindo a luz, já que controlar o choro de uma criança recém nascida é praticamente impossível, ainda mais em um ambiente que precisa ser controlado, fazendo com que o ciclo de vantagens e desvantagens da família seja igualmente auto suficiente.

    Os aproximadamente 95 minutos de filme (com menos de meia hora de diálogos) e a forma como o desespero ocorre diante dos personagens é muito bem exemplificado pelas atuações. A agonia que a personagem de Blunt tem ao ser perseguida na segunda metade do filme é impressionante. Há muito tempo a atriz não conseguia um bom papel como esse. Apesar da exposição exagerada do texto, em especial no final, Um Lugar Silencioso é um filme assustador. Um suspense repleto de tensão, ainda que perverta suas regras e as expectativas ao seu redor.

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  • Crítica | 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi

    Crítica | 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi

    13 Horas 1

    O cinema do diretor de cinema Michael Bay normalmente é criticado por seu caráter pueril, repleto de explosões desnecessárias, duração longa e preciosismo narrativo. Exceção feita a Sem Dor, Sem Ganho, sua filmografia recente pouco se diferenciou de sua marca registrada, em especial pela trilogia Transformers e seu mais recente capítulo que mistura continuação e reboot, em A Era da Extinção. As expectativas em relação ao seu décimo segundo longa-metragem eram bastante diferentes, já que todo o marketing em volta de 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi prenunciava um filme mais sério e contido.

    A premissa da adaptação literária do livro de Mitchell Zuckof é realizada por Chuck Hogan, escritor do livro Prince of Thieves, o mesmo que gerou Atração Perigosa de Ben Affleck. Apesar das boas credenciais, o drama dos militares que adentram o território líbio é exibido de um modo bastante melodramático, sub aproveitando inclusive os dotes de John Krasinski, que vive o herói da jornada Jack Silva.

    Incrivelmente Bay consegue compilar um filme em menos de 150 minutos, fato raro em suas últimas incursões na sétima arte, e que nem por isso garante uma história enxuta. A primeira hora é dedicada basicamente a estabelecer que os homens designados para aquele trabalho não são monstros insensíveis, e sim valorosos guerreiros que sentem saudades de suas famílias, apelando inclusive para cenas adocicadas e de pouco valor além do pueril e comum discurso patriótico cego.

    O texto guarda espaço para discussões bobas, ameaças entre alistados de patentes diferentes e ultimatos feitos por um personagem inútil à trama para outro, o que faz zerar ainda mais toda a tentativa de drama estabelecida no argumento. A descida de qualidade inclui até um momento que deveria ser de tensão, com agentes estrangeiros metralhando uma bandeira dos Estados Unidos da América, cuja patética forma faz esgotar a possibilidade de se levar o filme a sério a partir dali.

    A agonia da espera e expectativa servem de artifício metalinguístico, já que personagens e público vivem esta mesma experiência, com os primeiros temendo a morte, enquanto o espectador sofre com a duração do drama mal construído, arrastado ao extremo mesmo em se tratando do filme mais curto do diretor (excetuando comédias) desde A Ilha.

    A fita tenta emular momentos de Guerra Ao Terror, mas sem a sutileza e talento que são típicos de Kathryn Bigelow, substituindo esses artigos por uma forte carga de islamofobia. Embora as cenas de ação consigam emular uma violência que está em desuso no cinema hollywoodiano recente, ao focar em dilacerações e deformação de corpos, não há como salvar o resultado final.

    Um dos muitos personagens genéricos presentes na história, Dave Boon Benton (David Denman) lê em seu momento de lazer o clássico O Poder do Mito, de Joseph Campbell, que resume a tentativa de história proposta no longa, ao demonstrar um maniqueísmo exemplar ao retratar os soldados que tentam, a todo custo, entrar para os anais da história militar de seu país através de uma tola e datada jornada heroica. O paralelo com o monomito e com esse tipo de trajetória é o máximo de conteúdo que Bay e Hogan propõem ao seu público, não conseguindo sequer justificar o tosco folheto propagandista como máscara de filme anti-guerra, resultando em mais um produto patético do cinema de guerra estadunidense.

  • Crítica | Sob o Mesmo Céu

    Crítica | Sob o Mesmo Céu

    SOB O MESMO CÉU 1

    O começo da nova obra de Cameron Crowe, Sob o Mesmo Céu, remete a cenas gravadas por cinegrafistas amadores, revelando momentos de descontração na ilha do Havaí no descanso de férias, bem como a interação dos nativos com o belo lugar. O efeito seria de comoção e nostalgia, não fosse o tom exageradamente caricato piorado em muitos níveis pela narração intrepidamente óbvia, que discorre sobre a tardia corrida espacial dos anos 2010.

    O roteiro de Crowe apresenta uma quantidade enorme de clichês, desde a construção dos personagens até as situações comuns que vivem. Bradley Cooper vive o oficial Carson Welch, que vive sua rotina medíocre vendendo um estilo de vida essencialmente capitalista, negociando possíveis localidades para testes espaciais e já em uma fase decadente de sua carreira. Designada para “vigiar” Welch, a Capitã Ng (Emma Stone) exibe sua feminilidade jovial, escondida sob uma capa de militarismo poser, falsa em cada mínimo aspecto. Inicia-se, assim, uma interação romântica na qual a falta de química prevalece.

    A chegada à ilha paradisíaca faz lembrar o drama vivido em Os Descendentes, reprisando inclusive a questão da vivência dramática em um lugar onde memórias boas são geradas por turistas. Carson reencontra um grande amor, e se vê em uma posição espinhosa, mas toda a problemática sentimental apresentada é pobre e sem conteúdo, mesmo que a atmosfera construída seja a de um lar de rancores, tristezas, abandonos e ressentimentos. Falta alma e verve ao roteiro, que destoa de todo o panorama mostrado em tela, diferenciando-se até da bela fotografia de Eric Gautier, que consegue ser bela apesar da paleta de cores completamente tresloucada.

    Toda a questão ideológica relacionada ao engano aos nativos e os argumentos pró-armamentistas impulsionados por bilionários ficam em um plano subalterno para explorar o rocambole novelesco do trio (quarteto, se contar a personagem de Stone) entre Carson, Tracy (Rachel McAdams) e o atual marido desta, Woody (John Krasinski). Este último, curiosamente, é a personagem mais bem trabalhada e com nuances: não possuindo muitas falas, sua comunicação quase sempre é realizada através de gestos e olhares. Mesmo com todo o aspecto curioso, as situações são bastante frívolas e sem substância. Uma mensagem democrata barata, que acaba sendo apenas ideologicamente banal. Até se destacam momentos nobres, como a luta contra o avanço imperialista, mas estes se perdem por completo diante da barata tentativa de redenção moral de Sob o Mesmo Céu.

  • Crítica | Terra Prometida

    Crítica | Terra Prometida

    promised-land

    Terceira parceria de Gus Van Sant na direção, com Matt Damon nos roteiros, dessa vez sem os irmãos Affleck como fora em Gênio Indomável e Gerry, o guião é assinado em conjunto a outro ator, John Krasinski e trata de um personagem reticente quanto aos rumos que sua carreira está tomando, especialmente porque seu trabalho passa por tentar vender uma proposta a uma cidade interiorana, que o faz lembrar em muitos aspectos a sua antiga vida no campo.

    Steve Butler, Damon, acompanhado de Sue, Frances McDormand, vai até um cidade interiorana tentar convencer a população de que a instalação de uma exploradora de Gás Natural seria bom para a região, usando o tacanho argumento – suficiente para alguns dos residentes – de que a exploração tornaria os moradores em pessoas ricas. O plano parece ir para frente, até a intervenção de Frank Yates, Hal Holbrook, um professor de ensino médio que esconde um background de alto gabarito e tenta organizar um foco de resistência, que mais tarde, “parece” ser engrossada pelo esforço de Dustin Noble, um ambientalista que busca alertar a cidade para não repetir os erros de outros tantos lugares explorados pelo grupo Global. Frank jamais admitira qualquer união ou parceria com Noble, talvez demonstrando seu poder de observação e semi-onisciência, a personagem de Holbrook serve como catalisador do lado bom da consciência de Steve, sem dúvida alguma as mudanças ocasionadas na vida dele partiram primeiro do exemplo dele.

    A direção de Gus Van Sant é correta, sem maneirismos de câmera, um autêntico exemplar de narrativa clássica americana, o que fortalece ainda mais o trabalho de atuação de todo o elenco, irretocável para dizer o mínimo.

    O papel que Krasinski faz é o completo inverso do de Damon, pois Dustin finge ser atrapalhado e inseguro para se aproximar dos anseios da população, e literalmente joga para a arquibancada, especialmente quando canta o clássico de Bruce Springsteen, Dancing in the Dark – conteúdo simbólico até demais para sua trajetória no filme. Enquanto Steve parece ser o decidido e auto-suficiente empresário, mas que carece de retórica e repertório, Dustin aparenta ser um idealista preocupadinho com o bem estar geral, mas na verdade possui toda a situação em seu controle absoluto, além, é claro, de ser muito carismático e irônico, características que Butler persegue sempre, sem jamais conseguir alcançar, ao contrário, seu estado permanece o de ingenuidade até o fim. A rivalidade entre os dois é um dos pontos mais altos do filme.

    Steve acabara de receber uma promoção que tanto queria, mas o dilema moral o consome, a todo momento ele busca aceitação e redenção, diante dos outros e de si próprio, inúmeras vezes repete a fala “Eu sou um cara bom!”, além de ter essa qualidade proferida por muitos dos moradores, que sequer o conhecem, mas consideram-no um sujeito legal, apesar de sua profissão escusa. Essa inquietação ocasiona uma virada repentina em sua vida, aparentemente inesperada, mas até óbvia para quem observou suas atitudes do começo ao fim da história.

    A jornada de Steve Butler é de inexorável derrota, o plot-twist faz ele trair seus ideais profissionais em nome do código ético impresso em seu próprio caráter, e responde a indagação presente na fala geral da população: “O que um sujeito bom como você faz num trabalho como esse?”, a resposta é a mais politicamente correta possível e fecha o ciclo redentório de vida de Steve, que passa a enxergar toda a sua carreira e a sua vida sobre uma outra ótica, como uma volta às suas origens, o que torna o produto final um tanto corretamente moralista, mas não chega a ser um incômodo.