Crítica | Um Porto Seguro
Não sou leitor de Nicholas Sparks. Conheço suas obras das adaptações cinematográficas, mas admiro seu entusiasmo. É um autor popular que vem compondo sua obra tendo como elemento principal o romance, sem nenhum medo de trabalhar com clichês e, a partir deles, produzir sua narrativa.
Um Porto Seguro é a mais nova adaptação de sua obra, composta para conquistar tipos diferentes de público. A trama inicia-se com uma perseguição policial, criando um mistério que se desenvolve em paralelo com a história de amor, como se o autor unisse dois polos diferenciados em um mesmo elemento narrativo.
Katie é uma garota misteriosa que foge de sua cidade até a pequena Southport, na Carolina do Sul, para recomeçar a vida. Mesmo evitando qualquer laço emocional, se envolve com Alex, um comerciante local, e, como costumeiro em histórias do gênero, o passado virá à tona como conflito.
Não deve se assistir a uma produção do gênero esperando um arroubo de criatividade. As histórias de Sparks – e, basicamente, a maioria dos romances – são formatadas para se parecerem de alguma maneira. Dentro de um universo água com açúcar, há a quantidade necessária de conflito que se equilibra no mistério anterior vindo do passado, uma situação presente que dificulta a relação do casal e reviravoltas que, sem medo de utilizar clichês, se apresentam de maneira óbvia mas de forma que o espectador tão envolvido pela história não se importará.
Sparks não tem medo de dar um golpe de realidade em seus românticos universos oníricos, seja uma história misteriosa a ser desvendada como nessa trama, uma amnésia traumática em Para Sempre ou uma doença degenerativa como em Diário de Uma Paixão. Nunca negando o estilo romanceado e os clichês, a maneira que compõe seu tecido narrativo de perfeição destruída pela realidade dá um novo fôlego para um gênero normalmente repetitivo.
Evidente que não é a produção que agrada aquele que não suporta assistir filmes de romance. Mas satisfaz tanto quem gosta do gênero como não incomoda quem só está acompanhando alguém em uma sessão de cinema a dois. E isso é o suficiente para se compreender que, mesmo popular, Nicholas Sparks tem um talento em construir suas narrativas de amor.