Entrevista com o diretor de Cinema Lucas Sá
Com Nua Por Dentro do Couro, um dos curtas de terror e sedução que foi exibido na Mostra Competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o diretor maranhense Lucas Sá apresenta um cinema plástico, pautado em curvas femininas e no erotismo exacerbado pelos belos corpanzis de suas atrizes, fazendo valer a típica brasilidade que há na latente sexualidade tupiniquim e, claro, sem pudores ou temor de parecer politicamente incorreto.
Ao conversar conosco, Lucas fala do curta exibido, destaca um pouco das influências que o levaram a fazer cinema a executar o ofício ainda tão novo e imberbe. Com apenas 21 anos, demonstra uma intimidade com a câmera típica de quem a conhece comvivacidade proveniente de sua pouca idade.
Você havia citado anteriormente a influência de Brian De Palma (Carrie- A Estranha) e Dario Argento no seu cinema. Queria saber se além deles você vê um pouco de Wes Craven, Lúcio Fulci e Roger Corman no seu trabalho.
Talvez eu tenha visto tantos filmes de discípulos do Corman que talvez eu nem perceba mas certamente influenciou. Do Lucio Fulci tem muita da maquiagem. Citaria também Cronenberg, pois o tentáculo do monstro que fizemos é muito influenciado pela A Mosca, a coisa melequenta feita de látex e clara de ovo. Mas acho que a grande influencia mesmo é Argento no sentido de transformar a cena violenta em algo grandioso. A beleza exibida antes da violência, antes do gore. Sinto falta de algo mais palpável no cinema brasileira, tirando Rodrigo Aragão. Eu tentava me convencer de que no Brasil dá pra fazer isso, mesmo que tenha humor inserido na tela.
Sobre direção de atores…?
Bom, ás vezes eu me deixo levar. A Gilda (Gilda Nomacce, atriz que interpreta a “noiva” do monstro) começou a improvisar, fazendo uma cena de orgasmo que não ia ser exibida naquele plano, mas ficou tão boa que deixei. Ali foi ela que me dirigiu. Se estava tão bom, não tinha porquê tirar. O improviso dela é ótimo, perder o controle não é uma perda, essa interação de diretor e ator funciona bem, eu acho. Já Miriã Possani é mais contida, mas não quadrada, o que combina mais com o personagem. A Gilda tende a ir para o lado cômico, eu gosto. Até fiquei surpreso pelo filme ter passado aqui, por ser muito trash. Fico pensando em que os críticos (mais antigos) achariam do meu jeito de dirigir, se achariam imaturo…
Você consegue passar para a tela as belas curvas de suas atrizes, como foi fazer isso?
Meu intuito era seduzir mesmo o público. A intenção é essa desde o começo. Os filmes do Dario Argento sempre tem mulheres muito lindas. A beleza feminina em tela tem muito poder de causar muito impacto. Tem algo ali que me atrai. A Gilda mesmo sem maquiagem e acabada consegue erotizar muito, especialmente na cena do orgasmo que transita entre vários tons de sensualidade. Aumentada com a câmera lenta que aliada a umamúsica excitante faz chegar a uma sensação orgásmica. Tudo a ver com as cenas de cunho lésbicos do filme.
Como vocês fizeram o monstro?
O monstro foi feito pela Gabriela Lamas, nossa diretora de arte, ela estuda comigo. Ela é excelente. Fez até o pé que é retirado da vítima. A criatura era a catarse do filme e foi feita de modo tosco, mas que ainda assim atinge o objetivo de chocar. Foi ela que operava o monstro. A produção custou seis mil reais, por isso preferimos não mostra-lo. Eu não vi o aparato até a a hora da gravação e acho que Gabriela fez isso de propósito. [Ri]. Ele é bem bonitinho no começo mas depois vai ficando feio. Ainda não há um corpo inteiro. Ele foi moldado em látex líquido e a gosma foi feita com clara de ovo e corante de bolo.
Você disse que Nua Embaixo do Couro seria parte de um longa-metragem…
O curta faz parte do longa, encaro como parte, semelhante ao que aconteceu com Hoje Eu Quero Voltar Sozinho e Eu Não Quero Voltar Sozinho (longa e curta de Daniel Ribeiro), com um complementando o outro. A ideia me assombra há uns cinco anos, sempre falava dele para os meus amigos, até que a Gabriela me convenceu a fazer e também passou a querer muito realizá-lo. Não acho que isso tira a potência nem do longa nem do curta. As lacunas deixadas no filme foram propositais, tudo está em seu devido lugar. Sobre o longa, Gabriela e eu dirigimos um TCC de Cinema, dele talvez saia um edital de curta. É diferente do que já fiz, um drama-romance com bastante suspense. Uma direção compartilhada comigo fazendo o que já sei. Depois disso quero fazer um longa chamado Convite Para um Enterro com clima um pouco macabro e engraçado. Depois farei o longa de Nua mas dois ou três anos depois. Tenho uns quarenta minutos de gravação, mas para ficar perfeito teria que fazer um roteiro e incrementar mais.