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  • Crítica | Magic Mike XXL

    Crítica | Magic Mike XXL

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    A arte imitando a vida, por mais que não seja possível saber, realmente, o que é arte aqui. Um Pequena Miss Sunshine com tanquinhos e suor, numa viagem ao (retorno ao) show business. E que bundinha é essa, sr. Tatum? Difícil desgrudar os olhos da tela, mas mais difícil ainda é tentar curtir a sequência de Magic Mike (2012) sem ter meio litro de álcool nos rins. Um desafio, sóbrio, se o que se SEMPRE procura é uma história com algo a mais para contar. Quando um stripper entra num mercadinho para provar que ainda pode seduzir com seu corpo já não tão jovem assim, o filme merece aplausos. Por ser mais raso que uma piscina de 20ml, seria? Não, mas por ser honesto. Explícita e cruelmente honesto, desde o começo até o fim! A putaria é olfativa, é ouvida, quase degustada, mas vista? Jamais.

    Porque é possível sentir essa putaria exalar das músicas de gente como Rihanna, Beyoncé e Lady Gaga. Elas cantam/dançam, fervem sexo e muito mais; despertam a imaginação nos fazendo dançar. Com os strippers é o oposto, e o resultado é o mesmo. Magic Mike XXL é tanto, é essas divas também, e ao mesmo tempo não é nada. É, sobretudo, o extinto (talvez) cine-privê da Band, que começava às 3 da manhã na madruga de sábado e durava meia-hora, atraindo a audiência da molecada ao mostrar um mamilo por minuto, mas sem esquecer uma historinha a envernizar as insinuações. Simples. Produto honesto, e no caso do musical de strippers, Tatum e companhia encarnam o que uma geração inteira sente e ama; puro reflexo de geração. Sorte de Clark Gable e outros cânones do cinema americano antigo. Eles já não precisam assistir cine-privê.

    Todos querem se provar. Em Tampa, Flórida, o povo encontra seu ópio na corda bamba, entre grana e travestis após torneios de hip-hop e sexo primeiro, amor depois – beijo pra Rita Lee. O tesão vibra no ritmo dos passos e cores de um universo misterioso, com muita coisa que nem o filme de 2012, nem este em 2015 ousa mostrar (faz parte do show). O trabalho de câmera nos palcos, seja no inspirado clímax ou onde quer que os dançarinos escolham dançar, é de longe o melhor aspecto do filme. Intimidade é uma coisa difícil de capturar, ainda mais quando a intenção é nos fazer sentir parte dela, e não como observadores, apenas. Von Trier não conseguiu isso, mesmo apostando no formato informal nos seus imbecis Ninfomaníacas, mas por incrível que pareça a sensação de “zero privacidade” é facilmente obtida aqui, talvez pela necessidade de mostrar o proibido até o limite do possível. Rolamos entre as pernas de todos e o suor parece pingar do lado de cá, aliás, porque ninguém pensou no recurso 3D para aproveitar isso? Love, o pornô-francês de Gaspar Noé, provou-se mais perspicaz… O que não quer dizer nada! Sexo pode ser putaria, mas putaria não é erotismo. Não é tão fácil atingir o efeito erótico. Esse erotismo que, no Cinema, um tal de Nagisa Oshima fez dele uma arte.

    Imagina se o Brad Pitt dos tempos de Clube da Luta tomasse formol e continuasse daquele jeito? 1 bilhão de bilheteria, por favor! Os dois Magic Mike são icônicos, na verdade, por não ser milagrosamente protagonizados por mulheres, até porque, na música, nossas divas modernas são divas por isso. Por falar nisso, não havia alguém na produção para a trilha-sonora combinar mais com o estilo do filme, e apelar um pouco na escolha das músicas? Previsíveis e toscas, como som de fim de balada, embaladas, contudo, com o que sabemos que vamos assistir: muita, muita gente rasgando calça e camisa ou falando de fama num Showgirls com testosterona. O filme tenta insuflar a alma de discos como Exile on Main Street, dos Stones, mas não consegue mostrar liberdade: É tudo libertinagem, numa cena mais oca que a outra, mas nenhuma surpreende mais que o close final em Channing Tatum, forte, gostoso, admirando fogos de artifício na praia, e revirando seus olhos para baixo, sentindo, talvez, um vazio insondável, e para si mesmo, um tanto inexplicável.

  • Crítica | Magic Mike

    Crítica | Magic Mike

    Magic Mike

    Steven Soderbergh tem utilizado a crise econômica dos EUA para abordar algumas de suas histórias, e dessa vez não é diferente. Assim como abordado anteriormente em Confissões de uma Garota de Programa, Soderbergh utiliza o submundo de um dos ramos do entretenimento adulto para sua análise da recessão econômica. Magic Mike transita por esse universo de maneira débil e nada subversivo, como poderia ter sido.

    Assim como em 2009, onde Soderbergh traz Sasha Grey, famosa atriz de filmes pornôs para ambientar sua história, agora em 2012 o diretor utiliza a mesma ideia, já que o protagonista do longa-metragem é Channing Tatum, ator em evidência no momento, mas que já teve de trabalhar como um stripper. Ambos os filmes acabam sendo, de certa forma, experiências reais desses atores, seja Grey ou Tatum.

    Na trama, acompanhamos a vida de Mike (Tatum), um sujeito perto dos seus trinta anos, que ganha a vida consertando telhados durante o dia, e a noite é uma das atrações de uma casa de stripper dirigida por Dallas (Matthew McConaughey). Em um de seus dias de trabalho como consertador de telhados ele conhece Adam (Alex Pettyfer), um jovem sem perspectivas que abandonou a faculdade e vive de favores com sua irmã enfermeira, Brooke (Cody Horn). Adam acaba descobrindo o trabalho noturno de Mike e logo ganha um lugar no show.

    O roteiro de Reid Carolin acerta em alguns momentos e erra em muitos. O filme segue uma estrutura digna de comédia romântica, diálogos terríveis e uma trama que se move do ponto A ao B sem nenhuma reviravolta e com uma previsibilidade que não deveria ser o caso de um material como esse. No entanto, no meio de soluções previsíveis, bobas e mal elaborados, o longa por nenhum momento soa enfadonho.

    No meio de personagens estereotipados, Channing Tatum revela uma maturidade interpretativa, principalmente quando está distante do seu trabalho como stripper, mantendo o controle do seu personagem sem se tornar um clichê. McConaughey também merece destaque entre o elenco, entregando um personagem egocêntrico, desconfiado e extremamente intenso em sua interpretação, muito longe de seus papéis nas dezenas de comédias românticas que tem feito, sendo provavelmente o ponto alto do longa metragem. O restante do elenco é bastante inexpressivo, beirando atuações sofríveis.

    A direção de Soderbergh utiliza uma montagem preguiçosa, intercalando sequências de atores em shows, dignas de videoclipes sem nenhuma originalidade, para cenas que não vão a lugar algum. Se mantendo dessa forma até o seu aguardado fim.

    O tema ousado de Magic Mike é extremamente mal aproveitado, e fica mais difícil de defendê-lo depois de obras como Boogie Nights, de Paul Thomas Anderson, por exemplo. Se isso ainda não fosse o bastante, o discurso do diretor sobre a recessão fica cada vez mais moralista e conservador à medida que o filme avança, o que não deixa de ser frustrante para alguém como o Soderbergh.