Tag: Melissa McCarthy

  • VortCast 103 | Ghostbusters: Mais Além

    VortCast 103 | Ghostbusters: Mais Além

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira | @flaviopvieira) e Filipe Pereira (@filipepereiral | @filipepereirareal)  se reúnem para um bate-papo sobre a série de filmes Os Caças-Fantasmas, ou melhor, Ghostbusters, em especial sobre o filme mais recente. Curiosidades dos bastidores da franquia, as polêmicas do filme de 2016 e os principais acertos do novo longa.

    Duração: 64 min.
    Edição:
     Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Rainhas do Crime

    Crítica | Rainhas do Crime

    Baseado em um quadrinho da Vertigo The Kitchen (no Brasil, A Cozinha – Rainhas do Crime), o longa-metragem de Andrea Berloff tem o terrível nome traduzido para Rainhas do Crime, e mostra três mulheres de meia-idade, Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss), que apoiam seus maridos e sofrem de clichês bem apelativos, como maus tratos, violência doméstica e humilhações mil, denunciando clichês apelativos. O filme sofre demasiadamente como chavões e lugares comuns de filmes que tem mulheres como protagonistas, e faz isso de maneira bem atabalhoada.

    Berloff tem uma carreira como roteirista, fez adaptações de bons textos, como Straight Outta Compton e outras mais complicadas e moralistas, como Torres Gêmeas de Oliver Stone, e entre os dois, essa nova adaptação lembra mais a segunda, principalmente no problema que é a total falta de sutileza, especialmente quando fala sobre os abusos que as mulheres sofrem. Há algumas semelhanças narrativas com As Viúvas, de Steve McQueen, mas qualquer comparação fora o plot soa ofensiva para esta obra citada.

    As mulheres, na falta de dinheiro, resolvem tentar pegar as coletas de seus três maridos, mas a estratégia delas é ridiculamente inverossímil demais para uma adaptação que quer parecer realista. Não é trabalhado em nada o modo como elas se organizaram, nem um nível mínimo, no entanto, elas passam a competir com os gangsteres irlandeses veteranos e essa aura falsa piora quando o escopo de mafias aumenta, com os judeus e italianos.

    Não se convence em nada que o trio de personagem controla os meandro do crime na Cozinha do Inferno. Quase não há esforço, nem por parte delas nem por parte do roteiro de Berloff. Há muitos atalhos que apela para o lugar comum, e tudo fica incongruente, ao ponto de ter até um personagem que se vale de Deus Ex Machina, aparecendo convenientemente para causar impacto e sensacionalismo, e pior, se apela para um “quase” gore gratuito, que só está lá para a trama parecer adulta.

    Os antagonista são fracos, a rivalidade na família criminosa idem e os personagens secundário não tem qualquer tridimensionalidade – pudera, pois até Moss e McCarthy tem falas dignas de riso, e justificativas das mais pobres para a maioria de suas ações, a exceção aí é Ruby, embora sua interprete não seja muito boa além da beleza. A HQ não é bem traduzida, a questão de que o crime organizado é preconceituoso demais para aceitar mulheres mandando é bem trabalhado no gibi, aqui, não, tudo prima pela superficialidade.

    As passagens de tempos e falas sobre a duração pena dos três maridos soam confusas demais, há contradições e falas bem crassas sobre esse  assunto, até porque não faz qualquer sentido elas como parentes ficarem surpresas sobre o retorno a liberdade dos mesmos, até porque o script quer fazer crer que elas são super inteligentes. O discurso feminista perde força com os clichês do roteiro, cenas que deveriam ser icônicas, como quando Claire se “batiza” não tem impacto, pois são repetidas ao longo do filme e não tem peso. O humor normalmente é fora de hora, e várias atitudes dos bandidos não faz sentido, nem as mudanças de gênero, tipo físico e personalidade das heroínas é sub aproveitada, a questão da mulher negra é arranhada superficialmente.

    Rainhas do Crime acaba soando moralista e muito banal, desdenha de maneira ingênua e pueril sobre o discurso progressista que defende, soando em alguns pontos como uma piada de mal gosto, e todas as boas intenções politicamente corretas do filme se diluem, não consegue entreter ou divertir tampouco faz se importar com as personagens, o que é uma pena, pois a historia original tinha um belo potencial.

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  • Crítica | Poderia Me Perdoar?

    Crítica | Poderia Me Perdoar?

    Filme que entrou no circuito de premiações recentes, Poderia Me Perdoar? é uma cine biografia que mostra a vida e rotina triste de Lee Israel, uma escritora com claros problemas de relacionamento, que se vê em uma situação limite, sem dinheiro para sustentar a si e a sua gatinha já idosa, com a situação agravada quando logo no início ela perde seu emprego, sua atual e única fonte de renda.

    O longa dirigido por Marielle Heller – a mesma que fez o divertido Diário de Uma Adolescente – tem Melissa McCarthy no papel principal, fazendo uma pessoa de gênio forte, deprimida, com praticamente nenhum amigo e que sofre de uma sensação agorafóbica enorme, com uma clara dificuldade da mesma de ter convívio social.  Lee aparentemente escreve bem, mas sua inabilidade em lidar com qualquer pessoa a faz soar desinteressante não só para o convívio social, mas também para oportunidades profissionais, uma vez que sequer sua agente costuma recebe-la.

    Essa rotina é quebrada quando o personagem de Jack Hock (Richard E. Grant), um homem que durante sua juventude frequentou as altas rodas e que na atualidade da historia vive de pequenos delitos. O roteiro baseado no livro auto biográfico de Israel não é muito sutil, mas essa introdução dos personagens podem ludibriar o espectador, fazendo ele acreditar que o texto trata mal essa relação de Jack e Lee, fato é que essa é uma das poucas coisas no filme que funciona quase a perfeição.

    O inicio do drama de Israel é extremamente melodramático, para mostrar o quanto a personagem é mal compreendida McCarthy é obrigada a passar por muitos momentos constrangedores, onde uma porção de clichês aparecem para explicar o motivo dela ser mal vista por terceiros, construção essa típica de literatura em folhetins.

    A música de Nate Heller ajuda a maximizar o incomodo, ainda mais no início. A trama começa a se tornar mais suportável quando Lee cede a tentação de cometer pequenos  delitos para conseguir algum dinheiro para se sustentar. O começo dessa nova tentativa de lucrar é bem tímido, e ao menos nisso Heller acerta bastante, ao desenvolver de maneira gradual a escalada de coragem pela qual passa Israel, que vai ousando de acordo com o feedback que recebe. A questão é mesmo nos bons e emocionantes momentos se vê um moralismo exacerbado, com uma lição quase bíblica a ser entendida pela protagonista, de que um abismo chama outro abismo, e nada poderia ser mais avesso a vida e estilo de Lee Israel do que ensinamentos cristãos.

    Ao menos em um quesito o filme acerta demais, na construção do suspense e da tensão. Mesmo com um script repleto de problemas e buracos, o desempenho de McCarthy e Grant faz o espectador se pegar torcendo pelo sucesso dos personagens, mesmo sabendo que o que fazem é moralmente errado. É a performance dos dois atores que faz com que Poderiam Me Perdoar? seja um pouco mais tolerável, visto que o drama apresentado é apelativo e medíocre em sua exploração emocional.

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  • Review | Gilmore Girls: Um Ano Para Recordar

    Review | Gilmore Girls: Um Ano Para Recordar

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    Nos últimos anos, a televisão norte-americana vive o fenômeno da retomada de seriados já dados como encerrados, que ressurgem em geral em novas roupagens (episódios especiais, em menor número e divulgados previamente por meses a fio, contando com o apoio de uma grande base de fãs). Essa nova estratégia de produção apresenta resultados bastante distintos. Por um lado tem-se a oportunidade de resgatar clássicos cancelados prematuramente, como Twin Peaks, que tem nova temporada prevista para 2017 após um hiato de mais de 25 anos. Na outra ponta do espectro, observa-se a questionável sobrevida de seriados já mais que concluídos, que capitaliza em cima da paixão arraigada que eles despertam (caso de Arquivo X, cuja temporada de 2016 viveu exclusivamente de passado, sem apresentar nada de realmente novo e deixando dolorosamente evidente o quanto o conceito envelheceu nesse meio-tempo).

    Netflix, que vem investindo já há algum tempo nesse tipo de iniciativa, tendo produzido uma nova temporada de Arrested Development em 2013, lançou recentemente uma mini-temporada da cultuada Gilmore Girls – não sem antes disponibilizar as sete originais completas em seu catálogo. O novo projeto, intitulado Gilmore Girls – Um Ano Para Recordar, é composto de quatro episódios de cerca de 90 minutos de duração, e retoma os personagens quase uma década à frente de onde os deixamos. A iniciativa parecia se pautar no desejo da criadora da série, Amy Sherman-Palladino, de dar uma conclusão mais a contento à sua criação, já que ela havia sido afastada como showrunner na última temporada do programa, considerada pela maioria dos fãs bastante fraca.

    A originalidade da série, criada em 2000, consistia em mostrar uma dinâmica pouco usual entre uma mãe solteira (Lorelai, interpretada por Lauren Graham) e sua filha adolescente (Rory, Alexis Bledel), com apenas dezesseis anos de diferença entre elas, e trazia a novidade de ter um grande número de mulheres entre os personagens centrais, com os homens em geral gravitando  ao seu redor. Revendo o seriado, é fácil perceber, no entanto, que ele envelheceu mal – como poderia uma série considerada feminista na atualidade romantizar um pai ausente, ou apresentar como mocinhos os diversos namorados machistas de Rory? O ponto alto de Gilmore Girls nunca foi a sua narrativa, mas sim a estrutura dos seus diálogos, em especial aqueles entre mãe e filha, falas enormes e apressadas que relevam um universo compartilhado, pleno de referências culturais interessantes, desde grandes romances a programas de televisão de qualidade mais que duvidosa.

    A versão de 2016 é bem-sucedida ao retomar essa qualidade na construção de diálogos desde a primeira sequência. A dinâmica entre mãe e filha se mantém como o ponto alto da série e os episódios funcionam bem no formato mais longo e sem pausas para comerciais. No entanto, o tratamento dado à retomada dos conflitos é muito inconsistente. Enquanto alguns personagens surgem em novas jornadas interessantes, como Rory (que vive as incertezas típicas da geração que tem 30 e poucos anos hoje em dia – com diversas piadas acertadas nesse sentido) e Emily, a avó, que precisa se reinventar depois de perder o marido, outros permanecem deixados de lado. Um exemplo é Lane, a melhor amiga de Rory, que na série original era o centro de um grande número de subtramas, e não tem espaço algum na nova versão. O mesmo acontece com Sookie, que aparece em apenas uma cena devido a Melissa McCarthy (protagonista do reboot de Caça-fantasmas) não ter conseguido conciliar as gravações com sua carreira mais que estabelecida nos blockbusters. Já a crise de Lorelai com a morte do pai e suas escolhas de vida, em especial seu relacionamento com Luke (Scott Patterson), se é construída de forma coerente, resolve-se de maneira bastante abrupta e pouco inventiva.

    Algumas bem-vindas atualizações parecem ter sido incorporadas por conta das críticas que a série recebeu ao ser revista nos últimos anos, como o aparecimento de personagens gays (até então Stars Hollow era uma cidade sem qualquer representante da comunidade LGBT, fato que vira piada na nova temporada) e a representação do pai ausente, que na nova versão é problematizada mais a fundo.

    No fim das contas, a nova temporada, recheada de participações especiais de personagens clássicos, que (outro acerto!) surgem em sua maioria de forma bastante orgânica, cumpre seu papel: dar aos fãs um final um pouco mais redondo para a história – supondo que não se capitalize em cima de uma nona temporada no futuro, o que, na era das retomadas infindáveis, é sempre possível.

    Texto de autoria de Maria Caú.

  • Crítica | Caça-Fantasmas (2016)

    Crítica | Caça-Fantasmas (2016)


    Caça Fantasmas

    Fato novo é um termo bastante usado no futebol – em especial no brasileiro – para justificar qualquer novidade que visa dar uma sacudida no ânimo de um time que está mal. Talvez esse seja o paralelo mais justo com o ocorrido na franquia Caça-Fantasmas, paralisada na produção de filmes oficiais desde o fim da década de 1990, ainda por Ivan Reitman. O escalado para a função de modificar tudo seria Paul Feig, que tem por costume escalar no elenco suas musas Kristen Wiig e principalmente Melissa McCarthy, que já havia feito com ele Missão Madrinha de Casamento, As Bem Armadas e A Espiã Que Sabia de Menos. Antes mesmo do lançamento, o filme esteve envolto em polêmicas para muito além da qualidade de sua trama ou filmagem.

    A história se assemelha em alguns pontos ao esqueleto do clássico Os Caça-Fantasmas de 1984, sendo repleto de homenagens e aparições do elenco anterior. A história começa mostrando a acadêmica Erin Gilbert (Wiig), tentando alcançar status dentro da universidade em que trabalha, fracassando graças ao seu envolvimento no passado com Abby Yates (McCarthy): quando juntas, escreveram um obscuro livro sobre estudos paranormais. Aos poucos, aparecem outros personagens, bastante arquetípicos, desde a tresloucada e engraçada Jillyan Holtzmann (Kate McKinnon), que é revelação do longa, até Patty Tolan (Leslie Jonan), que age como a estereotipada mulher negra feita de alívio cômico no papel de Winston Redmore, ainda que suas justificativas sejam ligeiramente mais claras.

    O grave problema do filme mora no roteiro de Feig e Katie Dippold cuja parceria esteve presente em As Bem-Armadas e Parks and Recreation, e o montante de coincidências e situações forçadas. Apesar de introduzir melhor a questão da credulidade, opinião pública e dos tecnobables, as piadas nem sempre funcionam, tanto nos momentos em que Wiig tenta ser engraçada quanto nas participações especiais.

    Ao tentar tornar a trama verossímil ao mostrar a prefeitura de Nova York agindo para encobrir os eventos paranormais, as qualidades se dividem, sendo positivo ao trazer uma velha questão à tona, que seria o encobrimento de informação, fortalecendo teorias da conspiração, em um bom deboche à paranoia do americano, e negativo quando mostra com simplismo as curvas do destino. Falta conflito, um vilão decente, ainda que sua participação quando tomado seja interessante.

    Outro fator a discutir em relação à qualidade é o fato de as melhores piadas estarem com Kevin (Chris Hemsworth), que teve sua figura relacionada aos principais materiais de divulgação, um pouco por seu carisma mas principalmente para tentar evitar o boicote de setores mais conservadores a um filme de aventura majoritariamente escalado por mulheres. No entanto, sua posição é subalterna, como um sujeito inapto e escolhido por seus dotes físicos, invertendo irônica e inteligentemente os arquétipos normalmente exibidos nos filmes mainstream no quesito sexo-objeto.

    É um fato indiscutível que Caça-Fantasmas não seja um filme irrepreensível, mas tem uma carga de diversão alta, como o primeiro. Qualquer carga de ódio motivado pelo protagonismo das atrizes é injustificado em matéria de análise fílmica e vergonhoso no sentido ideológico, principalmente por este ser o menos gorduroso e piegas dos filmes de Feig desde Menores Desacompanhados. Não se justificam, em absoluto, as notas e reviews extremamente negativas a seu respeito, visto que a obra não cai na besteira de ser uma refilmagem literal do filme de Reitman, inclusive contando com a presença de espírito de fazer piada com o machismo presente em parte do público.

  • Crítica | A Espiã Que Sabia de Menos

    Crítica | A Espiã Que Sabia de Menos

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    De nome traduzido bobamente, A Espiã que Sabia de Menos – do original Spy (Espião) – subverte o nome brasileiro da recente adaptação do livro de John Le Carré, ainda que sua base de paródia seja mais próxima aos filmes de espiões britânicos, como 007. Paul Feig retoma a parceria de sucesso com Melissa McCarthy, vista em Missão Madrinhas de Casamento e As Bem Armadas, ainda que toda a qualidade desta empreitada seja discutível.

    A primeira cena é tão atrapalhada quanto a premissa do filme, mostrando uma sequência entregue já no trailer, com um Jude Law usando uma peruca fajuta e fazendo trapalhadas gerais enquanto agente. O personagem Bradley Fine, apesar deste momento em particular, é um exímio espião apoiado por Susan Cooper (McCarthy), sua parceira e auxiliar. A dupla funciona apesar de muitos percalços. Apesar de estimar a parceira, Fine (Law) não consegue deixar de subestimar sua conviva graças a seu avantajo físico, algo que faz agravar os problemas com auto estima da moça, o perfeito arquétipo de gordinha mal de vida, um estereótipo relegado a todo momento para a atriz, recurso cada vez mais irritante enquanto gag de humor.

    O espectro de girl power aumenta através da opositora Rayna Boyanov (Rose Byrne) que passa por cima de qualquer inexperiência feminina em sequências de ação, mostrando que nem a CIA ou os agentes ingleses lhe são páreos, aumentando o escopo de propaganda feminina ao percebermos que o responsável ideal para a missão de revanche seria uma mulher, recaindo a missão sobre a invisível gordinha.

    Ainda que o disfarce inicial de Cooper seja apenas de observar e relatar os fatos – repetindo as mesmas brincadeiras do seriado Mike And Molly  seu trabalho é cortado pela ação de Rick Ford (Jason Statham), um espião mais experiente, que também deseja desmantelar o clã de terroristas e que começa a agir de modo isolado.

    Feig continua escatológico, fazendo sua protagonista ter cenas equivalentes a sequência do cocô na pia em Missão Madrinhas de Casamento, também executada por McCarthy. Ao menos, o protagonismo não foge das figuras femininas do elenco, ainda que a miscelânea de sequências toscas aumente com o acréscimo de cada vez mais figuras grotescas. As cenas em que se exige uma maior perícia em ação são bem construídas com corridas, manobras, golpes e parkour bem executados, ainda que seja perceptível os momentos em que os dublês entram em cena, com closes intrusivos nesses profissionais.

    Mesmo com os esforços, o diretor prossegue reprisando os mesmos erros de seus filmes anteriores, somente mudando o cenário e melhorando sutilmente o nível das piadas propostas no roteiro. Há que se notar uma evolução em cenas de aventura, as quais a suspensão de descrença não é tão exigida quanto em As Bem Armadas, mas ainda assim, A Espiã que Sabia de Menos não consegue fugir da mediocridade habitual das caras paródias hollywoodianas. Sendo, no máximo, um divertido filme caso o público se permita não ligar para os graves defeitos de concepção da obra.

  • Crítica | Um Santo Vizinho

    Crítica | Um Santo Vizinho

    Um Santo Vizinho 1

    Politicamente incorreto, Um Santo Vizinho, do diretor Theodore Melfi, conta a biografia de Vincent de Van Nuys, um veterano de guerra que, habitando um bairro suburbano, vive uma rotina distante da de um comum homem sexagenário. Sua condição financeira precária ajuda a formar a imagem de completa decadência, de espírito, corpo e alma, motivo que justificaria a completa ausência de educação, sensibilidade ou mísero esforço em ser uma pessoa aceitável em comunidade.

    Bill Murray consegue imprimir em seu personagem uma antipatia quase automática. Seu modo de tratar as pessoas é odioso, mas compreensivo, possivelmente fruto de um desprezo constante a sua condição de ex-combatente ignorado pelo governo, a quem serviu. Suas relações não passam da frivolidade. A ausência de seres humanos que o cercam não por obrigação – destacando-se a prostituta Charisse (Naomi Watts) que o satisfaz – o faz ser rude com qualquer ser que o orbita, incluindo sua nova vizinha Maggie (Melissa McCarthy), a qual acaba conhecendo a pior parte do carisma do ancião, após um acidente de mudança.

    Maggie é mãe de Oliver (Jaeden Lieberher), uma criança de infância conturbada, fruto do divórcio de seus pais e da responsabilidade de habitar uma escola nova, em uma cidade nova, sem nenhum conhecimento prévio ou habilidade maior de socialização. Após esquecer as chaves de casa, o menino acaba inconvenientemente invadindo a privacidade do homem velho, que o recebe a contragosto em sua casa, fazendo as vezes de uma nada apropriada babá.

    O roteiro de Melfi explora a multiplicidade de comportamentos, revelando universos completamente distintos de uma família um tanto carente e de um homem que não se importa com ninguém além de própria rabugice. Apesar da premissa repetida, é o carisma – ou a completa falta do sentimento – que faz com que as personagens sejam abraçáveis pelo público. Personas antissociais e com dificuldade de interação tornam-se cada vez mais comuns ao gosto geral, visto que os ditos inapropriados ao convívio diário saíram de suas cavernas, exigindo ser representados em tela, não mais somente por anti-heróis mal encarados, mas também por cidadãos ordinários.

    Apesar de se afeiçoar ao menino, claro, de modo lento, os problemas de Vincent não somem automaticamente: ele continua em sua jornada rumo ao suicídio gradativo, qualidade negativa que se assemelha ao drama de Maggie em tentar manter a guarda de seu filho, mesmo com seus crescentes problemas financeiros. Na prática, os dois personagens adultos têm a mesma característica, que é a carência de espírito, manifestada em Maggie como o medo de perder seu motivo de viver, tendo no comportamento odioso a parte de Vincent. O menino, peça inocente na equação, também guarda enormes problemas de aceitação, semelhança que cada vez mais une o incompreendido trio.

    A ternura da fita é presente em avatares estranhos. Enquanto a relação entre um velho misantrópico e um menino inocente é carregada de brandura e doçura, o papel da igreja e religião é discutido além da crença comum no Divino, com o cuidado do texto em não vilanizar a instituição enquanto a critica.

    Ao contrário do que a trajetória do herói normalmente revela, a evolução do quadro em Um Santo Vizinho não tem nada de edificadora, especialmente em relação ao julgamento da custódia de Oliver. Ao descobrir os lugares onde Vinny levava o garoto, ela o confronta, em uma cena que visualmente distingue ambas rotinas, com a câmera posicionada em plano aberto, onde seu meio divide as propriedades dos vizinhos, exibindo uma cerca de arame que separa o quintal árido do sexagenário e o verde lar da enfermeira cuidadosa. Dois lugares distintos, cuja interseção humana – Oliver – une-os de maneira inexorável.

    A falida moralidade é fortemente reprovada, assim como a individualidade exacerbada dos que não têm qualquer crença maior, como é o caso de Vincent. A paralisia na fala, que o personagem sofre na metade final do filme, ajuda a retratar o quão retrógrado é seu modo de vida e o quanto isso faz mal a todos à sua volta, especialmente a ele próprio, num modo de existir absolutamente triste.

    A beatificação do personagem título ocorre a despeito de todas as trapaças que ele cometeu ao longo de sua existência, numa mostra de que a redenção pode chegar mesmo após longos anos de completo desdém geral. Oliver se esforça para produzir um belo discurso que glorifica os feitos do passado e do presente de Vincent, destacando suas qualidades, indo na contramão do que a opinião pública diria. A possibilidade de queda por motivo de depressão é concluída com maestria pelo pequeno rapaz, que, mesmo em sua ingenuidade infantil, consegue enxergar além das óbvias aparências. O modo leve com que a fita é levada contradiz a postura de seu protagonista, mas condiz com cada aspecto sensível do texto dramático, exibindo um final surpreendente para a jornada do rabugento vizinho, que segue sua existência sem ser complacente com o conservadorismo ou com o politicamente correto, mas conseguindo, ao seu modo, se aproximar da felicidade.

  • Crítica | Se Beber, Não Case! – Parte III

    Crítica | Se Beber, Não Case! – Parte III

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    O último capítulo da Saga Hangover começa de forma grandiosa, nas primeiras cenas o público tem uma prévia do que está por vir. Todd Phillips opta por fugir do lugar comum em que a franquia estava, sai de sua zona de conforto e explora pela primeira vez uma história fora de sua fórmula usual.

    Dessa vez a jornada heroica cabe a Alan – Zach Galifiniakis. Suas atitudes impensadas dão início a uma cadeia de eventos, que culminaria em uma tragédia familiar. Após o ocorrido, é mostrado um pouco do background do personagem, e escancara algo que antes já era apenas sugerido: os problemas de ordem mental de Alan. A situação se agrava pela recusa dele em tomar seus remédios prescritos. Stu, Phill e Doug voltam para tentar conscientizá-lo de que precisa se tratar, e as desventuras do grupo começam a partir daí. Os absurdos e as tiradas únicas do protagonista ainda são frequentes, as gags e piadas de humor ácido continuam afiadas, mas o foco na evolução do personagem mais memorável da série é o mais importante.

    Mesmo sendo uma fita de comédia, nessa continuação os gêneros acabam se misturando. Em alguns momentos é um filme de assalto, em outros é de espionagem, contém elementos de drama em quase toda sua totalidade, etc. O roteiro toca em temas pesados como psicopatia, esquizofrenia, assassinato, latrocínio, criminalidade internacional, rixas entre criminosos, assim como nos filmes anteriores, mas dessa vez o enfoque é um pouco menos superficial.

    A qualidade na direção aumentou muito, Todd Phillips evoluiu a olhos vistos e o seu script – unido a Craig Mazin – está mais maduro e assim como seus enquadramentos, o realizador parece querer demonstrar as suas influências, pegando emprestado estilos e modos de filmar de seus contemporâneos – o repertório de imagens emula desde Christopher Nolan, a Sam Mendes e Paul Greengrass, ainda que em um tom de paródia. Sua câmera deixou de ser tão estática, agora ela é móvel e viaja junto com os personagens. Certamente esse é o episódio mais épico e bem realizado da franquia.

    Mais uma vez a química entre Bradley Cooper, Zach Galifiniakis e Ed Helms provou-se eficaz. Mesmo as pequenas participações de Heather Graham e do Bebê Carlos enriquecem a trama. Ken Jeong e seu Leslie Chow ganha ainda mais destaque, seu personagem é o melhor explorado (fora o trio de protagonistas), e tem até bastante substância, guardadas as devidas proporções.

    O espectador que procura uma comédia despretensiosa certamente irá rir muito nesse Se Beber, Não Case! – Parte III, mas o filme é realizado para o fã dos personagens, pois demonstra como cada um dos integrantes da alcateia está após tantas aventuras juntos, o quanto a relação entre eles se fortificou e tornou-se algo estritamente necessário e simbiótico. E o final extraordinário mostra que não importa o quanto eles podem crescer e evoluir, não há como fugir ou negar a própria natureza.