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  • Crítica | As Panteras (2019)

    Crítica | As Panteras (2019)

    A nova versão de As Panteras, já começa com uma ação das agentes de Charlie, sem muita introdução, se baseando na beleza e carisma de Kristen Stewart para não só criticar o machismo do cinema mainstream mas também o tradicional modo de subestimar mulheres basicamente por elas serem atraentes. Nesse ínterim já dá para perceber os pontos positivos e negativos do longa, introduzindo não só a já citada Sabine, mas também a outra agente que será protagonista, Jane (Ella Balinska), além de ocorrer todos esses momentos no Rio de Janeiro, com a trilha musical de Anitta.

    Essa versão já começa aposentando um dos Bosley, de Patrick Stewart, e nesse momento além de ocorrerem brincadeiras com as versões antigas, tanto da série clássica quanto dos filmes dos anos 2000 feitos por MCG. Essa versão, de Elizabeth Banks (que também atua, por sinal, num papel bastante importante como uma das Bosley) toma bastante cuidado para não sexualizar ao extremo suas personagens, mas também não cai na armadilha de deixar o filme inócuo ou assexual.

    As mulheres agem como querem, se vestem como querem e inclusive usam sua sensualidade para ludibriar os homens imbecis, em uma versão bem mais acertada que boa parte das tentativas de Zack Snyder em ser elegante com seu nada sutil Sucker Punch e obviamente sem a caretice do visionário.

    A introdução de personagens não afeitos ao mundo da espionagem é bem pensada, a personagem de Naomi Scott, Selena é inteligente, proativa e interessante para muito além de sua beleza, até porque a figura de Femme Fatale Alfa é Sabine. O trio de protagonistas aliás faz muito uso disso, são mulheres bonitas, carismáticas, divertidas, que usam decotes mas que são mais do que apenas rostos e corpos bonitos.

    A configuração da Agência Townsend não apresenta quase nada de novo em níveis de estruturas, sendo basicamente uma imitação do MI-6 de James Bond ou o serviço secreto que municia os personagens de Velozes e Furiosos 8 ou Hobbs e Shaw. A trama a respeito da nova tecnologia de iluminação – a tal Calisto – também é bastante genérica, mas até essa falta de inventividade é driblada pelo desempenho das personagens principais, incluindo Banks como a patroa/superior das mesmas.

    As questões sentimentais também não são bem pensadas, as perdas que as meninas sofrem não causam tanto impacto, mesmo que os personagens que perecem sejam feitos por bons atores, mas certamente o que faz Panteras ser tão legal é o choque de personalidade tão diferentes. O trio funciona demais como equipe, sendo bem mais entrosadas que foram Lucy Liu, Cameron Diaz e Drew Barrymore, uma vez que elas realmente parecem amigas.

    As piadas, em especial as que passam pelo fato de que nem as mulheres ouvem Elena são ótimas, pois mostram que não são só homens que fazem as mulheres se calarem, mas também as pessoas (no caso aí, mulheres) arrogantes, que julgam principiantes de maneira desnecessariamente altiva.

    O plano maléfico dos vilões também não é bem construído – é recheado de furos – mas as Panteras ganha muito pelo entrosamento de suas estrelas, pelo ritmo frenético e pela graça com que tudo é conduzido, incluindo as cenas dos créditos, que são bem engraçadas e repletas de participações especiais.

    O ponto mais negativo do filme certamente são as cenas de ação, que carecem de força, não são tão bem conduzidas e parecem estar com o senso de urgência no mínimo, mas o desempenho do trio é muito bom, Scott faz a novata divertida e curiosa,  Balinska é uma bela surpresa, dado que seu carisma era pouco conhecido até então e Stewart rouba a cena, é engraçada até quando age como uma pessoa tonta, e essa tríade salva o filme da mediocridade que o roteiro infelizmente entrega.

  • Crítica | Aladdin (2019)

    Crítica | Aladdin (2019)

    O live action de Aladdin que Guy Ritchie dirigiu finalmente chegou aos cinemas, e sua recepção foi mista, de maneira justificada, dado se tratar de um filme irregular. A dúvida a respeito da fidelidade com o material original é respondida rapidamente, pois seu começo é diferente da animação, se situando em um navio e não no deserto, em uma variação interessante do conto inicial visto no longa de 1992.

    A ação segue com semelhanças enormes com a franquia de games Prince of Persia, tanto na encarnação do jogo clássico de 1989 quanto em suas reformulações pós-anos 2000. No entanto, em seu desenvolvimento dramático existe uma enorme pressa no tocante as conexões sentimentais, trabalhando essas relações apenas posteriormente. O texto é pouco inteligente, faz até estranhar em algumas de suas decisões, possivelmente causando confusão no espectador que não tenha a história do filme original fresca em sua memória, errando na maioria de suas escolhas ao refilmes as primeiras cenas que remetem aos momentos clássicos da animação.

    Mena Massoud se atrapalha um pouco ao tentar fazer um herói encantador e incompreendido, mas não compromete tanto, já Marwan Kenzari até tenta, mas o roteiro não permite muito além do clichê de vilão maniqueísta e didático. Naomi Scott brilha em praticamente toda cena que surge, sua Jasmine foge do estereótipo fútil de garota rica e apresenta uma mulher cheia de resoluções e ambições políticas, buscando entender os anseios e necessidades das camadas mais populares, nem que para isso ela precise romper com tradições milenares. Sua presença é soberba, melhorando até mesmo as interpretações de Massoud quando juntos. O desconcerto de Aladdin diante dela também é visto no desempenho dos atores, até porque o desejo da moça é expandir, conhecer novos mundos e pessoas, e não ficar restrita aos mesmos cenários, enquanto a dele, é provar ser mais que um simples larápio.

    Jafar é o calcanhar de Aquiles da produção em matéria de narrativa, tem um passado interessante, mas seu comportamento é mal desenvolvido e não justifica em nada toda sua oposição ao sultão, ao palácio e a Agrabah. Sua obsessão por poder é mal explicada. Pior, seu parceiro, Iago, que no original é engraçado e o segundo melhor alívio cômico, é sub aproveitado, não tendo qualquer graça ou um mínimo de carisma.

    Apesar de o começo tropeçar na falta de identidade que Ritchie insiste em colocar em seu filme, não decidindo entre ser uma cópia literal do outro filme, como foi A Bela e Fera, ou uma nova versão do conto (aliás, quando apela para isso o filme soa muito mais maduro), do segundo terço em diante há uma enorme melhora, não à toa isso acontece após a aparição de Will Smith como Gênio da Lâmpada. Sua animação em computação gráfica prossegue estranha em alguns momentos, mas é aceitável na maioria. Ele é divertido, carismático, faz piadas com linhas de tempo diferentes e é metalinguístico. O Gênio da Lâmpada rouba a cena sempre que aparece e faz uma versão inspirada, ainda que diferente da hiper cartoonizada que Robin Williams emprestou a voz na década de noventa. Smith é puro carisma, um verdadeiro mestre de cerimônias,  encantador como há muito tempo não era.

    A problemática mora na questão de quando não estão presentes Gênio ou Jasmine em tela, todo o resto empobrece, e perde as cores. Nem Aladdin e os outros coadjuvantes são inspirados, o que é uma pena, pois o desenho antigo era repleto de bons personagens, ainda que contassem com pouquíssimo tempo de tela. Dentro dessa mentalidade de comédia, a cena de dança em que Ali Ababwa é ao mesmo tempo tosca e maravilhosa, e resume bem o espírito que o filme tem, ou ao menos o que ele tenta alcançar, não se levando a sério ao mesmo tempo que é feito com muito esmero e carinho.

    Esta versão de Aladdin varia entre o épico, com Jasmine e sua ideia de governar para o povo, e o patético com Jafar e sua obsessão pelo poder, repleto de textos expositivos e contando com um vilão unidimensional que não faz o expectador crer em nada, e é nesse meio termo difícil que o filme tenta se equilibrar, ainda que seja muito mais divertido e animado, legitimando a pecha de filme de princesa, para o bom sentido, inclusive invertendo o protagonismo quando quer, e é nesses momentos, que o filme de Ritchie mais é exitoso.

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