Tag: Paul Wernick

  • Crítica | Esquadrão 6

    Crítica | Esquadrão 6

    Quando você inicia Esquadrão 6 na Netflix, surge o aviso “Algumas cenas contém efeitos estroboscópicos que podem afetar espectadores fotossensíveis”. Não me lembro de ter visto algo semelhante em algum filme de Michael Bay, mas nesse aqui é um aviso que não deve ser ignorado. O diretor está no auge da sua forma aqui, o que não significa que seja algo bom. Tirando uma ou outra sequência de ação, Esquadrão 6 é um amontoado de coisas que são explosivamente jogadas na tela, com um fiapo de trama genérica que tenta se passar como espertinha e uma narrativa que deixa o espectador mais perdido que funcionário das Lojas Americanas na Black Friday.

    Na trama, Ryan Reynolds é um bilionário que forja a própria morte e reúne um grupo de profissionais altamente treinados em suas áreas de atuação (e que também forjam a própria morte) para atuar em missões ao redor do mundo. A primeira empreitada deles é derrubar o ditador de um país fictício chamado Turgistão e substitui-lo por seu irmão, um democrata idealista amado pelo povo da nação.

    Esquadrão 6 se inicia com uma perseguição absurda pelas ruas de Roma, onde o diretor Michael Bay mostra toda a sua capacidade de construir algo simultaneamente alucinante e confuso. Alguns momentos da perseguição de uma pirotecnia visual que chega a ser sublime, enquanto outros exigem algum tempo para que o cérebro processe o que acabou de acontecer. Após essa perseguição inicial, o filme segue entre uma sequência de ação e outra enquanto é mal costurado pelo roteiro extremamente genérico da dupla Rhett Reese e Paul Wernick, idealizadores da duologia Zumbilândia. Não é exagero dizer que o ponto do alto do filme é o início e depois a qualidade despenca vertiginosamente, provocando um cansaço no espectador que não aprecia algumas outras sequências engenhosas que acontecem ao longo do filme. Nessas sequências, Michael Bay mostra que tem capacidade de fazer coisas boas, mas prefere elevar tudo à enésima potência e entregar uma pornografia de explosões, tiros, gritaria e piadas ruins.

    Como dito anteriormente, o roteiro não ajuda nada ao resultado final da fita. Ainda que tente conferir background a cada um dos personagens, as histórias não tem nada de crível e nem conseguem despertar simpatia no espectador. Os flashbacks são tão confusos que é muito fácil se perder nos eventos e pra piorar, foi feito à moda dos filmes de início de carreira do cineasta inglês Guy Ritchie. Só que enquanto esse artifício funciona muito bem até mesmo nos filmes ruins do ex-marido de Madonna, aqui só pesam contra a narrativa. As relações interpessoais dos personagens são as mais artificiais possíveis, com direito à romances forçados, cenas de sexo sem o menos contexto e tornando enfadonho o conceito estabelecido por Ryan Reynolds de que o esquadrão não deve ter nenhum tipo de relação afetiva entre si e a derrubada dessa proposta com o desenrolar do filme. No tocante às atuações, Reynolds se esforça em tela e segura bem a onda, assim como a sempre competente Melanie Laurent, mas o resto do elenco fica preso diálogos ruins e piadas sem graça, o que é uma pena porque todos tem capacidade pra muito mais.

    O sentimento que fica após Esquadrão 6 é bem agridoce, pois ao mesmo tempo que gera uma decepção pelo que acabou de ser assistido, fica a esperança de que Michael Bay coloque a mão na consciência e reflita que tem potencial para entregar ótimos filmes de ação. Só precisa segurar a onda e não sucumbir aos seus delírios pirotécnicos.

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  • Review | Zombieland (Piloto Cancelado)

    Review | Zombieland (Piloto Cancelado)

    Após o enorme sucesso que foi Zumbilândia, houve um apelo geral por mais historias dentro desse universo, e foi nessa toada que foi aprovada uma série homônima, conduzida por Rhett Reese e Paul Wernick, os mesmos que produziram o reality show  The Joe Schmo Show e a série de comédia Wayne.

    É incrível como os primeiros minutos enganam demais, em uma sequência nonsense, onde um small talk insuportável acontece, por motivos fúteis, enquanto no fundo do cenário ocorre um ataque de zumbis. Os dois funcionário só para de tagarelar após um morto vivo invadir a janela do estabelecimento, e nesse ponto, é apresentado um dos personagens clássicos, Tallahassee,vivido por Kirk Ward, e não por Woody Harrelson. Esse talvez tenha sido o fator preponderante para o cancelamento da adaptação, pela Amazon.

    O tom do começo do episódio é até legal, e caso não tivesse como elenco principal versões alternativas dos vistos no filme, talvez seu potencial para o humor tipicamente bobo e sem noção dos Estados Unidos, poderia ser alcançado. Little Rock (Izabela Vidovic), Wichita (Maiara Walsh) e Columbus (Tyler Ross) não são tão carismáticos quando os de Zumbilândia original, mas não são exatamente ruins, tampouco causam ofensas a quem está vendo.

    De novo, há a demonstração de que a maioria das pessoas está anestesiada por seus proprio problemas pequeno burgueses, e isso seria retratado também em Zumbilândia: Atire Duas Vezes, obvio, de maneira muito menos preguiçosa que aqui. Os personagens entretidos com interesses pequeno burgueses são tão vazios que não percebem nem os ataques zumbis, nem tem noção de que o mundo como conhecem, acabou.

    O capítulo é dirigido por Eli Craig, e acerta ao brincar com o fato de  que o quarteto de herois não consegue encontrar mais sobreviventes, e quando encontram, esse morre, mas ele se perde na missão de recontar os clichês do longa-metragem, os melhores momentos são repetidos e sem  o trabalho de direção de  Ruben Fleischer, que era bom e mais assertivo que o de Craig, sem as personalidades originais, além de ser covarde em não prosseguir muito adiante na trama, mesmo as boas sacadas se perdem, como quando  um zumbi idoso que não consegue matar o herói, por conta da dentadura. A reclamação do roteirista e produtor Reese, de que foi o ódio dos fãs que sepultou o programa é injusto, para dizer o mínimo, pois houve pouco esforço criativo nesta versão de Zombieland, inclusive reciclando a contagem de vezes que Tal pronunciava a palavra Vagina.

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  • Crítica | Deadpool 2

    Crítica | Deadpool 2

    Como deveria ser, Deadpool 2 começa fazendo piada com as questões dramáticas vistas em Logan e no restante dos filmes da Marvel, zoando com a questão de o primeiro Deadpool ter tido uma classificação indicativa para adultos e o filme do mutante envelhecido também o ser. No entanto, como a metalinguagem que lhe é devida, essas referências são tratadas de maneira extremamente escrachada e engraçada.

    Apesar de ser ainda mais calcada na comédia, a versão que David Leitch apresenta possui algumas camadas de história que podem surpreender por ter uma profundidade não esperada, ainda mais se tratando de um filme baseado no personagem criado por Rob Liefeld. O início dessa nova aventura de Wade Wilson o coloca de volta ao status quo real de Deadpool nos quadrinhos, um sujeito que não pode ter tudo, em decorrência da natureza de seu trabalho.

    Ryan Reynolds parecia à vontade no papel em 2016, mas nesse ele está ainda mais afiado e afinado, não à toa ele é um dos roteiristas, junto a Paul Wernick e Rhet Reese, dupla responsável pelo texto de Zumbilândia e Vida. O filme é hilário do início ao fim, graças a um humor juvenil, repleto de piadas que apesar de primárias tem algum contexto minimamente inteligente e parodial em relação a cultura pop e ao exploitation dos super-heróis dos quadrinhos.

    Uma das preocupações em relação a história era como se comportaria a questão da X-Force e outros elementos do universo mutante em torno do que Deadpool faz e, apesar de não se levar a sério, o entorno é bastante rico, cheio de detalhes não só na presença de Colossus (Stefan Kapici), Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand) e dos que habitam a Mansão X – que aliás, possui uma das melhores piadas rápidas dos últimos tempos – mas também dos coadjuvantes que acompanhariam Wilson. Tanto a Dominó de Zazie Beetz, quanto o Cable de Josh Brolin funcionam à perfeição, tendo performances engraçadas e sérias quando se exige cada uma dessas facetas. Ambos atores estão bastante à vontade, e em forma invejável, dado que suas piadas e cenas de ação são plenamente cabíveis.

    Uma das pontas soltas no final de X-Men: Apocalipse foi de certa forma solucionada aqui. Havia uma placa falando de Essex, que nos quadrinhos, é o alter ego do Senhor Sinistro, e apesar de não ser muito aprofundada nessa questão, ela é aventada no roteiro, e tem uma importância dramática forte, em tom denunciativo, ligado ao personagem Russell Collins, interpretado pelo jovem ator Julian Dennison. A fim de não atrapalhar a experiência de quem ainda não viu, não me aprofundarei nessa parte da trama, mas quase todas as surpresas que envolvem esse papel são muito boas, e guardam alguns fan services e inserções de personagens inesperados e que não soam gratuitos, apesar de serem aparições bombásticas.

    Deadpool 2 consegue ser mais escatológico e asqueroso que o primeiro e todo o elenco está muito confortável com isso. A quantidade de vezes que Wade se auto mutila é de se perder as contas e o modo como ele se recupera dessas feridas acrescenta ainda uma nova camada de piadas sujas e humor físico juvenil. Mais uma vez o conjunto de referências reverencia as obras citadas, mas também faz comentários sobre o quão previsíveis são os blockbusters atuais. O filme parece a mistura perfeita entre uma história original com elementos típicos dos filmes antigos de David e Jerry Zucker, com a diferença de que esse é realmente inspirado, como haviam sido os filmes da dupla com Leslie Nielsen, claro, com Reynolds no centro das articulações.

    O curioso na história do longa é que ela não possui um vilão central, ao contrario, as circunstâncias e as possibilidades de futuro é que fazem os antagonistas. Se há alguma maturidade certamente ela está na ausência de maniqueísmo nesse quesito, fato que faz com que toda a fantasia debochada do Mercenário Tagarela consiga estar tão bem humorada e tão exímia em falar de modo leve sobre sentimentos depressivos bastante pesados. As crises existenciais do personagem principal fazem sentido, aliás são até aprimoradas, se comparar com as alguns de seus arcos nos quadrinhos, sobrando então um produto metalinguístico e que consegue se vender bem como comédia descompromissada, aventura escapista ao estilo Marvel – apesar de ser produzido ainda pela Fox – e por fim, conseguindo superar boa parte da concorrência com a própria Marvel Studios, mesmo nas cenas pós créditos, mais interessante e engraçada que a maioria esmagadora das produções em Kevin Feige estava mais envolvido.

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  • Crítica | Vida

    Crítica | Vida

    No espaço, ninguém pode ouvir você gritar. Em 1979, Alien: O Oitavo Passageiro chegou aos cinemas com esse slogan. Principal expoente do “terror espacial”, o filme dirigido por Ridley Scott gerou uma série de homenagens, cópias e outros sub-produtos. Nenhum deles se equiparou ao original, no entanto, inegável mencionar que algumas dessas produções ganharam certo destaque ao seguir o modelo estabelecido pelo clássico de Scott. Vida, dirigido por Daniel Espinosa, é uma dessas produções.

    Na trama, seis cientistas a bordo da Estação Espacial Internacional obtêm de volta uma sonda problemática que foi à Marte em busca de evidências de vida. Ao analisarem o material, descobrem uma forma de vida unicelular que estava presente no solo do planeta vermelho. Batizado de Calvin, o organismo passa a reagir a estímulos externos e evolui de forma assustadora até se tornar um ser complexo e de instinto assassino. Após fugir do laboratório, Calvin passa a caçar um a um dos cientistas, mostrando ser uma ameaça terrível que não pode chegar à Terra.

    O roteiro escrito por Rhett Reese e Paul Wernick (dupla de Zumbilândia, Caça aos Gângsteres e Deadpool) não propõe grandes questionamentos filosóficos, ainda que ouse uma pincelada rápida na questão acerca de estarmos ou não sozinhos no universo. Percebe-se desde o início que a intenção é o entretenimento puro e simples, uma vez que situações eletrizantes ou de suspense vão se encadeando rapidamente dentro do filme. Entretanto, isso acaba por diminuir o impacto de alguns acontecimentos e faz com que o espectador não sinta a menor simpatia pela maioria dos personagens, pois há pouco ou nenhum desenvolvimento da maioria deles. Só Jake Gyllenhaal e Rebecca Ferguson ganham uma atenção especial. O cientista Hugh, vivido por Ariyon Bakare tem um breve momento para que suas motivações sejam explicitadas, mas rapidamente é esquecido. Há de se ressaltar também, que o roteiro confunde despreparo com burrice. Ainda que os astronautas não tenham a menor ideia de como lidar com uma criatura assassina, algumas atitudes tomadas pelos personagens são simplesmente imbecis, fazendo o espectador torcer pro alienígena translúcido devido à sua superioridade intelectual demonstrada em relação aos astronautas.

    O diretor Daniel Espinosa (de Protegendo o Inimigo e Crimes Ocultos) demonstra um bom domínio ao criar ótimas situações de suspense e ação. Ajuda muito a forma que Calvin assume durante o filme, um excelente conceito que faz com que o rumo de algumas cenas seja imprevisível. Entretanto, talvez prejudicado pelo roteiro, o diretor acaba acentuando a unidimensionalidade dos personagens. Além de se inspirar em Alien, Espinosa bebe na fonte de 2001: Uma Odisseia no Espaço, e em parceria com o diretor de fotografia Seamus McGarvey, cria planos lindíssimos, não apenas das instalações da estação espacial, como do próprio espaço. Outro ponto positivo são as perseguições em gravidade zero, onde o diretor cria uma constante sensação de imprevisibilidade. Já no tocante às atuações, há um competente trabalho de composição de personagens, ainda que o texto não colabore na construção ou mesmo dê credibilidade para a capacidade técnica de cada um deles. Os destaques ficam por conta da dupla de protagonistas Gyllenhaal e Ferguson.

    Enfim, Vida é um thriller de suspense espacial que não ousa motivar nenhum tipo de discussão filosófica. Foi concebido apenas para ser uma diversão para os seus espectadores e essa função ele cumpre muito bem.

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