Tag: Roald Dahl

  • Crítica | Com 007 Só Se Vive Duas Vezes

    Crítica | Com 007 Só Se Vive Duas Vezes

    Com 007 Só se Vive Duas Vezes é o quinto filme da franquia do espião inglês. A história aborda a investigação sobre o desaparecimento de duas naves, uma americana e outra soviética, e a missão do agente vivido por Sean Connery em tentar descobrir o responsável pelo plano que pode causar conflito entre as duas maiores potências mundiais da época.

    O tema do longa reflete muito bem o período envolvendo a corrida espacial entre as duas potências, além de referenciar Jornada nas Estrelas: A Série Clássica, bastante popular à época e estava em sua segunda temporada. Além disso, a velha fórmula das aventuras de James Bond se faz presente, gadgets criativos, moças bonitas, carros e estilo de vida luxuosos. Esse é o primeiro filme de Lewis Gilbert como diretor na franquia – ele retornaria em 007: O Espião Que me Amava e 007 Contra o Foguete da Morte, com Roger Moore no papel central. A questão mais marcante e positiva é como o super-agente é preparado, pois, ainda que em uma terra estrangeira e distante, ele parece ser íntimo de outras culturas e idiomas.

    Ao mudar de cenário a obra exibe suas fragilidades. Se apela demais para clichês locais. Connery se disfarça de japonês, incluindo não só um penteado com uma peruca muito falsa que o faz parecer um noviço franciscano, como na maquiagem forte que faz com que seus olhos fiquem puxados. Isso já era ofensivo na época e, obviamente, envelheceu bastante mal, para piorar ainda se mostra uma academia ninja nada discreta, que banaliza as práticas do ninjitsu e das artes marciais, desde o caratê até a esgrima samurai. Essa falta de sutileza causa um humor involuntário, onde claramente não era a intenção.

    Esse é mais um filme de Bond que aborda a organização da Spectre. O clássico vilão Blofeld é interpretado por Donald Pleasence, dos clássicos de John Carpenter (Halloween: A Noite do Terror, Príncipe das Trevas e Fuga de Nova York). No entanto, sua atuação é discreta e confere ao personagem um ar de mistério.

    A música You Only Live Twice, cantada por Nancy Sinatra e composta por John Barry, resgata bem a atmosfera dos filmes de aventura dos anos sessenta, sempre frenéticos e repletos de uma violência irreal, bem no estilo que se espera de um Bond clássico. Com 007 Só se Vive Duas Vezes é mais um filme que se vale dos chavões do personagem de Ian Fleming e marcaria a despedida, ainda que breve, de seu intérprete.

  • Crítica | A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971)

    Crítica | A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971)

    Baseado na obra de Roald Dahl, A Fantástica Fábrica de Chocolate, clássico de Mel Stuart lançado em 1971 começa mostrando chocolates sendo fabricados e faturados – em uma apresentação que certamente abre o apetite de quem é amante do doce – ambientando o espectador na fantasia que se passará a seguir. Pouco depois, acompanhamos uma cena onde crianças saem correndo da escola para uma loja de doces para adquirir os chocolates de Wonka.

    Tudo que é preciso saber está aí, ao menos no que toca a mística em relação a Wonka e aos seus segredos. Logo, aparece Charlie (Peter Ostrum), que se vê obrigado a trabalhar para ajudar a sustentar sua casa, que contém seus quatro avós e sua mãe. Seu avô Joe (Jack Albertson), promete que sairá da cama que divide com os outros quatro, para trabalhar e dar ao garoto a chance de ser uma criança, já que ele tem muitas responsabilidades, mas ele não consegue isso.

    Dahl é quem escreve o roteiro, e nele é colocado seu protagonista infantil como um garoto fofo, mas desolado. É engraçado como sendo um magnata recluso,que procura alguém igual a si para adentrar em sua fábrica, Wonka acaba gerando muito lixo, que basicamente atrapalha a vida dos meros mortais, além de causar frisson na população inteira, sobretudo nos mais pobres, que não podem lançar mão de tanto dinheiro. Outra situação assustadora é que a forma como ele escolheu para selecionar quem entrará na fábrica privilegia apenas crianças mimadas e de grandes posses, sem maiores preocupações além de enfezar seus pais e exigir mimos.

    O ingresso à fábrica que Charlie encontra se dá pela pura sorte, após ele achar um tostão na rua, comprando dois chocolates, um para si e outro para o seu avô, e a reação da rua é a de quase matar o menino sufocado, mostrando ainda que de forma leve como funciona a ganância dos homens. O personagem que dá nome ao filme – no original é Willy Wonka & The Chocolate Factory – só aparece com 44 minutos de exibição, mancando e com o cabelo tão ralo que as partes laterais cobrem o centro de sua cabeça. Ele parece um homem digno de pena, e só quebra essa imagem dentro da fábrica, e o cenário lá dentro muda por completa, se mostrando um universo próprio, onde a física é diferenciada. Até os números musicais mudam, melhorando absurdamente, e esse é apenas um dos elementos fantásticos apresentados.

    As sessões em que passavam A Fantástica Fábrica de Chocolate nos anos oitenta e noventa eram acompanhadas com muito afinco pelas crianças, que achavam sensacional os rios e cachoeiras de chocolate,os anões de pele alaranjada chamados Oompa Loompas, as letras das músicas saltando a tela, e claro, as armadilhas que Wonka planta para as crianças. Talvez para as criança que assistiam, na reprise ou no cinema, não houvesse a noção de quão estranho e obsessivo era  o homem, transtornado e maníaco por organização que permitia às crianças até correr risco de morte caso lhe desobedecessem. Tanto Willy quanto seus amigos pequenos são figuras enigmáticas, parecem mágicos, e gostam de provar os humanos, e é essa a função dos trabalhadores da fábrica, mesmo no que toca Charlie, provado antes até de outras crianças.

    Para Charlie essa é uma oportunidade única, e de certa ele foi a única criança a usufruir tudo que a fábrica deu, não só dos doces mas também do aprendizado com Willy, mas não sem antes ser tentado. Neste ponto, ele é bem parecido com Wonka, apesar do adulto ser mais irascível. A Fantástica Fábrica de Chocolate termina com uma bela exibição de Gene Wilder, que consegue transmitir uma lição por meio não convencionais às crianças que assistem seu show.

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