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  • Crítica | Venom: Tempo de Carnificina

    Crítica | Venom: Tempo de Carnificina

    Crítica Venom Tempo de Carnificina

    Venom: Tempo de Carnificina retorna às aventuras do jornalista com problemas de dupla personalidade Eddie Brock, dessa vez o personagem oriundo das histórias do Homem-Aranha tem o desafio de seguir sua vida, após terminar o namoro estabelecido antes, sofrendo instabilidades na sua nova relação “amorosa”, com a sua contraparte extraterrestre

    A história do filme, dessa vez dirigida pelo ator Andy Serkis, começa em 1996, mostrando o passado de Cletus Kasady, com sua amada Frances, separados enquanto estão em um hospital psiquiátrico. Logo o tempo retorna ao presente e mostra o futuro Carnificina (Woody Harrelson) enquanto sonha um dia reencontrar Frances (Naomi Harris). Nos quadrinhos, a personagem tem o codinome Shriek, é inimiga do Aranha e tem o poder de dar gritos sônicos, que são, aliás um dos pontos fracos dos simbiontes. Obviamente, a origem dessas habilidades não é discutida, dado que a prioridade do filme passa longe de ser congruente ou lógico.

    Esse início não avança em nada na história do protagonista, funcionando como um prólogo. Isso não é um problema, só demonstra que o filme terá também como foco narrativo o seu antagonista. O destino faz Brock e Kasady colidirem, e depois de uma matéria sensacionalista, o maníaco olharia para Eddie com maus olhos, e não sem razão, pois Brock segue sendo ganancioso, um anti-herói que não liga para a ética mesmo com todas as lições do filme anterior, Venom.

    Há uma clara mudança de postura do protagonista nesse segundo filme. Se no filme de Ruben Fleischer o desempenho de Tom Hardy era uma das poucas coisas que funcionavam, visto que só ele parecia atuar propositalmente sério. Nesta parte dois a abordagem é muito mais focada na esquizofrenia e nos conflitos entre as Brock e o simbionte. Ao se dar conta disso e ler a sentença anterior, o leitor pode pensar ser um elogio, mas não, já que aqui se abraça a galhofa em demasia, inclusive no papel de Brock, ao passo que o filme nem sequer tenta soar como uma comédia.

    A equipe de roteiristas mudou, dos três escritores anteriores do filme de Fleischer ficou somente Kelly Marcel, que também escreveu Cinquenta Tons de Cinza, além de Hardy que escreveu com ela o argumento. Dado o tom de relação abusiva (que busca parecer romântica), não é surpreendente perceber semelhanças entre o que Christian Grey faz com o que é estabelecido aqui. Curiosamente Kasady parece ter inspiração em vilões dos filmes do Batman de Tim Burton, uma mescla entre o Coringa de Jack Nicholson e o Pinguim de Danny DeVito em Batman: O Retorno. Seu passado é mostrado de modo criativo, como uma singela pintura num quadro em branco. O espírito deste trecho faz lembrar produções como James e O Pêssego Gigante e Frankenweenie.

    Harrelson rouba a cena em boa parte de suas participações, aparentemente está à vontade em interpretar alguém com transtornos mentais e de personalidade. Harris não tem um desempenho positivo e as tentativas de repetir os clichês de Assassinos Por Natureza são pífias. Michelle Williams e Stephen Graham também não tem muito espaço para trabalhar, estão lá como meros enfeites.

    Depois das complicações com Mogli: Entre Dois Mundos, Serkis demorou a se reabilitar, certamente pensou que seria bom abraçar um projeto caro como este, mas para o seu azar a pandemia do novo coronavírus atravessou o tempo da estreia do longa. Venom foi um sucesso de bilheteria e mal falado pela crítica, este não foi tão massacrado pelos analistas, mas também não arrecadou tanto, portanto o diretor acabou saindo derrotado, o que é uma pena, pois seu desempenho não é ruim. As cenas de ação são boas, as batalhas de aliens certamente são a melhor coisa do longa, mas não são positivas ao ponto de salva-lo da mediocridade. Venom: Tempo de Carnificina tem um roteiro cheio de furos, tenta adaptar uma história do Homem-Aranha, mas sem o Homem-Aranha (?!), e o próprio percebe isso quando utiliza em sua cena pós-crédito uma tentativa de atrela-lo aos filmes do Tom Holland.

  • Crítica | Venom

    Crítica | Venom

    Parasita é dito como um organismo que vive de ou em outro organismo, dele obtendo alimento e não raro causando-lhe dano, e é esse o termo utilizado para designar as criaturas alienígenas que o Projeto Vida encontram em uma das suas naves interespaciais na nova adaptação de quadrinhos da Sony. Isso não é por acaso, a intenção de Venom do diretor Ruben Fleischer (de Zumbilândia e Caça aos Gangsteres) é claramente a de falar desse tipo de relação mesquinha em seu pretenso filme de herói (ou anti-herói), mas ele passa por uma dificuldade básica de encontrar sua identidade, mesmo passando pelas mãos de tantos roteiristas.
    A história já começa bifurcada, mostrando as duas partes que deveriam formar o personagem Venom. Nos laboratórios do Instituto Vida, há  Carlton Drake (Riz Ahmed), um personagem maniqueísta, interesseiro, bandido e assassino e essa definição é dada pela outra parte estudada, o Eddie Brock de Tom Hardy, um homem de vida simples e de muitas obsessões, jornalista de TV incisivo e bastante intrépido. As coincidências do roteiro fazem os dois núcleos se encontrarem e o resultado dessa reunião é explosivo. A vida pessoal de Eddie é dinamitada, ao ponto dele sua esposa Annie (Michelle Williams), emprego e até mesmo o lugar onde morava.
    A quantidade de personagens pára exatamente aí, praticamente só há esses três no filme de quase duas horas de duração. Muitos textos críticos ao longa falavam que o jeito que Hardy atua é diferente demais de todo o resto do elenco, e de fato é, mesmo levando em conta Williams e Ahmed. Nos quadrinhos o personagem depende demais do Homem-Aranha e a pergunta sobre esse projeto da Sony de explorar o universo do Cabeça de Teia sem seu carro chefe daria certo, ao menos até agora é negativa. A tentativa de transformar Venom num filme sobre transtornos esbarra na falta de complexidade de todos os personagens e nas situações banais que ocorrem. Nem mesmo a tentativa de Hardy em soar como um louco que não se adapta a um novo mundo funciona.
    Passa aproximadamente um hora de filme para finalmente a figura do Venom completa aparecer, e até esse ponto, muita história tediosa e sem sentido ocorre. As cenas de ação também não fazem muito, são genéricas, fato que faz tudo não ter muita coerência, incluindo aí a tentativa de mostrar Brock como detentor de um certo monopólio da virtude. Se todas as pessoas mostradas são rasas e não agem de maneira realmente humana, não há tanto impacto na postura diferenciada já que não há muito com quem comparar.
    Ao menos no que toca Eddie Brock o que se esperava era que o personagem fosse mostrado como um ser com dualidades, mas isso pouco se vê. A transição de ser parasitário para um realmente simbiótico é muito brusca, em um momento o alien trata Eddie como lixo, e logo depois se tornam super-amigos, e isso não faz o menor sentido diante das condições mostradas em tela, já que não houve uma mínima construção narrativa para a mudança dessas relações.
    Venom não funciona como filme de ação e isso nem passa necessariamente pela presença ou ausência do Aranha, sua concepção primordial foi um equívoco e o roteiro é na mesma medida pretensioso e bagunçado, sem conseguir atingir praticamente objetivo nenhum de seus produtores, não conseguindo ser um filme de monstro, herói, tampouco ficção científica escapista, tendo poucos momentos divertidos e muitos mal calculados, cuja graça é quase nenhuma. O filme ainda possui uma cena pós-créditos que abre possibilidade de uma continuação, que claramente só ocorrerá se o espectador ignorar todos os terríveis erros da história para que renda bilheteria suficiente para gerar um Venom 2.

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  • Resenha | Batman: Ano Dois

    Resenha | Batman: Ano Dois

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    Após o aprofundamento e a reflexão necessária à origem do Homem-Morcego pós-Crise Nas Infinitas Terras, encabeçada por Frank Miller e David Mazzucchelli, outros artistas deram prosseguimento às aventuras do Cruzado Encapuzado. Paralelo a isso, muitos outros heróis da DC tiveram suas origens recontadas concomitantemente com a publicação de Batman – Ano Um, tendo a excelência do personagem nas páginas da Detective Comics, com a trama de Mike W. Barr.

    A história intitulada Medo do Ceifador segue aprofundando-se nos aspectos da origem do Morcego, revelando que, décadas antes, também havia um vigilante nas ruas de Gotham chamado Ceifador, cujos métodos eram bem mais violentos e fatídicos que os de Batman. Em um programa de entrevistas, o recém-empossado Comissário Gordon tenta validar as ações do herói, desassociando seu modo de operar do anterior, mostrando uma estreita relação entre o “fora da lei” e a polícia, elemento bastante diferente das perseguições que predominaram em Ano Um.

    Convenientemente, após a sua menção no programa de TV, o Ceifador retorna às ruas com lâminas afiadas, um manto negro e uma máscara de caveira, impondo medo nos supersticiosos bandidos e pondo fim nas atitudes malévolas que eles impingiam ao inocente povo. O personagem era bem mais ativo, cruel e certeiro que Batman, e seus métodos eram discutíveis, não só do ponto de vista ético, mas também do pragmático, sendo este último mais favorável a ele do que ao Morcego, especialmente para a parcela conservadora da população de Gotham. De certa forma, seu comportamento vai de encontro a uma das críticas feitas ao personagem pensado por Miller em O Cavaleiro das Trevas, por vezes atribuindo à figura heroica um comportamento fascista.

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    O Ceifador seria o argumento supremo de que Batman estava certo, o fiel da balança na antiga discussão, a comprovação de que ele era um herói justo. A prerrogativa seria bastante discutida na primeira luta de ambos, na qual Batman sofre um revés, apesar do seu hercúleo esforço. Ao perceber o quão obsoleto é ante os métodos de seu inimigo, Bruce lança mão de algo que jurou não utilizar, empunhando um revólver, o mesmo que feriu mortalmente seus pais. Se em uma camada superficial nota-se um tropeço do ethos, em uma análise secundária percebe-se a indecisão, consequência da humanidade do personagem, falhas na construção de seu próprio caráter, aspectos de um combatente da liberdade em início de carreira.

    A arte clássica de Alan Davis dá lugar ao traço de Todd McFarlane, desenhista muito distante da fama que ganharia ao “inventar” Spawn e grande parte da Image Comics. A mudança do artista talvez seja o fator mais importante para que Ano Dois não se transformasse em clássico absoluto dos quadrinhos. A qualidade cai vertiginosamente, mas não a ponto de tornar o quadrinho reprovável.

    As suspeitas em relação à identidade do “malfeitor” recaem sobre o veterano Judson Caspio, pai de Rachel Caspian, que retornou à cidade após anos de ausência e a pedido de Leslie Thompkins, uma das figuras maternas mais presentes na vida de Wayne. Em comum com o jovem filantropo, há a tragédia na vida dos Caspians, com a morte prematura da matriarca pelas mãos de um bandido armado. O despertar do senso de justiça habitava o coração do viúvo. Convenientemente, o magnata da cidade se aproxima da bela ruiva para fins amorosos, mas, claro, fazendo referência à investigação.

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    Para surpresa de Gotham, Batman parece ter mudado de lado ao discutir termos com traficantes e bandidos conhecidos da cidade, entre eles Joe Chill, assassino dos seus pais, que, em outras versões, era somente um assaltante mequetrefe. A ascensão social e o crescimento da importância de Chill na cidade são artifícios que caem dentro da trama como uma luva, mas sua repercussão e sua trajetória poderiam ser melhor construídas. Em contraposição, a resignação e a dúvida crescem na mentalidade do herói, pondo em xeque até a sua própria dignidade. Apesar do plano provar que o pequeno Bruce é capaz de evoluir, andando ao lado de alguém absolutamente responsável por sua maior dor, o modo como Batman e Chill interagem, agindo como dupla, é muito estapafúrdio, produzindo momentos de absoluta vergonha.

    Bruce deixa o arquétipo de “solteirão convicto” propondo casamento a Rachel. O romance entre os dois também não foi aprofundado nos momentos anteriores, o que faz discutir se este era um movimento de investigação. A surpresa ao descobrir o real caráter da moça só não foi maior que a sanguinolência do modus operandi do Ceifador. Suas garras atravessam os bandidos, num grafismo que McFarlane sabia conduzir como poucos. A truculência do Ceifador impediu até mesmo a trágica vingança que o Morcego queria fazer contra o assassino de seus pais, interrompendo o ato dramaticamente para, mais uma vez, limpar o currículo de Batman, que não deveria matar.

    A redenção chega ao antigo vigilante ao fazê-lo se lançar para a morte após uma batalha corporal com o novo protetor de Gotham. Ao perceber o arrependimento do que seria a sua contraparte mais violenta, Batman deixa a arma do assassinato de Thomas e Martha, encerrando o uso do revólver no edifício dedicado ao seu pai. Após todo o ocorrido, ele se vê sozinho novamente, impossibilitado pelo luto de sua noiva e pela frustração de não conquistar a relação que queria, remetendo à tragédia da solidão que preconizaria seu destino, revista e modificada no final de Batman – O Cavaleiros das Trevas Ressurge, de Christopher Nolan. Ano Dois contém muitos erros de concepção, mas seu ideário é riquíssimo em nuances, mesmo que estas poderiam ter sido melhor exploradas, não fosse a pressa editorial.

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  • Crítica | Spawn: O Soldado do Inferno

    Crítica | Spawn: O Soldado do Inferno

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    No auge da popularidade do personagem, pelos idos de 1997, quando a Image já se fortaleceu o suficiente para bater de frente com a DC e Marvel, seria exibido nos cinemas do mundo inteiro a adaptação do personagem ícone da editora de Todd McFarlane. A abertura pobre já prenunciava o que seria a toada de todo o conteúdo de Spawn: O Soldado do Inferno, onde seria entregue o passado do personagem, ainda que neste “recordatório” não haja qualquer aprofundamento.

    O diretor, Mark A.Z. Dippé, tem o background de ser especialista em efeitos especiais, e seu foco narrativo é nesse quesito, mostrando um sem número de arrombos experimentais com um CGI dos mais vergonhosos – mesmo levando em conta a questão da precariedade de recursos da época. Há muitos fatos curiosos sobre o filme, entre eles um pôster, no lançamento em laser disc, com os dizeres: “The special effects movie event of the year!” – os tempos eram difíceis. O “melhor” deste quesito é o chefe do inferno, Malebolgia, que é o capeta no formato de um cachorro pequinês gigante de moicano grisalho.

    O roteiro também é de um primor inigualável, mostrando Al Simmons (Michael Jai White) como um chefe de família sentimental, que contradiz essa máxima sendo um soldado anti-terroristas, que se encarrega de assassinar muçulmanos malvados – nada muito diferente do que era retratado nos quadrinhos, mas nada que justifique uma exploração tão porca. Outro fato curioso é que, nos primeiros arcos do personagem, haviam escritores laureados, como Moore, Gaiman e Miller, mas a escolha do enredo não passou por estas fases, que se não eram o melhor momento destes escritores, certamente garantiriam melhores situações que as apresentadas em tela.

    O elenco era bom, e tinha tudo para segurar a impossibilidade da trama, mas nem isso o fez. O primeiro nome destacado é o de John Leguizamo, o terceiro é o de Martin Sheen (que deve sentir mais vergonha neste do que em toda sua filmografia junto aos filhos, em paródias acéfalas), o casting é anunciado em meio a créditos em CGI, novamente uma demonstração tosca de efeitos visuais, imitando um vórtex de fogo. Os personagens são tão bem construídos quanto seu protagonista. Jason Wyyn (Sheen) é um chefe do crime dos mais canastras, a gostosa que o acompanha (a ainda muita jovem Melinda Clarke) é a autêntica mulher genérica que aprecia o perigo e brinca com tarântulas. Mas a cereja do bolo certamente é o vilão, que rouba a cena. O Violador de Leguizamo é a pior/melhor coisa do filme. Suas flatulências são compostas de fogo verde, ele profere piadinhas com sonhos (doce da padaria) cheios de esperma. Pouca coisa se salva, mas por incrível que pareça, a sua transformação nem é tão mal feita se comparada com o resto, o CGI quase se encaixa.

    O motivo da morte de Simmons é completamente jogado e a lógica é totalmente inexistente, numa emboscada sem pé e nem cabeça. Um outro momento clássico, é a transformação que Michael Jai White tem no comportamento de sua personagem, mudando do vinho para água assim que se deforma, mostrando que os deformados são necessariamente pessoas bobas e feias. Ele se torna um cara mal caráter de marca maior, que transformação. Interessante é a escolha do ator com nenhum talento dramatúrgico e incapaz de passar qualquer nuance de comportamento para a tela, seus dotes são unicamente ligados aos feitos físicos. Não é compreensível o diminuto volume de cenas com a máscara, até porque o rosto de White não é tão famoso – ainda mais quando o rosto está desfigurado graças às queimaduras.

    O guião é pavoroso principalmente por mostrar o capeta não sabendo desenvolver um plano decente para derrotar o exército divino, o filme eleva a máxima “Deus é Mais” a uma condição mais que sagrada e intransponível. As cenas de ação são muito ruins, com direito a show-off de arminhas infernais. O mentor é misterioso e é envolvido por uma luzinha verde que se destaca no escuro, além é claro de ser um servo infernal arrependido que mostra o bom caminho a Spawn. O ato final sinaliza para uma possível continuação, que felizmente não foi para frente. Spawn: o Soldado do Inferno é um legítimo filho do meio, produto condizente com a qualidade da produção da Image à época.