Crítica | O Estranho Caso de Ezequiel

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O começo do filme O Estranho Caso de Ezequiel, de Guto Parente, referencia o herói bíblico homônimo do personagem título, com passagens bíblicas explicitando sobre o chamado que o mesmo tinha. Ezequiel (Euzébio Zloccowick) é um homem enlutado, que acabou de perder o amor de sua vida e tem que conviver todos os dias que lhe restam com a dor e o sentir dessa terrível tragédia pessoal.

Os dias do sujeito são acometidas por uma falta tão grande que o faz se sentir ocupado a todo momento. Sua rotina varia entre noites muito mal dormidas e outras em que passa seus dias inteiros desacordado. A partir daí, fantasias e sonhos com e sem tons de pesadelo ocorrem, exibindo a convivência do homem com seus demônios e com paralelos daqueles a que o deixaram.

Em determinado ponto, o metafísico invade a tela não deixando claro se as cenas passadas são devaneios do herói falido em sua jornada ou contato espiritual factual com espíritos de pouca luz. As manifestações espirituais ocorrem com sons de balbucios, primitivos, evocando uma condição de contato com o Divino que não necessariamente é pura ou maniqueísta ou super evoluída.

A psicodelia do filme faz referências a produtos canônicos do cinema e a outros mais alternativos. As mais visíveis referências são no destempero mental do personagem, que se assemelha em tema e visualmente a Viagens Alucinantes de Ken Russell, e também na exploração das emoções e utilização da trilha e de imagens com foco determinado pela instabilidade emocional do filme como ocorreu com Scorpio Rising, de Kenneth Anger, que também se vale muito da música para estabelecer um discurso de inclusão, que aqui no caso é substituído pelo alento a dor que o sujeito sente.

O Estranho Caso de Ezequiel funciona bem como filme recordação e como representação poética da dor do homem. As atuações de Caio Dias, Nataly Rocha e sobretudo de Zloccowick fazem enriquecer o texto, que mesmo sem conter muitos diálogos diz muito, sempre levando a frente o uso de imagens para estabelecer uma história cara, grave e ao mesmo tempo leve, estabelecendo-se como uma bela dicotomia lírica, justapondo sentimentos tão díspares em torno de uma narrativa simples e que em nenhum momento é simplória ou pretensiosa.

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