Autor: Vortex Cultural

  • Crítica | Nosso Fiel Traidor

    Crítica | Nosso Fiel Traidor

    O início do filme se dá em terras gélidas de reações mortas. Mafiosos russos buscam eliminar alguém e sua família, há um tiroteio, há uma fuga; há exatamente isso, informação. Tal como um maquinário, o que se vê ocorrendo em tela é de forma automática e apática. Não houve algo que fizesse o público minimamente se importar além da estranha ideia: tem coisas acontecendo, então eu devo sentir algo. E infelizmente a ineficiência do desenvolvimento não se limita a esse trecho inicial; há muito mais pela frente.

    Nosso Fiel Traidor é um filme de Susanna White (Nanny McPhee e as Lições Mágicas) e roteiro de Hossein Amini (Drive, Branca de Neve e o Caçador) baseado na obra de John le Carré, o mesmo autor de O Espião Que Sabia Demais, cujo aclamado filme homônimo foi baseado. Nessa nova empreitada, o casal formado por Perry (Ewan McGregor) e Gail (Naomie Harris), um professor de literatura e advogada, tiram férias após problemas com seu casamento. Nessa escapada, Perry conhece, por coincidência (palavra-chave nessa história) Dima (Stellan Skarsgård), um russo que logo revela querer que Perry entregue informações sobre a máfia para a inteligência britânica em troca de segurança para ele e sua família.

    E esse, é claro, é o tema principal do filme: família. Desde a cena inicial, até Dima buscando proteger sua mulher e filhos e Perry e Gail lidando com seus laços matrimoniais, assim como Hector (Damian Lewis), o representante da inteligência britânica que apresenta um histórico familiar que administra com frieza para garantir a boa execução de seu trabalho. Lendo até que pode parecer que há chance de ser interessante, mas logo as oportunidades se esvaem em más escolhas. A construção do personagem de Perry, por exemplo, se faz como a de um cavaleiro de armadura brilhante. Ele está lá no momento certo, na hora certa; seja para impedir um estupro, agressão doméstica, ou ser o entregador de informações sigilosas. Os motivos? Nada realmente concreto. São essas atitudes, coincidências, que o roteiro busca para provar o valor do personagem e mover a história, que talvez pudessem até ter algum peso, fosse o roteiro bem trabalhado, ou alguém quisesse atuar além do funcional.

    Os personagens que mais se aproximam de alguma profundidade são os coadjuvantes Dima e Hector. Esse segundo busca cumprir seus objetivos, busca justiça, e para isso batalha contra as burocracias de um sistema que ele sabe não ser feito para dar certo. Skarsgård, por outro lado, apresenta uma forte ligação com sua família e personalidade caricata, mas presente. Também é o que apresenta arco narrativo mais completo, mas que ainda assim é, em conjunto com o resto do filme, estéril. Tal como a montagem que segue o básico de cortes rápidos para (teoricamente) garantir a atenção do público. A fotografia de tons frios e lens flares certifica o visual do blockbuster convencional, da mesma forma que a música genérica. E apesar de em alguns poucos momentos ocorrerem cenas por abordagens diferenciadas, o valor logo decai quando se observa o todo.

    Nosso Field Traidor é composto por uma fórmula padrão e execução medíocre, e aqui é necessária uma clarificação: o termo medíocre anda sendo utilizado como algo pior do que “ruim”, mas não é esse o verdadeiro significado da palavra. Medíocre é o médio, o morno, o que tanto faz. O que deveria ser tenso, emocionante e triste não o é, apesar de que em teoria o que é mostrado em tela devesse ser. Isso se dá pela perceptível falta de compreensão em perceber por qual motivo sentimos o que sentimos em histórias. Quando não há a preparação e fundamentação de personagens e contexto para o que estamos prestes a ver, tudo não passa de informação. E informação por informação são mais algumas imagens e sons que logo serão esquecidos.

    Texto de autoria de Leonardo Amaral.

  • The OA | O Sonho impossível de Brit Marling

    The OA | O Sonho impossível de Brit Marling

    Durante um verão, quando Brit Marling era apenas uma criança em Winsconsin, ela contava histórias de fantasmas tarde da noite para as garotas no seu quarto. De inicio todo mundo amou, mas depois de algumas noites algo tinha mudado. “Eu acho que algo ficou sobrevoando a imaginação de todo mundo”, disse Marling. “Ligamos para os pais de cada uma que vieram pega-las. As histórias de fantasmas mexeram de verdade com todo mundo.”

    Recentemente uma variação desse problema marcou a carreira de Marling. Como roteirista e atriz, ela criou pequenos porem muito bem recebidos filmes independentes. como o A Outra Terra, de 2011 e o Sistema de 2013. E de repente, quase que sem alarde nenhum e um pouco antes do natal, The OA, a série de oito partes estrelando Marling, que também co-roteirizou e dirigiu com o seu parceiro criativo Zal Batmanglij. A conturbada história da sobrevivente traumatizada de uma experiências de quase morte e uma misteriosa abdução rapidamente se tornaram o mistério mais comentado da internet. Marling compara a série á um livro, considerando uma nova forma de fazer TV. “The OA não teria existido três anos atrás”, diz a atriz.

    Isso não é porque serviços de streaming como a Netflix ajudam criadores a se desvincilhar das limitações formais de TV e cinema. A atual audiência “madura” da TV, aquela que assiste Breaking Bad, Game of Thrones e Westworld está sedente por um material que não simplesmente rompa as barreiras mas que remodele elas. “Eu pensei The OA mas como algo fora da caixa. “Ficou um pouco afastado do que eu tinha imaginado”, disse Marling. “Mas parece que a audiência estava super pronta pro que veio. Eles querem ser surpreendidos, querem sentir novas emoções que eles não sabem o nome para etiqueta-las”.

    Em The OA, um grupo de desajeitados se reúnem toda noite, incluindo o Bully e um garoto trans. Essa reunião é marcada pelo amor a Prairie, que é o condutor dessa ligação. Para criar um sentido em seus personagens adolescentes, Marling e Batmanglij passaram parte da produção da série em colégios do ensino médio do meio oeste, as vezes até se oferecendo em dar aulas de filmagem e fotografia em troca de entrevistas onde eles gravaram os gestos e maneirismos de cada um dos adolescentes para estudo de personagem. A geração dos Selfies estavam extremamente confortáveis de frente a uma câmera, mas também confessaram uma acerta alienação que Marling leu sobre o lado negro de uma vida saturada de tecnologia. “Como você aborda uma geração que tem acesso á um catalogo de pornografia ao acesso do seu dedo? Ou coisas que você não pode deixar de ter assistido!?. Eu senti que isso é um tipo de terreno arenoso, algo com raiva mas também cheio de inteligência e fome por algo a mais e imaginando onde eles podem conseguir”.

    A empatia de Marling por adolescentes cresceu naturalmente. Ela cresceu em Chicago e Orlando e lembra de si própria como esquisita, baixinha e magrela. Sua mente era um moinho de ideias e energia que a mantinha sempre acordada. Mesmo assim, ela foi capaz de chamar as crianças da vizinhança para ensaiar as peças que ela escrevia, incluindo um mash up de Billie Jean e Sonhos de Uma Noite de Verão. Os pais pagariam qualquer coisa para ver suas crianças atuarem, então Marling cobrou 5 dólares de cada um e conseguiu uma boa quantidade de dinheiro.

    Seus pais trabalhavam com construção, e Marling costumava brincar em casas não terminadas, não igual a casa em The OA, interpretando personagens e suas vidas. Nessa diferente vivência, as expectativas para os jovens eram muito mais limitadas do que a imaginação de Marling poderia conceber: advogados, médicos, banqueiros. Marling foi a Georgetown estudar economia e se apaixonou por matemática, ficando na biblioteca até as duas da manhã, com seus amigos nerds resolvendo cálculos.

    Em e-mail Batmanglij (diretor de OA) relembra dela como uma jovem muito calma. “Me levou tempo pra perceber que Brit é o tipo de pessoas que ama aprender. O tempo, o trabalho e a paciência que levam para aprender algo não assustam ela”.

    Em Georgetown, Marling cresceu desiludida com a forma como as aulas reforça o status-quo de visão do mundo. “Você aprende muito de educação num país que pode ser doutrinadora num sistema que já é falho e falha conosco”. Um interno da Goldman Sachs mostrou pra ela uma vida que ela não queria. “É como se você tirasse a venda do seu cavalo de corrida e ele de repente percebe que a corrida é dar volta em círculos. Você encara aquele aberto sem sentido e se pegunta, como eu vou sair daqui!?”.

    Levou um tempo mas ela se mudou para L.A para atuar e encontrou ela novamente no mesmo problema; num quarto com mulheres que pareciam com ela encarando uma mesa com pessoas que iriam decidir seus futuros. Isso é o que atrizes jovens fazem, claro: atravessar um pântano de inciantes na esperança de que algo significativo surja da lama. Marling tinha o rosto pra interpretar a namorada do protagonista do filme de ação (e meio que ela interpretou no filme de Richard Gere, A Negociação) mas seus princípios não estavam ali pra isso. “Eu senti que nunca ia conseguir passar desse pântano, e se eu conseguisse, eu ia virar alguém que eu não sabia que eu era”.

    Então para conseguir a carreira que ela queria, ela começou a escrever e viajar. ela e Batmanglij deixaram L.A literalmente viajando EUA com pessoas que aceitavam dar carona, caminhoneiros e pessoas que viviam a margem da sociedade. Essa experiência resultou no filme O Sistema, mas também mostrou a atriz qual seria seu modelo de arte. “Algo que eu realmente aprendi dessas pessoas que passam sua vida na estrada é que eles simplesmente fazem. Eles não esperam permissão. Tem um prédio abandonado pertinho de você, vai lá fazer um jardim no telhado. Se você começar a criar e continuar praticando, eventualmente você vai alcançar um lugar que você vai estar contando uma história que transcende a simples prática”.

    The OA soa exatamente como essa sensação, de uma narrativa eventualmente com temas de liberdade passaram a espelhar a própria carreira de Marling. Ela é um novo tipo de autor nos moldes de Sarah Polley ou dos irmãos Duplass, aristas que não conseguiram seu espaço no mainstream e migraram daquilo pra construir seu próprio modelo. O surpreendente é que esse momento surge um novo tipo de TV, parece que o mainstream cresceu a ponto de encontrar com ela novamente, mesmo considerando que o que ela construiu é muito afastado do que o próprio é. Quando Prairie é abduzida, ela e seus amigos planejam escapar não esmagando suas jaulas de vidro mas transcendendo seus corpos através de cinco movimentos que podem curar os doentes e guia-los para outros planos de existência. Um estudioso não cientifico na internet parece que tinha identificado os movimentos pelo episódio 5. É o tipo de situação que o espectador fica tão ansioso para ver algo que nunca viu antes que passa a imaginar o que está por vir.

    É claro, se trata apenas de uma experimentação com dança moderna. E Marling considera os movimentos desconfortáveis para o espectador “Nós odiamos o corpo nesse país. Sentimos vergonha de nossos corpos. E isso é estranho, Você está se movimentando, se expressando. Claro que nas primeiras vezes todo mundo riu. O riso vem de estar desconfortável, e o desconforto vem do medo, e o medo da vaidade. O momento que você começa a se mover, aquela vergonha realmente caí por terra. Isso acontece com todos nós. Quanto mais fazíamos os movimentos e os praticávamos, mais eles se tornavam outro tipo de linguagem”.

    É difícil de imaginar The OA sendo produzida com pouca dinheiro, mas Marling e Batmanglij foram bem sucedidos em persuadir a produtora de Brad Pitt, a Plan B a bancar o projeto com antecedência, e logo depois indo atrás de uma emissora para comprar o primeiro episódio. Enquanto tentavam vende-lo eles ficavam em pé numa sala, atuando durante oito horas seguidas, mudando de locação e planejando as viradas de roteiro. “Eu acho que as pessoas sentem tipo: Eu não sei exatamente o que é, mas parece que eles levaram muito tempo nisso”, disse Marling rindo.

    Houveram outras propostas, mas a Netflix foi a mais abrangente quanto as suas inovações. Marling disse que teve que maneirar na durações inconsistentes entre os episódios e não se zangar de ter que quebrar parte do seu roteiro por questão de regras e não passar quatro horas introduzindo um personagem novo.

    Marling e Batmanglij já planejaram o que ocorrerá na segunda temporada , mas ainda não foi renovada oficialmente. Ou quem sabe já tinha sido renovada, toda a produção da primeira temporada foi mantida em segredo. Não houveram anúncios de quem havia sido contratado para o elenco, nem fotos de filmagem, tudo foi feito fora de Nova York e o roteiro era codificado em linguagem baseada no braile. Foi decisão da própria Netflix não divulgar noticia nenhuma sobre a série, simplesmente a jogando antes da temporada de natal sem publicidade nenhuma. Marling disse que estava ok com essa estratégia, que parece ter vingado.

    Agora que essa estranha série habita nosso mundo, e a atriz está feliz com a exclusividade digital.  The OA, dentro e fora das telas parece ter conectado as pessoas que era algo que Marling sempre desejou que seu trabalho fizesse. “Eu acho que o que você quer por pra fora seja o que for, você tem que estudar o que puder e depois desligar todas as luzes, e voltar pra caverna de onde você veio e tentar contar histórias de maneira cada vez melhor”.

    Esse artigo está presente na edição de 23 de janeiro de 2017 da New York Magazine.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Jackie

    Crítica | Jackie

    Não é nada difícil falar sobre Jackie e encontrar os desacreditados na cinebiografia de Jackie Kennedy, uma vez que tendo caído no gosto das premiações, digamos, elitistas (e também ao outrora favoritismo em cima de Natalie Portman para levar seu segundo Oscar), logo deu-se a impressão de que o filme do chileno Pablo Larrain se encaixaria no rol das cinebiografias chapadas de figuras que fizeram história na trajetória dos EUA, ainda mais quando o filme em questão faça de questão de focar, exclusivamente, nos quatro dias de Jackie após o assassinato de seu marido, o presidente John Kennedy.

    Muito foi dito de que a contratação de Larrain para a cadeira de direção (tendo substituído ninguém menos que Darren Aronofsky na função) tenha sido pela maior probabilidade do diretor, sendo estrangeiro, trazer uma visão que se beneficiasse da imparcialidade, em claras intenções de aproveitar o caráter político pessoal e intimista que Larrain imprimiu em No, por exemplo. Jackie é sim, um registro pessoal sobre o abalo que tomou conta na vida de Jackie, mas é também um segmento sobre os temas e abordagens que sempre permearam o cinema de Larrain.

    Nisso, ao invés de apenas narrar de forma linear os acontecimentos íntimos na Casa Branca após o assassinato do presidente, o roteiro de Noah Oppenheim (de Maze Runner – Correr ou Morrer  e A Série Divergente: Convergente) reproduz registros da primeira dama e dramatiza seus dilemas para falar sobre a noção espetaculosa das imagens em uma sociedade que depende da transparência visual para construir seu julgamento. Ao falar sobre a dualidade das imagens, Jackie resgata o ontem para falar sobre o hoje.

    E extremamente consciente da posição que assume diante dessa proposta de exploração, Natalie Portman dá rosto e voz a uma Jackie Kennedy articulada, entregue ao luto pelo marido, mas com total conhecimento de sua imagem e posição política diante do contexto. Nesse processo, o filme evolui para um estudo de auto-descoberta através da política, identidade essa que vai contra a maré aos costumes cine-biográficos em levar sua dramaturgia a uma afetação excessiva.

    É prazeroso também notar o quanto câmera e atriz trabalham em conjunto: se Portman domina os espaços com seu sotaque carregado, Larrain fecha o rosto de sua protagonista em closes abafados e centralizados, que levam de imediato o público para a claustrofobia e uma sensação de urgência que necessita ser notada, algo igualmente ressaltado pela trilha ameaçadora de Mica Levi, que para quem não lembra, é responsável pela memorável soundtrack de Sob a Pele.

    Como um diretor estrangeiro filmando em território americano, Larrain não consegue fugir de alguns cacoetes visuais que insistem em embelezar o discurso mórbido (as cenas de Jackie com o padre que parecem filmadas por Terrence Malick), mas Jackie se sobrepõe, e muito, quando decide fugir com afinco das grandes convencionalidades dramatúrgicas impostas por uma história como a de Jackie Kennedy. Ponto à favor.

    Texto de autoria de Rafael W. Oliveira.

  • Crítica | Estrelas Além do Tempo

    Crítica | Estrelas Além do Tempo

    Existe uma propriedade que é muito interessante sobre todas as artes, traçando aqui um paralelo com a matemática e com as ciências, é que tem coisas que só uma ou duas pessoas no mundo são capazes de fazer. Simples assim. É questão de que as vezes só existe uma pessoa mesmo para realizar aquela obra. Porém se essas pessoas forem impedidas de realizar suas obras, o mundo como um todo se ficará mais pobre, e este é o caso de diversas mulheres e pessoas negras ao longo da história, que infelizmente foram sistematicamente apagadas e impedidas de nossa devida admiração.

    George Boole desenvolveu a álgebra booleana, uma álgebra utilizada para que computadores tomem decisões com um insight vindo de jogos que permeavam a cultura de diversos povos, em diversos países africanos, baseados em bits, tal qual o jogo de Búzios.

    Nos anos de alfabetização matemática meninas têm um desempenho superior ao dos meninos. Em país menos desiguais, é comum mulheres serem melhores em matemática, porém têm mais dificuldade de se afirmarem como inteligentes do que meninos. Apesar disso supõem-se que meninas não sejam tão boas em ciência e matemática. Apesar de o primeiro Computador, ENIAC, ter sido programado por um grupo de 80 mulheres, que em pouco ou nada foram reconhecidas. A atriz e inventora Hedy Lamarr foi responsável por inventar um sistema de comunicações para as Forças Armadas Americana, e que hoje chamamos basicamente de Wi-fi.

    Sendo assim, é notável que se possa observar a história de Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), um trio de mulheres afro-americanas, e o grupo de matemáticas calculistas do qual faziam parte no programa espacial da NASA, e que foram obrigadas a batalhar mais do que quaisquer outras pessoas na Agência Espacial para simplesmente terem a chance de se mostrarem capazes. Em determinado momento, ao se demonstrar descontente por ter sido interditada para o programa de engenheiros da NASA, que tão pouco aceitava mulheres, por conta de uma regra recente que exigia curso de pós graduação na Universidade da Virgínia, uma universidade que só aceitava brancos, ouve-se da supervisora interpretada por Kirsten Dunst, “Não posso abrir uma exceção para você, aqui ninguém tem privilégios”. A fala, tão comum na internet ganha aqui o lustro hollywoodiano e sua dramaticidade, o que pode afetar mais do que a realidade tão crua do dia a dia.

    O filme, porém, conta com uma estrutura bastante convencional, apoiando-se no fato de que só alguém sem coração se indisporia a torcer pela vitórias do trio, o filme estabelece que elas já estavam prontas, e pouco de suas personagens é desenvolvida, com exceção da personagem de Spencer, que passa por um arco de superação onde é obrigada a jogar com o sistema, tornando-se necessária e desenvolvendo um bonito conceito de sororidade. Tudo isso a partir de sua raiva e frustração acumuladas. As demais personagens têm momentos puntuais de discurso e desenvolvimento apenas, discursos esses que emocionam verdadeiramente, mas que acabam ficando dispersos por serem discursos usados como ferramenta para desenvolver outros personagens, em específico os personagens brancos e seus arcos de superação do racismo e machismos de suas estruturas pessoais e organizacionais. O que se vê é uma relação dissonante que gera uma dúvida problemática sobre o que estamos vendo, se é um símbolo de que o grau máximo de superação das pessoas de cor era a aprovação dos superiores brancos (Retratados aqui pelo figurino como variações de uma mesma coisa, com todos vestidos praticamente iguais, em oposição ao colorido das roupas das chamadas mulheres de cor), ou se esses superiores brancos na verdade encontraram em si pessoas melhores por conta do exemplo a que foram, pela primeira vez, expostos.

    Apesar da história ser imediatamente empática, o diretor Theodore Melfi faz uso de cenas um tanto mais melodramáticas, especialmente as que ocorrem no delivery de provocações de Katherine Johnson com o chefe de operações, interpretado de forma solene e caipira por Kevin Costner, que apesar de displicente com o bem estar das pessoas que o cerca, se mostra sempre justo e generoso, tomando atitudes bonitas e emblemáticas para tentar apagar as marcas que as estruturas “não preparadas para mulheres e pessoas de cor” faziam sobre a NASA. Porém a repetição dessas cenas faz com que percam sua força no resultado final. A trilha sonora composta pela parceria Hans Zimmer e Pharrell Williams não cumpre o que promete, sendo esquecida tão logo acendem-se as luzes.

    E assim é Estrelas Além do Tempo. Um filme necessário, porém burocrático e sem criatividade, sendo uma peça tecnicamente inferior entre seus concorrentes ao Oscar deste ano, que seguem a sombra do brilhante e grande merecedor Moonlight: Sob a Luz do Luar, mas que conta com um elenco bastante competente para mostrar ao mundo o por quê se vê tão poucas mulheres geniais, e tão poucas mulheres negras geniais em nossa memória: Por que elas foram sistematicamente escondidas em porões, tiveram suas contribuições apagadas por protocolos constrangedoramente preconceituosos, obrigadas tomar café e água em jarras que ninguém queria tocar, e por que foram obrigadas a ocultar sua inteligência para evitar serem assim atacadas.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

    Salvar

    Salvar

  • Crítica | Um Estado de Liberdade

    Crítica | Um Estado de Liberdade

    Se tem um assunto além da segunda guerra mundial que os EUA adoram fazer filmes sobre é a sua Guerra Civil. Durando de 1860 a 1865 entre os confederados e a união, a também chamada Guerra de Secessão forjou violentamente o caráter industrial do Norte do novo país, assim como manteve suas tradições racistas e agrárias no sul. Este conflito mexeu tanto com o imaginário do americano que museus, roupas, armas, cartas de soldados e encenações de batalhas são um enorme filão de comércio, mas sempre mantendo a dicotomia Norte x Sul. Neste sentido, Um Estado de Liberdade joga uma nova luz sobre o evento.

    O filme conta a história de Newton Knight (Matthew McConaughey), um pequeno proprietário de terras do interior do Mississipi que ao perceber a inutilidade de uma guerra que não era sua, deserta (como muitos soldados confederados) e volta para casa. Ao se dar conta das injustiças que os confederados cometem contra uma família de amigos, tenta protege-los, mas isso expõe seu status de desertor e ele precisa fugir. Ao ser ajudado, se une a também escravos fugidos e ali passam a tramar uma insurreição contra os confederados dentro de seu próprio território.

    Devido aos desmandos do comando sulista, os desertores só engrossam as fileiras dos revoltosos, causando problemas reais aos grandes proprietários de terras e escravos da região, devido ao caráter abolicionista e igualitário da insurreição. Porém, quando Knight não recebe apoio nem da união, a revolta enfraquece, e o consequente fim da guerra e os acordos de paz entre as elites locais trazem uma paz para os ricos de outrora, mas uma perseguição intensa aos antigos escravos libertos, formando as primeiras células da KKK na região, tratados no excelente terceiro ato do filme.

    Se por um lado a história de Knight é interessantíssima sob o ponto de vista da história local e de como uma pequena parcela da população local se organizou por conta própria, o filme trata o próprio protagonista de uma forma tão heroica que soa como uma das grandes biografias do passado, contrastando com a proposta de trazer novos tons a uma narrativa tão batida. O passado de Knight, que poderia explicar porque ele não era racista como seus iguais (a ponto de ter o primeiro casamento inter-racial registrado) no estado mais racista dos EUA, é completamente ignorado, e ele acaba encarnando o papel do “homem branco bom”, que assola os filmes passados na época.

    Na mão de um roteirista e diretor um pouco mais competentes, toda a excelente produção e reprodução fiel das batalhas do século XIX, de uma guerra antiga, teriam uma importância muito maior, assim como o trabalho de atuação, muito competente, por parte de todo o elenco. Comparando com Tempo de Glória, todas essas diferenças de tratamento ficam abundantemente claras, no entanto, com essas escolhas dramáticas rasas, lembra mais O Patriota. Com seus 139 minutos de duração, tempo para desenvolver isso não foi uma questão, e sim direcionamento, ou talvez talento.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Sobre o Cinema | O Cinema de ação

    Sobre o Cinema | O Cinema de ação

    Palco, luz e ação. O cinema de ação é um gênero brilhante, manipulador do tempo e do espaço em prol da apoteose do ser

    Talvez não seja tão difícil definir um filme como sendo daquele ou este gênero prioritariamente, embora possamos definir 2 grandes gêneros: Drama, e Comédia. Os demais hibridizam estes. O drama tem sua narrativa se move à partir da trama e diálogos. Comparativamente, o filme de ação, é um drama onde substitui-se os diálogos pelos atos e feitos do protagonista (Herói).

    Assista à cena  do filme Matrix Revolution:

    E responda rápido: O que os personagens buscam?

    Tanto nesta cena acima, como na que ilustra este artigo, ambas da trilogia Matrix, os personagens estão obviamente disputando espaço. Eles se posicionam numa cena típica de duelo, e a câmera os flagra simetricamente. Desta cena em diante, os personagens, Agente Smith (Hugo Weaving) e Neo (Keanu Reeves) dialogam, e neste diálogo Smith se mostra superior. Se assistir à cena sem áudio verá quê o que mostra isso, é o fato de Smith se aproximar de Neo, e este, recuar uns instantes até perceber que não deve demonstrar receio e se firmar no local. Ao fazer isso, Smith para de avançar, e a câmera mostra novamente ambos na mesma posição simétrica, porém, mais próximos. Smith está ganhando o embate, e isso é claro ao vermos que ele ganha o espaço disputado. Em seguida, Neo é cercado pelos agentes Smith, perdendo todo seu espaço para o vilão. Esta é então, uma cena de ação. A ação é independente do dinamismo, o que conta é a disputa pelos espaços.

    Na ação, o ponto central não é o objetivo, mas sim a estética de como se alcança o objetivo. Você tem trechos de narrativa e diálogos, entrecortados por opções estéticas que devem representar essa dificuldade de se chegar ao objetivo. Reparem como em diversas vezes, aparecem obstáculos seguidos, onde o herói deve: Se equilibrar, passar por trechos estreitos, escalar uma parede, vencer uma curva com o carro, passar com a nave/avião por um espaço mínimo, acertar a mosca, acertar o soco na hora certa… E geralmente, conseguir esse espaço, é a única chance do herói se manter em ação, ele tem de ser preciso e sempre parecer que sabe o que está fazendo e o quê acontecerá a seguir, ele precisa ser aquele que tem total domínio do espaço.

    É preciso um palco, uma plateia, luz, câmera e ação

    Vejam que a cena que ilustrou a primeira parte desta matéria acontece em uma praça, rodeada de prédios repletos de janelas. Apesar da sensação de que o local é deserto, todas aquelas janelas são os “olhos da ação”. Reparem como é muito comum a principal cena de um filme de ação ter uma construção como cenário. Em geral, ela justifica os holofotes, pontos instáveis para se pisar, e etc; e fazem daquele ambiente algo muito parecido com o palco de um teatro gigantesco. Tudo isso parte dum grupo básico de clichês que nos fazem perceber o gênero. Operários, holofotes, helicópteros de TV, personagens se confrontando no metrô… E por quê isso? É a consciência dum olhar externo, é quase uma quebra de quarta parede, já que o filme de ação, em geral vem carregado de um certo hedonismo, onde o espetáculo conta e esse olhar externo auxilia na suspensão de descrença, além do quê, é preciso ter um palco para delimitarmos espaços. É por isso que temos nos “westerns”, duelos na “Av Principal” da cidade, vilões chamando seus oponentes pra briga através da TV. Nada é discreto em um filme de ação, e mesmo nos mais discretos como por exemplo, “O bom, o Mau e o Feio”, deve existir ao menos um corvo, ou um túmulo para filmar a ação e manter esse olhar externo. Dentro disso, todo um cuidado com a estética é necessário, pois ela faz parte do “diálogo” seja com um estilo mais poético, como em O Tigre e o Dragão (Ang Lee), ou mais crua como na Trilogia Bourne (Paul Greeengrass).

    Segundo Aristóteles…

    Segundo Aristóteles, “A ação é o principio vital, a alma mesma do drama. Uma imitação não de pessoas, mas de ações” , e segundo ele, a ação é mais eficiente quando estabelece:

    • Uma única unidade de tempo- Quanto mais contido e claro o período de tempo em que se passa, mais eficiente é o drama de ação.
    • Única unidade de lugar/geográfica– De preferência, deve-se passar em uma única unidade geográfica, onde se dá sua o obstáculo e sua resolução
    • Unidade de ação- É mais eficiente restringir a trama à uma única cadeia de eventos relacionados por causa e efeito.

    Duro de Matar, e sua continuação, Duro de Matar 2, ocorrem ambos numa unidade geográfica muito específica, um no aeroporto e outro em um prédio. E ambos, ocorrem ao longo de um dia. Por isso é comum recursos como desfechos ao pôr do Sol, timers de bombas relógios, indicações para que o heróis esteja em tal lugar, a tal hora ou tudo explode.

    Os obstáculos, preferencialmente devem estar ligados ao herói de alguma forma, e quanto mais desafiadores os obstáculos, mais o herói responde a altura. Devem representar um impasse em seu modo de agir e pensar, e redimi-lo de suas condutas e falhas. É comum vermos o herói sendo obrigado a corrigir um erro do passado em sua jornada, ou ver seu erro (Que Aristóteles chama de Hermatia, errar o alvo) se voltando contra ele.

    Os elementos-chave…Perseguição e Confronto

    Como em todo gênero à exceção da comédia, o objetivo é que nosso herói é terminar sua jornada o mais distante possível de como começou ela. Se era imaturo, se tornará maduro, se só seguia regras, aprenderá a fazer concessões…

    Sendo isso, esses dois elementos protagonistas dos filmes de ação precisam agir em conjunto para levar a trama e o herói à algum lugar e fazer evoluir a narrativa. A perseguição e o confronto devem eventualmente fechar problemas iniciados no começo da trama, e de preferência, criar novos desafios, numa cadeia de eventos que venham como avalanche até alcançar o clímax da trama.

    Confronto e perseguição devem demonstrar algo sobre a natureza de nosso herói e seu oponente. As situações importas devem mostrar as diferenças de caráter, habilidade, modo de agir de um para o outro. É o herói que irá jogar sua arma fora no confronto pois o vilão ameaça a vida de outra pessoa. Enquanto para um a vida do outro não importa, para o outro, vale mais do que a sua. O diálogo do herói e vilão, são suas atitudes.

    É preciso representar perigo, tanto as ações do vilão quanto do herói. O herói deve entender que sua vida pode se perder a qualquer momento, apesar de sua habilidade, e o vilão deve oferecer situações onde o herói possa sair perdendo, e até se sacrificando pelo bem. Se não há gravidade, e consequências nas ações extraordinárias que acontecem na tela, tudo aquilo não passa de um exercício de futilidade. Um herói que não sangra e não sofre, não é um herói.

    Tudo isso levando à catarse, o clímax do filme que é capaz de nos fazer despertar o herói que poderíamos ser, e nos identificarmos com ele através de suas ações e sofrimento. O bom herói se sacrifica, e nos desperta os sentimentos mais básicos. Todos querem ser heróis, e se um filme for capaz de lhe fazer querer ser aquele herói, ele atingiu seu objetivo.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Sai de Cena o ator britânico John Hurt

    Sai de Cena o ator britânico John Hurt

    O estimado ator John Hurt faleceu. Ele tinha quase 77 anos de idade. O duas vezes indicado ao Oscar e vencedor do Globo de Ouro tinha uma longa e rica carreira, tanto em crítica quanto público através dos seus quase 60 anos na indústria do entretenimento. Em 79 ele sofreu uma das mortes mais famosas da história do cinema ao ter o peito explodido em Alien.

    No ano seguinte, ele conseguiu sua primeira indicação ao Oscar interpretando John Merrick no Homem Elefante, de David Lynch. E também marcou presença no icônico personagem do proletariado no distópico 1984 (1984), anos depois interpretou o berrante ditador em V de Vingança em 2005. Aos fãs mais jovens provavelmente lembram dele pelo seu papel de Ollivaras nos três filmes do Harry Potter. Em 2011 ele participou da web-série The Confession ao lado de Kiefer Sutherland.

    A voz distinta e chamativa de Hurt junto a suas expressões doces porém claramente sérias o destacam de seus colegas, adicionando uma textura aos seus papéis e traçando uma linha performática aos seus personagens através de sua carreira. O ator continuou a trabalhar mesmo tendo sido diagnosticado de câncer no pâncreas em 2015. Hurt contribuiu para um número diverso de filmes que ainda não foram lançados, seu último papel nas telas já exibido foi o indicado ao Oscar Jackie.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Resenha | Fisiologia da Idade – Ricardo Lísias

    Resenha | Fisiologia da Idade – Ricardo Lísias

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    Neste novo livro o autor de Divórcio entra ainda mais fundo na fronteira entre ficção e realidade e acaba por fazer uma grande homenagem à literatura através de seu primo bastardo: os quadrinhos.

    Depois do reboliço que se seguiu à publicação de Divórcio – em que Lísias conta em detalhes os eventos envolvendo o divórcio do protagonista, Ricardo Lísias -, o autor retoma, em Fisiologia da idade, essa abordagem auto-ficcional. Na coletânea de contos publicada em 2015 – Concentração e outros contos, um apanhado de textos breves escritos e já publicados, exceto o conto “Auto-ficção” – há uma sequência de contos “fisiológicos”: “Fisiologia da Memória”, “Fisiologia do Medo”, “Fisiologia da Dor”, “Fisiologia da Solidão”, ” Fisiologia da Amizade”, ” Fisiologia da Infância” e ” Fisiologia da Família”. E Fisiologia da Idade parece ser uma sequência natural a essas narrativas.

    Neste, o narrador Ricardo Lísias, que acaba de completar 40 anos de idade, tenta fugir de seus textos, afirmando que não quer escrever sobre os últimos 20 anos de vida. Acaba se propondo a falar então sobre os primeiros 20 anos, tentando reviver suas primeiras leituras, supostamente as mais marcantes, e entender suas próprias referências literárias. Ao levar o projeto adiante, vê-se à voltas com reflexões sobre o cenário atual da literatura brasileira. Em certo momento, ele se pergunta:

    “Como o Brasil chegou a um número tão grande de romances que não incomodam ninguém?”

    O texto assemelha-se a um fluxo de memória, com uma narrativa fragmentada e palavras “engolidas” propositalmente. Há fragmentos de quadrinhos, numa tentativa forçada de reviver a sensação infantil da descoberta da leitura, tuítes, até um boleto bancário que compõem e complementam a história contada.

    “Aliás, não paro de telefonar para os meus editores, pedindo para ser convidado para a.”

    Espalhando pistas sobre a natureza do narrador – falsas ou verdadeiras – Lísias, assim como em suas obras anteriores, gera no leitor algo que beira um embaraço durante a leitura. Seu texto é instigante, provocativo. Não há, nele, a intenção de indicar uma conclusão, conduzir a um desfecho. E essa narrativa aberta, aparentemente inacabada, provoca reações diversas nos leitores. Não é à toa que tantos se sentem ultrajados por não existir um limite claro entre o que é realidade e o que ficção. Mas, afinal, isso importa?

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Friamente Calculado | Guerreiro do Blockbuster – Parte 2/5

    Friamente Calculado | Guerreiro do Blockbuster – Parte 2/5

    (Leia a Parte 1/5).

    O Sol quente iluminava as florestas úmidas do litoral colombiano. As águas calmas do oceano pacífico foram subitamente perturbadas pela emersão de um corpo atlético e másculo, como um tritão viciado em anabolizantes e fitas VHS de aeróbica. Essa criatura era Jackson Good, o Guerreiro do Blockbuster!

    Chegou nadando vigorosamente até a praia, cuspiu um bocado de água e ajeitou seus óculos negros, olhando para o horizonte de uma maneira épica. Logo depois nosso bravo soldado do cinema de ação foi surpreendido por barulhos de tiro, porrada e bomba. Imediatamente se embrenhou na mata repleta de perigos empunhando seu Magnum 44 com confiança.

    Seguindo o odor familiar de plantas da família Erythroxylaceae, ele logo encontrou um acampamento de guerrilheiros das Forças Revolucionárias. Jackson percebeu que o acampamento estava sendo invadido por um grupo paramilitar estranho, com as iniciais CN no uniforme preto como a noite. As pacíficas forças das FARC não tinham chance contra a selvageria desse grupo desconhecido. Eles não poupavam ninguém em seu caminho: matavam mulheres, chutavam crianças e queimavam as inocentes plantações de coca.

    – Puta merda! – gritou Jackson, indo em direção à ação.

    O defensor do cinema de ação entrou na batalha sem temor contra o violento exército escuro, alternando golpes mortais de Karatê com disparos precisos (e infinitos) de sua pistola. O combate foi brutal. Logo centenas de corpos rodeavam a figura imponente de Jackson que continuava a golpear implacavelmente seus inimigos. Era como assistir a um tigre destroçando ratos.

    – Parado aí, filho da puta! – exclamou uma voz escrachada.

    Jackson se virou e percebeu que um dos poucos sobreviventes das forças CN estava segurando uma mulher refém, com uma pistola apontada para a cabeça dela.

    – Larga a arma, babaca! Ou a belezinha aqui uma vai ganhar uma cranioplastia instantânea! – disse o fanático da CN, com olhos vidrados e péssima higiene pessoal.

    Jackson largou a arma no chão, lentamente.

    – Tá bom amigão – disse o guerreiro – Você quer conversar? Vamos conversar.

    – Eu quero sair daqui! Quero um iate e… E uma real doll! Daquelas bem caras!

    – Não posso fazer isso – respondeu Jackson, olhando nos olhos do fanático.

    – Por que não?

    – Porque malandro é malandro e mané é mané – disse Jackson.

    – Eu sou um caçador! Um herói do Cinema Novo! – gritou o fanático.

    – Não… Você é só um hipster de merda que acha que manja de cinema. E eu sou o maior fã do Michael Bay.

    – Morra! – disse o soldado, apontando a arma para Jackson.

    Naquela fração de segundo Jackson jogou seu canivete, que ele havia escondido anteriormente em sua mão, no olho direito do pretenso sequestrador, matando-o imediatamente. Ele caiu no chão, sem nem sequer ter tempo de disparar um último tiro dramático. A mulher se desvencilhou de seu sequestrador e Jackson se aproximou dela.

    – Qual é seu nome, benzinho? – ele perguntou, em português.

    – Meu nome é Conchita Alonso Gonzalez – ela respondeu, em um inglês perfeito.

    Jackson a olhou de cima para baixo. Ela era uma mulher belíssima. Pele morena, alta, atlética, de cabelos negros esvoaçantes. Jackson flexionou seu bíceps direito com toda sua força na frente dela. Conchita ficou molhada e se apaixonou por ele no mesmo momento. Jackson colocou seu braço ao redor dos ombros dela e comtemplou o horizonte cheio de fumaça de explosões com um olhar perdido.

    – Ele disse Cinema Novo… Agora tudo faz sentido!

    – O que faz sentido? – indagou Conchita.

    – As Forças Fundamentais do Cinema de Ação me enviaram aqui para impedir que esse grupo destrua os campos de coca.

    – Mas porque eles fariam isso?

    – Você não percebe, coração? O cinema de ação é movido a cocaína! Quem quer que seja que esteja comandando o grupo CN quer destruir os blockbusters! – declarou Jackson, acompanhado por uma trilha sonora de suspense.

    CONTINUA…

    Texto de autoria de “The Nindja”.

  • Melhores Animes de 2016

    Melhores Animes de 2016

    Que 2016 foi um ano desgraçado, em diferentes níveis, estamos todos cansados de saber. Mas, por incrível que pareça, o mundo dos animes parece ter sido poupado, ao menos parcialmente, desse caos todo. Nos cinemas, foi o ano em que Makoto Shinkai se firmou definitivamente como uma das mais importantes figuras do meio, quebrando com seu Kimi no na wa todos os recordes de público previamente estabelecidos pelo estúdio Ghibli, o que lhe concedeu o título de animação de maior bilheteria da história do arquipélago. Foi também o ano de sanar expectativas de longa data, com as há muito aguardadas estreias de Kizumonogatari e Koe no Katachi. Já na televisão, foram quatro temporadas de estreias diversas, algumas decepcionantes, outras bastante boas – e é dessas últimas, ou, mais precisamente, das que considero as dez (na verdade onze) melhores entre elas que eu gostaria de falar a seguir.

    10. Boku dake ga Inai Machi

    Histórias de viagem no tempo são fáceis de gostar. Porém, tão simples quanto embarcar numa jornada dessas, é perceber as falhas e deslizes cometidos ao longo do trajeto – deslizes esses dos quais poucas tramas desse tipo conseguem escapar. Boku dake ga Inai Machi, adaptação de um mangá homônimo (encerrado quase simultaneamente a animação), é exemplo recente desse dilema: a empreitada de um homem de 29 anos que, tendo a habilidade de voltar no tempo em certas ocasiões (habilidade que nunca é explicada, diga-se de passagem), precisa regressar a sua infância para impedir um serial killer, começa muitíssimo bem, mas se perde aos poucos ao longo de seus 12 episódios.

    Contudo, as indisfarçáveis falhas do anime, como o fato da identidade do assassino se tornar bastante obvia antes do que deveria ou sua conclusão no mínimo piegas, não bastam para eclipsar suas também inegáveis qualidades: um cast forte e carismático de personagens, boas reviravoltas e decisões estilísticas inteligentes tomadas pelo diretor Tomohiko Itou (como a mudança de proporção de tela que serve para distinguir as cenas que se passam no presente das ambientadas no passado) são o suficiente para garantir seu lugar entre os títulos que marcaram o ano.

    9. Uchuu Patrol Luluco

    Se há um lugar em que as mais inventivas mentes da indústria da animação japonesa estejam hoje reunidas, esse é sem dúvida o estúdio Trigger, e Uchuu Patrol Luluco é um microcosmo que, partilhado em 13 episódios de apenas 7 minutos cada, reflete com exatidão a dimensão do potencial criativo dos talentos que ali se encontram. Co-dirigido por Akira Amemiya, responsável por Inferno Cop e Ninja Slayer, duas divertidíssimas animações de curta duração, e sob a coordenação geral de Hiroyuki Imaishi, que já nos trouxe Tengen Toppa Gurren Lagann e Kill la Kill, essa pequena série, que transita entre o humor nonsense e o romance adolescente,  é um passeio pelo pequeno, porém imponente catálogo de títulos do estúdio, não apenas por contar com a participação especial de personagens de outros shows por ele produzidos, mas também, e principalmente, por tudo o que pode oferecer em termos de animação e ideias visuais. Talvez por isso mesmo seja um anime sobre o qual é tão difícil falar: é algo que precisa ser visto.

    8.  Hibike! Euphonium 2

    Poucas sequências são tão eficazes quanto a de Hibike! Euphonium: ela parte exatamente de ontem a história foi deixada e faz com ela exatamente o que deveria ser feito. Mas, se a manutenção da qualidade (sobretudo técnica, uma vez que falamos de uma produção do Kyoto Animation) já era algo esperado, os rumos tomados na parte temática foram positivamente surpreendentes. Continuamos a acompanhar a trajetória de uma banda escolar desacreditada rumo à competição nacional, mas, nessa nova fase, os dilemas enfrentados pelas integrantes do grupo se afastam um pouco do rotineiramente visto em um slice of life escolar – fato que pode ter decepcionado os que esperavam por algum desenvolvimento amoroso padrão, mas que certamente deixou contente quem ansiava por qualquer coisa que fosse para além disso.

    Com um final agridoce, que coroa uma experiência permeada pela melancolia, apesar de alguns momentos de humor e das sempre impressionantes sequências musicais, essa segunda temporada consegue ainda o feito de ser conclusiva, isso sem esgotar as possibilidades do enredo. Em suma, Tatsuya Ishihara e sua equipe terminaram de contar uma história aqui. Não é necessário que eles deem continuidade a ela. Mas eles podem fazê-lo, caso queiram. E seria ótimo se assim quisessem.

     Sangatsu no Lion

    Considerando que mais de ¼ desta lista consiste em animes de esporte, parece seguro supor que 2016 foi um bom ano para o segmento. Contudo, assim como Yuri!!! on Ice é antes sobre romance que sobre patinação, 3-gatsu no Lion, adaptação do mangá de Chika Umino (também autora do excelente Honey & Clover, lançado no Brasil anos atrás pela editora Panini), é bem mais um detalhado estudo da depressão de seu protagonista adolescente, Kiriyama Rei, que uma história sobre shogi, esporte que o personagem principal pratica profissionalmente. Ainda que não consiga fugir dos maneirismos inerentes ao estúdio Shaft (companhia que demonstra estar tão dominada pela marca de seu principal realizador, Akiyuki Shinbou, que parece querem adequar todo e qualquer material, independente de suas nuances, a um mesmo padrão estético), o anime, único da lista que ainda está em exibição, tendo entrado há pouco em seu segundo cour, merece atenção pelas emoções fortes, e muitos vezes conflitantes, que é capaz de despertar.

    7. Natsume Yuujinchou Go

    Foram mais de três anos sem novos episódios de Natsume Yuujinchou. Algumas coisas mudaram nesse tempo; outras, continuam as mesmas. Desde sua primeira temporada, exibida em 2008, o anime passou por transformações. O estúdio Brain’s Base sofreu uma debandada de membros, que fundaram o Shuka, atual responsável pela produção, e a série perdeu o talento de Takahiro Kishida, único responsável pela animação dos encerramentos das quatro primeiras temporadas. Mas a qualidade das histórias contadas – histórias que, apesar do pano de fundo sobrenatural, sempre acabam tratando do que há de mais humano em seus personagens –, e sua capacidade de tocar o espectador, permaneceram intactas.

    Em se tratando de animação, ou de qualquer outra indústria, existem bons e maus anos. Mas parece-me que, sempre que houver uma nova temporada de Natsume, ela terá lugar cativo em minha lista de destaques. E, tendo sido a 6ª já anunciada para 2017, deve dizer que estou otimista quanto ao futuro.

    6. Fune wo Amu

    Já vi um ou dois desenhos na vida, mas nenhum com uma premissa tão desinteressante quanto Fune wo Amu: a saga de um departamento editorial lutando para concluir um grande dicionário. Mas se não se deve julgar um livro pela capa, tampouco é aconselhável taxar uma história por sua sinopse. Não que, ao término desses 11 episódios, vá-se ter vontade de devorar o Houaiss que só faz acumular pó na prateleira, mas você talvez repense a função de tal livro e a natureza do trabalho dos profissionais que o confeccionaram.

    Esse é, acima de tudo, um anime sobre comunicabilidade. Sobre como encontrar as palavras certas para alcançar os demais e como melhor compreender aquelas ditas por eles. Com grande atenção aos detalhes, principalmente em sua animação de personagens, que, embora não solte aos olhos, confere a eles grande expressividade, a série me fez querer repetir a todos uma única palavra: assistam!

    5. Mob Psycho 100

    Surgindo na esteira do sucesso de One Punch-Man, esta nova adaptação de um trabalho do mangaká ONE, uma vez mais entregue pelo estúdio Bones, não só não mede esforços para não ficar à sombra de seu antecessor, mas parece fazer de tudo querer superá-lo em termos de inventividade. No aspecto visual, estamos falando do grande vencedor do ano passado: começando pelo design de personagens e consistência na direção de animação de Yoshimichi Kameda, e passando por cenas não menos que antológicas animadas por alguns dos maiores nomes da indústria, como Yutaka Nakamura e Norio Matsumoto, além de contar com a inserção no mercado de novos e promissores talentos, como Yuki Igarashi e Sara Moroyuki, Mob Psycho 100 é um tour de force para qualquer um que goste de ver desenhos em movimento, o que, por si só, é motivo mais que o suficiente para que ele seja visto.

    4 – Haikyuu!!: Karasuno Koukou VS Shiratorizawa Gakuen Koukou

    Após duas temporadas de dois cour, com 25 episódios cada, recheados com diversos jogos e uma longa curva de evolução de personagens, a terceira temporada de Haikyuu!!, adaptação de um dos mais populares títulos da atual Shonen Jump, chegou com um formato diferente e até mesmo desafiador: apenas dez episódios, que englobariam uma única partida de vôlei. Dada essa proposta, pareciam só haver dois caminhos: ou veríamos algo pra lá de arrastado ou um verdadeiro épico. Agora, findada a exibição da série, me arrisco a dizer que todos os seus espectadores concordam que ela acabou por trilhar o segundo caminho.

    Por se tratar do confronto final de um torneio iniciado na season anterior, mas já anunciado desde idos da primeira temporada, tudo nesse embate tem um caráter de conclusão – vemos arcos de personagens sendo fechados, vemos as frustrações de derrotas passadas se transformarem em lições que ajudam a pavimentar o caminho da vitória. Essa é uma das raras continuações que trazem consigo não apenas parte, mas todo o peso dos acontecimentos pregressos; foram exatos 60 episódios até que chegássemos a esse ponto, e é como se, de fato, tivéssemos acompanhado um time pequeno, desacreditado, erguer-se ao ponto de enfrentar o aparentemente invencível campeão. A tensão e a emoção que pairam no ar até o último apito é real, palpável, como se esses time de fato existissem, como se algo muito importante estivesse em jogo. Particularmente, não acho que haja elogio maior para um anime de esporte.

    3 – Yuri!!! on Ice

    O anime certo no momento certo. Em tempos de profunda mudança na relação do público com os produtos de entretenimento, tempos em que diversidade e representatividade são cobradas como nunca antes, surge um anime criado por duas mulheres de grande talento, Sayo Yamamoto, responsável pelo ótimo Michiko to Hatchin (que, aliás, foi idealizado após uma viagem da diretora ao Brasil, e que está repleto de referências a nossa cultura), e Mitsurou Kubo, mangaká que forneceu o conceito original e o character design do projeto, que narra a história de amor e superação de dois patinadores. O resultado? Um estrondoso sucesso, em mais de um sentido.

    Yuri!!! on Ice provou ser um dos animes com maior poder de engajamento já exibidos na era das redes sociais, conseguindo atingir um público em geral não relacionado com animação (entre eles, muitos patinadores profissionais), em grande parte por conta de seu uso inteligente de ferramentas como o Instagram. Com um design de produção rico em detalhes, sobretudo no que diz respeito aos figurinos dos personagens, e uma gama de belas coreografias, que refletem com exatidão as personalidades de seu diversificado elenco, o título, apesar de alguns problemas técnicos difíceis de ignorar, ainda mais no que diz respeito a gradual queda da qualidade da animação, é um dos grandes acertos de 2016, independente de escolhermos um viés temático, mercadológico ou simbólico para analisa-lo.

    2 – JoJo’s Bizarre Adventure Part 4: Diamond is Unbreakable

    Menos é mais. E Diamond is Unbreakable, quarta fase de JoJo’s Bizarre Adventure,  é um dos exemplos que fortificam essa máxima. Aqui, em vez de batalhas épicas que põem em jogo o destino do mundo, acompanhamos eventos em uma escala muito reduzida, envolvendo apenas o estranho cotidiano da fictícia cidadezinha de Morioh, habitada por um igualmente estranho – e carismático – grupo de personagens.

    Uma dos pontos fortes da franquia é, sem dúvida, sua capacidade de contar histórias completamente diferentes sem sacrificar a coesão de um universo que se expande a cada nova saga, e em nenhum lugar isso fica mais patente que em DiU. Trata-se de uma continuação, personagens e elementos apresentados em Battle Tendency e Stardust Crusaders, respectivamente as partes 2 e 3 da franquia, exercem papel central na trama, mas é também uma abordagem diferente de tudo o que fora anteriormente apresentado, em que os pequenos causos, os arcos de dois ou mesmo de um único episódio são mais significativos que a grande trama que acaba por se descortinar no terço final da série. E é essa capacidade de sempre apresentar algo novo, ainda que com uma roupagem já conhecida, que faz dessa sequência de adaptações da obra de Hirohiko Araki, promovida pelo David Production, uma das melhores coisas que aconteceram ao mundo dos animes nos últimos tempos.

    1 – Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu

    Duvido que, há pouco mais de um ano, antes de sua estreia na temporada de inverno de 2016, alguém pudesse falar com honestidade que esperava ansiosamente por Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu. Mas acredito que, passado esse tempo, qualquer um que o tenha assistido possa fazê-lo a respeito de sua continuação, lançada algumas semanas atrás. Mais que uma boa surpresa, essa adaptação do mangá de Haruko Kumota (finalizado em idos do ano passado, com 10 volumes), é o tipo de obra que nos faz pensar em quantas grandes histórias ainda estão por aí para serem contadas.

    Rakugo é uma centenária vertente do teatro japonês, baseada no monólogo, em que uma única pessoal representa todos os personagens. É uma tradição oral, e seus intérpretes são contadores de histórias que devem decorar, de forma minuciosa, uma grande variedade de peças. Embora tenha outrora gozado de grande popularidade, tal arte entrou em franca decadência no século XX, sobretudo no após a Segunda Guerra, com a ocupação americana e a disseminação de variadas formas de entretenimento no país.  O anime, que abrange um período de mais de meio século, narra, por meio de uma cadeia correlacionada de personagens, esse movimento descendente da apreciação do rakugo e a luta de seus admiradores para mantê-lo vivo.

    A trajetória de uma arte decadente, um acurado retrato das transformações culturais do Japão pós-guerra e um dos melhores dramas animados da década, Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu impressiona não só pela densidade do texto, mas também pela entrega do mesmo, uma vez que o time de produção, desde o diretor, o pouco experiente, mas promissor Shinichi Omata, até os seiyuus (dubladores), se emprenham ao máximo para tornar essa experiência, que, a primeira vista, poderia parecer entediante, em uma das mais emocionantes que a mídia é capaz de fornecer.

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.

  • As Séries que Você não viu em 2016

    As Séries que Você não viu em 2016

    Tá cada vez mais difícil alocar mais um espaço na semana pra encaixar uma nova série pra ver. A quantidade de produções americanas e britânicas realmente dificultam o simples esboço mental do que querer ver simplesmente porque sai muita coisa, sem contar as tantas outras que acabamos nem ouvindo falar as vezes. Com o intuito de mostrar o que foi lançado ano passado e talvez você não tenha visto porque estava vendo Black Mirror, Westworld, Game of Thrones, Stranger Things, The Walking Dead, Vikings, The Flash, Arrow, The 100, entre tantas outras, segue aqui uma pequena lista de séries lançadas em 2016:

    Channel Zero 

    Produzido pelo canal SyFy e concebido por Nick Antosca (roteirista do recente Floresta Maldita), Channel Zero é o resultado da internet imitando a vida e a série imitando a internet. A série tem como proposta uma antologia de curtas baseados em creepypastas como Candle Cove e a Casa Sem Fim disposta numa temporada curta de 6 episódios com segunda temporada já confirmada para esse ano.

    Big Little Lies 

    Três mães com filhos no jardim de infância se tornam amigas, uma amizade que infelizmente vai acabar… em assassinato. Ok, essa série não saiu em 2016, mas deixou todos completamente na expectativa pois foi anunciada no inicio do ano e agora foi reagendada para o meio de fevereiro de 2017. Muitas das séries de prestígio da ultima década são protagonizadas por homens — Sopranos, Mad MenBreaking Bad, The Wire — muitos desses mesmos shows prezam também pela presença de personagens femininas no elenco mas poderia Big Little Lies fazer o que a série True Detective fez com a carreira de Matthew McConaughey e Woody Harrelson a Nicole Kidman Reese Witherspoon? O projeto inicial era adaptar o roteiro da autora australiana Liane Moriarty como um longa antes de mudarem o projeto para uma série da HBOJean-Marc Vallée (Clube de Compras Dallas, Livre) é o encarregado de dirigir todos os sete episódios, num ar de Cary Fukunaga. No elenco Alexander Skarsgard, Adam Scott, Laura Dern, James Tupper e Zoë Kravitz.

    Designated Survivor 

    A nova produção da ABC traz Kiefer Sutherland como o astro nessa nova empreitada. Designated Survivor conta a história de Tom Kirkman, um funcionário do baixo escalão do gabinete do presidente que no mesmo dia em que foi demitido acaba se encontrando como o presidente dos EUA devido a um ataque terrorista que deixa pouquíssimos sobreviventes. Você ainda acompanha na trama toda a investigação por parte do FBI acerca do que aconteceu durante o ataque. É impressionante como a série consegue balancear as duas tramas paralelas, fazendo seu episódio piloto de uma hora parecer que se passou em 10 minutos. A série é escrita e produzida por David Guggenheim (Protegendo o Inimigo, O Resgate e Bad Boys 3) que já colaborou com Antoine Fuqua em projetos pra TV e Conta com um respaldo de filmes de ação e suspense no currículo.

    https://www.youtube.com/watch?v=N_f1v0Nx5Sw

    Billions

    Essa inclusive já foi até citada anteriormente, mas imagine se O Lobo de Wall Street fosse misturado à A Grande Aposta num embate entre Paul Giamatti e Damien Lewis se confrontando indireta e diretamente num jogo de poder?

    A série do canal Showtime conta com o roteiro de Andrew Ross Sorkin (Grande Demais Para Quebrar), que basicamente só escreveu roteiros focados em filmes falando sobre o mercado financeiro e junte tudo isso com o carisma dos dois astros da produção numa série pequena de 12 episódios, sem fillers, sem enrolação no roteiro.

    The Girlfriend Experience

    Que Steven Soderbergh não dorme desde a chegada do novo milênio todo mundo já sabe, mas imagina se duas discípulas de sua essência workaholic decidissem adaptar um de seus filmes para uma série de TV com ele mesmo como produtor? Na trama uma estudante de direito de Chicago faminta por dinheiro é introduzida ao mundo das acompanhantes de luxo. Produzida pelo canal Starz a diretora Lodge Kerrigan trabalha em conjunto com Amy Seimetz tanto no roteiro quanto em direção. A influência de Soderbergh se estende até no elenco da série, já que Riley Keough, que está em Magic Mike, está no papel principal da série. Além disso no elenco também temos Paul Sparks (Mickey Doyle, de Boardwalk Empire) e Mary-Lynn Rajskub.

    Hap and Leonard

    Junte um trapaceiro e um veterano da guerra do Vietnã pra resolverem crimes nos anos 80 no Texas e você tem uma das séries mais legais do ano. A sensação começa pelo próprio elenco com James Purefoy, que é basicamente o Thomas Jane inglês, que após o desastroso The Following ficou sem uma série para trabalhar. Produzida pela SundanceTV, Nick Damici Jim Mickle foram contratados como co-roteiristas para adaptar o que era previamente um filme baseado num romance de Joe R. Lansdale e foi depois transformada numa série de 6 episódios. A série parece ter vindo em um momento mais que correto agora para preencher o coração brucutu das viúvas de Justified. Também no elenco Christina Hendricks, Bill Sage e Jimmi Simpson.

    The OA 

    Essa certamente foi uma surpresa, saindo no último mês do ano, a série criada pela terceira colaboração de Brit MarlingZal Batmanglij é um etéreo sci-fi indie de baixo orçamento. A Netflix por pouco não consegue essa série feita pela produtora de Brad Pitt, a Plan B. A trama é focada em Prairie Johnson, uma moça cega que está desaparecida por anos. Agora na casa dos 20 anos, ela retorna para sua cidade natal com sua vista parcialmente restaurada. Ainda que alguns membros da comunidade chamem de milagre, sua presença é considerada mal agouro e perigosa para as outras pessoas. Fora isso existe um mistério a mais com o fato de Prairie se recusar a contar à seus pais e ao FBI o que ocorreu com ela nesses 7 anos em que esteve desaparecida.

    De tudo o que pode se dizer sobre The OA, é que você nunca vai esperar que uma dança experimental a lá Pina Bausch lhe diga alguma coisa, mas estranhamente diz.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | O Homem que Viu o Infinito

    Crítica | O Homem que Viu o Infinito

    Baseado no livro The Man Who Knew Infinity: A Life of the Genius Ramanujan (ainda sem tradução no Brasil), de Robert Kanigel, com roteiro e direção de Matt Brown, o filme conta parte da história de Srinivasa Ramanujan (Dev Patel), um gênio matemático autodidata indiano. Um pouco antes de estourar a Primeira Guerra Mundial, em 1913, ele sai da pequena cidade de Madras e viaja para a Inglaterra para encontrar seu futuro mentor – o excêntrico G.H. Hardy (Jeremy Irons), professor de Matemática Pura no Trinity College, em Cambridge. Lá, além de ter de se adequar a regras com que não está habituado, ainda tem de enfrentar a xenofobia e o desprezo da maioria dos estudiosos de Cambridge, colegas de Hardy.

    Interessante observar a interação entre os personagens, uma vez que a visão que cada um deles – mentor e aluno – tem do estudo e da aplicação da Matemática Pura é bem diversa, quase oposta. Ramanujan diz que seu dom e todas os teoremas que escreve são originados de sua fé, aliás em certo momento, quando Hardy o pressiona para que diga de onde lhe vêm as ideias, ele responde que vê as fórmulas enquanto está rezando. E, enquanto Ramanujan acredita que seus teoremas são verdadeiras pura e simplesmente por terem sido inspiração divina, Hardy quer fazê-lo entender que isso não basta e que, para que suas fórmulas sejam publicadas e reconhecidas como verdadeiras é necessário fornecer provas. Essa diferença de abordagem garante boas discussões filosóficas entre eles.

    O roteiro é bem estruturado, simples, sem sofisticação ou arroubos inventivos. A narrativa mescla a estadia de Ramanujan em Cambridge com a vida de sua esposa, que ficou na Índia. Há quem tenha comparado o filme a Uma mente brilhante, dizendo ser uma versão simplificada deste, o que é uma tremenda bobagem, afinal são biografias de duas pessoas diferentes, com personalidades diferentes e problemas diferentes a enfrentar. A fotografia e a direção de arte são eficientes, se complementando para situar bem os personagens no período retratado.

    Ramanujan é um bom exemplo de pessoa famosa entre seus pares, mas praticamente desconhecida da maioria das pessoas. E que continuaria desconhecida não fosse pelo filme. É uma obra que, se não se destaca pela história em si, conquista o espectador pela boa atuação do elendo e pelo brilhantismo do personagem retratado.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Vai se foder, 2016

    Vai se foder, 2016

    No Brasil, o ano de 2017 começou com um assassino de extrema direita invadindo uma festa de final de ano e matando 12 pessoas da mesma família (9 mulheres, 2 homens e 1 criança). Entre essas pessoas, estavam sua ex-mulher e seu filho de nove anos. Porque ele fez isso? Bem, segundo sua cartinha, o imbecil estava cansado das vadias que estragaram sua vida, ele não suportada mais a Lei “Vadia da Penha”, e queria matar todas as vadias… Vadias, vadias, vadias. Você sabe, o tipo de falta de raciocínio que faria um fã fervoroso de Jair Bolsonaro chorar de orgulho.

    No hemisfério Norte, a Nova Guerra Fria está prestes a acabar em 20 de janeiro, quando o novo presidente-fantoche dos EUA, Donald Trump (ex-apresentador de realities shows idiotas e cabeça de esquemas de fraude e estelionato), “assumir” a presidência do maior poderio industrial-militar da história para obedecer aos mandos e desmandos de seu novo mestre: Vladimir Putin (pessoalmente, eu acho essa situação toda hilária e extremamente irônica).

    E esse é só o começo de 2017.

    Mas não se engane, 2017 é só uma consequência. A verdadeira causa de tudo que estamos vivendo e vamos viver pelas próximas décadas é o ano de 2016, que será lembrado como o ano em que o século XXI ficou literalmente louco. Se esse século fosse uma pessoa, poderíamos dizer que ele teve uma infância difícil desde 2001, mas que, apesar dos pesares, ele ainda tinha potencial para crescer e se tornar um século respeitável. Infelizmente 2016 foi o ano em que esse adolescente chamado século XXI descobriu sua paixão incontrolável pelas pedras de crack.

    Se 2016 tivesse um rosto… seria esse. (Fonte)

    BRASIL: O Bom Gigante Adormecido.

    Esse tópico vai ser difícil. 2016 foi o ano em que nossa política passou de péssima para porra!

    Tudo começou em dezembro de 2015, quando o ex-presidente da câmara de deputados federais e atual presidiário Eduardo Cunha decidiu aceitar um pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Roussef, porque descobriu que sua barra não seria limpa no Conselho de Ética pelos crimes que acabaram cassando-o posteriormente.

    O parecer do impeachment foi desenvolvido pela desvairada e descontrolada advogada Janaína Paschoal, que recebeu 45 mil reais do PSDB para fazê-lo (de maneira apartidária, é claro). O argumento usado foi o de “pedaladas fiscais”, termo criado por entusiastas de futebol para se referir à operações orçamentárias realizadas pelo Tesouro Nacional. Mas ninguém liga para isso.

    O impedimento foi para votação na Câmara de Deputados, em que tivemos bastante vuvuzelas, balões, camisetas da CBF e confete. Tivemos gritos de sim acompanhados de “pela minha família”, “pela maçonaria” e “pela paz de Jerusalém”. A imprensa internacional ficou surpresa em descobrir que o Carnaval está presente também na nossa política.

    Após o fim do processo na Câmara, Eduardo Cunha foi convenientemente afastado de seu cargo como presidente pelo STF, e o novo presidente da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão, anulou o impeachment. Menos de 12 horas depois, ele anulou a anulação. Não entendeu? Tudo bem, ninguém entendeu também.

    Após a aprovação pela Câmara, o processo rodou no Senado, onde a perícia chegou a conclusão que Dilma autorizou 3 decretos incompatíveis com a meta fiscal (lembrando que essa meta foi revista pela PLN 5/2015), mas não havia cometido nenhuma pedalada fiscal. Mas isso é irrelevante, porque Dilma sofreu o impeachment devido o “conjunto da obra“, o novo crime (?) do momento. E para surpresa de todos, especialmente Fernando Collor, ela perdeu seu cargo mas manteve seus poderes políticos.

    Após a provação do impeachment pelo Senado, Michel Temer assumiu definitivamente a cadeira de presidente do Brasil, para a alegria de sua esposa, Marcela Temer, que se veste muito bem. Ah, e talvez ele seja satanista. Talvez.

    Tivemos também (novamente) o surgimento da figura do Salvador da Pátria. O homem que vai limpar esse Brasil sozinho, com o poder da Lei e da Ordem. O inigualável e incrível juiz Joaquim BarSérgio Moro. Aquele juiz implacável do caso Banestado, lembra? Que sua graça divina nos ilumine! (E por favor, Pai Moro, se estiver me ouvindo, não divulgue meu histórico de navegação da internet)

    Esse ano de 2016 foi também agraciado pela nova dupla sertaneja, Marx e Hegel. Com participação do novo princípio legal de convicção sobre provas e, meu favorito, o PowerPoint do mau! É impressionante perceber o que um estagiário pode fazer com um computador nesses dias.

    “Podemos ver nessa fotografia que o ex-presidente Lula destruiu a cidade de Tóquio em 1954. ”

    Há também a reforma nas escolas, que não agradou os especialistas e muito menos os estudantes. Mas o Governo permanece confiante.

    E quanto a economia? Não se preocupe, tudo ficará resolvido com uma reforma da previdência em que você terá que trabalhar ininterruptamente desde os seus 16 anos até os 65 para conseguir o teto da aposentadoria (militares e policiais estão fora dessa, porque eles não são cidadãos de segunda classes como nós). A justificativa para isso é que previdência social está quebrada, segundo o governo. Mas os Auditores Fiscais da Receita Federal afirmam que a previdência é superavitária (eles têm até uma cartilha!). Se eu não soubesse com quem estou lidando eu poderia pensar que o Governo que nos ferrar, né?

    Tivemos a maravilhosa proposta da PEC 55, que pretende congelar por 20 anos nosso orçamento na saúde e educação, algo sem precedente na história da humanidade. Bem, espero que nesses próximos 20 anos a população não aumente, senão podemos ter um probleminha em nossas mãos. Sem falar no benefício de 100 bilhões que o Governo queria dar para as empresas de telecomunicações. (Mas o Brasil não estava quebrado?)

    Em 2016 tivemos também o melhor momento da história do STF: a tentativa patética de retirada de Renan Calheiros de seu cargo como presidente do Senado. Renan Calheiros, a cobra que é, mostrou aos deuses do STF como funciona a política em uma república de bananas. Contemple a humilhação que esse oficial de justiça sofreu ao tentar fazer seu trabalho e ser tratado como um nada pelo velho Renan. Ele nunca se sentiu assim em toda sua vida. Tenho que admitir, é um feito e tanto.

    E eu nem vou falar da maravilhosa atuação da Rede Goebbels nisso tudo. Eles merecem um post só sobre eles.

    Resumindo: é por isso que eu parei de assistir “House of Cards” em 2016. 

    EUROPA: Apertem os cintos, a Inglaterra sumiu!

    Vou deixar isso bem claro desde o início: ingleses são babacas. Isso não é uma ofensa, é a constatação de um fato. Não é culpa deles, eles não fazem de propósito, eles não querem ser babacas… Mas eles são. Faz parte da cultura deles. Se eles não fossem babacas, não poderiam ser ingleses. Entendido? OK. Então, estamos realmente surpresos que os ingleses disseram não à União Europeia? O que você esperava? Eles são babacas.

    O BREXIT talvez tenha sido o único evento desse ano maldito que faz sentido. Quer dizer, não é como se os britânicos jamais gostassem da Europa. Ou se sentissem parte dela. Ou se identificassem com ela. Eles permanecem isolados do continente, quase como se fossem… uma ilha.

    Somando isso à crise dos refugiados, a crise econômica que erodiu o bloco econômico e o crescente número de atentados terroristas em capitais europeias… Bem, vamos dizer que as empresas de armamento militar estão bastante otimistas.

    Ah, e Mein Kumpt voltou a ser um best-seller na Alemanha. (Quem caralhos ganha dinheiro com essa merda?)

    EUA: Donald Trump, ou como eu parei de me importar a passei a amar a bomba.

    Nas eleições ianques de 2016 o mundo todo se voltou para os EUA e disse, em tom de preocupação: “Você não pode ser tão idiota assim”. Em resposta, a grande nação norte-americana olhou para o resto do mundo com desdém e falou: “Você não pode me dizer o quão idiota eu posso ser”.

    E aqui estamos nós: Donald Trump foi eleito presidente dos EUA. O que dizer dessa criatura?

    Dizer que ele é um misógino, homofóbico, racista, islamofóbico, imbecil, estuprador, mentiroso, estelionatário, incompetente, tira sarro de pessoas especiaisladrão, estúpido, anticientífico e insano seria chover no molhado. Todo mundo sabe disso.

    Então por que eles votaram nele? Porque aparentemente eles não gostaram de Hillary Clinton, o novo bicho papão da direita norte-americana. Se você perguntar a um republicano convicto porque ele não gosta de Hillary ele vai dizer que é porque ela voa em uma vassoura e joga praga nas pessoas. E logo depois dessa declaração vai haver uma reportagem completa na Fox News explicando como ela faz essas coisas. Dica: ela vendeu sua alma imortal para Lúcifer.

    A parte mais triste foi que os democratas tiveram medo de colocar Bernie Sanders, um socialista convicto, para concorrer com o palhaço laranja. Eles pensaram que Sanders não tinha chance de vencer. E agora eles devem estar dando chutes nas próprias cabeças ao perceberem que sim, você pode eleger qualquer pessoa nos EUA.

    Mas a melhor parte dessa eleição não foi a vitória da pessoa mais inepta da história ianque a assumir o cargo do maior poderio militar do planeta. Mas o fato dessa pessoa estar trabalhando para os interesses russos. Especificamente, os interesses de Vladimir Putin. Aquele ex-agente da KGB, lembra? Isso mesmo, a Rússia tem um novo presidente… Na Casa Branca.

    Você consegue imaginar Putin sentado com seus amigos (?), bebendo a vodka mais cara do mundo, olhando ao redor e perguntando com um sorriso incrédulo: “Alguém imaginou que iríamos estar aqui nesse momento? ”. Eu posso, porque no momento que Donald Trump foi eleito, eu pude ouvir a risada maligna do velho Vlad à um hemisfério de distância.

    As eleições ianques de 2016 foram como a reversal russa. Na Rússia, a queda do seu país não acaba com a Guerra Fria… É a Guerra fria que acaba com o seu inimigo.

    Ура, товарищи!

    AMÉRICA LATINA: Jogos, Trapaças e Dois Países Fumegantes

    Na Colômbia, um plebiscito popular mostrou que diante da possibilidade de paz com as FARC, parece que o povo quer mesmo é ver bandido no chão. Mas parece que a Lei de Anistia foi aprovada pelo Congresso mesmo assim. Aparentemente foi mais uma terça-feira na Colômbia. Aliás, eles não estavam enviando ônibus cheios de comunistas para Brasília? Não? Ok.

    E a Venezuela nos provou que ter petróleo em quantidade não significa porra nenhuma se você for imbecil. Ponto para a direita batedora de panelas, que nos avisou que os comunistas bolivarianos sanguinários do djabo são incompetentes e assassinos. E pensar que o Brasil sofreu com uma ditadura comunista dessas por 13 anos… Quer saber, esses venezuelanos estão reclamando de boca cheia.

    E nossos hermanos argentinos? Bem, estão daquele jeito.

    Pelo menos sempre teremos o Uruguai. 

    CORÉIA DO SUL: Cara, cadê meu presidente?

    Quando fiquei sabendo dos acontecimentos políticos na Coréia do Sul no ano passado, devo admitir que minha primeira reação foi achar que a coisa toda era um hoax ruim, criado para pessoas facilmente impressionáveis e fanáticos por teorias da conspiração. Acreditar em teorias da conspiração, tudo bem. Acreditar que a política é influenciada por variados fatores culturais e econômicos, é óbvio. Agora, acreditar que a presidente eleita da Coréia é fantoche de uma seita chamada Igreja da Vida Eterna e que praticamente todas as decisões presidenciais eram resultado dessa influência religiosa… Você tem que estar de brincadeira, certo?

    Mas eu estava totalmente errado. Era real… Ou melhor, é real. E quando eu me dou conta disso, eu percebo que o que aconteceu na Coréia só demonstra como ano de 2016 foi o ano em que a humanidade ultrapassou a barreira da ficção e está vivendo uma espécie de simulacro bizarro, provavelmente escrito por David Lynch. O que aconteceu na Coréia do Sul foi tão surreal que eu não ficaria surpreso se após o impeachment da presidenta Park Geun-hye, Rod Serling aparecesse na televisão explicando que o que acabamos de ver foi mais um episódio de Além da Imaginação.

    “E se Alexandre Frota desse conselho sobre a Educação de um país? E se o Kojak fosse ministro da Justiça? Isso e muito mais nesse episódio de… 2016 – Um ano do Barulho. ” (Fonte)

    ENTRETENIMENTO: Burrice V Sanidade.

    2016 foi um ano especial para o entretenimento. Principalmente para a comunidade antissocial, que se masturba compulsoriamente, usa óculos e tem espinhas no rosto.

    Tivemos Capitão América: Guerra Civil, onde vários personagens amados da Marvel desceram a porrada uns nos outros e todo mundo se divertiu no final. Tivemos o Dr. Estranho boladão, com suas macumbas doidas e inimigos merdas, mas que também foi divertido no final. E Stranger Things, a série que nos fez lembrar porque os anos 80 foram tão bons conosco (exceto por Ronald Reagan).

    Mas também tivemos Batman V Superman. Nossa, tivemos Batman vs Superman. Caralho. Eu poderia começar a falar desse atentado ao cinema perpetrado pelo Visionário, mas se eu começar eu não vou parar até estar espumando pela boca e falando Aklo.

    E depois tivemos Esquadrão Suicida… Caralho.

    Bem, acho que se aprendermos alguma coisa em 2016 é que a única chance da DC dar certo no cinema a partir de agora é contratando a Marvel.

    FUTEBOL: Apocalipse Gol

    Poderíamos dizer que 2016, apesar de muito ruim, não foi o pior ano de todos. Exceto se você for torcedor da Chapecoense.

    Não há mais nada a dizer sobre essa tragédia que já não tenha sido dito centenas de vezes anteriormente. Os mortos foram enterrados, mas as mágoas continuam. Força Chape.

    (Fonte)

    (Menção Honrosa ao Internacional, com seu timing perfeito. O time de Porto Alegre conseguiu cair para a Série B no mesmo ano em que seu rival, o Grêmio, ganhou um título de relevância nacional… Depois de 15 anos. Parabéns, nem operações militares são tão precisas assim.)

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Eu gostaria de escrever algo engraçado no final desse texto para dar alguma esperança a você, leitor… Mas eu não posso. Se tem uma coisa que eu aprendi com Max Rockatansky é que a esperança é um erro. Se você não consegue consertar o que está quebrado, você acaba ficando insano. Portanto eu vou terminar esse texto com um clipe irônico: It´s the end of the World, do REM. Porque realmente é o fim do mundo como o conhecemos, mas eu não me sinto bem. Na verdade, acho que nunca mais vou me sentir bem de novo.

    Boa sorte em 2017. E vai se foder, 2016.

    Texto de autoria de The Nindja.

  • Crítica | Dominação

    Crítica | Dominação

    Nicho de mercado responsável pelas maiores bombas do cinema, os filmes de terror, ano após ano, ocupam espaço no mercado com uma saraivada de lançamentos absolutamente genéricos e com pouca ou nenhuma inovação nas tramas, linhas narrativas e, principalmente, relevância das histórias que contam.

    Dominação, que chega aos cinema essa semana é um excelente exemplar da falta de criatividade no terror cinematográfico. Na trama, Seth Ember, vivido por Aaron Eckhart, é um padre exorcista que nega tal denominação, pois acredita ter criado uma maneira alternativa de expulsar demônios de seus corpos hospedeiros. Entrar no subconsciente do “receptáculo” e plantar ali a ideia de que nada daquilo seria real. Sim, a semelhança com A Origem é real, mas se encerra aí, já que o quê se vê na tela é uma das piores histórias já filmadas.

    Basicamente sem roteiro para sustentar suas duas horas de duração, o filme apela para uma série de clichês de outras obras do gênero e apresenta como resultado uma espécie de filme Frankenstein, composto por pedaços de várias outras obras facilmente identificáveis ali. Algumas sequências são tão sofríveis que nem o talento do protagonista pode fazer algo em defesa do longa.

    A parte isso, temos ainda erros grotescos de direção de Brad Peyton. Desde a direção de atores até as áreas técnicas como iluminação, design de produção e etc. São enquadramentos que simplesmente não favorecem a história contada e que dificultam qualquer tentativa de simpatia pelo filme. Acrescente a esta equação erros de continuidade e o que temos é um péssimo começo de ano para o cinema de terror.

    Para não citar apenas comentários negativos sobre o filme, o trabalho de trilha sonora confere alguma maturidade para a trama. Sendo bastante modesto, porém assertivo em seus crescendo e silêncios que envolvem e pautam o andamento do filme.

    Aaron Eckhart aparentemente padece do mesmo mal que Nicolas Cage na escolha de seus trabalhos. Escrevendo uma curva descendente em sua filmografia que parece não ter previsão de voltar a apresentar possibilidade de melhoria.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Sai de cena William Peter Blatty, escritor e roteirista de o Exorcista

    Sai de cena William Peter Blatty, escritor e roteirista de o Exorcista

    William Peter Blatty, que escreveu o lendário romance Exorcista, de 1971, faleceu ontem com 89 anos de idade. Segundo o The Associated Press reports a causa da morte foi informada por sua esposa Julie foi um tipo de câncer no sangue. Após trabalhar em Hollywood como roteirista, Blatty escreveu o agora icônico livro que depois se tornaria roteiro e um dos maiores clássicos da nova Hollywood em 73 com a ajuda do diretor William Friedkin.

    O Exorcista foi uma completa mudança de tom do seu trabalho inicial, Blatty que começou como roteirista de comédia, esboçando bordões para astros como Peter Sellers muito tempo antes de elucubrar a obra definitiva de terror do nosso tempo. Até o dia de hoje, seu romance e sua sequência se mantêm como seu trabalho mais memorável: “Não posso negar O Exorcista”, comentou Blatty ao Washington Post um pouco antes da comemoração ao seu aniversário de 40 anos em 2013. “Ele fez tanto para mim e para minha família. E acabou me dando muita liberdade criativa de escrever o que eu queria”.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | A Criada

    Crítica | A Criada

    A Criada (The Handmaiden), de Park Chank-Wook, é um filme simplesmente gigantesco. Gigantesco não por sua metragem (Apenas 2h25m, que passam com uma fluidez perfeita), mas por sua grandiosidade como cinema, conseguindo ser impecável em todos seus aspectos cinematográficos. Da trilha sonora, com temas asiáticos tocados em um conjunto de cordas, ao som de lâminas em trombetas distorcidas, tendo o cuidado de jamais parecer dissonante daquilo que vemos em tela, e sem também subtrair a emoção que está sendo exposta, mesmo quando um mesmo tema é utilizado em cenas de diferentes tons. O tema principal, que acrescenta um sutil piano, em uma melodia um tanto mais épica, é provavelmente, o tema mais bonito do cinema dos últimos anos. O filme, é simplesmente necessário de ser visto. Irretocável.

    O longa metragem, adaptado do livro Fingersmith (sem tradução no Brasil) é uma jornada que busca o espaço para o amor, para a dor, vingança e desejo, através de nossos elementos mais primitivos e sensoriais, no complexo romance entre a criada Sookee (Kim Tae-ri) e sua dama Hideko (Kim Min-Hee), que ao dividir-se em 3 capítulos, que visam contar a história a partir do ponto de vista de diferentes personagens. Tal estratégia é capaz de demonstrar o poder narrativo do cinema de se contar histórias completamente diferentes, com as mesmas imagens e mensagens, a partir do ritmo, compasso, e elementos audiovisuais.

    A direção de arte recria uma Coreia do Sul do início do século passado, de forma híbrida, ao fundir arquitetura e vestimentas que se espera ver na Inglaterra e Japão do mesmo período, criando uma obra que aparenta ser contextualizada em um espaço-tempo que é só dela. A fotografia delicada é usada para ressaltar a atmosfera intoxicante de fumaça, incerteza e medo que ronda seus protagonistas, bem como ocupa-se de mostrar seus atores com movimentos previamente medidos, onde até mesmo o acerto da lapela do chapéus se recheia de significados, pois aqui ninguém é exatamente confiável. Ressoando obras como Engraçadinha, de Nelson Rodrigues, é possível reter na memória esquemas bastante universais sobre como se lidar com esses pilares nada fáceis, como é a vingança, o amor e o desejo, porém A Criada ocorre em um outro nível, um nível que Aristóteles chamaria de plano etéreo. É acima dos céus.

    Stanley Kubrick já dizia que o sexo e a violência são parte do dia a dia, e sendo assim, parte da arte. Aqui a dosagem é precisa e faz com que esses dois ingredientes tão complexos trabalhem para entrelaçar vidas e futuros, em uma poesia única que tortura e alivia.

    É a jornada através dos espasmos, das palavras sussurradas, vozes falhadas, gritos amordaçados pelo ar que já se foi, o aroma do vinho envelhecido, o orvalho sincero da rosa, e por fim, a queda conjunta do golpe de amor final, mergulhando na fluidez daquele rio. Numa dança de desejo e emoção, hora pele e língua, hora a alma que só o olhar é capaz de revelar, é no seio amado que se conserta o que quebrou, acendendo assim o santo que não se é, entre as pernas é que a carne sã se despedaça e releva, como uma faca desfibrando o horizonte, o Sol que leva amantes à míngua, sede e calor.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Metrópolis | O precursor do Sci-Fi completa 90 anos

    Metrópolis | O precursor do Sci-Fi completa 90 anos

    Hoje em 1927, Metrópolis era lançado nos cinemas alemães e logo iria percorrer o mundo todo. Se trata do primeiro filme no World Register Memory da Unesco e considerado como uma obra prima da sétima arte, o filme de Fritz Lang dividiu a crítica no seu lançamento original e foi mal recebido em bilheteria. Mas quais seriam as outras facetas dessa obra!?

    Quando o diretor nascido em Vienna em 1890, decidiu fazer Metrópolis, o mesmo já era reconhecido como um renomado realizador de cinema, um workaholic de forte personalidade estabelecido em Berlim desdo fim da primeira guerra mundial. Casado desde 1922 com a escritora, roteirista e atriz Thea Von Harbou, que iria escrever todos os seus roteiros até sua fuga da Alemanha em 1933. Fritz Lang já havia feito filmes ambiciosos como Dr. Mabuse, O Jogador (1922) e Anel dos Nibelungos  (1924). O diretor se tornou um dos grandes nomes do cinema alemão que depois se espalhou pela Europa, época essa que Berlim vivia um período próspero de vanguardas artísticas como o teatro de Bertolt Brecht e todo o expressionismo inspirado previamente pelas obras de Edward Munch, assim como filmes importantes, realizados com grande financiamento técnico da UFA (Universum Film AG), uma grande produtora daqueles anos, que produziria Metrópolis.

    As gravações duraram quase um ano e custou 36.000 mil dólares além do orçamento previsto, que seria depois gerenciado de maneira imprudente por um diretor que era comumente criticado pela sua falta de empatia com o elenco. Dificuldade absurda de filmagem, mobilização e uma magnifica técnica deram nascimento ao filme que Lang diz ter gostado de filmar, mas que ele mesmo se arrepende pelo cenário pobremente estruturado.

    Na trama é narrada a estória da cidade de Metrópolis, que ao mesmo tempo que ricos vivem em luxuosos arranha céus e ignoram tudo o que ocorre nas partes mais baixas da cidade que os mantêm vivos, onde milhares de trabalhadores, escravos do maquinários e completamente desumanizados. Quando Freder, o filho do mestre de Metrópolis se apaixona por Maria, uma pobre trabalhadora, ele percebe a desigualdade social em que sua casta próspera. Falhando em convencer seu pai, ele vai até a parte baixa da cidade onde a revolta nasce. Mas enquanto todo o filme pousa na sobrevivência da população desprezada pelos poderosos, o fim culmina a possibilidade de um acordo entre as duas partes graças a mediação de Freder e Maria que os unirão “o coração será capaz de realizar a união entre cabeça e braços”.

    Apesar disso, o diretor afirma que depois ele considerou o cenário deplorável do longa, com uma lição de moral muito simples e irreal. Uma moral que é perseguida de acordo com a sensibilidade política de cada um. De acordo com uma entrevista feita por Nöel Simsolo, o jovem diretor búlgaro Slatan Dudow, que colaborou durante as filmagens largou o projeto no meio devido a suas convicções Marxistas que não poderiam aceitar a moralidade proposta no fim do filme. Mas Fritz Lang reconheceu por outro lado sua fascinação pelos efeitos técnicos e visuais alcançados por um filme considerado precursor da ficção cientifica. Como “exploradores” Fritz Lang e seus colaboradores experimentaram e criaram sem saber todo um gênero que seria explorado e criado no futuro, vale o exemplo star trekiano do videofone que é usado para comunicação.

    Em entrevista de 1984, Noël Simsolo retornou ao programa “film Tuesdays” para comentar sobre a recepção do filme. Na verdade ele é considerado um fracasso comercial dividindo a crítica entre a desproporção entre a narrativa e a exposição de elementos visuais. O diretor Luis Bunuel escreveu na época: “Metrópolis não é um único filme. São dois longas presos com um cinto, mas com necessidades espirituais divergentes, um antagonismo extremo. Aqueles que consideram cinema como uma forma discreta de se contar história encontrarão uma grande decepção com Metrópolis. O que nós é falado é trivial, pedante e um romance antiquado. A anetoda é que se você estiver atrás de algo “fotogenicamente-plástico”, então Metrópolis vai realizar todos os seus desejos, você irá se maravilhar como se fosse o livro de imagens mais belo já composto.”

    Ao mesmo tempo, o longa termina adquirindo status de ícone da sétima arte, pela sua beleza visual e poder evocativos retratando um universo social e maquinista. Em entrevista de 1965, Fritz Lang comentou do sucesso que Metrópolis fez ao ser exibido na cinemateca francesa além de seus filmes em geral. Para Jean-François Balmer, Metrópolis é um filme admirável, que centraliza toda a capacidade visual da fotografia cinematográfica.

    O que acaba tornando mais curioso o cinema mudo como um todo é a capacidade de você poder mudar um aspecto dele até hoje que é sua trilha sonora, durante o festival Endeavours de documentários o compositor eletrônico Paul Searless entregou uma trilha a Metrópolis que assim como a de Cliff Martinez para The Knick consegue que algo que não se encaixa em momento algum ao longa fazer todo sentido no contexto da produção ( o video está legendado).

    Vale relembrar que esse longa está em domínio público e você pode assistir a sua versão restaurada no youtube com legendas em português aqui no link abaixo:

    https://www.youtube.com/watch?v=QkHOwwPKZ78

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Review | Another Metroid 2 Remake

    Review | Another Metroid 2 Remake

    Você provavelmente sabe o que é esperar meses e até anos por um jogo, principalmente por metroidvanias que por sua complexa e interessante estrutura precisam de muita revisão e planejamento. Já fazem mais de 15 anos que a Nintendo não lança um título no formato 2D de um de seus títulos mais influentes até hoje, sendo dos 5 jogos já lançados um deles é um (muito competente) remake do primeiro jogo da série.

    De todas as coisas que pode-se dizer sobre Another Metroid 2 Remake é que o projeto surge da admiração de um fã, que se uniu a mais alguns companheiros e trilhou um caminho que percorreu uma década. O jogo não só repagina um título em PB para Gameboy quase sem instrução nenhuma para uma aventura estruturada com mapa, contador geral e local para dinamizar a exploração mas consegue antes de tudo nos fazer sentir jogando algo que parece legítimamente feito pela empresa dona da franquia.  Percebo que os momentos mais interessantes do jogo (assim como em todos os outros metroids) é na sensação que você tem ao não saber exatamente pra onde ir e acaba retornando para todos os pontos anteriores da jornada atrás de uma nova pista.

    Acaba que o único pano de fundo de estória dentro de Metroid 2 foi o ponto decisivo para que DoctorM64 conseguisse focar no ponto principal de seu remake; a ação. Na trama, Samus é encarregada de exterminar toda a raça metroid que se encontrava no antigo planeta chozzo SR388 e resgatar uma equipe militar que estava incomunicável. Essa pequena missão de exterminio dá o tom necessário para que o mesmo seja estruturalmente voltado para os jogadores mais focados em atirar.

    Na maior parte do tempo, e mais ainda pros jogadores mais desavisados, a constante sensação de perigo que é enfrentar um simples metroid em todas os seus estágio de evolução vai ensinando o conceito de cautela de maneira cada vez mais sólida para o jogador, ainda mais quando se percebe que além disso o próprio planeta guarda suas armadilhas internas quando menos se espera. Não estou dizendo que se trata de um survival horror ou coisa do gênero, mas existe um medo legítimo em simplesmente não ter salvo seu percurso e se deparar com um perigo sem nenhum míssil equipado e ter que sair correndo pro check point mais próximo, e não será apenas uma vez que essa sensação virá!

    Principalmente a considerar que esse sub gênero vem crescendo e sendo refinado cada vez mais dentro do desenvolvimento independente com Axiom Verge, Ghost Song, Dex, Guacamelee, Aquaria e Bloodstained é correto dizer que pra um projeto que nasceu há tanto tempo ele conseguiu se manter como um título de peso para os metroidvanias.

    Por mais imediata que uma constatação de apenas uma jogatina possa dizer sobre um projeto desse tamanho e que levou tanto tempo para de fato sair é que títulos como AM2R ajudam qualquer admirador de jogos a esperar por algo que talvez nunca mais venha e partilhar o carinho pelas mesmas ideias e estruturas de jogabilidade atemporais. No final das contas se não acontecer, esse simples ato de esperar com o que tivemos em mão já valeu muito a pena. Gostaria de ser um fã tão bom quanto o DoctorM64 de qualquer coisa.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Top 20 | Diretores de Fotografia – Parte 2

    Top 20 | Diretores de Fotografia – Parte 2

    Dando continuidade a lista de Diretores de Fotografia, retomamos com outros dez nomes que representam hoje na indústria diferentes maneiras e estilos de fotografar e entreter o espectador.

    10 – Adam Arkapaw

    Trabalhos: True Detective, Macbeth, Animal Kingdom.

    Lembram do espetáculo visual que é a primeira temporada de True Detective? Então o responsável é Adam Arkapaw. Um fotografo australiano que dominou com excelência a escuridão, oferecendo um imagético tão digno de qualidade que transcende muito dos padrões, tornando a algo completamento bonito. Seu trabalho na televisão com True Detective e o etéreo Top of the Lake é impressionante, mas ele se mostra muito competente quando o assunto é adaptação exemplificando esse com seu trabalho oferecido ao estonteante Macbeth. Ele agora trabalha novamente com o diretor Justin Kurzel no filme Assassin’s Creed, a ao que tudo indica pelo trailer desse, Arkapaw mais uma vez acertou em cheio.

    9 – Mike Gioulakis

    Trabalhos: Corrente do Mal, John Morre no Final.

    Mike Gioulakis pode ser resumido em maior parte pelo seu trabalho em curtas, mas foi com Corrente do Mal que seu nome pode ser sondado a partir de agora. A fotografia é o elemento chave para permear o horror de Corrente do Mal como aquela ameaça sem forma e invisível precisa ser sentida na tela. Através de longos e angustiantes enquadramentos, Gioulakis mantêm a audiência na ponta dos pés, apenas aguardando seus tremendos resultados. Corrente do Mal está entre os melhores longas de 2014, e com um caminho primoroso a sua frente Gioulakis certamente merece sua atenção.

    https://www.youtube.com/watch?v=JxWSFfPcyTY

    8 – Robert Richardson

    Trabalhos: Kill Bill, JFK, O Aviador.

    É possível que dos presentes nessa lista, Robert Richardson é o que tenha trabalhado com a maior variedade de realizadores que qualquer outro fotógrafo (quem sabe competindo com Lubzeki) e mesmo assim ainda consegue manter o seu próprio ponto de vista quando trabalha com Quentin Tarantino, Martin ScorseseOliver Stone. Ele tem um talento especial pra projetar a pura visão de um realizador como Tarantino e Scorsese filtrando a mesma através de sua câmera, das lutas ridiculamente sangrentas de Kill Bill até as tomadas experimentais em O Aviador, que fizeram Richardson e Scorsese retratando passagens de tempo com o tipo de filme e o tipo de processo que eram disponíveis de acordo com aquela época. Richardson e Scorsese continuariam a sua parceria de experimentação quebrando os limites do 3D com Hugo Cabret, e então Richardson foi lá e ressuscitou a fotografia Ultra Panavision 70 com Os Oito Odiados. No mais, não parece a toa que Richardson parece apenas trabalhar com os melhores.

    7 – Greig Fraser

    Trabalhos: A Hora Mais Escura, Foxcatcher, Rogue One.

    Honestamente o trabalho de Greig Fraser em O Homem da Máfia já o faria merecedor de estar nessa lista, mas a escuridão crespa na estética de Fraser brilha em todos os seus trabalhos. Em A Hora Mais Escura, ele captura toda uma parte do longa fotografando com óculos de visão noturna para trazer os momentos de mais pura tensão; Em Foxcatcher a fria e calculada câmera apenas aumenta progressivamente a tensão entre os dois personagens na tela, e até em um filme como O Caçador e a Rainha de Gelo seu visual é muito fascinante. E agora ele foi responsável por retratar um universo de Star Wars com Rogue One, que também se mostra um acerto na carreira do fotógrafo.

    6 – Robert D. Yeoman

    Trabalhos: Moonrise Kingdom, Missão Madrinha de Casamento, Dogma.

    Na mesma escola que Robert Elswit, Robert D. Yeoman é um fotógrafo que forjou sua carreira através de um forte laço com o cinema autoral, que foi responsável por extrair o melhor do seu talento. Você não consegue confundir um filme de Wes Anderson exatamente pela estética artesanal que Yeoman vem desenvolvendo ao redor da obra do diretor. Da suntuosa estética de Louco Por Você ou até numa atmosfera mais controlada como Missão Madrinha de Casamento, Yeoman é constantemente surpreendente. Mas seu trabalho mais surpreendente fora de sua colaboração com Anderson é sem dúvida veio em 2015 com a cinebiografia de Brian WilsonBeach Boys: Uma História de Sucesso que coloca o espectador dentro da mente do gênio dos  Beach Boys, com uma narrativa dividida em dois períodos de tempo diferentes, e registrando o calculado caos de uma sessão de gravação dos Beach Boys ao mesmo tempo.

    5 – Robert Elswit

    Trabalhos: Sangue Negro, Boa Noite, Boa Sorte, Missão Impossível – Protocolo Fantasma.

    Talvez um dos mais versáteis fotógrafos trabalhando atualmente, o ganhador do Oscar Robert Elswit passeou por inúmeros gêneros, trabalhou com muitos diretores e os resultados são surpreendentes. O simples fato de que ele fotografou Vicio Inerente e O Abutre no mesmo ano, capturando duas Los Angeles completamente diferentes é no mínimo digno de registro, e seu trabalho em Protocolo FantasmaNação Secreta o fez pular de dois autorais para dois blockbuster com aparente facilidade. Sua carreira é muito alinhada com a do diretor Paul Thomas Anderson, tendo fotografado todos os seus filmes autorais, mas considere que depois de todos esses exemplos, esse mesmo profissional saiu de Sangue Negro e Duplicidade para Atração Perigosa só mostra mais uma vez seu talento.

    4 – Steven Soderbergh

    Trabalhos: Magic Mike, The Knick, Traffic.

    Pode parecer trapaça colocar Steven Soderbergh considerando que o mesmo é reconhecido por ser diretor primeiramente, mas o fato é: ele é um dos mais empolgantes fotógrafos trabalhando atualmente. Ele lapidou sua marcante estética através de sua carreira como diretor mas foi em The Knick que ele mostrou o seu potencial com uma câmera apoiada nos ombros. Sendo diretor, diretor de fotografia e operador da câmera, a mesma se torna um vital e importante personagem para a série da Cinemax vista em tela, não só isso mas transformou ela numa ousada produção onde não se via tamanho rigor estético há muito tempo na TV.

    3 – Brandon Trost

    Trabalhos: Vizinhos, É o Fim, Halloween II

    Normalmente, direção de fotografia não é um foco em comédias. Só põe bastante luz e deixa o atores trabalharem. Mas Brandon Trost tem revivido o interesse estético no gênero, com visuais únicos, adicionando uma intensidade que normalmente é reservada para Blockbusters muito bem conceituados, não para filme de fraternidade de faculdade. E mesmo assim, na cena de festa do filme Vizinhos, Trost mantêm um variedade de cores de uma rica paleta. Só pra vocês terem uma ideia, ele refinou sua habilidade durante um longo período de parceria com o diretor Rob Zombie em filmes como Senhoras de Salem e Halloween II, o que ja é incrível mas o que realmente marca no trabalho de Trost é o que ele trouxe para o gênero da comédia. Sexo, Drogas e Jingle Bells é realmente um tesouro pela enorme variedade visual que reflete o clima natalino da estória, assim como seu trabalho em É o Fim que possui uma escolha única de luzes para montar suas cenas.

    2 – Hoyte van Hoytema

    Trabalhos: O Espião Que Sabia Demais, Ela, Interstellar.

    Do sueco Deixa Ela Entrar, era claro que o fotografo suíço Hoyte van Hoytema tinha talento, e mesmo assim ele continuou a crescer em escopo e ambição nos últimos anos. Da rica textura do Espião Que Sabia Demais até a sutil paleta do não tão distante futuro de Ela. Quando Roger Deakins não estava disponível para fotografar 007 – Contra Spectre, Hoytema capturou varias sequências de ação e panorâmicas com vigor e entusiasmo, e quando Christopher Nolan embarcou no seu épico sci-fi Interstellar, o diretor chamou Hoyte. O homem está formalmente na alta roda agora, e sua marca parece cada vez mais pessoal.  A empolgação que fica agora é aguardar o que Hoytema irá fazer em seu próximo projeto.

    1 – Bruno Delbonnel

    Trabalhos: Inside Llewyn Davis, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, Harry Potter e o Cálice de Fogo.

    Quando você pensa em na fotografia de Bruno Delbonel, a palavra “suntuoso” vem a minha mente. Existe uma beleza inegável a cada enquadramento do trabalho de Delbonnel e é exatamente por ele que o Cálice de Fogo é considerado o mais belo visualmente dentro da franquia Harry Potter. Mas enquanto a fotografia de Delbonnel é única, ela é igualmente proposital. Os enquadramentos de Delbonnel prendem a audiência, permitindo que o espectador quase que adentre o próprio filme. Algo como Sombras da Noite que, apesar de ser um filme ruim, você ainda mantêm essa relação com o imagético do longa. E você já pode se considerar alguém importante quando os Irmãos Coen te selecionam para filmar seu próximo filme devido a Roger Deakins estar ocupado, você está fazendo alguma coisa certa.

    Essa é a segunda parte do artigo traduzido do Collider, para conferir a primeira parte clique aqui.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Perfeita é a Mãe!

    Crítica | Perfeita é a Mãe!

    Na mais nova comédia dirigida por Jon Lucas e Scott Moore, Perfeita é a Mãe acompanharemos uma série de Mães que decidem reverter o quadro de suas vidas através de aventuras e descobertas, lógico, perante uma série de situações hilárias.
    Assim que a personagem Amy Mitchell (Mila Kunis), uma mulher bastante dedicada e independente, descobre que seu marido mantém um relacionamento extraconjugal virtual, ela logo percebe que mudanças serão necessárias em todos os âmbitos de sua vida. Não obstante todos os problemas vindo à tona em seu relacionamento, Amy ainda terá de enfrentar o antagonismo de Gwendolyn (Christina Applegate), que em primeira instância denota ser dona de um caráter totalmente oposto ao seu.
    A obra segue uma cartilha bastante conhecida do grande público, se assumindo de forma despretensiosa e sem grandes ambições, almejando apenas o entretenimento. Algumas questões técnicas me incomodaram bastante, entre elas – o uso excessivo do elemento cênico conhecido como Slow motion ’- que no filme é levado ao extremo, fazendo com que à obra em determinados momentos se pareça com um “clipe” musical estendido! Entre uma chuva de clichês, achei algumas piadas bastante deslocadas, um elenco que em quase todo o tempo nos entrega atuações mecânicas, salvo Kathryn Hahn (Carla), que está bem em seu papel.
    Mesmo diante tantas questões que particularmente não dialogam comigo, justamente por achar o filme dono de uma fórmula bastante artificial e desgastada, reconheço sua intenção, e creio que dentro de sua proposta funcione bem. É uma certeira pedida para o espectador que busca momentos de comicidade, sabendo que tem em sua frente um produto que não terá a presunção de enganá-lo e que lhe entregará possíveis gargalhadas.

    Curiosamente apesar de alguns problemas, ao fim, de uma forma singela o filme nos passa uma mensagem bastante interessante sobre à importância das Mães e seus respectivos papéis angulares seja em nosso cotidiano ou no aspecto social, importância essa, que pode gerar uma pertinente reflexão há ser analisada pelo público.

    Texto de Autoria de Tiago Lopes.

  • O Arquiteto que há 100 anos construiu o Sci-Fi

    O Arquiteto que há 100 anos construiu o Sci-Fi

    Esquerda: Antonio Sant’Elia, Estação de trem e aeroporto com passagens funiculares em três niveis distintos deA Nova Cidade, 1914; Direita: Antonio Sant’Elia, Habitação com elevadores externos e sistemas de ligação a diferentes niveis da rua de A nova Cidade, 1914. Imagens via Wikimedia Commons.

     

    Em 10 de Outubro de 1916, Antonio Sant’Elia faleceu lutando contra as forças do Império Austro-Hungaro na oitava batalha de Isonzo próximo a Monfalcone perto da costa Adriática. O arquiteto Italiano tinha apenas 28 anos e deixou apenas um único prédio construído, seu Villa Elisi em Brunate, fora de Como. Mesmo assim, nem é por esse prédio que o Sant’Elia é lembrado. Qualquer um que tenha assistido ao clássico mudo de Fritz Lang, Metropolis (1927) ou viu Harrison Ford caçando replicantes no longa de Ridley Scott Blade Runner (1982) já está familiarizado com o trabalho visionário de Sant’Elia do que seria uma cidade do futuro. Seus fantásticos visuais inspiraram o imagético desses dois filme, e mesmo hoje, 100 anos após sua morte, o seu futuro ainda ressoa no nosso.

    Sant’Elia é mais conhecido pelo seu trabalho em Città Nuova (Cidade Nova) que vem com super estruturas meio que robóticas, próximos a passagens aéreas acopladas a passarelas suspensas que ficam superiores ao chão. Desenhadas durante 1912 e 1914, a intenção era que fosse um remédio arquitetônico para a percepção indiferente do modernismo a vida cotidiana. No primeiros anos do século XX, máquinas mudaram de acordo com a forma como os homens viviam no mundo, facilitando o movimento e a produção industrial numa aceleração constante. Os Futuristas que exaltavam a velocidade, acreditavam que a maneira tradicional de vida ao lado das formas tradicionais de arte e arquitetura sufocavam o progresso humano. Esses eram os valores inscritos nos desenhos de Sant’Elia para a Città Nuova. Mas a cidade nunca foi construída, não nesse pequeno espaço de 100 anos após sua morte.

     

    Esquerda: Antonio Sant’Elia, Rua para pedestres com elevadores no meio, 1914; Direita: Antonio Sant’Elia, Esboço dearquitetura, 1914. Imagens via Wikimedia Commons.

    Sant’Elia não foi o único futurista que lutou e faleceu na primeira guerra mundial. Ele e muitos outros que se alistaram previamente acreditando que o mundo deveria ser limpo no campo de batalha, destruíndo a velha ordem para dar caminho ao futuro, os futurista tinham uma obsessão com a novidade. Eles se viam como pioneiros forjando uma civilização do zero.  “Estamos no último pedestal dos séculos” disse Filippo Tommaso Marinetti no “Manifesto Futurista” de 1909, o documento primal do Futurismo. “Porquê deveriamos olhar pra trás, quando o que queremos é quebrar as misteriosas portas do impossível?” Marinetti declarou o fim da obrigatória veneração ao canone artistico do ocidente deveria ser mutua — ” Um carro de corrida… é mais belo que a própria Vitória de Samotrácia” e seria o começo de uma era que a estética da velocidade reinaria sobre todas as outras.

    Sant’Elia acreditava que a tarefa principal de uma cidade na era industrial deveria facilitar o movimento da maneira mais eficiente o possível. Para sua Città Nuova, ele propôs três niveis de trafego de acordo com o veículo e sua velocidade: passagens para pedestres, estradas para carros, e trilhos para trens. Isso ao lado de elevadores, seriam as unicas maneiras de se locomover dentro da cidade. Sant’Elia também propôs que a cidade estivesse em estado de continua construção. “Devemos inventar e reconstruir a cidade” ele escreveu. “Isso deve ser como uma imensa, tumutuosa, viva e dinâmica comunidade nobre de trabalhadores de todas as partes”

    Seus protótipos para “Casa a Gradinata,” e “Casa Nuova,” demonstram prédios como arranha céus com uma torre a parte para os elevadores, posicionados um atrás dos outros, criando um corredor interno que seria entrecruzado com pontes e passagens. Isso criaria um efeito de paisagem artificial, com os prédios agindo como montanhas e os espaços entrelaçados como vales. No mundo de Sant’Elia, naturalismo se tornaria urbanismo e o individual seria consumido pelo maquinário.

    Esquerda: Antonio Sant’Elia, Casa escadaria com elevadores para as quatro estradas, 1914; Direita: Antonio Sant’Elia, Casa escadaria, 1914. Imagens via Wikimedia Commons.

    Através de pintores, escultores e poetas que produziram trabalhos artisticos que capturaram o movimento e dinamismo que centralizava o projeto Futurista, o simples fato deles terem feito tanto significa de certa maneira que eles falharam. A finalização de seus trabalhos como  A velocidade abstrata + som de Giacomo Balla (1913-1914), com o verde, branco e vermelho da bandeira Italiana demonstrando através disso um azul esmagado e lançado ao seus como um carro em velocidade, ou o poema onomatopéico de Marinetti Zang Tumb Tumb (1914)—inadvertidamente os amarrou aquele exato momento histórico.

    Esses trabalhos já datados sofreram danos colaterais do tempo, onde o trabalho que nem viu a luz do dia como Città Nuova, permanece para sempre no reino do realismo utópico. Seu legado apenas é carregado dentro do próprio sci-fi. Seus desenhos influenciaram tecnocratas e planejadores urbanos durante todo o século passado, o mais famoso deles sendo Le Corbusier, que também deixou um trabalho não realizado com Ville Radieuse 1930 (“Cidade Radiante”), que assim como a Cidade Nova de Sant’Elia, foi caracterizada por essa sensação de centralizar tudo, facilidade de transporte, e super organização de seus habitantes. Enquantos nossas cidades contemporâneas podem não ser tão técnológicas como a metrópole de Sant’Elia, com carros que dirigem sozinhos, Wi-fi subterrâneo e Smatphones automatas, esse futuro concebido por ele não parece muito longe também.

    Texto de autoria de Halan Everson.