Autor: Vortex Cultural

  • Resenha | Promethea: Edição Definitiva – Volume 1

    Resenha | Promethea: Edição Definitiva – Volume 1

    promethea-vol1Todas as resenhas que li sobre um quadrinho do Alan Moore tinham uma irritante mania de dizer sobre o autor e suas mais variadas obras e como ele mudou o mundo dos quadrinhos. Sinceramente, se alguém se interessou por ler uma resenha sobre um quadrinho chamado Promethea é que já tem a noção de quem é Moore e o que ele produziu, enfim, vamos parar de puxar o saco dele.

    Porém, não estamos aqui para ficarmos no lugar comum e falar do óbvio, mas sim de um gibi que justamente foge disso, e nos proporciona uma leitura sensacional e também complexa em determinados momentos. Promethea se trata de um quadrinho sobre as aventuras e descobertas de uma heroína que tem por principal característica a possibilidade de se manifestar de tempos em tempos e de diferentes maneiras, cada qual com a sua própria personalidade e peculiaridades próprias.

    Aliás, este se trata do primeiro ponto a ser tratado aqui, os poderes e a manifestação do personagem são muito interessantes. Imagine como uma lenda que é revisitada de tempos em tempos, como que redescoberta pelas pessoas, ou melhor, pense como nos quadrinhos de heróis e como eles se manifestam de acordo com aqueles que o estão interpretando. O Batman do Frank Miller é bastante diferente daquele apresentado pelo Neal Adams, ou mesmo do próprio Alan Moore, que já deu a sua contribuição para o personagem. Cada qual trabalha sobre uma essência comum, mas contribuindo com especificidades. E de acordo com a força crença da pessoa na lenda de Promethea, ela pode se tornar a própria encarnação da mesma. Porém, a partir de algum tipo de arte, poetas, desenhistas, estudiosos, enfim, todos estes artistas que contribuem para a construção da lenda e da sua personificação, podem vir a sê-la. Como um tipo de escolhido. Essa origem incomum já se trata de algo especial e muito interessante para a HQ, que busca trabalhar esse conceito e mostrar a adaptação do “novo hospedeiro” para a heroína, além de nos apresentar as outras Prometheas do passado.

    Mas não pensem que a HQ para por aqui, apenas na exploração de um interessante conceito, mas tem na diversificação de temas e abordagens outro ponto forte. Como, por exemplo, a mostra de outras culturas, apresentação de assuntos ligados ao ocultismo e até mesmo personagens ligados a magia (sim, o barbudinho não podia perder a oportunidade). É impressionante como o quadrinho trata a questão da simbologia e o significado de vários elementos místicos em toda a sua trajetória. Inclusive, aqui se deve destacar a primorosa arte de J.H. Williams III e também do colorista Mick Gray, que estão em estado de graça. Fundamental entender a sintonia com que os três trabalharam para proporcionar um produto final exemplar. O quadrinho perderia muito com uma arte menos requintada.

    Além disso, também se deve destacar outras questões bastante relevantes como o papel que as mulheres desempenham em toda a história. Em tempos de discussão sobre o feminismo e o papel da mulher na sociedade, Promethea nos apresenta uma série de mulheres de personalidade forte que são as protagonistas da trama. Não espere donzelas em perigo, pois não há esse tipo de situação aqui. Aliás, esse é um dos pontos fortes, uma vez que o tema e a presença feminina são feitas de forma natural, em outras palavras, não são mulheres artificiais, mas mulheres comuns que se tornam Promethea.

    Há que se levar em consideração também como Alan Moore estabelece uma crítica e faz uma viagem pela própria História dos quadrinhos neste primeiro volume, pois uma parte da narrativa é conduzida para a Era de Ouro, tanto em termos literais quanto figurativos, e a outra demonstra uma violência e atitude mais década de 1990, lembrando a Image daquele momento. E a pegada e ritmo da narrativa ficam parecidas com cada uma dessas temporalidades que ele aborda, o que faz com que fique muito curiosa e variada a forma de se perceber a construção e velocidade com que as coisas se desenvolvem na trama.

    E também é bastante interessante como Alan Moore quebra a quarta parede (confesso não gostar dessa expressão, mas na falta de algo melhor fica essa mesmo) e estabelece uma ligação com o leitor, pois ele faz isso de forma sutil e quase imperceptível, o que é bastante louvável. Em tempos que pessoas elogiam Deadpool por supostamente fazer isso, digo supostamente, pois é tão grosso, ruim e descarado que perde o sentido de diálogo e aparenta ser mais um monologo, seria fundamental que leitores conhecessem essa abordagem de forma mais elegante e decente. Trata-se de mais um ponto extremamente positivo.

    Enfim, confesso que há muito não era surpreendido por uma HQ que merece várias releituras e que apresenta uma enormidade de temas e possíveis abordagens, a leitura e aquisição é mais do que recomendada. E ansioso pelo segundo volume.

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    Compre: Promethea – Volume 1

    Texto de autoria de Douglas Biagio Puglia.

  • Crítica | Snowden: Herói ou Traidor

    Crítica | Snowden: Herói ou Traidor

    snowden2016 foi um ano particularmente trágico no mundo e uma das surpresas mais negativas surgiu com a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Por tudo que defende, o futuro comandante da nação mais poderosa do planeta representa não só a possibilidade de uma escalada ainda maior do processo de desequilíbrio econômico-social no mundo, mas sobretudo da expansão do cerceamento das liberdades individuais. E é justamente nesse contexto que Snowden: Herói ou Traidor, novo filme de Oliver Stone sobre o ex-funcionário da CIA e da NSA, se torna absolutamente relevante e terrivelmente assustador.

    Escrito pelo próprio Stone em parceira com Kieran Fitzgerald a partir dos livros Os Arquivos Snowden e Time of the Octopus (ainda sem tradução no Brasil), Snowden é um filme que resgata tudo aquilo que se espera de seu diretor. Com forte viés político, como não poderia deixar de ser, a produção constrói um thriller digno de John Le Carré para mostrar os eventos que culminaram na divulgação de documentos secretos da NSA em junho de 2013 ao mesmo tempo em que nos apresenta quem de fato é Edward Snowden, o homem responsável pelo vazamento de informações que mancharam irremediavelmente a administração de Barack Obama.

    Interpretado por um Joseph Gordon-Levitt num trabalho que impressiona pelas sutilezas com que emula o personagem título quase à perfeição (quem viu o documentário ganhador do Oscar 2015, Citizenfour, vai notar como o ator ficou realmente parecido com Snowden tanto na postura física quanto no tom de voz), o ex-CIA e NSA se revela uma figura fascinante à medida em que vemos a trajetória da transformação do homem que acreditava plenamente que a “América” é o melhor lugar do mundo e confiava em seus governantes – achando absurdo, por exemplo, quem criticava o presidente – àquele que resolveu expor o maior segredo destes para o mundo.

    O filme estrutura e divide sua narrativa basicamente entre duas coisas: os bastidores da longa entrevista que Snowden deu à documentarista Laura Poitras (Melissa Leo) e aos jornalistas Glenn Greenwald (Zachary Quinto) e Ewen MacAskill (Tom Wilkinson) em Hong Kong em junho de 2013 e os flashbacks que trazem recortes da carreira de Snowden evidenciando alguns de seus feitos em posições de destaque tanto na CIA quanto na NSA (que inclusive provam que ele não era um reles analista terceirizado como o governo americano tentou pintá-lo depois) além de sua própria vida pessoal quando mostra como seu relacionamento com a progressista Lindsay Mills (Shailene Woodley) influenciou a mudança de perspectiva que ele experimentou.

    A propósito, ainda que tenha o thriller político no seu DNA, Snowden, por vezes, ganha ares de filme de terror quando evidencia quão ameaçadoras são as ferramentas que a NSA dispunha (e provavelmente continua dispondo) para monitorar cidadãos mundo afora que sequer sabem que estão sendo vigiados das formas mais vis. É o choque de realidade que o filme provoca, aliás, que o transforma numa obra tão importante, já que expõe com todas as letras que o terrorismo foi a mera desculpa que o governo americano usou para obter vantagens em negociações econômicas com outros países através do monitoramento secreto de outros governos e empresas estrangeiras.

    Expositivo na medida certa, Snowden traz também o importante alerta sobre como é fundamental ter uma mídia imparcial genuinamente interessada em expor fatos de interesse público doa a quem doer em oposição àquela que defende interesses particulares omitindo ou manipulando informações. Nesse contexto, aliás,  há uma sequência já no terceiro ato do filme que deveria fazer muito paneleiro aqui no Brasil ficar envergonhado ou no mínimo pensando como sou trouxa por ter acreditado em tudo que os JNs da vida me disseram por meses a fio sobre o que estava acontecendo no país.

    E se isso, por si só, não te convencer da relevância que um filme como Snowden deveria ter, o momento político atual dos Estados Unidos, aliado a uma fala de seu personagem título já na parte final da produção sobre os riscos de estarmos nos aproximando do ponto em que poderemos perder totalmente nossa liberdade e direito à privacidade em nome da pretensa segurança devem fazer o serviço.

    Texto de autoria de David Garcia, do site Ligado em Série.

  • Crítica | Harry Potter e o Enigma do Príncipe

    Crítica | Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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    Quinto filme da saga do menino bruxo, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, é o segundo episódio da octologia sob a batuta do diretor David Yates, que mais tarde dirigiu ainda as duas partes de As Relíquias da Morte. Na trama, Lorde Voldemort (Ralph Fiennes) e seus comensais da morte estão em franca ascensão no mundo bruxo, cometendo seus assassinatos de forma indiscriminada e minando pouco a pouco o espaço que o separa de Harry, para onde conflui toda a sua fúria.

    Essa etapa da história apresenta personagens já bastante amadurecidos e calejados. Yates faz uso de técnicas bem mais consistentes do que o seu arsenal técnico utilizado em Harry Potter e o Cálice de Fogo. Entretanto, existem entraves que atrapalham consideravelmente o andamento do longa-metragem por vias mais adultas como, por exemplo, a plot amorosa que ocupa um tempo de tela desproporcional em relação a real importância do elemento romance para o andamento dos arcos dramáticos dos personagens centrais.

    Apesar disso, talvez seja aqui o momento em que a franquia consegue emular a realidade que vivemos em sua ficção. O discurso de caça aos “sangue ruins” – diz-se dos bruxos filhos de ‘não bruxos’ – se assemelha muito aos movimentos fascistas ao redor do mundo, sobretudo ao nazismo e a pregação da raça ariana como soberana. Voldemort surge não só como um vilão mais palpável e crível, mas como um líder para um grupo de bruxos que o segue.

    Em termos de roteiro, o filme não consegue traduzir nem um terço do conteúdo do texto original. Cenas muito importantes foram desprezadas ou subutilizadas. Embora, um texto sobreviva sem o outro fica evidente a carência dramática da versão cinematográfica. A montagem também carece de certo dinamismo, passando certa morosidade na resolução das subplots e tornando a experiência do espectador bastante cansativa.

    Como ponto positivo, o longa apresenta as melhores atuações da octologia. Emma Watson novamente rouba a cena e o protagonismo, mas o destaque aqui fica para o vilão interpretado por Ralph Fiennes. A direção de elenco parece ter acertado a mão ao extrair dos atores emoções mais reais e ao migrar o centro cênico das faces dos atores para os eu gestual.

    Pode-se dizer que O Enigma do Príncipe não faz um bom serviço ao pavimentar o caminho para o desfecho da saga. São grandes as falhas que fazem desse filme um dos mais frágeis dos oito. Ainda assim, os atores conseguem acertar o seu tom dramático, o que ajuda a camuflar parte dos defeitos. Entre erros e acertos, temos um filme burocrático, arrastado, mas fundamental para o pleno entendimento dos segredos que servem de insumos para o final da saga Harry Potter.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • TOP 10 | Diretores Pé Frio ou que acabaram na geladeira

    TOP 10 | Diretores Pé Frio ou que acabaram na geladeira

    Você provavelmente já ouviu antes o termo “na geladeira”. Se refere a diretores ou produtores que cairam num ostracismo coletivo na indústria do cinema. Geralmente eles também conseguiram trabalhos muito bem recebidos pela crítica mas que o público ignorou nas bilheterias, e as vezes até pior, desastres de público que os deixaram mal vistos pelos estúdios. E o mais frustante sobre diretores que acabam virando pé frios ou acabam na geladeira é que na maioria dos casos todos são realizadores muito mais talentosos do que a produção que acabou amaldiçoando suas carreiras. Estranhamente, existem também talentosos diretores que apesar da crítica conseguem com filmes pequenos de baixo orçamento marcar sua presença na indústria e quando conseguem um trabalho num grande estúdio parece que o talento desaparece.

    O Diretor M. Night Shayamalan novamente retorna a direção com um thriller estrelando James McAvoy e esse foi o estopim para essa lista. Segue o Trailer de seu mais novo filme, The Split:

    Então apesar dos pesares dessa indústria, segue a lista aqui a lista de diretores pé frio ou que entraram na geladeira.

    1 – Todd Field

    Maior Realização: Entre Quatro Paredes (2001)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Pecados Íntimos (2006)

    O que aconteceu: Após um relativo sucesso como ator na Tv e no Cinema, ele conseguiu respaldo na cena como roteirista e diretor de Entre Quatro Paredes que conseguiu 5 indicações ao Oscar incluindo melhor filme. A bilheteria rendeu consideravelmente bem totalizando 42 milhões nos EUA, sendo uma produção de apenas $1.7. Field seguiu essa mesma pretensão em Pecados Íntimos, outra produção aclamada pela crítica que rendeu três indicações ao Oscar incluindo seu segundo em roteiro adaptado. Infelizmente esse último não rendeu um bom retorno para sua produtora, a New Line, conseguindo apenas 14 milhões, sendo que custou $26. Diretores muito piores já perderam muito mais dinheiro em Hollywood e já estavam com outro projeto logo em seguida para dirigir mas não foi o caso de Field, que passou os 10 anos seguintes procurando desenvolver seu próximo projeto, só que na televisão. O canal Showtime bancou a adaptação de 20 horas do romance Purity, de Jonathan Frazen estrelando Daniel Craig. Field está dirigindo pelo menos 2 episódios.

    2 – Julian Schnabel

    Maior Realização: O Escafandro e a Borboleta (2007)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Miral (2011)

    O que aconteceu:  Reconhecido como pintor, Schnabel fez três grandes filmes: Basquiat (1996), Antes do Anoitecer (2000) e o Escafandro e a Borboleta. Antes do Anoitecer foi um dos mais aclamados filmes daquele ano e concedeu a Javier Bardem sua primeira indicação ao Oscar. Escafandro conseguiu quatro indicações incluindo melhor diretor para Schnabel. O drama quase alcançou a premiação de melhor filme e mesmo assim quase que nem se pagou mesmo com os lucros de mídia física. Seu filme seguinte, Miral, não foi muito bem recebido e financeiramente foi pior ainda. Em teoria Schnabel pode estar pesquisando para seu próximo filme, mas ele também pode estar na geladeira do cinema por falta de financiamento pelos seus últimos dois trabalhos.

    3 – Frank Darabont

    Maior Realização: Sonho de Liberdade (1994)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Cine Majestic (2001)

    O que aconteceu: A vida de Darabont em Hollywood vai piorando a cada filme que o diretor lançou. O outrora roteirista do Jovem Indiana Jones alavancou sua carreira como diretor em 1994 com o que hoje é indiscutivelmente considerado um clássico, Um Sonho de Liberdade. Na época o filme foi um grande sucesso, sua segunda produção, A Espera de um milagre, o colocou na lista” A” de diretores da época. Ele não foi apenas um sucesso de critica como de público ($286 milhões mundialmente) além de ter rendido quatro Oscars incluindo melhor filme.

    Infelizmente, Darabont foi quase ridicularizado pelo seu projeto seguinte, Cine Majestic, com Jim Carrey e Laurie Holden. O Filme realmente não é bom, mas a péssima bilheteria foi motivo para colocar Darabont na geladeira. Na verdade, seu próximo filme foi lançado apenas 6 anos depois, novamente uma adaptação de Stephen King, O Nevoeiro, filme que o diretor já tinha interesse de produzir por décadas, com um orçamento ridiculamente pequeno em relação aos seus trabalhos anteriores. E felizmente, O Nevoeiro na verdade fez dinheiro, mas Darabont mesmo assim não saiu da geladeira. Seu próximo projeto foi The Walking Dead, que acabou com a emissora o demitindo durante a pré-produção da segunda temporada (e só fica pior quando você percebe que logo nesse ano a série se tornou a segunda série mais popular no mundo). Ele contribuiu para o roteiro de Godzilla, e largou alguns projetos como Código de Conduta e O Caçador e a Rainha do Gelo por divergências criativas.

    4 – Tamara Jenkins

    Maior Realização: A Família Savage (2007)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: A Família Savage (2007)

    O que aconteceu:  O que teria acontecido com Tamara Jenkins? A diretora/roteirista que tinha dois impressionantes filmes no currículo: O Outro Lado de Beverly Hills e A Família Savage. O ultimo conseguiu duas indicações ao Oscar incluindo melhor roteiro original para a própria Jenkins. Desde de então ele ficou fora dos holofotes. E não é como se ela tivesse saído de hollywood; Seu marido é Jim Taylor, produtor ganhador do Oscar (Sideways). Ela recentemente escreveu o roteiro do filme Juliet Naked, projeto feito com seu marido para Jesse Peretz dirigir. Mas o filme não parece estar nem em fase de produção. Considerando a falta de espaço de mulheres por trás das câmeras e o talento da diretora, não é ao menos curioso sua situação atual!?

    5 – Debra Granik

    Maior Realização: Inverno da Alma (2010)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Não é claro.

    O que aconteceu:  Assim como Jenkins é no minimo muito estranho que não tenhamos ouvido nada sobre Granik desde Inverno da Alma. A sensação do festival de Sundance que mostrou o rosto de Jennifer Lawrence pro mundo e entregou duas indicações para mulheres no Oscar daquele ano torna a história muito curiosa. Vale lembrar que o filme custou apenas 2 milhões, rendendo $13.7 e foi o longa responsável por colocar a distribuidora Roadside Attractions no mapa. Em 2014, Granik lançou seu documentário Stray Dogs e esta rodando mais um drama chamado My Abandonment que tem lançamento previsto para o próximo ano. Dito tudo isso, como ela não conseguiu mais atenção dos grandes estúdios? Em 2012 ela desenvolveu uma série piloto para HBO que não saiu do papel em 6 anos.

    6 – Walter Salles

    Maior Realização: Diários de Motocicleta (2004)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Na Estrada (2012)

    O que aconteceu:  Salles, que se tornou o proeminente diretor do conhecido mundialmente Central do Brasil (1998). Um incrível drama com a talentosa Fernanda Montenegro, foi indicado ao Oscar em melhor filme estrangeiro, além de ter rendido cinco milhões apenas nos EUA. Sua produção seguinte, Diarios de Motocicleta é talvez seu melhor longa e ganhou melhor canção original em 2005. Porém o problema de Salles com Hollywood começou com a refilmagem do horror japonês, Água Negra, estrelado por Jennifer Connelly. O filme teria caido na onda de refilmagens de terror asiático como O Chamado e O Grito. O filme não foi apenas ruim mas péssimo em bilheteria,  não conseguindo nem pagar seus 30 milhões de orçamento. Salles não fez outro filme em inglês até a adaptação da obra máxima de Jack KerouacNa Estrada. Com um elenco estelar incluindo Kristen Stewart, Amy Adams, Viggo Mortensen, Kristen Dunst e Elisabeth Moss (Aquela que estava em Mad Men, uma das maiores produções de TV da década). Infelizmente o filme não foi um sucesso, dividindo a crítica e rendendo apenas 8 milhões de uma produção com custo em $25. Até esse ponto,  Salles provavelmente vai precisar de mais um novo pequeno filme que vai tira-lo da geladeira novamente.

    7 – Marc Foster

    Maior Realização: Em Busca da Terra do Nunca (2004)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Quantum of Solace (2007), Redenção (2011), Guerra mundial Z (2013)

    O que aconteceu: Diretor superestimado ou autor subestimado? Ou os dois? Essa é a maior questão nas discussões sobre a carreira desse diretor. Que entregou obras muito interessantes como Em Busca da Terra do Nunca e a Última Ceia mas também parecia muito fora da sua qualidade quando trabalhou em grandes franquias como 007 – Quantum of Solace (considerando também que o derrame do roteirista na época também não favoreceu em nada na produção) e Guerra Mundial Z (Um filme que foi um desastre homérico dentro dos bastidores e até hoje não é claro a quem culpar) Forster tentou voltar as suas rotas independentes com o lançamento desse ano All I See Is You, que foi premiado no festival de Toronto desse ano, mas também dividiu a crítica além de não ter conseguido um distribuidor oficial nos EUA. Existem incontaveis exemplos de diretores que assim que entraram num grande estúdio simplesmente não conseguem fazer nada dar certo. Infelizmente Foster aparentemente está nesse balaio.

    8 – Josh Trank

    Maior Realização: Poder Sem Limites (2012)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Quarteto Fantástico (2015)

    O que aconteceu: O que dizer que já não foi dito ainda? Ele demonstrou um enorme talento no seu Found Footage, mas se tornou o motivo de tudo ter se tornado um desastre na refilmagem do reboot do Quarteto Fantástico. Pior ainda que isso, Trank se tornou persona non grata por seus tweets culpando os problemas da produção por interferência do próprio estúdio. Isso não vai queimar sua reputação em todos os estúdio de Hollywood, mas a situação parece mais feia quando ele recentemente foi descartado de um spin-of de Star Wars em pré produção meses antes do lançamento do filme do Quarteto. O Comportamento do diretor no set e 100 mil dólares numa casa alugada durante a produção do Quarteto Fantástico fizeram sua fama de diretor prepotente e completamente impaciente. Ninguém esta dizendo que ele não é talentoso, a questão é que mesmo que ele encontre novamente um produtor que banque um novo projeto, é dificil pensar o que pode vir após seu último trabalho. Apesar de que ele já tem um filme do Al Capone em produção com o nome de Tom Hardy confirmado.

    9 – Richard Kelly

    Maior Realização: Donnie Darko (2001)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria:  Southland Tales (2006)

    O que aconteceu: Richard E. Kelly é muito talentoso. Muitos cinéfilos estão convencidos disso. Mesmo que não tenha um segundo grande filme, Donnie Darko é um filme criticado e discutido até hoje pela sua incrível capacidade de instigar dúvidas a cada transição de capitulo. Fez a primeira grande interpretação de Jake Gyllenhaal. Seu próximo filme Southland Tales, foi um desastre de proporções épicas. Lucrando miseros $374,743 mil dólares nos EUA mas custou $17 milhões para ser feito. De alguma maneira Kelly conseguiu outra chance com a Warner para dirigir um longa baseado no curta de Richard Mattheson “Button, Button”, mais conhecido no Brasil como A Caixa. Esse foi tudo o que Southland não foi: Bem dirigido, bem atuado e intrigante. Os críticos apesar de tudo não viram isso e o longa nunca recuperou seus 30 milhões de produção. Além disso Kelly tem essa má sorte; Ele perdeu a chance de fazer seu filme Amicus, que o protagonista seria o já falecido James Gandolfini,  e até então não escreveu ou dirigiu nada em sete anos.

    10 – Mimi Leder

    Maior Realização: Impacto Profundo (1998)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Corrente do Bem (2000)

    O que aconteceu: Um dos mais claros exemplos da maneira como Hollywood trata suas diretoras mulheres é o caso de Mimi Leder. Ela fez seu nome primeramente dirigindo E.R, e ganhando um Emmy por essa direção.  Após tal realização a pressão dos estúdios foi consideravelmente substancial: O Pacificador, com George Clooney e Nicole Kidman recebeu críticas sólidas e conseguiu de volta seus 50 milhões de dólares que gastou durante a produção. Depois disso a Paramount e DreamWorks a contrataram para dirigir Impacto Profundo, o filme em contrapartida ao anteriormente lançado Armageddon de Michael Bay. Infelizmente o filme não fez tanto sucesso quanto o já citado, mas conseguiu um retorno muito mais positvo em críticas e foi um Blockbuster de $348 milhões no mundo inteiro. A verdade é que Leder fez história sendo a primeira diretora mulher a realizar um legitimo Blockbuster de Hollywood. Depois disso a diretora trabalhou num pequeno projeto no ano 2000 com  Kevin Spacey e Helen Hunt, Corrente do Bem. Infelizmente, o filme só conseguiu críticas negativas, mas recebeu retorno do público. Leder entrou na geladeira mas o seu Corrente do Bem conseguiu se pagar e render algum dinheiro numa produção de 40 milhões que rendeu 55. Hoje Leder voltou para a TV, trabalhando e tendo seu trabalho reconhecido dirigindo episódios de The West Wing e The Leftovers, e outras séries.

    O Guillermo Del Toro poderia ter entrado nessa lista, pelo menos pé frio ele é…

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Harry Potter e o Cálice de Fogo

    Crítica | Harry Potter e o Cálice de Fogo

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    Harry Potter e o Cálice de Fogo tinha tudo pra ser o melhor filme das adaptações de J.K. Rowling. Não apenas por se basear num dos melhores livros da série, mas também por abordar temas mais apropriados a evolução dos personagens e com maior intensidade, como a chegada definitiva da adolescência e a afloração dos hormônios, mais especificamente, a atração pelo sexo oposto. Este também é o que marca um dos maiores acontecimentos da saga: o retorno de Lord Voldemort.

    Quem lê assim, logo pensa que achei o filme ruim, não é? Pelo contrário, o filme está bem longe disso. Mike Newell (Quatro Casamentos e Um Funeral), que substitui Alfonso Cuarón no comando de um longa da série, faz um trabalho excelente, cria um filme divertido, repleto de cenas eletrizantes, e um visual belíssimo. Mas falta sutileza no próprio estilo de Newell, entre uns e outros exageros, que veremos mais adiante.

    O Cálice de Fogo foi uma das adaptações mais difíceis da série. Não apenas o número de personagens é maior, como também a existência de detalhes que seriam essenciais não apenas para o entendimento da trama, mas para a compreensão de muitos fatos que iriam se seguir nos próximos filmes. A preocupação com a produção era tanta que o roteirista Steve Kloves chegou a cogitar que o livro fosse dividido em duas películas, ação que não aconteceu graças ao dedo de Mike Newell, que exigiu que os cortes fossem feitos, a fim de que tudo coubesse em um só filme. Não surpreendentemente, as reclamações dos fãs caíram em cima de Newell.

    Mas se existe algo em que a compreensão seja essencial, é de que os cortes sempre existirão, sendo eles pequenos ou não. O que importa é se tais modificações irão ajudar a melhorar a qualidade do que iremos ver, e Newell fez isso muito bem. Jogando seus holofotes em apenas dois temas (a chegada da adolescência e o retorno de Voldemort), o diretor não apenas manteve o que já havia sido iniciado em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, como soube manter uma única linha narrativa, mantendo o filme distante de outras discussões inúteis.

    Harry Potter e o Cálice de Fogo é um filme que marca a chegada da maturidade, e sendo assim, Newell aproveita para tornar a produção bem mais evoluída em outros aspectos, e o maior exemplo é no nível de violência. Nossos protagonistas não são mais crianças, e sabendo disso, o diretor aproveita isso para investir em cenas de ação mais sangrentas e um clima muito mais sombrio: é aqui que os personagens tem seu primeiro contato com a morte. Tanto que quando lançado, o filme recebeu, nos EUA, a classificação PG-13, ou seja, menores de 13 anos só poderiam assistir ao filme acompanhados dos pais ou de um responsável.

    Mas o filme não é apenas feito de violência. Com os hormônios em ebulição, temos boas pitadas de romance, paqueras, choros e ciúmes. É o típico momento em que o adolescente começa a se descobrir, é o momento em que os garotos, por exemplo, precisam descobrir o melhor jeito de convidar uma garota para o baile. E aqui se encontra um dos maiores acertos, mas também um dos maiores erros de Newell. Aproveitando todo esse clima tenso entre os adolescentes, o diretor opta por levar quase tudo para o lado cômico, gerando momentos cujo único objetivo é fazer rir. O diretor até consegue, existem momentos verdadeiramente hilários, mas Newell poderia ter sido menos duro com os sentimentos dos personagens. A impressão é que ele deixou toda a sua sutileza e discrição para trás, talvez no objetivo de deixar o filme mais leve. Não precisava de tanto.

    O roteirista Steve Kloves também comete alguns outros deslizes, como o envolvimento da platéia com o mistério do filme: se Potter tem apenas 14 anos, como o nome dele surgiu do cálice de fogo? Alguém pôs o nome dele lá? Se foi, quem teria sido? Potter nunca pensa no porquê de tantas coisas misteriosas acontecerem, e o resultado é que tais indagações são quase que completamente esquecidas durante a projeção, deixando o laço entre os temas irregular.

    E quem também sofre com esses problemas são os personagens coadjuvantes, a maioria deles mal trabalhados pelo roteiro de Kloves. Alan Rickman, Maggie Smith e Robbie Coltrane possuem apenas uma ou duas curtas cenas. Mas nada é mais decepcionante do que ver Sirius Black, personagem de importante adição em Prisioneiro de Azkaban, ser relegado a apenas uma única cena, onde nem em sua forma física ele aparece. A única ressalva é que Michael Gambom, intérprete de Dumbledore, ganha mais espaço e importância do que nas aventuras anteriores, numa composição de personagem claramente mais adequada que a de Richard Harris.

    Para compensar estes deslizes, o filme nos brinda com um visual de encher os olhos. O desenhista de produção Stuart Craig cria cenários grandiosos e fiéis a descrição do livro, como é o caso do impressionante estádio de Quadribol e o Salão Principal no dia do Baile de Inverno. O diretor de fotografia Roger Pratt ressalta o clima sombrio dos cenários com uma fotografia escura e suja, mas sem que agrida os olhos do espectador. Patrick Doyle, que substitui o compositor John Williams, que trabalhou nos três filmes anteriores, faz um trabalho competente e de momentos interessantes, mas nunca chegando aos pés do veterano Williams. Os efeitos especiais encantam, assim como o visual dos seres mágicos do filme, como o surpreendente dragão e os estonteantes Sereianos.

    Mas é nas cenas de ação que o filme encontra seu ponto alto. É impressionante o domínio que Newell possui sobre sua câmera, levando-a de um lado para o outro, e conferindo maior dinamismo às cenas. Todo o clímax é de um domínio impressionante de clima e ambientação.

    Divertido, sombrio, engraçado (em excesso) e eletrizante, O Cálice de Fogo acaba ficando um passo abaixo do filme de Cuarón, devido aos excessos na direção de Newell e no roteiro de Kloves. Mas é fato que é um filme que capta a essência da trama, desenvolve-a muito bem e leva a série a um grau de qualidade mais elevado.

    Texto de autoria de Rafael W. Oliveira.

  • Crítica | Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

    Crítica | Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

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    Terceiro episódio da franquia, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban representa uma evolução no conjunto de linguagens apresentadas na saga e na dramaticidade da trama que, agora, ganha contornos mais sombrios que preparam o espectador para passagens mais densas da história do menino bruxo. Nessa sequência, Sirius Black, um famoso bruxo, escapa da prisão de segurança máxima de Azkaban imbuído do desejo por terminar aquilo que Lorde Voldemort começou: assassinar Harry Potter.

    Após dirigir os dois primeiros filmes da octologia, o americano Chris Columbus cedeu a cadeira de diretor para o mexicano Alfonso Cuáron (Gravidade). É significativamente perceptível as diferenças de perspectiva da mesma obra por parte dos dois diretores. Cuáron aposta em uma proposta mais soturnas, com soluções que flertam com um universo mais adulto. Existe uma clara evolução nos enquadramentos, no jogo de câmera, na lente aberta, na fotografia e montagem do longa-metragem. Aliás, talvez sejam montagem e roteiro os principais diferencias aqui. A saga abandona um roteiro simples e linear e ganha uma time line mais flexível, que exige um pouco mais da percepção dos espectadores.

    Outra mudança interessante está no figurino que deixa para trás os tradicionais uniformes da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e investe em trajes “trouxas”, o que facilita a avatarização do público na trama. A ambientação outdoor também ajuda a transmitir a ideia de que finalmente reconhecemos o terreno que pavimenta a saga e agora temos os detalhes em função da trama central e não oposto, como visto nos dois primeiros episódios.

    Pela primeira vez é possível vislumbrar os contornos de uma excelente atuação entregue por Emma Watson que, mais tarde, viria a se tornar uma estrela internacional. Aliás, a única do trio protagonista que conseguiu transcender sua personagem, Hermione Granger. Rupert Grint e Daniel Radcliffe também entregam boas atuações, mas são absolutamente ofuscados por um elenco que conta com nomes como Maggie Smith, Gary Oldman e a supracitada Emma Watson.

    Ainda falando sobre o elenco, temos Michael Gambon substituindo o falecido Richard Harris – falecido meses antes – no papel de Albus Dumbledore. Embora Harris tenha desempenhado uma excelente atuação, Michael dinamiza o famoso diretor de Hogwarts. Claramente mais jovem, o ator empresta esse frescor ao personagem que aqui parece mais acessível e mais complexo que outrora.

    Embora tenha basicamente a mesma duração que os seus antecessores, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban oferece ao espectador uma experiência bem mais agradável em função de toda mudança de rota promovida pelo diretor. Um dos episódios mais adorados pelo público – embora não seja muito fiel ao seu livro de origem – Azkaban é um interessante e bem executado ponto de ignição para a batalha entre o menino que sobreviveu e ‘aquele que não deve ser nomeado’.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Resenha | Frank Einstein e o Motor Antimatéria – Jon Scieszka

    Resenha | Frank Einstein e o Motor Antimatéria – Jon Scieszka

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    Frank Einstein e o Motor Antimatéria, primeiro livro de uma coleção, conta a história do menino Frank Einstein, um mini-gênio de 10 anos de idade, que usa a garagem do avô para colocar suas ideias e experiências em prática. Frank constrói e tenta dar vida ao Robôgente numa noite de tempestade. O experimento não dá certo, mas tem um efeito colateral inesperado – dois robôs, Klink e Klank – uma dupla bem no estilo Pinky e Cérebro, um muito inteligente e o outro meio tonto e estabanado. Frank e seu amigo Watson querem ganhar o Prêmio de Ciências de Midville. Os robôs os ajudam nessa empreitada e também ajudam a derrotar o arqui-inimigo de Frank, T. Edison, um colega de classe que quer roubar sua invenção.

    Apesar de infanto-juvenil, a história não é “bobinha”. Lógico que os personagens seguem arquétipos bem definidos e que a trama segue fielmente a jornada do herói – é necessário que seja assim para atingir o público-alvo. Mas o autor é um nerd no que se refere a ciência e consegue rechear o livro de informações sem ser chato ou professoral demais. Certamente, há coisas ali que mesmo alguns adultos não sabem, ou não lembram. Para dar uma mãozinha, há um glossário no final do livro. Os diagramas que acompanham as explicações são divertidos, bem criativos e, na medida do possível, muito fiéis às definições científicas a que se referem.

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    (ilustrações: Brian Biggs)

    A trama é bem construída, apesar de o tema ser bem comum – o coleguinha de escola invejoso que usa estratégias escusas para levar vantagem. Mas não só de ação e ciência é feita a história. O lado emocional é bem trabalhado, tanto com o relacionamento de Frank com o avô quanto com a amizade entre Frank e Watson.

    Como bom nerd científico, o autor faz referências óbvias a vários cientistas e estudiosos – reais ou fictícios. Tanto o nome do protagonista quanto o experimento que abre a história são uma referência óbvia ao Dr. Frankenstein e sua criatura – do livro Frankenstein, de Mary Shelley. Seu sobrenome remete a Albert Einstein. Watson, certamente refere-se ao companheiro de aventuras de Sherlock Holmes, criação de Conan Doyle, que, além de detetive, era cientista amador. T. Edison, refere-se a Thomas Edison, inventor americano que registrou dezenas de patentes, entre elas a da lâmpada elétrica. Essas são as mais óbvias, mas há outras, divertido é encontrá-las.

    O autor conseguiu usar termos científicos sem ser chato ou pedante e a combinação de ciência com humor funcionou muito bem. Leitura para agradar pais e filhos.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Resenha | Juventude Brutal – Anthony Breznican

    Resenha | Juventude Brutal – Anthony Breznican

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    A Escola de Segundo Grau St. Michael estava em um período de mudança quando recebeu três alunos com histórias bem distintas. Davidek, Noah e Lorelei tem maneiras muito diversas de lidar com as dificuldades no novo colégio. Como calouros, eles já ocupam o lugar mais baixo na rígida hierarquia do Colégio mantido pela Igreja, onde os veteranos reproduzem a rotina de humilhações e provações pela qual passaram um dia, com a conivência da direção e professores que estão envolvidos em sua própria disputa de poder.

    Davidek só conseguiu garantir seu ingresso na escola por que teve um papel em um curioso incidente que marcou sua visita a escola. Seu pai, um antigo aluno da St. Michael, não parece aprovar seus métodos de ensino, mas escolhe se calar diante do entusiasmo da esposa que encara com orgulho o filho com o uniforme da escola de elite. De natureza mais política, Davidek está sempre tentando fazer alianças que tornem sua vida mais fácil, mas nem sempre compreende o jogo praticado até mesmo pelos professores.

    Noah tem um rosto bonito, porém marcado por feias cicatrizes. Ele costuma enfrentar os alunos mais velhos sem sutileza alguma. Não costuma falar sobre sua família, e apesar da atitude de enfrentamento tem uma visão bastante pessimista a respeito da vida. Ele também é altruísta e mostra diversas vezes estar disposto a sofrer por seus amigos.

    Lorelei foi hostilizada em seu colégio anterior por que conquistou um dos garotos populares e depois o rejeitou. Sofreu bullying e agora está decidida a fazer o que for preciso para não estar tão vulnerável outra vez. Maquiavélica, ela não poupa esforços para ocupar um lugar sempre mais alto na hierarquia do colégio.

    Juventude Brutal, de Anthony Breznican, é narrado em terceira pessoa e sob vários pontos de vistas que não se limitam somente aos três protagonistas, mas se estendem também a funcionários e dirigentes da escola, além de alguns alunos. Ainda que esse estilo de narração tenha sido largamente utilizado, funciona especialmente bem para um livro como este em que é importante entender e vivenciar as diferentes motivações de cada um.

    O grande acerto de Breznican é falar sobre um colégio, mas nos fazer refletir sobre toda a sociedade. Desde os dirigentes, passando pelos funcionários até chegar aos alunos mais velhos e calouros, todos tem um objetivo individual e ninguém está trabalhando pela coletividade. E ainda que haja algum sangue escorrendo em suas páginas, a violência alarmante é o desdém daqueles que tem algum poder, mas escolhem não resolver os conflitos.

    Compre: Juventude Brutal – Anthony Breznican

    Texto de autoria de Mariana Guarilha, autora do blog Miss Bennet. Devota de George R. R. Martin, assiste a séries e filmes de maneira ininterrupta e vive entre o subconsciente e o real.

  • Crítica | Agnus Dei

    Crítica | Agnus Dei

    A filmografia da diretora Anne Fontaine é relativamente pequena mas já possuía um filme com pano de fundo histórico (Coco Antes de Channel), mas a considerar seu trabalho pregresso é curioso pensar que nenhum de seus filmes anteriores retrata uma situação tão real e terrível mas de maneira simples, contando muito de sua narrativa quase sem qualquer recurso sonoro e através de uma decupagem sutil como em Agnus Dei.

    Na trama baseada em fatos reais, em dezembro de 1945 na Polônia, uma médica francesa da cruz vermelha, Mathilde Beaulieu (Lou de Laâge), é chamada por uma noviça, em segredo, para socorrer uma freira grávida em seu convento, apesar de não falar polonês Mathilde se prontifica em ajudar mesmo assim. Após a segunda visita ao mesmo lugar ela percebe que não se tratava apenas de uma Irmã grávida mas de algumas numa série de estupros que ocorreram ali durante a guerra.

    A dualidade entre a fé e a vida mundana dentro de um convento é muito abordada nos diálogos entre Mathilde e a Irmã Maria (Agata Buzek) devido ao ocorrido ali, e por consequência é muito difícil definir se a narrativa do filme favorece o ponto de vista de algum dos dois lados devido a sua edição muito bem recortada que divide e junta essas duas histórias fazendo que você queira apenas que aquela situação se resolva de alguma forma, de certa maneira fazer que simplesmente acompanhemos ela até sua conclusão é um grande mérito narrativo.

    É claro que o que temos na tela se trata de um drama mas ele descarta por quase que completo todo tipo de recurso de trama que salte os olhos acompanhado de uma trilha sonora forte que tome conta da cena. Os momentos pontuais em que alguma trilha é tocada vem trazer algum tipo de mudança no clima em que a história se passa, recurso esse que talvez possa lembrar algo feito pelo próprio diretor Krystof Kieslowski.

    Na verdade passamos a maior parte do filme ouvindo pequenas passagens de coral de canto gregoriano, que ilustram bem a capacidade de produzir algo tão tranquilo numa situação tão atormentada. O mesmo vale para as locações e fotografia do filme, são sutis as tomadas que mostram a presença da médica Mathilde iluminada na escuridão, como aquela esperança que o convento precisava naquele momento, além de suas florestas e pequenas tomadas em vilas completamente consumidas pelo inverno, tornando quase todo o filme tomado por branco em sua paleta na maioria das cenas, ilustrando muito bem aquelas pequenas semanas de calma que não durariam muito tempo.

    Utilizar-se de outra época para ilustrar algo de seu tempo é um recurso muito presente há décadas e Agnus Dei não é exceção. O filme retrata a ambivalência de algumas pessoas que retiraram vida e esperança de um momento brutal e talvez esteja longe e perto da nossa realidade.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • 10 Filmes de Terror em Preto e Branco, por Nicolas Pesce

    10 Filmes de Terror em Preto e Branco, por Nicolas Pesce

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    O filme “The Eyes of my mother” lançou seu segundo trailer há algumas semanas e parece apresentar uma trama interessante e mais uma vez um retorno por opção a fotográfia em Preto e Branco.

    É interessante que filmes como Frankenweenie, Blancanieves e Frances Ha vão na contramão do que parece o óbvio a se fazer hoje e apostam novamente na velha maneira de se fazer cinema. Até o diretor de Mad Max: Fury Road, George Miller está lançando esse mês em DVD/Blu-ray e cinemas nos EUA a versão em “Black and Chrome” de Estrada da Fúria (será que vem pro Brasil essa?) Pensando nisso talvez, o diretor estreante de Eyes of My Mother, Nicolas Pesce, lançou no facebook oficial de seu filme de estréia um top 10 filmes de terror preto e branco que foram influência para sua produção e com pequenos comentários. Confira abaixo:

    10 – Eraserhead – David Lynch (1977)

    “Não há ninguém melhor para manipular o clima de uma situação que David Lynch. E não há nada mais aterrorizante que sentir algo estranho e não saber porque”

    9 -Titicut Follies – Frederick Wiseman (1967)

    O Diretor Frederick Wiseman registrou em 67 um hospital para doentes mentais e o tipo de vivência diária que eles passavam, o documentário foi alvo de processos e sua exibição foi proibida até o inicio dos anos 90.

    8 – Repulsa ao Sexo – Roman Polanski (1965)

    “Ele é impecavelmente simples mas faz uso de efeitos práticos de uma maneira bela e surreal. Não importa quão estranho a trama fica, no seu âmago tudo é sobre solidão e ansiedade. E sempre foi dessa maneira que eu absorvi ele.”

    7 – Almas Mortas – William Castle (1964) 

    “Um poster com Joan Crawford segurando um machado? Por favor né … O visual se encaixa entre um mundo hiper estilizado do cinema noir com todo o gótico que existe no expressionismo alemão, adoro esse filme!”

    6 – Desafio do Além – Robert Wise (1963)

    “Esse é aquele filme que eu vi adulto e me assustou de verdade. Você nunca vê nada assustador e essa é a melhor parte.”

    https://www.youtube.com/watch?v=YWU9zRb4RPY

    5 – Psicose – Alfred Hitchcock (1960)

    “Psicose é como uma cartilha pra mim. Além do seu mérito técnico e artesanal, eu amo como Hitchcock faz com que o público simpatize com um assassino. Acho que não existe nada mais assustador que isso.”

    4 – A Casa Mau Assombrada – William Castle (1959)

    “A voz de Vincent Price vai ecoar eternamente no meu cérebro sempre que pensar em horror gótico, e é por causa desse filme. A voz dele no monólogo de abertura é assustadora e e icônica. “

    3 – O Mensageiro do Diabo – Charles Laughton, Robert Mitchum (1955)

    “Esse é a maior influência para meu filme. Eu amo como o conto gótico minimalista se contrasta com as qualidades de uma fantasia com momentos de terror autênticos.”

    2 – O Solar das Almas perdidas – Lewis Allen (1944)

    “Vi esse filme com minha mãe quando ainda era criança. Foi minha primeira experiência com filmes de terror e foi a primeira vez que eu vi muitos maneirismos que viraram mais tarde trunfos de direção.”

    1 – A Sétima Vitima – Mark Robson (1943)

    “Com um clima pesado, luz atmosférica, e uma femme fatale gótica, é um conto pulp mas ao mesmo tempo um elegante cult de horror. Como não gostar?”

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Resenha | Força Estranha – Nelson Motta

    Resenha | Força Estranha – Nelson Motta

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    Em cenários e épocas diversos, uma série de personagens carismáticos e movidos a forças estranhas e emoções fortes, vivem histórias que o narrador viu, ouviu falar ou até viveu. Não são exatamente contos, pois a estrutura narrativa pende mais para o lado da crônica. São crônicas do cotidiano ambientadas em sua maior parte na orla carioca misturando realidade e ficção na medida certa.

    Filha vira cafetina para chantagear o pai!
    Filho faz filme erótico sobre a vida da mãe!
    Candomblé: corno recebe santo sem querer!
    Largou o marido para consolar o viúvo da filha!
    Sexo, politica e futebol na ditadura argentina!
    Pai e filha no motel assaltado. Cada um com seu amante!
    Ladrões de conversas atacam em Paris!

    Mas falar que são histórias do cotidiano não reflete 100% o conteúdo. O projeto gráfico, que remete às manchetes de jornais e revistas sensacionalistas, já indicam que os “causos” estão longe de ser triviais. Os protagonistas das histórias são, na maioria, pessoas comuns em situações incomuns. E é aí que está a excelência de Nelson Motta, ao contar cada uma delas numa linguagem coloquial, como se estivesse numa conversa de bar.

    Qualquer contador de histórias que se preze – já dizia Nelson Rubens – aumenta, mas não inventa. Assim, por mais improváveis que pareçam, ainda há certa verossimilhança. O leitor ainda se pega pensando “É difícil, mas poderia acontecer”. Usando o humor como argamassa, o autor explora as várias facetas da natureza humana, indo da bizarrice à putaria com a mesma desenvoltura.

    As crônicas são independentes, com personagens diferentes. Mas as histórias finais amarram e entrelaçam os personagens entre si. Essa estrutura de fix-up acaba parecendo forçada, quase um deus ex-machina, já que ocorre de forma abrupta e pouco natural. Seria suficiente que a “amarração” se desse apenas pelo narrador do conto final, que explica como descobriu as outras histórias. Infelizmente, a tentativa de interligar os personagens revela-se canhestra e superficial, em vez de ser o ponto alto do livro. Mas mesmo assim, o texto tem a seu favor a habilidade de Motta em “trazer” o leitor para dentro da narrativa, dando o tom malandro e familiar capaz de causar identificação do leitor com as situações vividas pelos personagens.

    O que é realidade e o que é ficção em cada história? Pouco importa. Vai do leitor. A linha entre o real e o imaginário depende da vivência de cada um.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Cinco personagens odiados de séries de TV

    Cinco personagens odiados de séries de TV

    Nós sabemos que personagens de série na real são somente atores fingindo ser alguém, mas não significa que suas interpretações não possam despertar fortes emoções em quem assiste. Alguns personagens são adoráveis, enquanto outros fazem nosso sangue ferver.

    Por que alguns personagens são mais odiados que outros? Pode ser porque a série tenha intensão de apresentar um personagem tão horrível que faça o público desejar sua queda, outras vezes pode ser que o personagem seja desenvolvido para ser simpático e amigável mas simplesmente não agrada o público. Veja alguns exemplos de personagens mais odiados das séries ultimamente. Cuidado spoilers à frente!

    Negan – The Walking Dead

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    Não precisa nem dizer, se você ainda não assistiu ao primeiro episódio da 7ª temporada de The Walking Dead, você deverá assistir antes de ler esse artigo.

    Para aqueles que já assistiram o episódio, você já sabe o porquê odiar Negan. Ele foi introduzido no final da 6ª temporada, carregando seu amado taco de baseball enrolado com arame chamado Lucille, e ameaçando os principais personagens de morte. Negan cumpriu sua ameaça e matou dois personagens queridos logo no primeiro episódio da 7ª temporada.

    Enquanto outros personagens de The Walking Dead também fizeram atos horríveis, Negan se destaca por ficar claro que ele se diverte nas suas maldades. Ao cometer suas perversidades Negan aproveita pra tirar sarro e fazer piadas enquanto mata outros personagens.

    Dana Brody – Homeland

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    Quando Homeland, uma série madura e inteligente estreou em Outubro de 2011, ela era focada em Nicholas Brody, um soldado americano que foi libertado pela Al Qaeda após passar anos sendo prisioneiro de guerra. Brody retorna para sua família, que inclui sua filha adolescente Dana. Ela era irritante na primeira temporada, mas ela ajudou Brody a se desenvolver como personagem principal, esse foi o preço a se pagar pela sua presença na série.

    Com o passar da série, ao invés de focarem nos personagens principais, que fascinava os fãs com caçadas a células terroristas, a série passou a focar Dana e em seus problemas de adolescente e pior ela era uma adolescente insuportável, egoísta, sabe-tudo e que acha como funciona o mundo. Dana não é exatamente padrão de comportamento de todos os adolescentes, mas por que se importar tanto com ela quando temos na série uma agente da CIA bipolar e com problemas de relacionamentos com um homem que está envolvido com grupos terroristas?

    Depois da 1ª temporada, Dana não adiciona nada a trama no geral, e ainda diminui o ritmo da série para um nível extremamente irritante.

    Joffrey Baratheon – Game of Thrones

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    Adolescente pode ser bem irritante quando quer, mas Joffrey elevou o nível de irritação dos fãs ao máximo. Joffrey simplesmente conseguiu incorporar tudo de pior que um adolescente pode ter. Ele era de uma família nobre e usou sua posição na vida para ser um valentão sádico com aqueles que têm uma posição inferior a dele, simplesmente por que ele gosta de se sentir importante. Mas ao longo da série o jogo se virava contra Joffrey, ele agia covardemente. Ele era insuportavelmente presunçoso.

    Pete Campbell – Mad Men

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    Não importa onde você trabalhou você provavelmente já cruzou com alguém como Pete Campell de Mad Men. Ele usa sua ambição como pele de cobra e se sentia no direito de ter tudo o que quisesse. Ele não se esforçava e ele não era melhor do que seus colegas de trabalho. Pete era egoísta, ambicioso e ele não tinha problemas de passar por cima dos outros para conseguir atingir seu objetivo. Ambição é aceitável, mas você pressionar alguém para ganho pessoal não é característica que é normal.

    Ramsay Bolton – Game of Thrones

    ramsay-boltonUm torturador sádico, estuprador e assassino em massa, Ramsey é essencialmente um serial killer em uma posição de poder feudal que comanda um exército, ou seja, o pior tipo de serial killer que você pode imaginar. Vindo de uma longa tradição de esfolar seus inimigos vivos, ele esfola seus inimigos até desmaiarem com a perda de sangue ou até morte.

    Um selvagem, Ramsey brutaliza outros para sua própria diversão, olhos de louco sempre esperando uma oportunidade de humilhar ou mutilar qualquer um que atravessa seu caminho, ou qualquer um que olhe para ele atravessado.

    E aí o que você achou do top 5 dos mais odiados das séries? Faltou alguém nessa lista? Deixe seu comentário.

    Texto de autoria de Tiago Cesar.

  • Crítica | A Garota do Livro

    Crítica | A Garota do Livro

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    Escrito e dirigido por Marya Cohn, A Garota do Livro estreou em 2015 e deu um fôlego de originalidade de roteiro à indústria do audiovisual que atualmente baseia as suas histórias em adaptações de outras mídias, refilmagens ou continuações.

    O longa traz a história de uma jovem editora de livros que é forçada a lidar com um autor best-seller que a fez passar pelo maior trauma da sua vida no passado. Dividido entre o passado e o presente, o roteiro de Marya Cohn consegue se estruturar em bons personagens, principalmente na protagonista Alice. O seu grande trauma é construído aos poucos assim que ela tem o encontro com Milan e serve como ligação com o passado em bonitas cenas que vão revelar um dos maiores pesadelos que uma jovem pode ter. Alice é no fundo uma batalhadora, que apesar de ainda possuir uma grande ferida aberta e ser controlada pelo seu pai, consegue seguir com a sua vida.

    Contudo na parte final do filme o roteiro se perde nas ações sem fundamento da protagonista. Alice que estava até então se livrando do trauma de Milan e do controle de seu pai para se tornar de vez uma mulher independente, tenta através de escolhas bobas reconquistar o seu interesse romântico, modificando radicalmente o tom da personagem e do próprio filme, que deixa de ser um drama profundo para finalizar o filme com uma comédia romântica.

    A direção de Marya Cohn conseguiu construir uma narração visual através de bons enquadramentos e a direção do elenco no geral é satisfatória. Porém a sua consistência falha ao escolher mal e não conseguir trabalhar direito com as duas atrizes que interpretaram Alice, que acabam por prejudicar o trabalho final em um filme que poderia ser muito melhor do que é.

    Emily Vancamp se esforça e até consegue obter alguma entrega na atuação, mas a sua limitação como atriz prevalece, igualmente Ana Mulvoy-Ten, a sua versão mais jovem. Quem segura o filme é o sempre bom Michael Nyqvist (o Mikael Blomkvist da trilogia sueca Millenium) e Ali Ahn, que interpreta a melhor amiga de Alice. Destaque ainda para Michael Cristopher e Talia Balsam que dão vida aos pais de Alice.

    A fotografia de Trevor Forrest tem tons marrons e azuis no presente, deixando um ar mais naturalista e de sépia para retratar o passado, deixando um onírico que conseguiu servir como as lembranças ruins de Alice. A edição de Jessica Brunetto é fluida e deixa o filme com um bom ritmo, que apesar de ser um pouco mais lento, não é maior do que deveria.

    A Garota do Livro tem o mérito de ser uma história original que pode agradar a quem deseja fugir de adaptações.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Superman: Um Renascimento Perigoso

    Superman: Um Renascimento Perigoso

    superman-rebirth-new-beardOs fãs da velha guarda realmente ficaram entusiasmados quando a DC Comics anunciou que retornaria à suas origens para resgatar o verdadeiro Superman há tempos esquecido na “Zona Fantasma” da editora. Todavia, mantenhamos a calma, pois não parece ser isto o que de fato está acontecendo.

    A partir de agora deixo o aviso de SPOILERS, já que seria impossível redigir esta matéria sem adentrar nos recentes acontecimentos do Rebirth, desta forma, caso o leitor deseje continuar avançando, estará por sua própria conta e risco.

    Deixando de lado todo este papo, vamos logo ao que de fato interessa: Quem é o Superman do Universo Rebirth?

    Para quem acompanhou a saga Convergência, sabe que o Homem de Aço idealizado por John Byrne jamais deixou de existir. Ele foi retirado de seu universo e levado pelo arauto de Brainiac ao Planeta Thelos, onde permaneceu por um ano dentro de uma redoma e, sem os seus poderes, constituiu família com Lois Lane, gerando, inclusive, uma criança que levou o nome de Jonathan.

    Não entrarei no mérito destes acontecimentos e partirei para o que verdadeiramente importa no momento. Com a resolução de Convergência, o Super-Homem do Pós-Crise passou a dividir um mesmo universo com o seu sucessor, ainda que nas sombras, escondido com sua família. Com o desenrolar dos fatos, entretanto, ele se viu obrigado a revelar sua presença em uma tentativa frustrada de salvar a vida do Superman atuante, ou seja, o dos Novos 52. Ao falhar, rapidamente voltou às sombras e deixou a todos que presenciaram o acontecido com um grande ponto de interrogação. Outros eventos ocorreram, como por exemplo a revelação de sua verdadeira identidade a Lana Lang, dentre outros, que não são os que quero verdadeiramente explorar, então me permitam a lacuna e partamos diretamente para a sua primeira aparição em público.

    Acompanhando o noticiário pela TV, em que era transmitida a invasão das instalações da empresa Geneticron, com inúmeros funcionários feitos de refém, Superman deparou-se com uma inusitada versão de sua identidade heroica, o “Superlex”. Indignado, resolveu deixar de lado a sua pacata vida de chefe de família e partiu rumo ao local dos fatos, onde se revelou ao mundo através das câmeras, das autoridades policiais e dos olhos curiosos dos expectadores que ali estavam. Como era de se esperar, uma briga tomou conta da cena, de um lado Lex o acusando de impostor, e de outro, Superman o taxando de falso herói. Mas o que quero de fato partilhar com cada um de vocês que me acompanham, é o que surge a seguir: o retorno de Apocalypse (Pré-52) e de Clark Kent (o repórter que teve sua dupla identidade revelada ao mundo por Lois Lane e portanto, dado como morto). É a partir daí que as coisas ficam bastante interessantes.

    As perguntas que ficam são: Quem é o Superman mais velho, mais poderoso e mais experiente? Quem é o Clark Kent que ressurgiu dos mortos? O que é a besta selvagem que surgiu do nada e trouxe consigo uma devastadora onda de destruição?

    De trás para frente e muito rapidamente, digo que é uma verdadeira licença poética a editora ter entregado neste momento a Dan Jurgens, o quadrinista responsável pelo arco da morte de Superman pelas mãos de Apocalypse na década de 90, o roteiro desta fase de Actions e Comics, em que o herói ressurge dos mortos – no contexto da história – e enfrenta logo de cara o seu maior algoz, desta vez, entretanto, conseguindo, além da vitória, preservar a sua vida. Isso foi uma sacada absurdamente maravilhosa para os fãs da velha guarda. Mas em resposta à pergunta, até o presente momento não nos foi revelada a sua verdadeira origem, tão somente o seu propósito: o de ser usado como arma, contra o quê ou quem, ainda não sabemos.

    Ainda na contramão dos questionamentos, Clark Kent, dado como morto, ressurge do além vida e deixa a todos com uma interrogação gigantesca, principalmente quando percebem que ele é apenas um ser humano. Isso mesmo, neste Universo Rebirth, ele jamais foi Superman.

    A explicação dada para esta total desconstrução do personagem, é a de que o verdadeiro Superman, o dos Novos 52, diante do perigo que o repórter corria em sua investigação às empresas Geneticron, assumiu a sua identidade e o escondeu com o objetivo de garantir a sua segurança. Entretanto, com o decorrer do tempo, acontecimentos fizeram com que Superman se afastasse de seu objetivo e Clark Kent, isolado, caísse em esquecimento. Cansado de esperar, o repórter retornou a Metrópolis num momento bastante conturbado, tendo que enfrentar logo de cara o ataque de uma fera descontrolada, bem como as notícias de sua própria morte em razão da do herói que assumiu o seu lugar.

    Após a derrota de Apocalyspse, Clark Kent passou por inúmeros testes, feitos inclusive pelo próprio Superman – o Pós-Crise, no caso – , mas os resultados foram assustadores, ele de fato era um ser humano.

    Percebem a gravidade dessa desconstrução do personagem?!

    Encerrando as questões levantadas, já foi respondido que o Superman mais velho, mais forte e mais experiente, trata-se daquele idealizado por John Byrne, entretanto, ele não é de todo fiel, por isso algumas considerações precisam ser feitas.

    De fato, ele continua com sua grandeza heroica, não ouso dizer que ele continua “O ALTRUÍSTA” que conhecemos lá do Pré-52, mesmo porque é difícil pescar este tipo de informação com tantas mudanças ainda em andamento, muito embora tenha sido esta a proposta da DC com o seu retorno, ou seja, trazer de volta o bom e velho otimismo. O fato é que ele parece ter deixado para trás certos conceitos e adotado novas condutas que nunca foram pertinentes ao personagem.

    Achei muito interessante a Fortaleza da Solidão que ele mesmo construiu com os restos de tecnologias alienígenas. Isso nos mostra um personagem com uma grande intimidade com a ciência, algo que nunca havíamos visto com tamanho destaque e intensidade. Ele chega a concluir, às pressas, no meio de um combate, um artefato para enviar Apocalypse à Zona Fantasma. Sua Fortaleza é praticamente uma “Supercaverna”, inspirada nos “aposentos” de nosso querido Homem Morcego, isso é evidente até mesmo no visual. Ele dispõe de inúmeros artefatos científicos, inclusive todos os exames feitos em Clark Kent, foram realizados em seu quartel general.  Mas o que mais me impressionou, foi uma gigantesca escultura de seus pais disposta bem no centro de suas instalações, não dos terrestres, mas sim de seus verdadeiros genitores kryptonianos. Isso é verdadeiramente inusitado, pois não se fazia presente desde o Pré-Crise.

    Além dessa “Supercaverna”, Superman criou um túnel sob seu rancho, que os levam – a ele e sua família – a uma distância segura de sua residência, afim de que possam entrar e sair sem que despertem suspeitas. Isto me remete novamente ao inspirador cenário de Batman.

    Vejam bem, meu intuito não é macular logo de cara este novo projeto da DC, mas sim alertar ao fã saudosista que o retorno às origens não está ocorrendo da forma como a maioria previa ou até mesmo esperava. Há inúmeras alterações já feitas e tantas outras ainda em andamento para esta nova fase do personagem. Todavia, para mim é muito grave a desconstrução de Superman como Clark Kent, rebaixando o repórter a um simples mortal. Até o presente momento, as publicações mostram um Clark Kent com uma personalidade anteriormente endereçada a Lois Lane, que por sua vez, assumiu a posição de Superwoman. Por outro lado, vemos um Superman ainda heroico, mas com algumas diferenças bastante incisivas: o distanciamento de suas verdadeiras raízes marcado pela substituição de Jonathan e Martha Kent por Lois e Jon (esposa e filho), destacando, sobretudo, a mudança de seu sobrenome para Smith, bem como esta nova vertente trazida ao personagem, a de cientista, assim como seu pai kryptoniano o era. Aliás, será esta a razão de um monumento destinado a seus verdadeiros pais? Irá a DC Comics finalmente nos mostrar a verdadeira face de Kal-El? Não sei bem o rumo que o personagem irá tomar, mas a editora corre um risco de entrar num retrocesso ainda maior do que aquele sofrido com a versão trazida pelos Novos 52, principalmente com o Warner Channel mostrando semanalmente o verdadeiro Superman, que até agora não foi visto nos cinemas e até o presente momento, tampouco nesta nova fase dos quadrinhos.

    Texto de autoria de José Macedo.

  • Sai de cena o grande Dib Lutfi

    Sai de cena o grande Dib Lutfi

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    Um dia triste para o cinema brasileiro: morre Dib Lutfi aos 80 anos com Alzheimer avançado, as informações são do G1.

    Dib foi um dos maiores diretores de fotografia do cinema brasileiro que popularizou o conceito de “uma câmera na mão” do Cinema Novo. Dib trabalhou com Arnaldo Jabor em A Opinião Pública (1967), Glauber Rocha em Terra em Transe (1967), Nelson Pereira dos Santos em Fome de Amor (1968) e Como Era Gostoso O Meu Francês (1970).

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | A Garota no Trem

    Crítica | A Garota no Trem

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    Existem inúmeras frases, de diversas autorias diferentes, que nos chamam à atenção para uma mesma reflexão: Não importa o ponto de partida ou o ponto de chegada. O que importa é o percurso.

    Em A Garota no Trem, adaptação para os cinemas do best-seller da autora Paula Hawkins, o caminho percorrido pela protagonista é tão importante que chega a figurar como uma das alegorias centrais da trama. Revelando não só o mundo pela perspectiva da personagem, mas também os seus próprios dilemas internos e a maneira como o mundo exterior provoca uma reação em cadeia no seu vício em álcool.

    Rachel, interpretada por Emily Blunt, mora de favor na casa de uma amiga e, diariamente, no caminho para o trabalho, observa a rotina dos moradores de duas casas localizadas próximas aos trilhos do trem. De dentro do vagão, ela vela a rotina das duas moradoras das casas, Anna e Megan, enquanto beberica as bebidas alcoólicas que camufla em uma garrafa de água. Em dado momento, uma das moradoras desaparece e Rachel se vê diretamente ligada ao caso, não podendo contar com sua memória falha para defender-se.

    A Garota no Trem é um filme de conexões. Tal qual num livro, cada demarcação temporal da fita nos revela uma nova camada de compreensão do plano geral do roteiro, acrescentando peça por peça em um quebra-cabeças que, embora pareça óbvio à primeira vista, se torna interessante pela maneira como o diretor trabalhou planos, perspectivas e, principalmente, os personagens. Nada rasas, cada uma das personas presentes na trama é um gatekeeper e guarda consigo segredos que ajudam a completar as lacunas iniciais da história.

    Em termos de técnica, a balança pende mais para o lado dos acertos. A trilha sonora é muito simples, dando espaço para os sons naturais do filme e crescendo somente nos momentos necessários. A fotografia escura do filme funciona, ao passo que dá o tom do mistério, mas não dificulta a experiência do espectador. Embora o trabalho da direção de elenco e dos coadjuvantes seja muito bem feito, fica evidente a supremacia de Blunt. A atriz entrega cenas memoráveis que certamente serão reconhecidas na temporada de premiações.

    A divisão capitular com alternância da primeira pessoa ajuda a explicitar múltiplos pontos de vista sobre os acontecimentos e oferece um certo dinamismo ao filme. Embora este seja mais um da vasta lista de tópicos que aproximam esta obra do aclamado Garota Exemplar, de David Fincher, é desonesto dizer que o filme dirigido por Tate Taylor não imprima originalidade. Diretor do igualmente bom Histórias Cruzadas, Tate precisou mergulhar nos escritos de Paula Hawkins e no universo feminino, majoritariamente presente no longa, para representar fidedignamente as características comportamentais que compõe as três mulheres centrais da história.

    É curioso que, ainda que existam momentos bastante conservadores na retratação da figura feminina, o filme consiga se colocar muito bem em relação ao emergente – e muito bem vindo – elemento girl power tão presente na produção cultural atual. Aliás, a função social está aqui muito bem representada. Abordando temas como relacionamentos abusivos, alcoolismo e gaslighting – forma de abuso psicológico onde o homem distorce fatos fazendo com que uma mulher duvide da sua própria memória e sanidade mental –  A Garota no Trem transcende o entretenimento atrelando ao seu texto ácido e crítico a explanação de pautas de suma importância em nossa sociedade e uma exposição da fragilidade e da perversão que residem nos relacionamentos contemporâneos.

    Texto de autoria Marlon Eduardo Faria.

  • Resenha | Lordes dos Sith – Paul S. Kemp

    Resenha | Lordes dos Sith – Paul S. Kemp

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    O livro Lordes dos Sith escrito por Paul S. Kemp, pertencente ao universo canônico de Star Wars, conta uma história que fazem os fãs de Star Wars babar, a trama envolvendo o Imperador Palpatine e Darth Vader, coloca os dois personagens em uma situação bem complicada. Nós vimos a dupla frequentemente juntos na trilogia nova (episódios A Ameaça Fantasma, O Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith) como Chanceler Palpatine e Anakin Skywalker, vemos o Chanceler tentando trazer Skywalker para o lado negro e eles retomam a parceria na trilogia antiga também, o livro de Paul S. Kemp mostra um olhar mais próximo da dupla de mestre e aprendiz.

    Lordes dos Sith acontece no planeta Ryloth, entre o filme Vingança dos Sith e livro Tarkin. Na trama do livro, o Império está explorando o planeta natal dos Twi’leks (espécie de humanoide) à procura do minério Ryll e ao mesmo enfrentando a rebelião considerável liderada por Cham Syndulla, que vimos pela primeira vez na animação Star Wars: The Clone Wars, Syndulla é pai de Hera que aparece na animação Star Wars Rebels. A intenção do grupo de Cham é causar bastantes problemas para chamar a atenção do Imperador Palpatine e Darth Vader. A viagem dos Siths a Ryloth não sai como planejada e eles encontram-se tendo que lutar por suas vidas.

    Vendo Palpatine e Vader neste particular período nos fornece um bom contexto da dupla. Vader continua tentando achar seu caminho, aprendendo a como deixar seu passado para trás e entendendo o poder aparentemente sem limites de Palpatine. É fascinante ver Vader descobrir como lidar com o medo e o ódio, tornando o personagem mais atrativo e entender o por que ele é do jeito que é, compreendendo qual é o papel de Palpatine na vida de Vader. Combinar o que é mostrado no livro com o que sabemos através dos filmes mostra um perfil mais completo do incrível vilão.

    Eu gostei muito de acompanhar a jornada de Vader, mas também fiquei bastante interessado em ver como Palpatine manipula as pessoas que estão a sua volta, sua inteligência e paciência também ficam bem evidente no livro, os momentos nos quais ele manipula Vader são bem impressionantes, “Lordes dos Sith” mostra toda a potência de Palpatine em ação. Palpatine não fica sentado em seu trono em Coruscant, ele vai cuidar dos assuntos do Império pessoalmente no meio da selva de Ryloth. As cenas de Kemp são vívidas, deixando muito fácil de imaginar o livro como um complemento dos filmes.

    No entanto as cenas de ação ficam um pouco a desejar no livro, elas são grandiosas, mas demoram muito a acontecer. Em alguns pontos do livro, eu me peguei calculando quantas páginas faltavam para finalmente chegar à cena da luta e em certos momentos eu tentei pular algumas partes, mas me contive e segui lendo o livro na íntegra.

    Durante a jornada de Vader e Palpatine tentando conter a rebelião podemos testemunhar a política interna do Império, onde podemos comparar o Império com uma grande corporação, com pessoas preguiçosas tentando tirar vantagem de todas as situações possíveis. No livro nós conhecemos a Moff Delian Mors, personagem cânone e a primeira personagem homossexual do universo Star Wars, e ela desenvolve um papel importante no curso do livro.

    No lado da rebelião, encontramos a continuação de uma história iniciada em Clone Wars. Os cidadãos querendo serem independentes do Império. Cham Syndulla líder da causa rebelde e é devoto a ela, enfrenta conflitos, toma decisões difíceis e carrega todo peso da causa. Você consegue sentir o peso das vidas perdidas nos ombros de Syndulla, toda decisão dele tem um impacto profundo e isso adiciona uma carga dramática ao livro.

    O livro conta outros personagens como Isval e Belkor tão importantes para a história assim como os personagens já citados. O ponto de vista muda entre os personagens durante a trama e isso funciona muito bem para a história. Kemp fez um trabalho excelente ao entrelaçar as histórias dos personagens, dando espaço a todos eles.

    Sem dar muito spoilers do final de cada personagem, o livro termina de uma forma bastante abrupta. Ainda assim, Lordes dos Sith é uma leitura obrigatória, se você é um fã do Imperador Palpatine e/ou Darth Vader e estiver interessado em entender melhor sobre a dinâmica da dupla. O livro é um retrato da galáxia em um momento em que o Império está no seu auge, demonstrando força extrema e crueldade ao enfrentar a Aliança Rebelde.

    Texto de autoria de Tiago Cesar.

    Compre: Lordes dos Sith – Paul S. Kemp

  • Crítica | O Silêncio do Céu

    Crítica | O Silêncio do Céu

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    Uma das verdades absolutas do mundo globalizado, especialmente nos centros urbanos, é que a violência está por todos os lados. Não a vemos, não sentimos os tiros, ou o sangue escorrendo, mas há sempre o beco escuro e há sempre o mal-encarado e há sempre o risco; tudo presente em nossas ansiosas cabeças produtoras em série de medos e fobias. Entretanto, a materialização desse pressentimento em algo é outra coisa: é o ato. Não é uma ideia. E entre essas duas há aquele que espreita e há a vítima; o que esconde e o que anseia. Um momento de silêncio em que nada se espera e nada se diz.

    O Silêncio do Céu é um filme de Marco Dutra (Quando Eu Era Vivo, Trabalhar Cansa), baseado no livro de Sergio Bizzio (também roteirista do filme), e roteirizado por Caetano Gotardo (O Que Se Move) e Lucía Puenzo (XXY). A obra trata da vida de Mario (Leonardo Sbaraglia), um roteirista, e Diana (Carolina Dieckmann), uma estilista, após a mulher sofrer um estupro e o marido o presenciar. Diana decide não falar sobre, o que causa estranhamento em Mario. O silêncio desencadeia uma espiral de dúvida e desenvolve o desejo de vingança que fundamenta o filme de suspense.

    O que eu não entendo é como uma mulher que foi estuprada pode não falar uma palavra sobre isso.

    Mario é um homem ansioso e cheio de fobias, o típico “homem moderno”. Aquele que muito pensa sobre como lidar com tudo que conhece ou pode vir a conhecer, fazer. E, sendo roteirista, carrega as questões de construções de personagem para suas próprias reflexões, tanto sobre si mesmo quanto sobre Diana. Aquela que ele se refere como a única que consegue lê-lo. Que vê através de seu “preparo”, até mesmo brincando com isso. A personagem de Dieckmann, por outro lado, não apresenta tamanho desenvolvimento, e o que se vê é muitas vezes demonstrado com pressa.

    O Silêncio do Céu logo destrói as expectativas de que iria tratar do estupro profundamente. Ao invés disso, o tema é utilizado como base para outra reflexão, que diz respeito a relação de Mario e Diana, o verdadeiro foco. As cores e a composição do filme, por exemplo, trabalham a distância e posições das personagens, e como em suas diferenças se complementam. Para Mario há o medo, a ansiedade, enquanto Diana lida com o trauma; fatores que o diretor diversas vezes nivela como uma forma de equipará-los. Conversas pelo espelho, barreiras físicas; a dicotomia entre o azul e o laranja. O isolamento se faz tanto em níveis físicos em tela quanto em níveis introspectivos. Há domínio da linguagem visual, ainda que muitas vezes nada sutil, o que garante uma boa nuance na mistura do drama com o gênero de suspense.

    No que diz respeito a trama de vingança, há o desejo por vilões que sejam mais ameaçadores do que só mal-encarados, sejam desenvolvidos. O que é diferente de como Marco Dutra trata os lugares, já que esses sim apresentam uma carga poderosa tanto no desenvolvimento do suspense quanto dos personagens. Há também o auxílio da trilha sonora industrial, urbana, dos irmãos Garbato, que trabalha exatamente a ansiedade e outros fatores ensurdecedores do bem estar das personagens.

    O Silêncio do Céu não é o grande filme sobre estupro que muitos esperavam, mas isso não é realmente um defeito. Através de um tema específico como esse, retira-se o fator universal: o medo. E entre o anseio, a ideia, e o ato há o silêncio, a omissão. A omissão que protege nossas fragilidades daqueles ao nosso redor; a omissão por uma automática apatia; a omissão por feridas que não podemos lidar; a omissão entre as tragédias e as compreensões. Uma estranha linguagem que só aqueles que passaram pelos becos escuros de suas conturbadas mentes modernas podem entender, e ao compreendê-la se unem para sempre em um momento de silêncio em que nada se espera e nada se diz, aceita-se.

    Texto de autoria de Leonardo Amaral.

  • Crítica | O Bebê de Bridget Jones

    Crítica | O Bebê de Bridget Jones

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    Começamos essa análise com uma comparação que pode, ou não, soar absurda: assim como aqueles episódios finais da saga Harry Potter que evocavam todos os elementos e pontos nostálgicos para aquele público que cresceu ao lado daquela gama de personagens, O Bebê de Bridget Jones é também quase que exclusivamente voltado para o público (especialmente o feminino) que vivenciou lá no início dos anos 2000 as desventuras de uma mulher sonhadora, indecisa e desajeitada, cujos desabafos eram registrados em seu diário enquanto dois galãs disputam seu amor. Quinze anos depois e agora com sua personagem-título na casa dos 40, é consciente o fato de que o apelo de Bridget é bem menos universal (nota-se pelo pouco alarde do filme) e quase que unicamente centralizado nos que, tal qual nossa heroína, viram suas rugas aparecerem no rosto ao longo dos anos.

    Prova disso é a forma como O Bebê de Bridget Jones busca despertar aquela empatia que, se não compartilhada pelo espectador novo (e que nasceu e não cresceu em meio a atualidade tecnológica registrada pela obra), será notada em sua completude pelo espectador já ambientado com o que é a vida de Bridget. E o mais reconfortante em meio a isso tudo é notar que a própria Renée Zellweger, intérprete de Bridget e longe das grandes telas desde 2010, demonstra ter total compreensão dos efeitos da passagem do tempo e (pasmem!) de uma gravidez inesperada que irá botar em xeque o suposto amadurecimento da personagem após mais de uma década.

    Com todo aquele jeitão de comédia americana para ser apreciada no fim de semana, o humor de O Bebê de Bridget Jones é calcado especialmente na dicotomia entre os acontecimentos do passado e um presente não exatamente satisfatório para aqueles rostos que conhecemos. Sem Hugh Grant desta vez (que recusou participar do projeto devido a insatisfação com o roteiro), entra Patrick Dempsey como Jack, aventura de uma noite da vida de Bridget e novo “pau-a-pau” com Mark Darcy, interpretado por um Colin Firth mais britânico do que nunca. E partindo de uma mulher como Bridget Jones, já podemos ter uma ideia de como a incerteza sobre quem seria o pai de seu filho inesperado poderá render situações tão inusitadas quanto.

    E é curioso notar que, mesmo com suas modernizações narrativas (o tal diário original de Bridget agora é substituído por um tablet), O Bebê de Bridget Jones reserva muito do humor peculiar (e bastante inglês) ao qual nos rendemos lá no primeiro filme de Sharon Maguire, evidenciando ainda mais a dinâmica entre passado e futuro promovida pelo roteiro de seis mãos: Helen Fielding, Dan Mazer e Emma Thompson, essa última impagável como a doutora Rawling. E isso sem nenhuma recusa em abraçar todos os clichês que o gênero tratou de solidificar para si ao longo dos anos. Mas para Bridget Jones 3, a previsibilidade é o que menos importa.

    E mesmo que Bridget, Darcy e cia. não tenham mantido o mesmo apelo desde o início de tudo (o padrão do gênero mudou ao longo dos anos), essa nova sequência tardia revela que havia mais fôlego a ser posto pra fora do que na infeliz continuação de 2004, Bridget Jones: No Limite da Razão. Se esse retorno funciona, é graças ao desapego do medo da obra em evidenciar suas próprias rugas. O Bebê de Bridget Jones é realmente uma delícia.

    Texto de autoria de Rafael W. Oliveira.

  • Crítica | O Shaolin do Sertão

    Crítica | O Shaolin do Sertão

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    Halder Gomes volta a direção em 2016 cheio de expectativa com O Shaolin do Sertão após o sucesso do surpreendente e bom Cine Holliúdy de 2012.

    Durante os anos 80 em Quixadá, interior do Ceará, um fã dos filmes chineses de artes marciais vai atrás de treinamento após desafiar um lutador de vale tudo que está fazendo um tour em várias cidades pelo sertão.

    O roteiro de Halder Gomes baseia o seu enredo na estrutura simples dos filmes que ele pretende referenciar: o cinema chinês de luta marcial dos anos 60 e 70. O nome do protagonista não é por acaso, Aluísio Li é referência direta para o maior astro do gênero: Bruce Lee e seus filmes tão reverenciados pelo mundo todo.

    O grande diferencial do roteiro é manter a regionalidade do sertão cearense sabendo utilizar a paisagem e os personagens típicos, mantendo a caricatura para os fins da comédia. Outro trunfo é fazer com que a história se torne universal atingindo os temas comuns. ALuisio Li no fundo deseja duas coisas que todo mundo quer em alguma parte da vida: conquistar a garota que ele gosta ao mesmo tempo em que ganha independência da mãe.

    Um ponto interessante são os flashbacks da história que auxiliam a narrativa, ao invés de serem usadas como muletas. Elas inclusive vem acompanhadas de efeitos visuais que as deixam ainda melhores.

    A atuação é o ponto mais forte do filme. Edmilson Filho que interpreta Aluísio é de novo o grande nome do elenco, ofuscando quase todos que contracenam com ele. Igor Jansen como Piolho e Frank Menezes como Rossivaldo também se saem bem. Destaque ainda para Falcão como o treinador Chinês e Fafy Siqueira como a mãe Dona Zefa.

    A direção de Halder Gomes continua satisfatória e condiz perfeitamente com todos os clichês e convenções da comédia. O seu diferencial é manter a sua assinatura que é falar o cearês de Cine Holliudy agora de forma mais universal.

    A fotografia de Carina Sanginitto usa bem o vermelho e o amarelo que ressalta o clima árido e seco do sertão, e também provém o exagero que a comédia do filme se pretende. A edição de Helgi Thor é cadenciada e se destaca nas cenas de ação e no treinamento. No restante, é invisível e terminou por deixar o filme em um bom tempo.

    O Shaolin do Sertão deve agradar um vasto público que buscava uma história original em uma mistura nada convencional entre os filmes de arte marcial chineses com a nova comédia cearense.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!

    Crítica | Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!

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    Em uma breve sinopse, acompanharemos uma turma de jovens norte-americanos de um time de Baseball da Faculdade que juntos irão se aventurar em uma série de situações inusitadas regadas sempre de muita curtição.

    Ouvindo/lendo assim, sobre essa ótica reducionista muitos devem pensar: “Nossa já assisti há filmes com essa temática diversas vezes! Onde então reside o trunfo que diferencia Jovens, Loucos e mais Rebeldes de tantos outros filmes que têm uma proposta parecida? Respondo – em seu autor, Richard Linklater.

    É impressionante notar como o diretor consegue manter a excelência nessa continuação elevando a obra à um nível quase tão bom quanto o seu antecessor  Jovens, Loucos e Rebeldes cultuada comédia de 1993.

    Ambientado nos anos 80 o filme praticamente não peca e acerta em cheio em diversos aspectos. Com uma meticulosa produção, a obra faz uso de todos elementos possíveis para construir um retrato fidedigno da época, elementos notórios que  vão desde penteados, figurinos, locações até uma ótima trilha sonora e que somadas conseguem construir uma atmosfera precisa, esmerada nos mínimos detalhes.

    É interessante notar como a narrativa vai se desdobrando com uma desenvoltura deliciosa. Mesmo tendo o Baseball como ponto em comum, é admirável notar como a trama desenvolve bem suas personagens tão adversas.

    Jake (Blake Jenner) é um novato que deslumbrado com o novo e na busca de se enturmar assume o papel do fio condutor que irá nos conectar com os demais; Finn (Glen Powell) busca conquistar o máximo possível de garotas, Raw Dog (Justin Street) é o inseguro jovem que precisa se firmar perante os colegas, McReynolds (Tyler Hoechlin) só pensa em vitórias, Willoughby (Wyatt Russell) vive quase o tempo todo no “mundo das nuvens” sendo em determinados momentos a peça ‘nonsense’ do bando.

    O filme tem uma áurea despreocupada, porém se engana quem assim o encarar, já que justamente em sua simplicidade reside sua força. Linklater aqui nos prova mais uma vez a força de sua singular sensibilidade como autor, fugindo de histrionismos gratuitos, o diretor emprega muito dinamismo nesse seu novo trabalho nos tragando aos poucos para dentro da história, como alguém que puxa uma cadeira e nos convida à embarcar juntos em um papo divertido, que discorre de uma cadência agradabilíssima, fazendo com que a experiência deixe impregnado no espectador um gosto de “Quero mais”!

    Dono de uma grande feeling o cineasta procura não ser expositivo em demasia justamente por conseguir fazer com que as personagens e situações se mostrem aos poucos para o público e fazer isso com tamanha sutileza sem deixar que nada passe desapercebido é algo raro, um dom de alguém muito inteligente que sabe exatamente como dar as cartas nos momentos certos.

    Ao fim, como dito antes acima, a verdadeira sensação que fica é de que a resolução dos fatos (apesar de competente) nunca foi o enfoque principal, mas sim a jocosa aventura construída ao longo do percurso. Portanto Jovens, Loucos e mais Rebeldes é uma certeira pedida para quem busca diversão garantida.

    Texto de Autoria de Tiago Lopes.